sábado, 29 de dezembro de 2007

Músicas, músicas, férias V

Dom Salvador mais um nome obscuro para os que não são "fãs de carteirinha" do Soul Music brasileiro. Este músico é autor de pelo menos dois belissímos discos: Dom Slavador de 1969 e Som, Sangue e Raça de 1971.

Sobre o álbum Dom Salvador, Marcel Cruz escreveu:

Eis aqui a Gênese do Funk Brasileiro! (Samba Funk Samba Soul) Dom Salvador álbum gravado em 1969 que se tornou peça fundamental e serviu como norte para uma estética que desembarcava na terrinha a todo vapor, esse é um dos primeiros discos brasileiros com características funk, depois dele surgiram vários outros. Dom Salvador vinha duma linhagem bossa nova ou MPM (Música Popular Moderna) como alguns denominavam, antes desse álbum Dom trabalhou, entre tantos, com Elis Regina e Waltel Branco além de encabeçar dois projetos fabulosos: o Dom Salvador Trio e o espetacular Rio65 Trio junto com o baterista Edison Machado.

Ao que acrescento, este disco de fato é um marco do som que começava se fazer presente na terra brasilis. O segundo álbum que recomendamos é Som, Sangue e Raça em que Dom é acompanhado do grupo Abolição. Este grupo existiu somente por um ano, o suficiente para gravar essa obra prima. No entanto essa raiz musical produziu muitos outros frutos como a Banda Black Rio encabeçada por Oberdan, integrante dos mais importantes do Abolição e mestre indiscutivel dos metais. Este disco que traz algumas regravações do álbum anterior de Dom Salvador radicaliza no Swingue da Soul Brasileira. A ótima Abolição dá verdadeiros shows de musicalidade e improviso, aqui de forma definitiva o Soul Brasileiro começa se afirmar como uma música própria, ou seja que bebia na fonte norte-americana mas acrescentava a essa, toda a uma sonoridade genuinamente brasileira, o funk-sambeado. Meus amigos bem vindo aos inesquecíveis anos 70 brasileiro.

Dom Salvador tem um site, todo em inglês. Vá lá e descubra toda a genialidade desse pianista exímio. Aliás faço o seguinte ouça as "pauleiras" da fase Soul e depois se deleite com o refinado Jazz que o músico produz atualmente, em New York. Ladies e Gentelman é fabuloso, jogue fora o espírito vira-lata e veja que o Jazz brasileiro não deve nada aos monstros sagrados norte-americanos. Fica combinado então, assim que Você for a New York vá correndo no New York City's Water Club and Brooklyn River Cafe. Aliás no site de Dom Salvador tem uma descrição de sua música e a respeito do cantor, afie seu inglês e leia a página inicial, pois lá esta escrito o essencial sobre esse artista : http://www.domsalvador.com/base.htm

Um pouco mais sobre Dom Salvador:
Salvador da Silva Filho mora nos Estados Unidos há mais de vinte anos e como tantos outros gênios brasileiros ele foi esquecido pelo seu próprio país. De prodígio do samba jazz a messias do movimento Black Rio, Dom Salvador teve uma trajetória espetacular como músico, arranjador e compositor. Hoje, apesar de tocar piano num restaurante de Nova York e gravar raramente, seus discos dos anos 60 e 70 são caçados por todo mundo e valem, sem exceção, algumas centenas de reais cada um. Assim que chegou ao Rio de Janeiro vindo da cidade paulista de Rio Claro, fez parte do fervilhante movimento samba jazz liderando dois dos mais importantes trios da época, o Rio 65 Trio e o Salvador Trio, gravou no mesmo período dois discos com cada grupo.
LP Dom Salvador: autêntico groove brasileiro ,todos eles imprescindíveis à qualquer fã de música boa. O Rio 65 tinha Sérgio Barroso no baixo e a avalanche Edison Machado na bateria. O repertório do primeiro LP é mais bossa mas com um ataque feroz meio "be bop". A impressão é que o trio queria mostrar serviço, e acabaram conseguido, quebradeira total.No LP seguinte "A Hora e Vez da MPB." eles já estão mais maduros, o som é mais redondo e contido, com menos agressividade mas com mais consistência. As versões são mais originais e há mais composições de Salvador, aliás até o fim dos anos 60 ele era chamado apenas de Salvador, o Dom veio com o tempo, como uma coroação que as vezes era dada pra quem sabia tudo.
O primeiro álbum com Salvador Trio, com Edson Lobo no baixo e Victor Manga na bateria, tinha uma sonoridade mais jazz, o que já anunciava os caminhos que Salvador traçaria no futuro, e praticamente só composições próprias. O LP tinha uma capa que abria em três partes, bem diferente para época. O disco seguinte já tem Sérgio e Edison de novo na formação do trio e novamente uma pegada mais samba jazz, provavelmente por causa do estilo único de Edison Machado.
Até 1969 Dom Salvador só trabalhou como arranjador e pianista, gravou com meio mundo da bossa e da MPB e se aprimorou, incorporou soul e funk ao seu estilo brazuca e marcou a história da música negra no Brasil com seu disco "Dom Salvador" de 69. Ali ele criou o som que depois Tim Maia, Diagonais, Toni Tornado e Banda Black Rio também acabaram fazendo, autêntico groove brasileiro, o embrião do samba soul. A capa já mostra que ele não estava ali pra brincadeira e o texto explica que a intenção era mesmo fazer um disco de música negra não só brasileira como universal. Desse momento em diante Dom Salvador passa a mostrar seu lado mais autoral e original, o que talvez tenha até atrapalhado sua carreira, a maioria das pessoas não gosta de novidade e muito menos de ousadia.
A nova onda de Salvador foi lapidada por dois anos e culminou na sua obra prima de 1971 "Som, Sangue e Raça". Criou um monstro chamado Abolição, uma banda formada por ex-componentes dos grupos Cry Babies e Impacto 8 que játocavam soul no fim dos anos sessenta, adicionando metais, percussão e vocais a seu som.
O resultado é sofisticado e denso, a mistura de ritmos e estilos é ainda maior e mais perfeita, sem dúvida um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos. Nos anos seguintes Dom Salvador continua trabalhando como arranjador e músico, até que em 1973 muda pra Nova York e nunca mais volta ao Brasil. Por lá grava em 1976 seu disco mais desconhecido por aqui, o "My Family", com um único brasileiro na banda, o baterista Portinho, e bambas do jazz local como Justo Almario que tocava com Roy Ayers.
Nesse álbum ele volta ao jazz mas com uma pegada mais post bop, típica da época, um som mais livre onde ele mostra de novo seu virtuosismo no piano. Nesse período trabalha com alguns músicos americanos como o flautista Lloyd Mcneil, com quem gravou o incrível disco "treasures", aliás com Portinho na bateria. Os dois discos do "Salvador Trio" e o "Som, Sangue e Raça" chegaram a sair em CD mas só o segundo "Salvador Trio" está em catálogo (pela ótima gravadora inglesa Whatmusic), o negócio é torcer pelos relançamentos.
Rodrigo Piza, lojista e colecionador

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