sábado, 31 de janeiro de 2009

Apartar ou optar

Esse ano, tenho mantido deliberadamente este blog como um espaço pessoal, ou seja, onde publico textos que eu mesmo escrevi ou sob encomenda. Pois percebi que o blog, até mesmo pela correria do meu dia-a-dia tinha se transformado em um reprodutor de notícias e textos de outros blogs ou site. Pretendo manter essa opção, ainda que a partir da semana que vem com o retorno a correria de sempre e as muitas viagens, essa opção possa ser revista. Mas sempre haverá excessões para textos que considero imperdiveis. Nesta categoria, o artigo abaixo, do senador Cristovam Buarque. Digamos assim ele coloca em ordem um bocado de coisas que tenho dito de forma caótica aos amigos sobre o governo Lula. Pelo menos no futuro poderá se ler novamente o Governo LULA através dos artigos semanais de Buarque. E como o senador, de cá lamento estarmos perdendo mais esse momento histórico. Como tem dito Buarque Lula foi o único que reuniu condições políticas, sociais, sociológicas e econômicas de fazer diferente e efetivamente entrar para a história como um mito, esta a desperdiçar todas; entrará para história como um importante reformador de seus país mas não mais do que isso. Muito pouco diante do que a Providência colocou em seu caminho.

Apartar ou Optar
É constrangedor acompanhar a troca de acusações entre dois ministros. Reinhold Stephanes, da Agricultura, defendendo o aumento da produção agrícola, e Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, a preservação das florestas. Os dois têm razão, o governo é que não tem. Cada um defende os objetivos de sua respectiva pasta, porque o governo não definiu uma linha de ação à qual os ministros fiquem submetidos. É preocupante ver o governo determinar que uma ministra aparte os que estão brigando, no lugar de fazer uma opção sobre quem tem razão. Como se o problema estivesse no desentendimento pessoal e não no choque conceitual. O problema não é apartar duas visões diferentes, mas formular uma visão e optar por ela.
O que está em jogo não é fazer que os dois ministros se calem, mas determinar a escolha, entre concepções diferentes, para definir uma linha que oriente o desenvolvimento que o País precisa seguir. O que deve estar em debate não são as posições dos dois ministros, mas a posição do governo e do País para seu futuro: manter o velho padrão de desenvolvimento a qualquer custo, ou escolher um modelo com base na conservação de nosso patrimônio natural e na justiça social.
Aparentemente esta escolha não vai acontecer, porque o atual governo é de "apartar", não de "optar". O estilo do presidente Lula é de apartar as diferenças que existem nos diversos grupos sociais e políticos nacionais, procurando e conseguindo aglutinar pela omissão da escolha. No mesmo momento do embate entre Agricultura e Meio Ambiente, temos a disputa entre o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ministro Mangabeira Unger, encarregado de formular idéias para o futuro do Brasil, entre manutenção da assistência ou saídas estruturais para a pobreza. Na ótica da assistência, a Bolsa Família é um instrumento generoso e correto para reduzir a fome e a miséria; na ótica do futuro, é necessário um instrumento estrutural – a educação – que permita reduzir a pobreza. A próxima contenda a ser apartada pelo presidente será entre o Ministro Lupi, do Trabalho, que corretamente defende que o dinheiro público seja usado para conservar emprego e os empresários que consideram um direito receber dinheiro público, sem compromisso público.
O que caracteriza o Presidente Lula é sua capacidade de "apartar" as diferentes opiniões, juntando-as em um silêncio reverencial por parte dos intelectuais, na submissão dos sindicatos e dos empresários; no acomodamento dos estudantes e da juventude; na formação de pacotes partidários tão amplos que ele fica sem oposição, porque mesmo quando esta vence, ele vence também. No lugar de serem as forças da "opção", Lula e o PT são as forças da aglutinação ao "apartar" cada grupo e uni-los por meio da interminável conciliação.
Por um lado, isto traz tranquilidade social ao País. Basta comparar nossa situação com os vizinhos, onde os presidentes "optaram" e dividiram as sociedades de seus países. Mas, esta aglutinação leva a um acomodamento que, por sua vez, leva ao adiamento do enfrentamento de nossos problemas. Em nome de ficar no poder e ganhar novas eleições, o governo posterga as "opções" que o País precisa para construir o futuro. Em nome de manter-se no cargo, os ministros calam, como se não houvesse um problema a ser enfrentado. Em nome de não romper alianças, o presidente tolera as discordâncias públicas entre seus ministros.
A militância do PT tinha orgulho do lema "optei", mas ao chegar ao poder escolheu o "apartei", que caracteriza o governo Lula. Não sabemos o preço que o Brasil pagará por adiar por mais tempo a opção que deverá fazer, nem quanto vai custar nosso vício histórico de sempre apartar, acomodar, para não optar.
Fomos o último país a abolir a escravidão, seremos o último a fazer as opções necessárias para a construção de um desenvolvimento sustentável e justo. Certamente, será depois dos EUA que já começaram a fazer opções com o governo Obama. No Brasil, o presidente Lula tem todas as condições de ser um presidente da opção, ao mesmo tempo que tem a competência da aglutinação.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A catedral do Soul faz 50 anos

