domingo, 30 de março de 2008

Fitna e o novo fascismo europeu

Do sempre muito bom blog do Pedro Dória:

Fitna e o novo fascismo europeu

30/March/2008 · 12:08 ·

Fitna foi ao ar, na Internet, no último 27 de março, quinta-feira. Está causando algum rebuliço na web conservadora – e, como de hábito, alguns de vocês vêm me cobrando a notícia pelo email e pelas caixas de comentários. É um filme anti-islâmico de 15 minutos de responsabilidade do deputado holandês Geert Wilders.

E é uma espécie de Mein Kampf, de Protocolos dos Sábios do Sião.

O objetivo de Wilders, um político ultra-direitista, é mostrar que em vários trechos do Corão está a pregação da violência; e que muitos clérigos muçulmanos pregam a violência. O Islã é isso, ele quer dizer. É um filme sádico, com cenas da execução de reféns de terroristas que busca apresentar a fé seguida por1 bilhão de pessoas no mundo como fundamentalmente má.

Não apenas a caracterização do Islã como o mau encarnado é simplista como também é errada. O Partido Libertário Popular holandês, que Wilders lidera, é a nova encarnação de um movimento tipicamente europeu. Não hesita em falsear a história com o objetivo de apresentar todo um povo como o responsável pelos males correntes.

Todas as suras que ele pesca do Corão, evidentemente, podem ser encontradas lá. O Corão não nega suas origens judaico-cristãs. Do Deuteronômio ao Livro de Josué ao Gênese, os livros sagrados de judeus e cristãos estão recheados de recomendações não só à violência contra quem é diferente e tem crenças diferentes como até ao genocídio. A história do cristianismo é uma de intolerância. E a do Islã está farta de momentos de tolerância.

É preciso compreender, sim, porque movimentos intolerantes islâmicos estão em alta no mundo. Não é por algo inerente à religião e sim por decisões equivocadas em série do Ocidente. Duas destas foram particularmente graves.

A primeira vem de princípios do século 20, quando o Império Britânico decidiu colocar os seguidores de uma seita minoritária que caminhava para a extinção no comando das cidades sagradas de Meca e Medina. Aos wahabitas da família Saud foram dados de presente, numa só canetada, a cidade que todo muçulmano tem que visitar ao menos uma vez na vida e as maiores reservas de petróleo conhecidas do mundo. Faz meio século que eles pegam o dinheiro do petróleo para financiar a construção de mesquitas em todo o mundo para divulgar sua visão arcaica e totalitária de uma religião muito mais variada do que isso. São mesquitas suntuosas que transformaram-se nas principais fontes de informação sobre o Islã no mundo.

Por que dar este presente aos Saud? Os britânicos tinham medo de dar tanto poder à família Hashemita, muito mais sofisticada, guardiões históricos de Meca e Medina, descendentes do profeta. Londres calculou que os Sauds seriam facilmente manobráveis.

O segundo erro grave é bem mais recente e recai sobre as mãos de um determinado grupo de estrategistas republicanos liderados por Dick Cheney e Donald Rumsfeld que tiveram poder nos governos Ford, Reagan e Bush, o atual. Com sua visão simplista que consideravam sofisticada do Oriente Médio fizeram uma política de identificar inimigos e financiar seus opositores. Assim, dinheiro aos sunitas para combater os xiitas do Irã. Dinheiro aos futuros Talibãs para combater a URSS. Dinheiro a Saddam Hussein para combater o Irã. Dinheiro aos sauditas, sempre. É assim que nasceu a al-Qaeda.

Não é apenas porque não compreende o Islã que o filme fascista holandês é simplista. É também porque considera os problemas dos jovens muçulmanos na Europa e no Oriente Médio equivalentes. Não são – e nem de perto.

Os rapazes que se juntam a grupos radicais ou terroristas no Oriente Médio não conhecem o Ocidente, foram criados no mundo islâmico e vivem, na maioria das vezes, sob ditaduras. Ali, cada país tem sua própria história.

Na Europa, os jovens radicais são em geral netos de migrantes. Já não falam o árabe – ou turco, ou seja lá o que for – familiar e nem se integraram à Europa. São vítimas de preconceito, são pobres. A volta à mesquita que seus pais abandonaram é uma busca por raízes. Juntam-se a grupos radicais como jovens de origem mexicana se reúnem em gangues em Los Angeles. E recorrem à violência. Em alguns casos, se transformam em criminosos, evidentemente. Mas achar que o Islã é o que os leva à violência é um erro. O Islã é a desculpa. Um jovem violento neto de marroquinos na Holanda e um militante do Hamas e um jovem Talibã não têm muito em comum.

Como é típico dos políticos fascistas, Wilders é também demagogo. Não foi por querer divulgar suas idéias a respeito do Islã que fez Fitna. Foi para provocar. Quer uma reação, quer bandeiras queimadas. Quer aparecer. E sabe que tem chances.

Logo no início do filme, apresenta a caricatura dinamarquesa de Maomé com o turbante bomba. Kurt Westergaard, o cartunista que o desenhou, está cogitando processar por quebra dos direitos autorais. Enquanto isso, o Partido Nacionalista Tcheco ofereceu solidariedade ao deputado cineasta. Partido Nacionalista Tcheco? Defendem pureza racial e tudo.

sábado, 29 de março de 2008

Lastimável

Veja abaixo, notícia publicada no Jornal O Tempo, aqui de Belo Horizonte "Brasileiro é a favor da redução da maioridade penal". O que chama atenção é o alto índice de aprovação dessa matéria, 83%. Alguns pesquisadores da juventude já indicam que entre os próprios jovens cresce a aprovação da redução da maioridade penal (veja abaixo também nota a respeito da Assembléia Legislativa de Minas). Tal visão imediatista e fomentada pelos programas policialescos da televisão é lastimável, pois camufla as razões reais para tamanha violência na sociedade brasileira como um todo, e entre os jovens de maneira específica. Além disso é necessário ficarmos sempre em alerta, pois são sempre os mais pobres e os negros as vitimas preferenciais dessa cultura da punição.


Brasileiro é a favor da redução da maioriade penal

Pesquisa revela que 83% acreditam que medida diminuiria o número de crimes

EZEQUIEL FAGUNDES
A Pesquisa CNI/Ibope divulgada na tarde de ontem apontou que a maior parte dos entrevistados defende a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Segundo o levantamento, 83% deles acreditam que essa medida pode diminuir o número de crimes. Outros 83% também defendem o uso das Forças Armadas no combate à criminalidade.

A pesquisa ouviu 2.002 pessoas entre os dias 19 a 23 deste mês, em 146 municípios. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

Segundo o diretor de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria, Marco Antonio Guarita, a CNI pediu um levantamento específico sobre segurança pública porque essa é a área com pior avaliação do governo Lula.

Essa parte da pesquisa mostra também que 43% dos entrevistados acreditam que ações sociais, como educação e formação profissional para os jovens, são mais adequadas para diminuir a violência no país. Outros 32% preferem o emprego da repressão policial sobre os criminosos. Já 24% dos entrevistados acham que a combinação das duas políticas trará melhores frutos.
De acordo com a pesquisa, 46% dos entrevistados avaliaram que a segurança pública piorou no país nos últimos dez anos. Outros 27% disseram que a situação está igual e 25% responderam que ela melhorou.

A pesquisa mostra que 53% dos entrevistados avaliam a questão da segurança como ruim ou péssima, 29% disseram que a questão é regular e outros 18% classificaram como boa ou ótima. Do total de entrevistados, 56% desaprovam as políticas do governo federal na área de segurança, contra 40% que aprovam.
E você, o que acha?
Como deve ser tratado pela lei o crime
praticado por um menor de 18 anos?
Clique e vote na enquete de O TEMPO.

Nos indicadores sociais, porém, o governo obteve resultados positivos em vários setores. As ações de combate à fome e à pobreza tiveram a aprovação de 62% dos entrevistados, contra apenas 35% que não apóiam a atuação do governo nesse campo.

Já os programas sociais nas áreas de saúde e educação também registraram aprovação de 60%, contra 37% que desaprovam as ações. O combate ao desemprego registrou o apoio de 55% dos entrevistados, contra 41% que desaprovam o governo nesse campo.

Chamou a atenção na pesquisa os resultados sobre o desemprego. Pela primeira vez desde junho de 2003 a aprovação às políticas de desemprego do governo superaram a desaprovação, disse o diretor de relações institucionais da CNI, Marco Antonio Guarita.

Repercussão. Especialistas na área de violência e segurança pública de Belo Horizonte são contra a redução da maioridade penal como forma de reduzir a criminalidade. Ao contrário disso, eles defendem o investimento maciço por parte do Estado em políticas públicas voltadas para o social, como educação, saúde, emprego e moradia.

Na opinião do coordenador da Promotoria da Infância e da Juventude, Lucas Rolla, o resultado da pesquisa reflete a ânsia da população por uma resposta imediata e eficaz do poder público. "A redução da maioridade vai ser totalmente inócua tendo em vista que o que precisa mudar é a realidade social do nosso país. No entanto, esse tipo de iniciativa é complexa e terá reflexos a médio e a longo prazos, mas como os políticos são muitos imediatistas tudo fica mais complicado", argumenta o promotor.
Clique e dê sua opinião sobre a
redução da maioridade penal no Brasil.

Para a juíza Valéria da Silva Rodrigues, da Vara Infracional da Infância e Juventude de Belo Horizonte, a pesquisa mostra o total desconhecimento da população sobre o sistema carcerário brasileiro.

"Se nossas prisões que mais parecem um campo de concetração recuperassem mesmo os índividuos, os índices de criminalidade não estariam tão altos. Compete aos governos combater as causas da criminalidade e não os seus efeitos. Em vez de reduzir a maioridade penal porque não investir em políticas sociais?"

Valéria Rodrigues declara ainda que atuar repressivamente não resolve o problema no país porque a criminalidade se renova.

Estado mantém 936 menores detentos


A Secretaria de Defesa Social do Estado de Minas informou ontem que o total da população carcerária do Estado é de 24 mil presos, divididos em 57 unidades prisionais. Em relação aos menores infratores, o governo mineiro informou que 936 detentos com idade inferior a 18 anos estão cumprindo pena em centros socioeducativos. Desses, 450 estão cumprindo pena em centros prisionais localizados na região metropolitana da capital.

