quarta-feira, 5 de março de 2008

Eleiçoes no Império

Continuando nossa cobertura das eleições americanas, abaixo algumas considerações minha sobre a corrida americana e logo após texto do jornalista Pedro Dória.

Algumas palavras sobre a corrida americana. Aliás sobre a corrida Democrata já que os Republicanos já decidiram seu candidato que aliás é o mais Democrata dos Republicanos; mas isso é outro assunto, concentremo-nos nas prévias democráticas. Alguns fatores me chamam atenção:
1- O partido Democrata utiliza o sistema proporcional para a eleição de seus delegados. Desta forma os delegados de um estado são distribuídos por uma fórmula que leva em conta a porcentagem de voto que cada candidato recebeu ou mesmo o tamanho do distrito eleitoral e as vezes conjuga-se essas duas formulas. Esta distribuição é bastante democrática daí o partido ter criado o sistema de super-delegados para contra-balancear tamanho poder dos eleitores "normais" e manter algum poder na estrutura burocrática do partido. No partido Republicano o sistema é majoritário, assim o vencedor de um determinado estado leva todos os delegados do Estado, mesmo que tenha ganhado por apenas um voto de diferença do outro candidato.Tal sistema é anti-democrático mas evita disputas fraticidas dentro do partido.
2- O candidato Barack Obama vem conseguindo obter a vitória na maioria dos estados da nação norte-americana, no entanto ainda não ganhou em nenhum dos grandes estados com ex cessão de Ilinois, seu estado natal. Isso significa que o candidato é o preferido pela chamada América profunda mas não pelos eleitores de cidades mais cosmopolitas.
3- É notável a fidelidade latina ao casal Clinton, caso Vcs olhem o mapa eleitoral americano (presente em diversos sites e blogs) perceberão que fora os grandes estados Hilary Clinton só ganhou em estados com grande porcentagem de eleitores latinos. Foi assim em todos os estados que fazem fronteira com o México. Aqui fica claro o erro de estratégia da campanha de Obama que no princípio se descuidou dessa enorme base eleitoral.
4- É notável perceber que na maioria absoluta dos estado onde Obama venceu ele obteve algumas maiorias esmagadoras. Em vários estados do meio oeste sua votação foi de cerca de 75% dos votos contra 25% de Hilary. Em compensação nos estados onde ele vem perdendo a diferença nunca passa de 3%.
5- Ao conjugar o ponto 1 com o ponto 4 fica claro o motivo da liderança de Obama. Quando ele ganha por uma margem tão grande ele leva até 4 vezes mais delegados que Hilary e quando ela ganha por margem apertada leva apenas alguns delegados a mais do que ele; isso quando ela não sai com menos delegados, o que já ocorreu em vários estados. Isso porque nos estados em que se conjuga a proporcionalidade com o tamanho do distrito eleitoral é possível ao candidato com menos votos ter mais delegados. Vamos ao exemplo do Texas: lá Hilary venceu por uma margem de 3%, isso significa praticamente um mesmo número de delegados proporcionais 65 para Hilary contra 61 para Obama. Além disso, como lá os votos são distribuídos pelo tamanho dos distritos Hilary venceu em 90% do estado mas perdeu em distritos chaves como Autin, Dallas, San Antonio e Houston. Nestes distritos o candidato Obama deverá receber um maior número de delgados pelo sistema de caucus. No frigir dos ovos tudo indica que ele sairá do Texas com mais delegados do que Hilary e na pior das hipóteses com 10 delegados a menos do que ela o que na atual situação é uma vitória para Obama. Portanto, as vitórias de Hilary ontem são mais simbólicas e servem para re-oxigenar sua candidatura do que reais.
6-O número de delegados e super-delegados por candidatos segundo a CNN é o seguinte. Aqui chamamos a atenção para outro fato ainda que tenha menos super-delegados do que Hilary a situação para Obama nesse quesito também melhorou muito a 40 dias atrás ele não tinha nem 80 super delegados. Os super-delegados teoricamente deveriam funcionar como um poder moderador dentro do partido, os iluminados que sabem o que é melhor para o país mesmoq ue isso vá contra a vontade dos eleitores "normais". É com base nesse argumento (que explica a própria origem desta categoria) que Hilary vem jogando; segundo ela cabe a eles perceber o que é melhor e mais bem preparado para a América no caso Ela lógico. Ocorre que não é bem assim que funciona na prática - muito dos super delegados ainda que burocratas do partido e, portanto dependente dos principais lideres do partido e nesse caso o principal líder dos democratas ainda hoje é Bill Clinton - preferem seguir o que define seus eleitores, ou seja a base do partido daí o aumento estrondoso de super-delegados da candidatura de Obama. Como bem disse um deputado (portanto, naturalmente um super-delegado devido a seu cargo representativo) que passou a apoiar Obama: não era possível a ele apoiar outro candidato quando 90% dos eleitores de seu condado e portanto seus eleitores tinham votado em Obama nas prévias.

CandidatoQuadro de Delegados
Delegados ELEITOSSuperdelegadosTOTAL
Barack Obama13211991520
Hillary Clinton11862381424
Fonte: CNN

Mas, agora, o que se faz?