Nesse janeiro, a lendária gravadora fundada por Berry Gordy comemora seu cinquentenário. Como vocês sabem, a Motown virou sinonimo de boa música negra e do movimento soul e funk, graças a um elenco de artistas como Marvin Gaye, Stevie Wonderful (mais tarde resumido para Wonder) Diana Ross, os Jacksons. A Motown Records fez música e política, ou política e música desde seu surgimento em Detroit, isso por que em uma cidade com mais de 70% de negros o mercado ainda era dominado pelos brancos e apesar de ser uma cidade nortista mesmo lá a segregação insistia em aparecer. Pelo menos, é essa inferência que se tira das palavras de Duke Fakir, único integrante do quarteto vocal Four Tops ainda vivo em entrevista a BBC: " (...)(Gordy) criou o selo, pediu ao Four Tops para trabalhar com ele. Nós casualmente respondemos que não, claro (...) Nós o conhecíamos, mas não achávamos que um negro tivesse qualquer chence em Detroit, na indústria fonográfica, com uma gravadora".
Apesar desta resposta inicial posteriormente o Four Tops aceitaram o convite e se tornaram um dos grandes nomes da Motown. Inicialmente as músicas gravadas tinha como público a comunidade negra, ocorre que a Motown estava oferecendo uma música nova, diferente a princípio inclassificável. Mistura de muito balanço e temas amorosos. Originalmente a Motown tinha seu coração no lendário Studio A, nada mais lógico em se tratando de uma gravadora o que tornava esse estúdio diferente era sua localização na garagem da casa de Gordy. Não só a localização mas o próprio clima do estúdio refletia essa ideia de família: sendo comum a troca musical, artistica, amorosa entre as várias feras da Motown, Fakir lembra que era comum os artistas se encontrarem para jogar basquete ou para jantar e se reunir na casa de Mary Wilson da The Temptatinos. Enfim uma grande família musical que produziu além do já citados o genial Smokey Robinson, a ex-secretária da gravadora Martha Reeves, aliás Diana Ross também fora secretária da casa antes de assumir os microfones.
Com o grande sucesso da gravadora, em 1972 Gordy transferiu a sede da gravadora para a cidade quente, LA - Los Angeles. Para muitos músicos, especialistas e fãs a mudança foi prejudicial para todos: para a cena musical negra, para Detroit e para a gravadora que não conseguiu reproduzir a áurea do Studio A em sua sede nova e moderna. Para alguns a própria violência dos guetos da city se explicam um pouco por essa perda que ajuda a manter a baixa estima dos moradores da cidade. Vá se saber, o fato é que o antigo Major (prefeito) de Detroit um negro, digamos assim um jovem negão com jeito de cantor de rapper (brincões, aneis e colares) foi cassado por acusões sérias de assassinato em briga de gangues. Isso dá a medida de Detroit... Para a gravadora que chegou a colocar 200 hits em primeiro lugar na parada musical norte-americana os anos de LA nõ foram nada bons e em 1988 Gordy vendeu sua gravadora para as majors. Hoje, a Motown Records é uma subsidiária do Universal Music Group e nem lembra a lendária gravadora negra de Detroit, mas não se desepere assim que for em Detroit visite a antiga casa de Gordy transformada em museu e conheça o lendário Studio A, intacto, com instrumentos e gravadores.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Somos todos Gaza