A juíza da infância Valéria da Silva Rodrigues disse que, somente na capital, há pelo menos 600 menores sob custódia do Estado. Para este ano, o investimento no atendimento ao adolescente autor de ato infracional está estimado em R$ 79 milhões, com a previsão de inauguração de uma unidade com capacidade para 56 adolescentes em Juiz de Fora, na Zona da Mata. e a abertura de mais 266 vagas com a implantação de três centros socioeducativos em Minas. (EF)

Chefe do Dopcade diz ser contrário à medida


Na avaliação do delegado da Divisão de Orientação e Proteção à Criança e ao Adolescente (Dopcade), Dagoberto Alves Batista, reduzir de 16 para 18 anos a maioridade penal é simplesmente jogar a sujeira para debaixo do tapete. "A criminalidade independe da idade. Nós podemos verificar que os grandes crimes que dão repercussão negativa na base da pirâmide não são cometidos por menores, apesar de eles serem os mais prejudicados. Tem menino de dez anos que comanda o tráfico em BH com metralhadora em punho. Por outro lado, tem criminoso do colarinho branco que dá prejuízo de milhões", diz o delegado. Para ele, o ideal é investir em políticas de inclusão. (EF)

Jovens de Poços de Caldas aprovam redução de idade penal

Quando o mestre-de-cerimônia do Expresso Cidadania, o ator Marcos Frota, pediu que levantasse a mão quem fosse a favor da redução da idade penal, houve uma quase unanimidade na platéia. Este foi o posicionamento mais expressivo dos estudantes que participaram da etapa de Poços de Caldas, realizada nesta quinta-feira (27/3/08), desse projeto criado pela Assembléia Legislativa de Minas Gerais, em parceria com o Tribunal Regional Eleitoral e a Secretaria de Estado de Educação.

Antes de pedir a manifestação, Marcos Frota enfatizou sua esperança na recuperação de jovens infratores através de medidas que não incluíssem o encarceramento. Perguntou se os jovens concordariam que um menino de 15 anos fosse para a cadeia como um adulto de 28 anos pelo mesmo crime. A platéia em peso levantou a mão, demonstrando que o histórico de violência juvenil já é repudiado até mesmo na cidade que tem o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil.

Essa tendência à condenação da criminalidade juvenil já se havia manifestado expressivamente através das urnas eletrônicas, em Pouso Alegre, na última terça-feira. Ali, 227 votos foram registrados a favor da redução da maioridade penal e apenas 27 contrários. Gustavo Henrique, 16 anos, aluno da E.E. David Campista, disse que, com a redução, "vai aumentar o medo da galera de cometer crimes". Gustavo também votou contra a política de cotas para negros nas universidades. "Prefiro uma política de bolsas para alunos carentes. O importante não é ter profissionais negros, mas bons profissionais", opinou.

segunda-feira, 24 de março de 2008

Bioética a descoberta do dia

Um excelente texto. Ponderado a respeito das novidades biológicas, ainda bem que nem todos os padres católicos são bitolados.

Bioética a descoberta do dia

Dr. Frei Antônio Moser - Assessor da CNBB para assuntos de bioética (foto)

Desde os inícios da década de 1970 já se falava em reprodução assistida em laboratório; em manipulação genética; em engenharia genética e até em terapia genética. Acontece que até 1987, quando nasceu o primeiro bebê de proveta, e sobretudo até 1997, quando foi obtido o primeiro clone de animal a partir de células adultas (ovelha Dolly), tudo parecia colocar-se num horizonte longínquo, onde se tornava difícil distinguir o possível e o simplesmente imaginável. Como comentamos em vários artigos recentes, hoje os avanços são tantos e tão rápidos, que até o anjo Gabriel ficaria surpreso com a adesão incondicional de um certo número de cientistas. Também eles concordam com o anjo de que a Deus nada é impossível, pois também mais nada é impossível para biogeneticistas e biotecnólogos. Tudo é questão de tempo. E de fato, a cada dia aparecem, sistematicamente, notícias sobre novas e sensacionais descobertas. Como se fala em “prato do dia”, hoje poder-se-ia até criar uma página diária com o título: “a descoberta do dia”, e seguramente ela jamais ficará em branco. É verdade que não poucas notícias são requentadas e até ideologicamente trabalhadas. Mas indiscutivelmente mesmo as pessoas mais ligadas ao campo da biogenética, vão vivendo de susto em susto, sempre hesitando entre o fascínio e o temor. A notícia do último dia 25 de janeiro de 2008 foi esta: Craig Venter o conhecido geneticista (que, juntamente com James Watson, descobriu a estrutura do material genético – DNA - em 1953) teria acabado de criar a estrutura básica para um genoma sintético e este seria o passo mais importante para se obter vida sintética ou artificial. Note-se que já não se trata de transmissão artificial da vida, como a que vem ocorrendo nos processos denominados de reprodução assistida, mas de vida artificial. Há algum tempo se vem falando em “Second Life” (segunda vida) como expressão de um mundo virtual onde tudo parece real. Trata-se de uma espécie de simulador onde os usuários criam personagens, trabalham, divertem-se, gastam dinheiro, fazem negócios, cultivam vida social, criando amizades, namoros e casamentos, mas sempre, tudo restrito à tela de um computador. Agora já não se trataria de mundo virtual, mas de um mundo real mesmo. Para uma melhor compreensão do que isto significa, convém fazer uma retrospectiva.
Em maio de 2005 pesquisadores da Universidade de Boston anunciavam que um dia a biologia poderia produzir organismos artificiais com fins terapêuticos. Da “simples” modificação genética de uma bactéria, através da agregação de um gene estranho, agora já se poderia inserir uma rede genética inteira, com a ação de muitos genes. Para medir o alcance deste passo, serve uma comparação: a engenharia genética denominada convencional, por mais avançada que se apresente, equivaleria tão somente à troca da ponta de uma chave de fenda; no caso em questão, da possibilidade de se criar vida artificialmente, estaríamos falando da mudança do conteúdo total de toda a caixa de ferramentas. Se a partir da década de 1990 conseguimos, progressivamente, ler o código genético da espécie humana e de inúmeras outras espécies de seres vivos, agora estaríamos em condições de reescrever o código genético destes mesmos seres vivos e produzir outros seres que jamais existiriam através do que se denomina de evolução natural. Tratar-se-ia portanto de algo mais complexo e com maiores conseqüências sob todos os aspectos: existenciais, comportamentais, jurídicos, éticoPara uma melhor compreensão ainda, convém recordar que há alguns anos se anunciava o desenvolvimento de tecnologias capazes de transferir um vírus geneticamente modificado para integrar o genoma de uma bactéria hospedeira, que por sua vez seria capaz de criar um RNA mensageiro para ativar ou então bloquear a produção de uma proteína específica, ao serviço dos interesses do seu criador. Estamos falando de verdadeiros interruptores que ativam ou desativam genes, de acordo com as conveniências. Se antes a busca se localizava no conhecer os mecanismos da vida, através da observação e depois do desmonte, agora se busca criar de sistemas novos e sofisticados capazes de gerar a vida.
A “velha geração” de biólogos, biogeneticistas e biotecnólogos procurava compreender e reproduzir a vida existente. Agora trata-se de criar, literalmente, algo de novo. Projetando e construindo máquinas que atuem dentro das células, estes novos artesãos da vida têm objetivos bastante claros: inserir um cromossomo sintético dentro de uma célula e obter assim a criação de um organismo artificial, vivo, que jamais existiu ou seria capaz de existir por si próprio na evolução normal das espécies.
Esta operação teria três etapas: a primeira, já executada, pela transferência do genoma de uma bactéria para outra, transformá-las em espécies diferentes; a segunda, agora em execução, produzir quimicamente fragmentos de DNA desta bactéria; a terceira, em andamento, construir verdadeiras “máquinas” que atuem dentro das células.
Todas estas experiências visam criar novos seres que tenham vida própria, mas que obedeçam aos comandos humanos dados previamente na própria construção destes novos seres vivos. Com isto se visam criar fábricas biológicas que poderão produzir verdadeiros biocombustíveis em laboratório, como serão capazes de digerir lixo tóxico, absorver dióxido de carbono e outros gazes poluentes que estão na origem do efeito estufa.
As expectativas nesta linha não são de hoje, e de alguma forma, já há milhões e milhões micro organismos em ação: conjugando microeletrônica, biologia molecular e nanotecnologia, micróbios funcionam como se fossem sondas de DNA, passando as informações para bactérias associadas a genes informantes e iniciado o trabalho de limpeza. Esta operação denomina-se “biorremediação” e já está atuando em muitas partes do mundo, despoluindo rios, lagos e mares...
E mais ainda: o sonho é que estas verdadeiras usinas biológicas sejam verdadeiras indústrias terapêuticas que substituam os tradicionais medicamentos. Aliás os “tradicionais” medicamentos, por mais sofisticados que sejam, já há algum tempo se encontram na lista de produtos que deverão ser logo descartados: eles são por demais genéricos, agindo em todas as direções e com isto muitas vezes fazendo mais mal do que bem. O que já algum tempo se encontrava entre os objetivos mais importantes era a produção de medicamentos personalizados e “sob medida”. Se estas experiências agora anunciadas tiverem êxito até estes medicamentos iriam tornar-se dispensáveis. Agora bastaria tomar pílulas que seriam capazes de ligar ou desligar as fábricas de medicamentos, que seriam nossas próprias células.
Convenhamos que tudo isto é difícil de ser compreendido e nos deixa realmente confusos. Mais difícil ainda é admitir a possibilidade de se criar vida artificial, com a capacidade de auto- sustentação e reprodução. Sempre ouvimos dizer que só Deus é o Criador de tudo. Será que agora precisamos admitir que o homem também seria capaz de criar algo a partir do nada?
Não é bem assim. Em primeiro lugar porque estamos ainda tratando de bactérias, organismos super simples; e no caso em questão estamos falando de uma bactéria chamada mycoplasma genitalium, cujo genoma foi mapeado, estudado e desmontado, para ser recomposto com outras propriedades. Fazendo uma comparação com o mundo da informática se poderia dizer que foi preparado um software ( programa) para uma bactéria cumprir uma tarefa específica, mas até aqui ainda não se sabe como ativar este programa. E como observa o professor de engenharia biomédica de Boston, Jim Collins, a ciência ainda está longe de entender o que é a vida e o que a comanda.
De qualquer forma, decisivamente nos encontramos hoje numa situação onde a tecnologia avança a passos largos, bem mais de pressa do que as reflexões de cunho jurídico e ético. Ademais, ao mesmo tempo em que olhamos com esperança para o que se denomina medicina molecular e de biologia ambiental, capazes de apagar os efeitos desastrosos de pecados anteriores, uma vez mais, e sempre de novo, nos sentimos perplexos. Isto não só porque estas novas criaturas podem “enlouquecer” , mas porque podem ser programadas para enlouquecerem e passarem a agir perversamente. Como tantos outros inventos anteriores, todas as descobertas vêm carregadas de uma ambivalência radical: tanto podem ser colocadas ao serviço da vida, quanto ao serviço da morte. Com uma diferença em relação ao passado: fica cada vez mais claro que as clássicas armas representadas por fuzis, metralhadores, canhões e tanques, só servirão para produzir filmes de terror e para serem guardadas em museus. As verdadeiras armas serão invisíveis e bem mais mortíferas. E as infundadas acusações contra Sadam Hussein, de que possuiria terríveis armas biológicas e bacteriológicas irão se transformar em verdades comprovadas: não no pobre e destruído Iraque mas em milhares de laboratórios espalhados pelo mundo afora, sempre na espera de receber uma única ordem referente à direção para a qual serão encaminhadas. Ninguém vê, ninguém sente, ninguém sente nenhum odor: simplesmente todos morrem sem causas aparentes