Pedro Dória

John McCain teve a noite dos seus sonhos. Ontem, além do salvo-conduto para tocar a campanha presidencial em paz – ele é oficialmente o candidato – verá seus adversários democratas se engalfinhando pelas próximas sete semanas em três prévias: Wyoming, no dia 8, Mississippi, no dia 11, e a realmente importante, Pensilvânia, no dia 22 de abril.

Há duas maneiras de interpretar os resultados de ontem. Uma é que Barack Obama sai com a mesma vantagem no número de delegados que entrou – se não tiver ganho uns poucos mais. Os caucus do Texas devem ser vencidos por ele e umas regras um bocado complicadas no estado devem deixá-lo com um naco maior. A outra maneira de ver é que, de quatro estados, Hillary venceu três, incluindo os dois grandes e importantes, Ohio e Texas.

O que as pesquisas apontam em ambos os estados é que Obama vinha fechando a diferença com Hillary e, de domingo para cá, a ex-primeira-dama voltou a crescer. O que houve nos últimos dias?

Três coisas.

A primeira foi a interferência canadense. Obama disse ao eleitorado de Ohio que era contra o Nafta; seu principal assessor econômico disse a diplomatas canadenses que era conversa de campanha, que não se preocupassem. O memorando, propositalmente ou não, vazou. A campanha de Obama inicialmente negou que a conversa havia existido. Depois, que o memorando não era de todo fiel ao que fora dito. Meteram os pés pelas mãos. Ele sempre esteve sujeito a seus erros. Cometeu um sério justamente com a questão mais cara ao eleitorado de Ohio. Não deixa de ser irônico: foi o marido de Hillary quem assinou o Nafta, tão impopular no estado.

A segunda foi o comercial do telefone, exibido no Texas. Quem é o melhor preparado para responder a crises nacionais? O argumento de Obama é que, quando teve a oportunidade de responder a uma crise, Hillary votou a favor da guerra contra o Iraque. Ele, Obama, sempre foi contra. Argumentos racionais adiantam de pouco perante reações emocionais. Os eleitores sentem que Hillary é mais durona e experiente. O que ele evoca é esperança. A campanha de Obama reagiu rápido, mas parece não ter convencido o eleitor neste ponto. Foi a diferença que Hillary precisava.

Por fim há Tony Rezko. O investidor do mercado imobiliário de Illinois, estado de Obama, começou a ser julgado esta semana por tráfico de influência e corrupção. Todos os políticos democratas do estado estão ligados a ele de uma forma ou de outra e Obama não é exceção. Rezko, em outras campanhas, levantou fundos para Obama. E, para piorar uma situação já desconfortável, Obama e a mulher de Rezko compraram no mesmo dia, na mesma quadra, duas mansões vizinhas. Obama pagou abaixo do preço de mercado. E a mulher de Rezko ainda vendeu parte de seu terreno para o vizinho senador.

Não há rigorosamente nenhuma sugestão de que o negócio tenha sido ilegal e, em todas as acusações contra Rezko apresentadas na Justiça, nenhuma envolve Obama. Hillary começou a última semana, no entanto, reclamando que ela agüenta a pancada da imprensa enquanto Obama seguia imune. A cobertura negativa começou. Seu passado está sendo apresentado também em suas facetas mais sinistras. E os Clinton não vão permitir que ele ganhe a guerra sem muita luta.

Continua matematicamente muito difícil para Hillary vencer. A diferença de votos que ele precisava angariar na votação por cédula no Texas para empatar o jogo era muito maior do que os 2% que – parece agora – terminou sendo. Os democratas terão que refazer as prévias da Flórida e Michigan porque aqueles delegados precisarão ser distribuídos de alguma forma. (Desafiando as regras nacionais do partido, os estados anteciparam suas prévias para fevereiro; como punição, a liderança nacional determinou que perderiam o direito de apresentar delegados na Convenção. Nenhum dos candidatos fez campanha lá, o nome de Obama sequer constava na cédula na Flórida.)

Em 1984, as prévias democratas foram também apertadas assim. O veterano senador Walter Mondale e o novato Gary Hart disputaram por meses, até que Mondale lançou o anúncio do telefone. Exatamente o mesmo anúncio que Hillary usou agora. O tom apelativo de, na crise, ‘quem você quer atendendo este telefone?’, é um clichê eleitoral norte-americano. A experiência decidiu a candidatura naquele ano. Mondale era o veterano, afinal.

Seu problema é que, depois de convencer os eleitores de que segurança era a questão mais importante da eleição, Mondale teve de enfrentar Ronald Reagan que concorria à reeleição. E, se segurança era importante, dados Mondale e Reagan, ficaram com Reagan. É o risco que Hillary corre. Pode convencer os eleitores de que segurança é um assunto primordial e que, perante Obama, melhor que seja Hillary. Mas aí, à frente, terá que enfrentar John McCain, um herói de guerra.

McCain tem dois pontos fracos. O principal é que é republicano e o atual presidente, George W. Bush, é do mesmo partido e tem aprovação nacional de 19%. O segundo é que não entende nada de economia num ano com riscos de recessão.

É evidente que, em 2008, é mais fácil vencer um republicano do que era vencer Reagan, em 1984. Mas Hillary está flertando com o perigo.

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