Retorno ao tema do massacre na Palestina, agora sem numera-lo no título do post, pois acredito que o fim do mesmo não pode significar o silêncio diante dos crimes cometidos. Este blog fez um acompanhamento de perto do tema senão me engano cerca de 20 posts e, portanto, na medida do nosso tempo prometemos continuar acompanhar essa questão.
É Gabriel Kolko historiador e especialista renomado em guerras que pergunta: "Como a história falará da guerra contra os palestinos em Gaza? Outro holocausto, dessa vez perpetrado pelos filhos das vítimas do anterior? Um golpe eleitoral, montado por ambiciosos políticos israelenses, para ganhar votos nas eleições do dia 10 de fevereiro próximo? Um teste para os novos modelos de armamento fabricados pelos EUA? Ou como uma tentativa de encurralar o novo governo Obama numa posição anti-Irã? Ou como tentativa para estabelecer a “credibilidade” do exército de Israel, depois da vergonhosa derrota na guerra contra o Hezbolá no Líbano em 2006? Tudo isso, provavelmente. E muito mais."
Ao que ele mesmo responde
A ONU e grupos de Direitos Humanos já exigem que Israel seja julgado por crimes de guerra, pelo número oficial de 1.300 mortos em Gaza, assassinados por descomunal poder de fogo e com munições como a bomba de fósforo, proibida e ilegal. Israel já avisou seus principais oficiais para que se preparem para defenderem-se contra a acusação de prática de crime de guerra. O Procurador Geral de Israel, General Menahem Mazuz, disse que o governo já espera “uma onda de processos internacionais.”
Durante todo o massacre e agora no pós-massacre existem vozes minoritárias de israelenses condenando tal barbárie, estes são chamados estranhamente em Israel e pelos sionistas de dissidentes. Estes precisam ser fortalecidos.
O maior dos problemas, por qual Israel passa é o que Gideon Levy denomina de perda de um senso e de massa crítica. É dessa perda ética e moral que Levy (destacado dissidente) fala em entrevista a Folha de S. Paulo, de hoje. Tal perda atingiu até mesmo antigos pacifistas e membros da esquerda israelense (seja lá o que isso signifique, afinal esquerda em Israel tem Ben Guryon e Erhud Barack - atual ministro da defesa e maior responsável por essa barbaridade), de forma que até mesmo antigos e notórios pacifistas mudaram de lado, fato aliás comprovado na mesma Folha em entrevista a um dos expoentes do antigo pacifismo agora favorável a guerra. Visto cá de fora uma palavra resume as posições desses antigos pacifistas e, o que é mais preocupante já que vinda de um intelectual: a alienação.
A perda a que se refere Levy é explicitado pelo antigo pacifista, a sociedade de Israel como um todo encontra-se em um processo de lavagem cerebral que desumanizou (palavras de Levi) os palestinos. É neste ponto em que a insanidade domina, quando para grande parte dos israelenses as mortes de Palestinos são aceitáveis visto que estes pertencem a outra espécie. Sem querer fazer comparações inúteis e descabidos, mas como uma provocação para pensarmos: não era isso que pensavam os arianos de outros grupos? Não é isso que pensam algumas tribos a respeito de outras na África? Ou nas guerras étnicas na Europa, Ásia, África? Se a comunidade internacional, que efetivamente uma solução para a questão Palestina/Israel sua primeira contribuição passa pela identificação deste problema. De forma a criar uma nova massa crítica dentro de Israel.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Como nascem os bilionários brasileiros