domingo, 23 de março de 2008

O racismo nas ordens religiosas mineiras da época do ciclo do ouro

Excelente texto de Sebastião Nunes publicado hoje no Jornal O Tempo. Aliás se algum amigo leitor tiver o livro do Fritz do qual ele comenta, me empreste por favor.

Só enquanto recupero o fôlego

Depois de perambular pelo passado nas últimas crônicas, tendo vivido há 100, 50 e 10 mil anos atrás, volto hoje ao presente, antes de mergulhar novamente nos tempos antigos e, já agora, nas civilizações de que surgimos, começando pela Grécia de Homero. E tudo por causa de mais um livro que estou lendo.

Minha primeira lembrança de Fritz Teixeira de Salles é bastante confusa. Acho que fui levado à sua presença por Affonso Ávila, creio que no apartamento carioca de Jacques do Prado Brandão. Foi isso mesmo? Não sei. Fritz sofrera um derrame, estava se recuperando, lembro que a conversa foi difícil, especialmente pra mim, que o via pela primeira vez, e bastante doente. Fritz é nome maior da cultura mineira do século XX, mas ficou um tanto esquecido, abafado pelo foguetório dos intelectuais de Rio e São Paulo, sempre dispostos a se exibirem sob todos os holofotes. Sobre Affonso não é preciso dizer muito, exceto que é um dos três poetas brasileiros vivos essenciais, em pé de igualdade com Augusto de Campos e Décio Pignatari. Ah, sobre Affonso é preciso dizer também que é referência obrigatória para qualquer estudo ou pesquisa séria sobre o barroco mineiro.

Ficarei hoje com Fritz e seu estudo sobre os primórdios de nossa civilização, cujo título é exatamente "Associações Religiosas no Ciclo do Ouro". A primeira edição é de 1963, a que estou lendo, emprestada por Jaime Prado Gouvêa. A segunda foi lançada este ano, 45 anos depois. Que buraco fundo na cultura de um povo! E que Affonso me perdoe, pelas heresias que certamente escreverei.

AS MINAS DE OURO

Fritz estuda as irmandades religiosas em Ouro Preto, Mariana, São João del Rei e Sabará, que para ele resumem satisfatoriamente o ciclo colonial. Seu objetivo, exposto claramente no início da obra, é discutir as relações de poder dentro e fora delas. O enfoque é econômico e social. O interesse é saber quem era quem, quanto poder tinham as irmandades e qual a sua influência na sociedade da época. E vai fundo na pesquisa. Como ele mesmo escreveu, "durante os últimos quatro anos, vimos, lemos, fotografamos ou manuseamos cerca de cem livros de compromissos", documentos que as irmandades eram obrigadas a remeter a Lisboa, para aprovação da Coroa. Como não sou historiador, farei apenas um breve apanhado do que esses textos apresentam de mais curioso, pitoresco ou rico de interesse, ainda hoje.

Como ponto de partida, é importante dizer que Fritz determinou cuidadosamente os períodos de fundação das corporações, estudou seus estatutos, analisou seus objetivos e mostrou como brancos, pardos, pretos e pretos crioulos (negros nascidos no Brasil) podiam participar de cada irmandade, dividindo-as por período e área de atuação.

Por exemplo, ressalta os seguintes aspectos decisivos: "

1. O preconceito racial é rigoroso e este fato obriga os homens de cor a se reunirem em irmandades próprias, o que implica no mesmo movimento de aglutinação dos outros grupos brancos, aristocratas e comerciantes. Aliás, os que se unem em primeiro lugar são os brancos, os quais, não permitindo a entrada de pretos, criam a motivação para que estes organizem suas irmandades.

2. As corporações, em geral, desempenham função assistencial e previdenciária aos seus filiados, chegando mesmo a emprestar dinheiro a juros.

3. As irmandades são, por isso, regidas por princípios estatutários de disciplina coletiva bastante rígida."

PRECONCEITO ÀS CLARAS

No compromisso da irmandade do Senhor dos Passos (1721), da freguesia de São José do Rio das Mortes, lemos:

"Os irmãos que se receberem hão de ser sem nenhum escrúpulo, limpos de geração, ou sejam nobres, oficiais e assim de não terem uns e outros raça de judeu, ou de mouro, ou de mulato, ou de novo convertidos de alguma nação infecta."

Nos estatutos da Ordem 3ª de São Francisco (Mariana, 1765), consta:

"Se é branco legítimo sem fama ou rumor de judeu, mouro ou mulato, carijó ou outra infecta nação e o mesmo se praticará com a mulher, sendo casada."

Mais adiante, cita Diogo de Vasconcellos: "Na Vila do Carmo, por exemplo, a Matriz pertencia a Irmandade do Sacramento, em cujos estatutos primitivos se lê: Não podem entrar nesta Irmandade judeus, mulatos e hereges".

LUTA DE CLASSES

Também a disputa econômica era feroz nas irmandades. O empréstimo de dinheiro a juros era comum, inclusive ao próprio governo. Numa carta transcrita pelo historiador Francisco Antônio Lopes, e citada por Fritz, o capital general da capitania pede urgência num empréstimo, "debaixo de caução de ouro em pó", empréstimo que é concedido no mesmo dia.

Se um candidato a irmão se achava "em artigo de morte", isto é, em risco de vida, o Estatuto da Ordem 3ª de São Francisco determinava que "que lhe não lance o hábito, nem professe, sem dar primeiro de esmola cinqüenta oitavas de ouro".

"Como se sabe", comenta o historiador, "a irmandade do Carmo é uma ordem poderosa e importante". No capítulo quarenta do Estatuto, podemos ler:

"Pagará cada irmão uma oitava de ouro em cada ano; o Prior de sua mesada cento e cinqüenta mil réis; o Superior setenta e cinco e os mais mesários vinte oitavas cada um. A Irmã Prioresa cinqüenta oitavas. A Superiora vinte e cinco. A Irmã Zeladora doze oitavas e meia". Prossegue Fritz: "A importância de cento e cinqüenta mil réis como mesada do Prior é uma exorbitância para a época. Somente um indivíduo realmente muito rico poderia ocupar tal cargo".

Não é sem motivo que Minas sempre foi considerado o Estado de mais forte preconceito racial e mais profundamente dedicado à usura no país, tema genialmente satirizado por Affonso Ávila em vários momentos de sua poesia. Há quem diga que as coisas mudaram. Talvez, talvez, talvez - mas não muito.

Fonte: http://www.otempo.com.br/otempo/colunas/?IdEdicao=867&IdColunaEdicao=5275

A voz da favela

Para não dizer que só falamos mal da grande imprensa e de o Globo, veja a ótima matéria a respeito de uma pesquisa feita nas favelas do Rio. Prestem atenção na borçalidade da força policial carioca, em negrito. Veja o que diz o imbecil de um delegado a respeito da "tendência mundial" do uso de blindados. Afinal eles são muito utilizados no Haiti!!!!

A voz da favela
Maioria reprova legalização das drogas e apóia caveirão e intervenção das Forças Armadas

Dimmi Amora e Vera Araújo

Moradores de 101 comunidades carentes da capital rompem a lei do silêncio e ganham voz numa pesquisa que, entre outros resultados, quebra mitos — como o de que o veículo blindado da polícia, o caveirão, usado em operações nas favelas, não é bem aceito pela população.

Também foram postos à prova temas como a legalização de drogas leves e a adoção da pena de morte no Brasil, rejeitadas pela maioria (respectivamente, 60,5% e 54% dos entrevistados). Já a intervenção das Forças Armadas nas comunidades foi aprovada pela maior parte (48,9%) das 1.074 pessoas ouvidas.

A grande surpresa foi a aprovação do blindado (por 48% dos moradores, enquanto 29% se disseram contrários à sua utilização). O percentual de apoio é maior na Zona Oeste (61,4%), entre homens (53,4%), os mais jovens, os de menor renda e entre os analfabetos e com curso superior. Ele é menor na Zona Norte (33,6%), entre as mulheres, os mais velhos, quem tem maior renda e aqueles com escolaridade entre 1ae 4aséries.

Responsável por encomendar o levantamento, feito pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS), o coordenador da Central Única das Favelas (Cufa), Celso Athayde, se surpreendeu com o alto índice de aprovação do caveirão. O veículo, usado pela polícia do Rio desde o início da década, sofre forte rejeição dos movimentos de defesa dos direitos humanos.

— Foi uma grande surpresa. Acreditei que a condenação seria muito maior. No entanto, a partir dessa pesquisa, passei a acreditar que o problema não está no caveirão, que, lógico, tem que proteger a vida dos agentes da lei e da ordem. O problema está em quem o conduz, quem está dentro dele. A questão central está na real intenção dos policiais na hora da incursão — afirma Celso

Morador: blindado valorizou imóveis

Morador há 38 anos de uma favela da Zona Oeste, Francisco (nome fictício), de 82 anos, considera o caveirão a principal arma da polícia para impor a ordem nas comunidades dominadas pelo tráfico: — Quando me mudei para cá, um apartamento valia R$ 30 mil. Há cerca de 20 anos, o tráfico se instalou e, a partir daí, os preços despencaram.

Tinha gente que conseguia no máximo R$ 5 mil, quando não largava tudo para fugir dos bandidos. Hoje, com a entrada do caveirão, os imóveis voltaram a ser valorizados: um apartamento de três quartos custa R$ 10 mil.

A monitora Vânia Márcia Gomes da Silva, de 43 anos, que, em 24 de maio de 2006, aos gritos, conseguiu cessar o tiroteio entre policiais e traficantes, quando o ônibus escolar em que viajava ficou no meio de um fogo cruzado na Rocinha, discorda de Francisco. Para ela, só os policiais ficam protegidos dentro dos blindados.

— Sou contra o caveirão, pois a bala sempre sobra para o inocente. Eles atiram lá de dentro e a gente nem vê quem é o policial — justifica Vânia.

Como chefe da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), uma das forças policiais que mais utilizam os blindados em incursões nas favelas, o delegado Rodrigo Oliveira comemora os resultados do levantamento.

Ele ressalta que, pela primeira vez, uma pesquisa ouviu realmente os moradores. Segundo o delegado, os entrevistados entenderam a importância do veículo para a proteção dos policiais: — O blindado é uma tendência mundial. Acabei de chegar do Haiti e presenciei que é comum, nas operações em uma única favela, utilizarem de 25 a 33 blindados. Eles são empregados inclusive no patrulhamento das ruas. Esses carros diminuem o risco inclusive de bala perdida, pois só são usados para o transporte de policiais — garante Rodrigo.

O fato de o caveirão ter maior índice de aprovação na Zona Oeste (61,4%) pode ser explicado, segundo o coordenador da Core, pelo fato de nessa região a maioria das favelas ser plana. Nesse tipo de terreno, é mais fácil manobrar o blindado e ele ganha maior agilidade.

O coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública, mestre em psicologia social, enfatiza a importância de pesquisas que ouçam mais a comunidade carente. Segundo ele, o único parâmetro usado pelas secretarias de Segurança são os boletins de ocorrência, que acabam sendo frios e não refletem a realidade das vítimas. O oficial também se surpreendeu com o nível de aprovação do uso do caveirão.

— A população está entendendo a necessidade do blindado. O que eu sou contra, particularmente, é o uso da caveira com o punhal atravessado como símbolo do blindado do Bope, mas a proteção do policial é importante, pois ele fica muito vulnerável nessas áreas conflagradas.

No perfil dos pesquisados, foi encontrado apenas 1% de analfabetos.

Já outros 9% afirmaram ter curso superior ou pós-graduação. Dos entrevistados, quase metade (49,4%) disse ter renda de menos de dois salários mínimos, enquanto apenas 1,8% informou ter rendimentos acima de dez salários. O número de evangélicos (30%) é bem superior à média do país (18%) e o de católicos (45%), menor (no Brasil, o índice é de 74%).

Rossino Castro Diniz, presidente da Federação das Associações de Favelas do Estado do Rio (Faferj), diz que a pesquisa não o surpreende. Segundo ele, até mesmo nos temas mais polêmicos, ela reflete com clareza o que pensam os moradores das favelas sobre a maior parte dos assuntos.

A rejeição dos moradores à legalização das drogas não surpreendeu Flávia (nome fictício), de 48 anos, moradora de uma favela da Zona Norte.

Ela diz que vê a destruição diária de famílias e pessoas por causa do uso de drogas e que tem a mesma opinião da maioria, que reprova a liberação: — Essa é uma pergunta que nem deveria ser feita. Liberar drogas é um absurdo. É colocar fogo no mundo.

A cientista social Sílvia Ramos, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), da Universidade Candido Mendes, diz que a resposta à questão da legalização das drogas segue a tendência nacional. Ela alerta, no entanto, para o alto índice de “não resposta” (não responderam 7,4% e 11,9% disseram não ter opinião formada sobre o tema).

Os moradores mostram pouca confiança na polícia. Pouco mais de um terço diz que já ouviu falar de envolvimento de policiais com traficantes de suas comunidades. A utilização das Forças Armadas para combater o crime organizado é aprovada pela maioria dos entrevistados, mas 29,8% se dizem contrários. A maior parte rejeitou a pena de morte para crimes hediondos. No entanto, 28,9% aprovaram a medida.

A maioria dos entrevistados (73,2%) concorda que a sociedade tem uma visão distorcida das favelas, por considerá-la um reduto de marginais.

Mas 7,5% acham que essa visão é correta. Quase 10% dos entrevistados dizem não se sentir integrante da sociedade. Outros 28,7% afirmam que só se sentem integrantes em parte e 60,2% se sentem completamente integrados.

Para o presidente da Faferj, isso reflete a forma como os governo trata quem mora nas favelas.

— Se temos um governador que diz que as mulheres na Rocinha são fábricas de bandidos e um secretário de Segurança que afirma que um tiro em Copacabana é diferente de um tiro na Favela da Coréia, fica difícil as pessoas se sentirem incluídas


O Brasil como ele é

Um ótimo texto do Pedro Dória sobre essa falsa polarização PT-PSDB. Não vou nem comentar da realidade belo horizontina...

O Brasil como ele é

20/Março/2008 ·

ão era assim, passou a ser. Polarização não me incomoda pessoalmente. Mas polarização artificial, polarização inventada onde ela não existe, sim. E parte do público politizado, interessado em política, está sendo usado como massa de manobra.

Não há diferenças entre os planos de governo do PT e do PSDB. Ambos apostam na mesma política monetária. Ambos têm a mesma política social baseada em bolsas de renda mínima com contrapartidas. Ambos têm a mesma falta de projeto futuro para o Brasil.

Do ponto de vista de projeto de governo, a diferença entre PSDB e PT é mais ou menos como a diferença entre Hillary e Obama. Ou seja: quase nenhuma, de filigranas. Representam ambos, no Brasil, o mesmo que o New Labour inglês de Tony Blair representa, o que os New Democrats de Bill Clinton representaram. São as mesmas idéias.

PT e PSDB têm diferenças de história. Em seus núcleos duros, um dos partidos tem base sindical e o outro na elite de centro-esquerda paulista. Coisa equivalente existe dentro do Partido Democrata norte-americano. Há os democratas da Nova Inglaterra e há o poder interno das Unions. Não faz qualquer sentido que PSDB e PT sejam partidos diferentes. Mas são. Acaso o Brasil fosse lógico, faria sentido uma aliança PT-PSDB no governo e uma oposição DEM-PL. Ou vice-versa. Mas a lógica nós a abandonamos faz tempo.

O que realmente separa tucanos e petistas são os projetos pessoais de poder de seus líderes. Isso não enobrece ninguém. Há ódios, raivas, cálculo, esperteza – coisas da política. E parte da imprensa ingênua ou espertamente compra isso como se fosse diferença política de fato. Nesta toada, rusgas de alguns políticos, as várias brigas internas em governos, as histórias de corrupção que ambos têm, vão sendo alimentadas. O público é iludido. Usa-se a tática do inimigo externo – velha como a Sé de Braga. Para distrair o eleitor de meus problemas, que se jogue a culpa no outro, que fique bem disfarçado aquilo que realmente importa.

Enquanto isso, a imprensa tem um problema. Há uma mudança tecnológica em curso que dificulta a vida. Revistas vendem menos. A polarização, a incitação ao ódio, serve para vender revista. Serve para atrair leitores de blog. Mas que ninguém tenha dúvidas: imprensa ainda é um grande negócio que faz muita gente muito rica. E esta é uma segunda briga que rola em paralelo.

A Igreja Universal do Reino de Deus é o novo grande concorrente nesta disputa. Tem um canal de televisão que está crescendo. Terá um jornal diário. Tem um projeto político-partidário. Está mais influente na vida brasileira e quer seu espaço. Está preparada para um conflito. Do outro lado, os jogadores correntes deste mercado, nas tevês e jornais, também estão armados. Quem aumentará audiência? Quem perderá? Quem terá mais poder no final? Quem terá mais dinheiro?

Por causa da Internet, as grandes empresas de telecomunicação que emergiram da privatização de Sérgio Motta entraram no negócio da imprensa. Foi um movimento natural: a princípio, não havia nada em português na web e era preciso dar material de leitura para que as pessoas usassem o serviço. Hoje, virou negócio: há influência para exercer sobre um grande público e há dinheiro para ganhar.

A maneira como grandes negócios são conduzidos não é bonita. Há um emaranhado que envolve laços políticos, bancos, o peso que o governo tem por conta dos fundos de pensão. É muito dinheiro o que levantam as grandes telecoms. Ninguém envolvido neste jogo é inocente.

Empresas jornalísticas vivem de venda direta aos leitores e, principalmente, publicidade. O governo – qualquer governo – usa a verba que tem para beneficiar quem lhe interessa. Grupos com interesses próprios usam a imprensa para melhorar suas chances na política. Alguns veículos, em troca de gordas verbas publicitárias, se dispõem a atacar o inimigo de seu amigo. É uma máquina complexa com muitas variáveis, um jogo muitas vezes complicado de alcançar. As fidelidades de um dia no dia seguinte são outras. Mas não é jamais ideologia que está em jogo neste troca-troca de alianças e inimizades. É poder e é dinheiro.

Antonio Carlos Magalhães costumava dizer que existem três tipos de jornalista. Um quer emprego. Outro quer dinheiro. O terceiro quer notícia. Assim, ele continuava, o político que souber diferenciar pelo olho um jornalista do outro sempre se dará bem. Ele tinha toda razão: é como somos. Controlava os três grupos como um mestre.

Não existe uma guerra ideológica na imprensa brasileira. Não existe uma guerra ideológica no Brasil. Não há polarização. Finge-se uma polarização para disfarçar empresas e grupos que têm interesses. E ainda existem os mesmos três tipos de jornalistas. Diferenciar um do outro requer bom olho.