Segundo a Revista Exame nunca houve tantos super-ricos no país, e eles nunca surgiram tão rapidamente. Segundo a revista isso se deve a abertura de capital das empresas na Bolsa de Valores. Foi esse processo, que permitiu nos últimos anos que 30 acionistas se tornassem bilionários, acumulando um patrimônio de cerca de 50 bilhões de reais em valores de hoje. No topo dessa nova elite está o empresário Eike Batista, da mineradora MMX. O patrimônio do empresário carioca é de 7 bilhões de reais, segundoa revista a maior fortuna pessoal gerada no Brasil nos últimos quatro anos. Eis a lista dos novos bilionários brasileiros, captaneadas pelo mineiro Rubens Menin da MRV Construtora:
Rubens Menin Teixeira de Souza MRV/construção 2,5 bilhões
Edson de Godoy Bueno Amil/planos de saúde 2 bilhões
Dulce Bueno Amil/planos de saúde 1,9 bilhão
Silvio Santos Panamericano/banco 1,6 bilhão
José Isaac Peres Multiplan/administração de shopping centers 1,4 bilhão
Meyer Joseph Nigri Tecnisa/incorporação imobiliária 1,2 bilhão
Norberto Nogueira Pinheiro Pine/banco 1,2 bilhão
Hilda Diruhy Burmaian Sofisa/banco 1,2 bilhão
Marcos Antonio Molina dos Santos Marfrig/alimentos 1 bilhão
Marcia A.P.M. dos Santos Marfrig/alimentos 1 bilhão
Fábio Roberto Chimenti Auriemo JHSF/incorporação imobiliária 1 bilhão
José Auriemo Neto JHSF/incorporação imobiliária 1 bilhão
Luis Felippe Indio da Costa Cruzeiro do Sul/banco 1 bilhão
João Uchôa Cavalcanti Netto Estácio Participações/ ensino superior 1 bilhão
A principal informação que me chamou atençao nessa matéria da Revista Exame, e demonstra como a concentração de renda continua presente em nossa sociedade e que aqui ainda não se conhece efetivamente o chamado self made man, apesar do clima da revista tentar desmentir esa realidade. Esse dado entre outras coisas demonstram que nossa sociedade ainda não atingiu o ideal republicano. Bons negócios aqui ainda dependem da origem(status), contatos e privilégios (o jeitinho brasileiro). Na lista dos novos bilionários o único self made man é Edson Bueno, fundador da Amil, maior empresa de planos de saúde do país. Nascido em Guarantã, no interior de São Paulo, o empresário tem mãe dona-de-casa e padrasto caminhoneiro. Quando criança, Bueno se notabilizou pelo sofrível desempenho na escola. Repetiu a quarta série quatro vezes. Para se virar, chegou a trabalhar como engraxate. Outro self made man é ele o showman Silvio Santos, mas nesse caso ele já era um bilionário a decadas, a abertura de capital só tornou pública a sua real riqueza já tão badalada. Segundo a revista:
"Dos 14 da lista, oito vieram da classe média. Apenas um deles, Norberto Nogueira Pinheiro, fundador do banco Pine, nasceu rico. Quatro se tornaram bilionários a reboque de cônjuges ou pais empreendedores. A controladora do banco Sofisa, Hilda Diruhy Burmaian, abriu o capital do banco após a morte de seu marido e fundador da companhia, Varujan Burmaian. Tem 1,2 bilhão de reais em ações do Sofisa. Os dois donos do frigorífico Marfrig, o empresário Marcos Molina dos Santos e sua mulher, Marcia, acumulam um patrimônio de 1 bilhão de reais cada um. E Fábio e José Auriemo, pai e filho, controlam a construtora JHSF e têm uma fortuna individual de 1 bilhão de reais. (...)As histórias mais impressionantes são aquelas de empreendedores que saíram do zero. (...) O outro é Edson Bueno, fundador da Amil, maior empresa de planos de saúde do país. Nascido em Guarantã, no interior de São Paulo, o empresário tem mãe dona-de-casa e padrasto caminhoneiro. Quando criança, Bueno se notabilizou pelo sofrível desempenho na escola. Repetiu a quarta série quatro vezes. Para se virar, chegou a trabalhar como engraxate."