Enquanto a disputa pelo poder de fato no Brasil rola, o leitor é ludibriado com uma briga ideológica inexistente.

sábado, 22 de março de 2008

Frases, frases,frases... nesse caso a frase do ano

Do Genial Tim Maia

"Passou de branco, preto é. Não existe este negócio de mulato.
Mulato pra mim é cor de mula"

A audácia da esperança

Abaixo discurso de Obama a respeito da questão racial nos EUA. Sugiro uma leitura demorada e com acuidade pois o texto exige. Aliás esta ai abaixo um documento histórico que merecerá várias análises futuras. Para os militantes das questões afirmativas e do movimento negro, no qual me incluo, este texto sugere reflexões dolorosas, demoradas e complexas. é bom lembrar que a bem da verdade trata-se de um texto dirigido a realidade norte-americana e escrito por um candidato em busca de obter uma indicação partidária para concorrer a presidência . De toda forma, se acreditarmos no Obama cidadão, e não necessariamente no candidato e se acreditarmos em sua verdade que foi exposta em vários livros, o que me parece até o momento justo, sua vitória de fato se consistirá em um momento histórico. Não somente porque simbólico de um negro na presidência mas sim porque traz consigo a promessa de fundação de uma nova época nas relações raciais norte-americanas e por conseqüência nas relações raciais nnestas bandas de cá .
O texto é um belo exercício de contextualização do movimento negro nos EUA, nesse sentido ele propõe um rompimento com discurso exclusivamente racialista mas não nega a importância desse movimento, aliás sua própria candidatura é fruto deste movimento. Dessa forma ele tenta não seguir o caminho mais fácil do sim ou não. Me agrada particularmente ai, pois como disse em minha dissertação a respeito dos quilombolas se é necessário e verdadeiramente como cidadão e antropólogo acredito que a questão não deve ser lida de uma forma meramente racializada, visto que tal postura em última análise irá corroborar os discursos dos contrários as causas quilombolas. Trata-se de uma questão étnica, de etnicidade. Não obstante não se pode e não se deve negar a importância do movimento negro organizado nessas conquistas; daí ser necessário e mesmo o corpo legal brasileiro falar em étnico-racial. A superação do racialismo e do racismo não passa como bem diz Obama em certa altura do texto pela sua negação ou diminuição de sua importância histórica e sim pela possibilidade (que de utópica deve se tornar real) da convivência dos múltiplos. Não se deve atacar as ações afirmativas mas sim louvá-las por permitir que um grupo historicamente oprimido tenha alcançado posições outrora negados a estes. Mas acima de tudo deve ter-se em mente que tal programa é passageiro e seu sucesso é permitir que um afro-descendente em uma sociedade racista, a de lá e a de cá possa ser presidente. Neste sentido a candidatura de Obama é a prova maior do sucesso desse programa. Agora é bom lembrar que a reconciliação proposta por Obama só foi possível após o choque. Esta na hora do Brasil discutir com mais seriedade seu posicionamento em relação a questão racial.

O New York Times que, assumidamente, apóia a candidatura de Hillary Clinton, saiu com um editorial, além de outras matérias, classificando o discurso como o mais importante de um candidato à presidência, desde que Kennedy fez o memorável discurso sobre a questão religiosa, que atingia a sua canditatura pelo fato dele, Kennedy, ser ser de formação católica e não protestante, no início da década de 60.
O Washington Post afirma que, depois desse discurso, mesmo o candidato republicano terá que ter muito cuidado ao abordar a questão racial nos EUA.

Fala, Obama:

"Nós, o povo, com o objetivo de formar uma União mais perfeita.

Duzentos e vinte e um anos atrás, em um salão que ainda existe do outro lado da rua, um grupo de homens se reuniu e, com estas palavras simples, lançou a improvável experiência em democracia dos Estados Unidos. Agricultores e estudiosos; estadistas e patriotas que atravessaram um oceano para escapar da tirania e de perseguição religiosa finalmente leram sua verdadeira declaração de Independência numa convenção da Filadélfia que atravessou a primavera de 1787.

O documento que eles produziram eventualmente foi assinado, mas nunca concluído. Foi manchado pelo pecado original desta nação, a escravidão, uma questão que dividiu as colônias e levou a convenção a um impasse, até que os fundadores decidiram permitir que o comércio de escravos continuasse por mais vinte anos, deixando qualquer resolução final para as futuras gerações.

Naturalmente, a resposta para a questão da escravidão já estava contemplada em nossa Constituição - uma Constituição que tinha em seu núcleo a igualdade dos cidadãos diante da lei; uma Constituição que prometeu ao povo liberdade, justiça e uma união que poderia e deveria ser aperfeiçoada com a passagem do tempo.

E ainda assim palavras em um pergaminho não foram suficientes para livrar os escravos da servidão, ou garantir a homens e mulheres de todas as cores e credos seus direitos e obrigações como cidadãos dos Estados Unidos. Seriam necessárias gerações sucessivas de americanos dispostos a fazer sua parte - através de protestos e lutas, nas ruas e nos tribunais, em uma guerra civil e com desobediência civil e sempre correndo grande risco - para reduzir a distância entre a promessa de nossos ideais e a realidade de seu tempo.

Esse foi um dos objetivos estabelecidos no início desta campanha - continuar a longa marcha daqueles que vieram antes de nós, a marcha pelos Estados Unidos mais justos, mais iguais, mais livres, mais acolhedores e mais prósperos.

Eu decidi concorrer à presidência nesse momento da História porque acredito profundamente que não podemos enfrentar os desafios de nosso tempo a não ser que o façamos juntos - a não ser que aperfeiçoemos nossa União entendendo que podemos ter origens diferentes, mas temos também esperanças comuns; que não somos parecidos, nem viemos dos mesmos lugares, mas todos queremos ir na mesma direção - em busca de um futuro melhor para nossos filhos e netos.

Essa crença vem de minha fé indossolúvel na decência e na generosidade do povo americano. Mas também vem de minha própria história.

Sou filho de um homem negro do Quênia e de uma mulher branca do Kansas. Fui criado com a ajuda de um avô branco que sovreviveu à Depressão e lutou no exército de Patton durante a Segunda Guerra Mundial e de uma avó branca que trabalhou numa fábrica de bombardeiros em Fort Leavenworth enquanto o marido estava além-mar. Freqüentei algumas das melhores escolas dos Estados Unidos e vivi em uma das nações mais pobres do mundo. Sou casado com uma negra americana que carrega nela o sangue de escravos e donos de escravos - uma herança que passamos às nossas duas preciosas filhas. Eu tenho irmãos, irmãs, sobrinhas, sobrinhos, tios e primos de todas as raças e tons de pele, espalhados em três continentes e, enquanto viver, jamais vou esquecer que em nenhum outro lugar da Terra minha história seria possível.

É uma história que não me tornou o candidato mais convencional. Mas é uma história que introduziu em minha herança genética a idéia de que esta Nação é mais do que a soma de suas partes - de todas as que existem, somos verdadeiramente únicos.

Ao longo do primeiro ano desta campanha, contra todas as previsões, vimos a fome do povo americano pela mensagem de unidade. Apesar da tentação de ver minha candidatura puramente através de lentes raciais, conseguimos grandes vitórias em estados com algumas das populações mais brancas do país. Na Carolina do Sul, onde a bandeira da Confederação ainda tremula, construímos uma poderosa coalizão de afro-americanos e americanos brancos.

Isso não significa negar que a questão racial faz parte de nossa campanha. Em vários estágios, alguns comentaristas me chamaram ou de muito negro ou de não suficientemente negro. Vimos tensões raciais emergir durante a semana que antecedeu as prévias da Carolina do Sul. A mídia rastreou todas as pesquisas de boca-de-urna em busca de indícios de polarização racial, não apenas em termos de brancos e pretos, mas pretos e pardos também.

Ainda assim, apenas nas semanas mais recentes o debate racial tomou um caminho particularmente divisionista.

De um lado, ouvimos a sugestão de que minha candidatura de alguma forma é um exercício de política de ação afirmativa; que se baseia somente no desejo de liberais de comprar reconciliação racial pagando pouco. De outro lado ouvimos meu ex-pastor, o reverendo Jeremiah Wright, usar linguagem incendiária para expressar opiniões que têm o potencial não só de aumentar a divisão racial, mas de denegrir tanto a grandeza quanto a bondade de nossa Nação; e isso ofendeu tanto brancos quanto negros.

Já condenei, de forma inequívoca, as declarações do reverendo Wright que causaram tal controvérsia. Para alguns, algumas dúvidas persistem. Eu sabia que ele foi ocasionalmente um crítico feroz da política doméstica e exterior dos Estados Unidos? Naturalmente. Alguma vez ouvi declarações controversas dele enquanto estava na igreja? Sim. Discordei fortemente de muitas das opiniões políticas dele? Claramente - assim como muitos de vocês já ouviram declarações de seus pastores, padres ou rabinos das quais discordaram frontalmente.

Mas as declarações que causaram a recente tempestade não foram simplesmente controversas. Não foram apenas resultado da tentativa de um líder religioso de falar contra uma injustiça. Em vez disso, expressaram uma visão distorcida deste país - uma visão em que o racismo branco é endêmico, que eleva o que está errado com os Estados Unidos acima de tudo o que está certo; uma visão que vê os conflitos no Oriente Médio primariamente como resultado das ações de aliados como Israel, em vez de emanados da ideologia perversa e odiosa do islamismo radical.

Assim sendo, as declarações do reverendo Wright não foram apenas errôneas, mas divisivas, divisivas em um período em que precisamos de unidade; tingidas racialmente em um momento em que precisamos de união para confrontar uma série de problemas monumentais - duas guerras, a ameaça terrorista, uma economia decadente, uma crise de saúde pública e mudanças no clima potencialmente devastadoras; problemas que não são de negros, brancos, latinos ou asiáticos, mas problemas que desafiam a todos nós.

Dada minha origem, minha carreira política e meus valores e ideais, não há dúvida de que haverá aqueles para os quais minhas declarações e condenações não são suficientes. Por que me associei com o reverendo Wright? Por que não procurei outra igreja? Confesso que se tudo o que eu conhecesse do reverendo Wright fossem os trechos de sermões repetidos continuamente na televisão e no You Tube - ou se a Igreja Unida da Trindade fosse a caricatura vendida por alguns comentaristas - não há dúvida de que reagiria da mesma forma.

Mas a verdade é que isso não é tudo o que conheço do homem. O homem que encontrei há mais de vinte anos é o homem que me ajudou a adotar a fé cristã; o homem que falou de nossa obrigação de amar uns aos outros; de cuidar dos doentes e ajudar aos pobres. Ele é um homem que serviu a este país como fuzileiro naval; que estudou e deu palestras em algumas das mais importantes universidades e seminários e que por mais de trinta anos dirigiu uma igreja que serviu à comunidade fazendo na terra o trabalho de Deus - ao abrigar os sem-teto, alimentar os necessitados, dar creche e bolsas de estudo, pregar nas prisões e sair em busca daqueles que sofrem de AIDS.

Em meu primeiro livro, Sonhos de Meu Pai, descrevi a experiência de meu primeiro culto:

"Fiéis começaram a gritar, a se levantar dos assentos e a bater palmas, como se um vento carregasse as palavras do reverendo pela igreja... E naquela simples nota - esperança! - eu ouvi algo diferente; aos pés da cruz, dentro das milhares de igrejas de toda a cidade, eu pensei nas histórias comuns das pessoas negras se fundindo com as de Davi e Golias, de Moisés e do Faraó, dos cristãos nas jaulas dos leões, do campo de ossos secos de Ezequiel. Essas histórias - de sobrevivência e liberdade e esperança - se tornaram nossas histórias, minha história; o sangue que foi derramado foi nosso sangue, as lágrimas nossas lágrimas; assim que aquela igreja negra, naquele dia claro, parecia ser de novo uma nave carregando a história de nosso povo para futuras gerações e para um mundo mais amplo. Nossas atribulações e triunfos, ao mesmo tempo únicas e universais, negras e mais do que negras. Ao descrever nossa história, os episódios e a música nos permitiram resgatar memórias das quais não tínhamos vergonha... memórias que todos poderiam estudar e celebrar - e com as quais poderíamos começar a reconstrução."

Essa tem sido minha experiência na Trindade. Como em outras igrejas proeminentes de todo o país, a Trindade encampa toda a comunidade negra - o doutor e a mãe que depende de ajuda pública, o estudante modelo e o ex-bandido. Como outras igrejas negras, os cultos da Trindade são cheios de gargalhadas e algumas vezes de humor vulgar. São repletos de dança, de palmas, de gritos - que podem assustar ouvidos não acostumados. A igreja contém em si toda a bondade e a crueldade, a tremenda inteligência e a chocante ignorância, as lutas e sucessos, o amor e, sim, a amargura e o preconceito que fazem parte da experiência negra americana.

E talvez isso ajude a explicar meu relacionamento com o reverendo Wright. Ele pode ter sido imperfeito, mas é como um integrante da família. Ele reforçou minha fé, celebrou meu casamento e batizou minhas crianças. Nunca ouvi em minhas conversas com ele qualquer referência a grupos étnicos em termos depreciativos; nunca o vi tratar os brancos que não fosse com cortesia e respeito. Ele carrega as contradições - as boas e as ruins - da comunidade à qual serviu com dedicação por tantos anos.

Não posso deserdá-lo assim como não posso deserdar a comunidade negra. Não posso deserdá-lo assim como não posso fazer isso com minha avó branca - a mulher que ajudou a me criar, a mulher que se sacrificou continuamente por mim, a mulher que me ama mais do que a qualquer coisa nesse mundo, a mesma mulher que certa vez confessou ter medo de homens negros que passavam por ela nas ruas, e que em mais de uma ocasião repetiu estereótipos raciais ou étnicos que me espantaram.

Essas pessoas fazem parte de mim. E são parte dos Estados Unidos, um país que eu amo.

Há os que vão ver nisso uma tentativa de justificar ou desculpar comentários que são indesculpáveis. Posso garantir que não se trata disso. O mais seguro politicamente talvez fosse mudar de assunto e esperar que o episódio fosse esquecido. Podemos simplesmente considerar o reverendo Wright um caduco ou demagogo, da mesma forma que Geraldine Ferraro foi desprezada logo depois de suas declarações recentes, como se abrigasse um profundo preconceito racial. Mas acredito que a questão racial não pode ser simplesmente ignorada. Cometeríamos o mesmo erro que o reverendo Wright cometeu em seus sermões ofensivos sobre os Estados Unidos - simplificar, estereotipar e amplificar os pontos negativos que distorcem a realidade.

O fato é que os comentários que foram feitos e as questões que surgiram nas últimas semanas refletem as complexidades da questão racial neste país, sobre as quais nunca realmente nos debruçamos - parte de nossa União que ainda precisamos aperfeiçoar. Se nos afastarmos agora, se simplesmente recuarmos cada qual para seu canto, nunca conseguiremos nos unir e enfrentar os desafios na saúde, na educação, a necessidade de conseguir bons empregos para todos os americanos.

Entender essa realidade requer relembrar como chegamos até aqui. Como William Faulkner uma vez escreveu, "o passado não está morto e enterrado. Na verdade, ele nem mesmo passou." Não precisamos repetir aqui a história da injustiça racial nesse país. Mas precisamos relembrar que muitas das disparidades que existem hoje na comunidade afro-americana podem ser ligadas diretamente a gerações passadas que sofreram o legado brutal da escravidão e de Jim Crow.

Escolas segregadas eram e são escolas inferiores; ainda não foram consertadas, cinquenta anos depois do caso Brown v. Board of Education - e a educação de baixa qualidade que ofereceram e oferecem ajuda a explicar a diferença entre as conquistas de estudantes brancos e negros.

Discriminação legalizada - quando negros foram impedidos, muitas vezes através de violência, de ter posse de propriedade, de receber empréstimos, de ter acesso às hipotecas da agência de habitação, ou foram excluídos de sindicatos, da força policial, do corpo de bombeiros - significa que famílias negras não puderam acumular qualquer riqueza para passar a futuras gerações. Essa história ajuda a explicar a diferença de renda entre negros e brancos e os bolsões de pobreza que persistem hoje em comunidades rurais e urbanas.

A falta de oportunidade econômica para homens negros, a vergonha e a frustração de não poder sustentar os próprios filhos contribuíram para a erosão das famílias negras - um problema que as políticas oficiais de ajuda podem ter contribuído para aprofundar. E a falta de serviços básicos para tantos bairros negros urbanos - parques para crianças, policiamento, coleta regular de lixo - ajudou a criar um ciclo de violência e uma negligência que continua a nos assombrar.

Essa é a realidade na qual o reverendo Wright e outros afro-americanos desta geração cresceram. Eles se tornaram adultos no final dos anos 50 e nos anos 60, uma época em que ainda havia segregação oficial e as oportunidades eram sistematicamente negadas. O que impressiona não é quantos fracassaram diante da discriminação, mas quantos homens e mulheres venceram; o que impressiona é quantos conseguiram abrir um caminho num beco sem saída para pessoas que viriam depois, como eu.

Mas para todos aqueles que se esfolaram com o objetivo de conseguir uma fatia do sonho americano, houve muitos que não conseguiram - aqueles que foram derrotados, de uma maneira ou de outra, pela discriminação. Esse legado de derrota foi passado adiante para futuras gerações - aqueles meninos e crescentemente meninas que vemos nas esquinas ou nas prisões, sem esperança ou perspectiva de futuro.

Mesmo para os negros que avançaram, as questões relativas ao racismo continuam a definir o modo de ver o mundo de forma fundamental. Para os homens e mulheres da geração do reverendo Wright, as memórias de humilhação e dúvida e medo não sumiram; nem a raiva e a amargura daqueles anos. Essa raiva pode não ser expressa publicamente, diante de colegas de trabalho brancos ou amigos brancos. Mas encontra seu caminho nas cadeiras do barbeiro ou na mesa da cozinha. Em certas ocasiões, esse ressentimento é explorado por políticos, para ganhar votos em discursos com tons raciais ou para encobrir os próprios defeitos dos candidatos.

Ocasionalmente, esse ressentimento encontra caminho na igreja, no púlpito e na platéia. O fato de que tanta gente fica surpresa de ouvir a raiva expressa em alguns dos sermões do reverendo Wright nos relembra do antigo truísmo, segundo o qual a hora mais segregada da vida americana ocorre aos domingos de manhã.

Esse ressentimento nem sempre é produtivo; na verdade, muitas vezes nos distrai da resolução de problemas reais; evita que encaremos nossa cumplicidade com essa situação e que a comunidade afro-americana faça as alianças necessárias para provocar mudanças reais. Mas a raiva é verdadeira; é poderosa; e simplesmente desejar que ela suma ou condená-la sem entender as raízes apenas serve para aumentar o desentendimento que existe entre as raças.

Na verdade, uma raiva similar existe em segmentos da comunidade branca. A maior parte dos trabalhadores e da classe média branca não acredita que foi privilegiada pela cor da pele. A experiência deles é a dos imigrantes - não receberam nada de graça, construíram tudo do nada. Trabalharam duro por toda a vida, muitas vezes apenas para assistir seus empregos sendo mandados para o exterior, suas aposentadorias sumirem depois de uma vida de trabalho.

Eles estão ansiosos quanto ao futuro e sentem que o sonho não está se tornando realidade; numa era de salários estagnados e de competição global, as oportunidades são como um jogo de soma zero, nas quais o sonho de um é realizado às custas do outro. Assim, quando precisam mandar seus filhos de ônibus para uma escola [racialmente integrada] do outro lado da cidade; quando ouvem que um afro-americano tem vantagem para conseguir um emprego ou uma vaga na faculdade por causa de uma injustiça que eles nunca cometeram; quando alguém diz a eles que o medo do crime em vizinhanças urbanas é expressão de discriminação, o ressentimento aparece; e cresce com o tempo.

Assim como na comunidade negra, esse ressentimento nem sempre se expressa de forma educada. Mas ajudou a construir o cenário político por pelo menos uma geração. O desprezo pelos programas sociais e pelas cotas raciais ajudou a forjar a coalizão de [Ronald] Reagan. Os políticos rotineiramente exploraram o medo do crime para seus próprios objetivos. Apresentadores de talk-shows e comentaristas conservadores fizeram carreiras desmascarando falsas acusações de racismo, ao mesmo tempo em que desprezavam discussões legítimas sobre injustiça e desigualdade racial como mera expressão do politicamente correto ou de racismo reverso.