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Sobre retrossexual, corpos perfeitos e Brazilian Wax

Sobre retrossexual, corpos perfeitos e Brazilian Wax

Antes de entendermos do que se trata esse tal de retrossexual, entendamos o que se chama de metrosexual. A palavra metrossexual, representa a junção dos termos “Sexual” e “Metropolis”. A primeira vez que foi usada, de acordo com a Wikipedia foi em 1994, pelo jornalista britânico Mark Simpson. Originalmente, ele escreveu um artigo se referindo ao homem urbano de qualquer orientação sexual que serve de público alvo para as revistas de moda masculina. Apesar disso, o termo começou a ser usado para se referir ao homem heterossexual que está “em sintonia com seu lado feminino”. Eu tenho um amigo metrossexual super gente boa, que se encaixa perfeitamente na descrição: homem com orientação sexual hetero, jovem, ou seja entre 25 e 45 anos, super bem sucedido financeiramente e profissionalmente e, que claro como todos metrosexuais se preocupa com seu visual e, para tanto, semanalmente vai a um salão super bacana R$$$ na Savassi fazer luzes, manicure e provavelmente depilação, fora as roupas transadas, apesar de que particularmente não as usaria e, ademais sobre roupas posso dizer ser esse meu único desvaneio capitalista.

Em oposição a esse, se encontraria o retrossexual, homens com um pobre senso de estilo e que rejeitam serem tachados por sua aparência física. Os sinônimos do estilo também são ‘homem real” ou “masculino”. Geralmente, a maior parte dos homens são considerados retrossexuais, segundo a Wikipedia. A verdade é que acho tudo isso uma grande bobagem classificatoria. A velha mania ocidental de categorizar em forma dual o mundo (não entendeu nada, leia Deleuze, Sahlins, Viveros de Castro entre outros). Como se as pessoas ou coisas fossem isso ou aquilo, quando na verdade somos isso e aquilo.

Mas se é assim que a roda gira e, esses pensadores que citei acima não são dominantes, tenho que me classificar como retrossexual. Penso e ajo como um retrossexual. Portanto vou tecer aqui algumas imprecisões baseados na qualidade de retro. A beleza das mulheres se encontram no cheiro, nos trejeitos, no modo de se combinar a vestimenta, na pele, no toque, as vezes no não toque, na carne se é que me entendem. Melhor ainda na mistura disso tudo. Nada melhor do que a graça de uma mulher em seu período fértil, com todos seus cheiros, malícias, pequenos inchaços, etc. Mulher de verdade é mulher de carne e osso. Mulher boa é a mulher que enche as mãos. Sejamos franco, a não ser em casos extremos, não nos importamos com esse papo de celulite...retro que é retro não sabe do que se trata essa tal de estria.

Veja bem, este texto não é uma defesa do sobrepeso (principalmente por que segundo a medicina o sobrepeso é sinônimo de doenças múltiplas e variadas e, por outro lado sejamos francos com raras excessões tipo Queen Latifa, é assim que se escreve, e uma aqui outra ali são raras as mulheres obesas belas) mas sim um libelo contra essa ditadura da beleza única, da ideia de que só o corpo oficializado pela mídia e pela industria de cosmético e ginástica é válido. Que é valido qualquer sacrifício alimentício, nas academias ou nas cirurgias. Nada mais falso, a maioria dos homens está atrás é de outros atributos. Como nada é mais falso do que essa obsessão por depilação da boceta (que me perdõe os puristas, mas essa palavra é tão, tão bonita e enche a boca de uma forma tão gostosa, seja no sentido semântico, simbólico e ...).

Um dia desses em um café, estava eu cercado de belas amigas, - por que tenho várias amigas muy belas - eis outro mito: homem não tem amigas, bobagem tenho muitas e boas amigas (no duplo sentido da palavra), até por que a gostosura também não deve ser apenas medida na tal da industria de beleza, a rigor gostoso é algo que se tenha prazer ao comer e nada melhor do que a multiplicidade (digo a variedade), pois bem, voltemos ao café: estava no café único homem na mesa de mocinhas e eis que sabe se lá como, o assunto torna-se depilação, cria-se um frisson; debate acalorado sobre salões, métodos e metodologias a respeito da melhor forma de depilar, a menos dolorosa, a mais séptica, a menos onerosa financeiramente, etc. Pois bem, enquanto ouvia as meninas ficava a matutar comigo: para que isso tudo, quando o gostoso mesmo é uma xana (outra palavra que não é tão bela quqanto boceta mas é singela, principalmente no diminutivo e bem lembra a forma do morango na vulva) no máximo aparadinha (ou seja, raspadinha) mas ainda selvagem, sexy, gostosa de se sentir, de se ... mas é um tal de correr para a depilação, principalmente se é para agradar um macho novo. Já perguntaram aos felizardos suas opiniões e vontades.