Assim como a raiva dos negros se mostrou contraproducente, o ressentimento dos brancos nos desviou de identificar os verdadeiros culpados pelo aperto da classe média - uma cultura corporativa contaminada pelo uso de informações privilegiadas, pela contabilidade qüestionável e pela ambição desmedida; Washington dominada por lobistas e grupos de defesa de interesses especiais; uma política econômica que favorece poucos em detrimento da maioria. Ainda assim, desejar que o ressentimento dos brancos simplesmente desapareça, rotulá-lo de equivocado ou mesmo racista, sem reconhecer que há uma preocupação legítima - isso também aumenta o fosso racial e bloqueia o caminho do entendimento.

É onde estamos hoje. É o impasse racial em que nos encontramos. Ao contrário do que dizem meus críticos, brancos e negros, nunca fui ingênuo de acreditar que podemos acabar com nossas divisões em uma eleição, com uma única candidatura - particularmente uma candidatura tão imperfeita quanto a minha.

Mas reafirmei minha convicção - uma convicção que tem raízes em minha fé em Deus e no povo americano - de que, trabalhando juntos, podemos ir além de nossas feridas raciais; e de que não temos outra escolha a não ser continuar na busca por uma União mais perfeita.

Para a comunidade afro-americana, esse caminho significa abraçar o peso de nosso passado sem se tornar vítima dele. Significa continuar a insistir em Justiça em todos os aspectos da vida americana. Mas também significa amarrar nossos objetivos particulares - por melhor saúde, melhores escolas e melhores empregos - à aspiração de todos os americanos - da mulher que quer romper o teto da ascensão social, do homem branco que foi demitido, do imigrante que tenta alimentar sua família. E também significa assumir responsabilidade por nossas vidas - exigindo mais dos pais, passando mais tempo com nossas crianças, lendo para elas, ensinando-as que assim como elas podem vir a enfrentar desafios e discriminação em suas próprias vidas, nunca devem sucumbir ao desespero e ao cinismo; e ensinar que podem escrever seu próprio destino.

Ironicamente, essa noção essencialmente americana - e, sim, conservadora - de auto-ajuda, freqüentemente se expressa nos sermões do reverendo Wright. Mas o que o meu ex-pastor não entendeu é que embarcar em um programa de auto-ajuda requer a crença de que uma sociedade pode mudar.

O erro profundo nos sermões do reverendo Wright não é que ele falou sobre racismo em nossa sociedade. É que ele falou de nossa sociedade como se fosse estática; como se não tivesse havido progresso; como se esse país - um país que tornou possível a um integrante da congregação do reverendo concorrer ao cargo mais importante da nação e a construir uma coalizão de brancos e negros, latinos e asiáticos, ricos e pobres, jovens e idosos - estivesse irrevogavelmente ligado a seu passado trágico. Mas o que sabemos - e o que vimos - é que os Estados Unidos podem mudar. Essa é a genialidade dessa nação. O que já avançamos nos dá esperança - a audácia da esperança - de que podemos e devemos obter novas conquistas amanhã.

Na comunidade branca, o caminho para uma União mais perfeita requer reconhecer que o que prejudica a comunidade afro-americana não existe apenas no pensamento dos negros; que o legado da discriminação - e os atuais incidentes de discriminação, ainda que menos descarados que no passado - são reais e precisam ser enfrentados. Não apenas com palavras, mas com ações - investindo em nossas escolas e comunidades; dando a novas gerações acesso às oportunidades que faltaram para gerações anteriores.

Isso requer que todos os americanos não acreditem que a realização de seus sonhos resulta da negação do sonho alheio; que investir em saúde, programas sociais e educação de crianças pretas, pardas e brancas fará com que todos os Estados Unidos prosperem.

No fim, o que é preciso é nada mais, nada menos, do que todas as grandes religiões do mundo exigem - que façamos pelos outros o que gostaríamos que fizessem por nós. Vamos cuidar de nossos irmãos, a Escritura nos diz. Vamos cuidar de nossas irmãs. Vamos descobrir o que há de comum entre nós e fazer com que nossa política reflita isso.

Temos uma escolha nesse país. Podemos aceitar a política da qual brotam divisões, conflitos e cinismo. Podemos encarar a questão racial apenas como espetáculo - como no julgamento de OJ Simpson; ou depois de tragédias, como o Katrina; ou como produto para alimentar os telejornais noturnos. Podemos repetir os sermões do reverendo Wright em todos os canais, todos os dias, e falar deles até as eleições. Podemos tornar a única questão da campanha se o povo americano acredita que eu simpatizo ou não com as palavras mais ofensivas que ele disse. Podemos bater na gafe de algum apoiador da Hillary [Clinton] como prova de que ela está explorando a questão racial ou podemos especular se os homens brancos vão todos votar em John McCain nas eleições gerais, independentemente das propostas dele.

Podemos fazer isso.

Mas, se fizermos, digo a vocês que na próxima eleição o tema será alguma outra distração. E outra. E mais outra. E nada vai mudar.

Essa é a opção. Ou, nessa hora, nessa eleição, podemos nos unir e dizer "não dessa vez."

Dessa vez queremos falar sobre as escolas que estão roubando o futuro de crianças negras e crianças brancas e crianças latinas e crianças asiáticas e crianças nativas. Dessa vez queremos rejeitar o cinismo que diz que nossos filhos não podem aprender; que crianças que não se parecem conosco não são problema nosso. As crianças dos Estados Unidos não são aquelas crianças, elas são nossas - e não vamos deixá-las ficar para trás na economia do século 21. Dessa vez não.

Dessa vez queremos falar sobre as filas no pronto socorro cheias de brancos e negros e hispânicos que não têm seguro de saúde; que não têm poder para enfrentar os lobistas em Washington, mas que podem enfrentá-los, sim, se fizermos isso juntos.

Dessa vez podemos falar das fábricas fechadas que no passado deram uma vida decente a homens e mulheres de todas as raças, e das casas à venda que um dia pertenceram a americanos de todas as religiões, de todas as regiões, de todas as profissões. Dessa vez queremos falar sobre o fato de que o problema verdadeiro não é que alguém que não se parece comigo conseguiu um emprego; é que as corporações para as quais você trabalha despacham os empregos para o exterior pensando só em lucro.

Dessa vez queremos falar sobre os homens e as mulheres de todas as cores e credos que servem juntos, que lutam juntos, que sangram juntos sob a mesma bandeira orgulhosa. Queremos falar sobre como trazê-los de volta para casa de uma guerra que nunca deveria ter sido autorizada, que nunca deveria ter sido lutada; queremos falar sobre como demonstrar patriotismo cuidando deles e de suas famílias, dando a eles os benefícios que conquistaram.

Eu não estaria concorrendo a presidente se eu não acreditasse em meu coração que é isso o que quer a vasta maioria dos americanos. Essa União pode nunca se tornar perfeita, mas geração após geração demonstrou que ela pode ser aperfeiçoada. E hoje, quando quer que eu sinta dúvida ou cinismo em relação a essa possibilidade, o que me dá esperança é a próxima geração - os jovens cujas atitudes e crenças e aceitação de mudança já fizeram história nessa campanha.

Há um caso em particular que eu gostaria de contar a vocês hoje - uma história que eu contei quando tive a honra de falar em homenagem ao aniversário do Dr. [Martin Luther] King na igreja dele, a Ebenezer Batista, em Atlanta.

Há uma jovem branca de 23 anos de idade chamada Ashley Baia, que ajudou a organizar nossa campanha em Florence, na Carolina do Sul. Ela trabalhou especialmente em uma comunidade afro-americana desde o início da campanha e, um dia, numa discussão, todos os voluntários contaram suas histórias e explicaram por que estavam lá.

Ashley disse que quando tinha nove anos de idade a mãe soube que tinha câncer. Por causa disso perdeu alguns dias de trabalho, foi demitida e ficou sem o seguro de saúde. A família precisou declarar falência e foi então que Ashley decidiu que tinha de fazer algo pela mãe.

Ela sabia que a comida era um dos maiores gastos da família e convenceu a mãe de que gostava muito e só queria comer sanduíches de mostarda e picles. Era a forma mais barata de se alimentar.

Fez isso durante um ano, até que a mãe melhorou; Ashley contou aos que participavam da conversa que a razão pela qual ela havia se juntado à campanha era para ajudar milhões de outras crianças do país que queriam e precisavam auxiliar os pais.

Ashley poderia ter feito outra escolha. Quem sabe alguém disse a ela que a fonte dos problemas da mãe eram os negros que dependiam de ajuda do governo e eram muito preguiçosos para trabalhar, ou hispânicos que estavam no país ilegalmente. Mas não foi essa a escolha dela. Ashley buscou aliados em sua luta contra a injustiça.

Assim que acabou de contar sua história, Ashley perguntou a outros presentes o motivo que os havia levado a entrar na campanha. Cada um tinha suas histórias e razões. Alguns citaram questões específicas. E finalmente chegaram a este senhor negro que tinha permanecido calado o tempo todo.

Ashley perguntou por que ele estava lá. E ele não mencionou nada específico. Não falou em saúde ou economia. Não falou em educação ou na guerra. Não falou que estava lá por causa de Barack Obama. Ele simplesmente disse: "Estou aqui por causa da Ashley." "Estou aqui por causa da Ashley." Em si mesmo, esse momento de reconhecimento entre uma jovem branca e um velho negro não é suficiente. Não é suficiente para dar saúde aos doentes, empregos aos desempregados ou educação a nossas crianças.

Mas é um começo. É assim que nossa União se torna mais forte. E assim como muitas gerações se deram conta, nos 221 anos que nos separam daquele grupo de patriotas que assinaram um documento na Filadélfia, é assim que a perfeição começa."

sexta-feira, 21 de março de 2008

Carta do II Encontro Estadual dos Quilombolas do Pará


Carta do II Encontro Estadual dos Quilombolas do Pará
 
Belém, 16 de março de 2008
 
As associações de comunidades remanescentes de quilombo do Estado Pará filiadas a
MALUNGU reunidas no II Encontro Estadual dos Quilombolas do Pará nos dias
14 a
18 de março de 2008, na cidade de Belém, vêm manifestar seu repúdio à alteração
da Instrução Normativa Incra nº 20 de 2005 que regulamenta o processo administrativo
de reconhecimento de domínio dos territórios quilombolas.
A decisão de alterar a instrução normativa atende aos interesses contrários ao reconhecimento
dos direitos quilombolas que se manifestaram em projetos legislativos e na imprensa ao
longo de todo o ano de 2007.

Apesar da publicação de alguns poucos relatórios de identificação e portarias da presidência
do Incra, as titulações não estão acontecendo. O governo Lula até hoje titulou apenas sete
terras quilombolas. E esse Quadro com certeza irá piorar se a instrução do Incra for alterada
como planeja a Advocacia Geral da União.
A proposta apresentada pelo governo resultará na burocratização ainda maior do processo de
emissão dos títulos, criando exigências descabidas e que não estão previstas no Decreto 4.887/
2003. Os relatórios técnicos de identificação e delimitação (RTID) serão transformados em
estudos de alto grau burocrático e detalhamento que não se justificam em um documento
para tal finalidade. As novas exigências transformam o RTID em um obstáculo à conclusão
dos processos.
O processo que resultou na minuta da nova instrução deu-se apenas entre órgãos do governo
federal sem transparência ou consulta aos quilombolas. Em dezembro, o governo tentou
reunir os quilombolas para aprovar a minuta sem oferecer tempo e condições para uma real
discussão do documento. Os quilombolas de todo o país se recusaram a participar da falsa
consulta.
Agora, os quilombolas são novamente surpreendidos com a notícia de Consulta sobre a
minuta. Matéria divulgada no site da Advocacia Geral da União, no dia 14 de março, anuncia
a realização de dois seminários regionais no início de abril "para discutir e definir a questão da
demarcação de terras de comunidades quilombolas". No entanto, não houve um convite
oficial até o momento nem foram revelados os critérios para participação, o local do evento
ou como vai ser viabilizada a presença dos quilombolas.
A Malungu reafirma que esse tipo convocação não é uma verdadeira consulta que garanta a
transparência e a real democracia nas relações de decisão. Ao invés de alterar as normas existentes,
o governo federal deve cumprir a Constituição e garantir os direitos territoriais dos quilombolas
por meio da titulação de suas terras.
Malungu
Av. Senador Lemos, 557 
Belém - Pará - 66.050-000
Fone: (91) 3241.5829
 
e-mail: http://br.f657.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=malungu.pa@hotmail.com&YY=84395&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b

ALGUNS INFORMES, a respeito do nosso sentimento quilombista

O Blog andou meia assim, meio assado. Falta de tempo.Mas aproveitando o feriado vamos a uma série de informações que animaram esse blog em sua origem e inspiração para seu nome.

- Na quinta feira, 20 de março de 2008 foi publicada a Portaria do Ministério de Desenvolvimento Agrário, de nº 91, de 19/03/2008, a qual Reconheceu e Delimitou oficialmente o Território Quilombola de Acauã.A comunidade luta pelo reconhecimento de suas terras há mais de 10 anos e, desde então, conta com o apoio e solidariedade incondicional do Historiador Jair Ferreira. Após a publicação dessa portaria no Diário Oficial da União o processo deve retornar a Natal para então ser publicada a mesma Portaria no Diário Oficial do Estado do RN. Após isso terá início o Processo Administrativo de Desapropriação. DE NOSSA PARTE, PESQUISADOR E APOIADOR DA QUESTÃO QUILOMBOLA NOSSOS PARABÉNS AO QUILOMBOLAS DE ACAUÃ E OXALÁ QUE O MESMO ACONTEÇA VÁRIAS VEZES ESSE ANO E COM VÁRIAS COMUNIDADES ESPALHADAS PELO BRASIL.

-
E-mail do Professor Alex Ratts
Prezadas/os
Estão abertas a chamada de trabalhos (comunicações e pôsteres) e as inscrições para o V Congresso Brasileiro de Pesquisadores/as Negros/as. www.museu.ufg.br/vcopene
Atenciosamente
Alex Ratts
Vice-Presidente da ABPN
Presidente do V COPENE

- Lançamento da revista!! EXISTIMOS. Quilombolas da Marambaia há mais de 100 anos preservando a Ilha. Segunda edição atualizada (novembro de 2007)
Sábado, dia 22/03, em Mangaratiba

Com depoimentos, fatos históricos, breves análises, notícias,
pequenos contos, e um bonito projeto gráfico, a revista EXISTIMOS
registra a biografia da comunidade quilombola na Ilha de Marambaia
desde a Escravatura até os dias de hoje. É uma iniciativa da
organização não-governamental FASE realizada com plena participação
dos nativos, com concepção e textos de Fernanda Carneiro e projeto
gráfico de Luang Dacach.

O lançamento da 2.edição atualizada será na Fundação Cultural Mário
Peixoto, dia 22 de março, às 20:00h, em Mangaratiba (RJ).

A comunidade habita a Ilha há mais de cem anos e sempre teve a posse
compartilhada, coletiva e pacífica do território preservado
exemplarmente. Desde a instalação, em 1971, da Base de Adestramento
da Marinha vem sofrendo restrições de direitos de cultivo, moradia,
transporte e educação e a situação não mudou mesmo depois da
Constituição Federal de 1988 instituir o conceito de "remanescentes
de quilombos" que reconhece a propriedade definitiva dos quilombolas
de seu território (artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias).

EXISTIMOS, ao registrar a história da comunidade e de sua saga pela
titulação coletiva da terra pretende ser um instrumento de
reconhecimento público dos seus direitos e de formação de uma opinião
pública não arbitrária, mas calcada em estudos científicos, análises
e relatos dos diretamente atingidos por uma situação de injustiça
ambiental.

Evento: Lançamento da revista EXISTIMOS

Data: 22/03/2008, às 20:00h.

Onde: Fundação Cultural Mário Peixoto - Centro de Mangaratiba

Contatos:

Vania Guerra http://br.f657.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=guerraquilombola@yahoo.com.br&YY=39803&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b / 21 99337620

Julianna Malerba http://br.f657.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=julianna@fase.org.br&YY=39803&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b / 21 2536 7389
PARABÉNS A FASE E AOS QUILOMBOLAS DE MARAMBAIA EM SUA RESISTÊNCIA HERÓICA A MARINHA RACISTA BRASILEIRA.AQUELA QUE AINDA NOS DIAS ATUAIS NEGA A IMPORTÂNCIA DE JOÃO CANDIDO, QUE NÃO PERMITE NEGROS EM SEU OFICIALATO E MESMO APÓS O FIM DA ESCRAVIDÃO CONTINUOU A APLICAR CASTIGOS FISICOS AOS NEGROS.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Guerra do Iraque, 5 anos depois

Do blog do Sérgio D'avila. Da minha parte sem comentários para tamanha insanidade.

Guerra do Iraque, 5 anos depois

Na madrugada brasileira de quinta-feira, dia 20 de março, completam-se os cinco anos da invasão do Iraque por uma coalizão liderada pela Casa Branca do republicano George W. Bush. Já que a data é redonda, vale a pena elencar alguns números relacionados à guerra, que continua:



- 3.000.000.000.000 de dólares. Esse é o custo total da guerra, segundo o professor Joseph E. Stiglitz, da Universidade Columbia;



- Os US$ 3 trilhões a fazem a segunda guerra mais custosa da história do país, atrás apenas da Segunda Guerra Mundial (1939-1945);



- O número equivale ao dobro do PIB brasileiro;



- São US$ 12 bilhões por mês (US$ 16 bilhões, se a Guerra do Afeganistão for incluída);



- Com o dinheiro de um mês de guerra, seria erradicado o analfabetismo no mundo, segundo artigo escrito pelo Nobel de economia na edição mais recente da revista "Vanity Fair" e no domingo retrasado no "Washington Post";



- O custo inicial da guerra era "entre US$ 50 bilhões e US$ 60 bilhões", segundo estimativas do governo;



- No orçamento de 2008, a Casa Branca pediu US$ 200 bilhões para as operações no Iraque e no Afeganistão, somando US$ 800 bilhões gastos até agora;



- É a segunda guerra mais longeva na qual os EUA se meteram, atrás apenas da do Vietnã (1959-1975) -isso se você não considerar que, tecnicamente, os EUA ainda estão em guerra com a Coréia do Norte, iniciada em 1950, uma vez que o armistício entre Washington e Pyongyang nunca foi assinado.



Ainda:



- Foram mortos 3.983 soldados norte-americanos até agora, segundo o Pentágono;



- O governo dos EUA dá US$ 500 mil a cada família de soldado morto;



- Foram mortos entre 400 mil e 1 milhão de civis iraquianos até agora, dependendo da ONG que faz a conta;



- O governo dos EUA não paga nada às famílias das vítimas mortas;



- Há 157 mil soldados em operação no Iraque hoje; já passaram por lá e pelo Afeganistão 1,6 milhão de homens e mulheres em uniforme;



- Desses, 750 mil já deixaram a ativa e 260 mil passaram por hospitais para veteranos; desses, 100 mil foram diagnosticados com algum problema mental; outros 200 mil procuraram ajuda para se reajustar, segundo Stiglitz;



- Foram feridos cerca de 65 mil soldados norte-americanos até agora;



- Em um dos principais hospitais para veteranos, o Walter Reed Army Medical Center, em Washington, no auge de internações, em 2005, um soldado-enfermeiro cuidava de 125 feridos de guerra.



Mas:



- Apenas 700 civis iraquianos morreram em fevereiro de 2008 -foram 2.700 no mesmo mês do ano anterior, segundo levantamento anual feito por Michael O'Hanlon, da Brookings Institution;



- Apenas 36 soldados norte-americanos morreram no mesmo mês -foram 81 em fevereiro de 2007;



- Apenas 65 ataques foram desferidos por milícias e insurgentes naquele mês -foram 210 no do ano passado;



- Apenas 30 mil civis iraquianos tiveram de deixar suas casas e migrar -ante 100 mil de fevereiro de 2007; são cerca de 4 milhões de iraquianos refugiados por conta da Guerra do Iraque, ou 16% de uma população de 26,8 milhões.



E:



- Aumentou a produção de petróleo, para 2,4 milhões de barris por dia. É o melhor índice até hoje e quase o mesmo que o pré-guerra, 2,5 milhões de barris por dia;



Por fim:



- Bush tem só mais 309 dias à frente da Casa Branca.