Como não sou dado a ficar tendo esse tipo de conversa com outros amigos, nunca apliquei um survey entre eles - de modo que não tenho uma posição dominante da machaiada amiga a respeito desse tema: toda depilada, raspadinha ou cabeluda. Qual a preferência? - Não sei a repsosta, afinal uma das coisas mais idiotas é um bando de macho falando de fêmeas, quando é sabido que é muito melhor a praxes do que a teoria, daí nunca ter feito um survey a respeito. Mas um dia desses no bar, um amigo daqueles que diz tudo que pensa doa a quem doer se é que vai doer em alguém, aproveitou a mesa mista de machos e fêmeas, para soltar o verbo e, ai na lata tascou: eu gosto mesmo é de mulher sem depilar, natural. Eis ai o macho corajoso, que diz com todas as palavras Brazilian Wax should be something for gringo or probalous metrossexual.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Dúvidas sobre a crise

A crise, a crise. A malfadada crise chegou. Enfim!!!chegou. Tanto a quiseram que ela veio. Sobre essa crise me paira uma dúvida de leigo. Como pode se estar em crise quando a maioria da empresas e todos os bancos fecharam o ano com superavit financeiro, em alguns casos com recorde de produção e comercialização? Tal como Eremildo, continuo idiota e sem entender nada.
Vejo na TV, ouço no rádio, leio nos jornais e na net que a industria automobilística esta em crise. Resultado da crise: férias coletivas, acordos trabalhistas e demissões. Mas como assim, pois li, ouvi e vi nestes mesmos órgãos que ano passado foi o melhor ano da história da industria automobilística brasileira, nunca se vendera tanto carro. O mesmo ocorre com a Vale, anos e anos batendo recordes de produção e de lucro, a maior mineradora do mundo!!! e coisa e tal, e recorde, e mais recorde de lucro, costumamos com notícias como essa, mas assim que se pronuncia a crise, a Vale é assim que ela deve ser chamada segundo seus proprietários, demite só em Minas mais de 3000 funcionários.
Ainda sobre a crise leio que esta em curso uma série de medidas e acordos entre patrões e empregados. Acordo, como manda a nossa boa tradição de civilidade e de povo cordato: ou seja, aquele em que os patrões (maldito modo demode de denominar essa classe, perdão, perdão duplo não é patrão é empresário e não se trata de uma classe e sim de uma família. Família Vale, Família Usiminas e assim sucessivamente) dizem aos empregados (desculpem-me de novo, é o cachimbo que faz a boca torta, digo sócios, familiares, ou no máximo no caso daqueles empresários antiquados: funcionários): ou vocês aceitam cortar os salários, perder benefícios ou então serão demitidos. Que dizer, dizer, dizer mesmo eles num dizem a coisa é toda mais cordata. Mas esse tipo de negociação, atenção para os termos são muito importantes nestes quesitos, negociação faz todo sentido. Se Eremildo e Eu não entendemos é porque somos mesmo idiotas. Tanto que o Simon Schartwman (que não se escreve asim, faltou nesse caso dezenas de consoantes) afirmou, sendo porta-voz da tucanagem acadêmica - aquela que nunca erra e mais iluminada do que as outras, pois fa especializações na América-que estamos diante de um excelente momento para fazermos reformas dolorosas mas necessárias*. Afinal família serve é para que? Para ajudar os seus nos momentos de crise. Pois bem, apesar de idiota aprendi que perguntar não ofende? Então vamos lá: em uma sociedade ou em uma família não deveria ser tudo na camaradagem? Poderia funcionar assim: os lucros exorbitantes das épocas de vacas gordas, como nos últimos 06 anos, poderiam ser utilizados agora no momento de crise, afinal família é para isso mesmo.
Mas como sou idiota continuo não entendendo nada, por que será que o governo não aplica em atividades produtivas e que criem empregos ? Por que o governo ao invés de salvar empresas pesadas e antiquadas não investe em setores mais dinâmicos e menos predatórios? Ou será que é outro negócio de família? Li um dia desses que primeiro o governo do operário Lula, que dizer do membro da família Wolks, resolveu dar duas maozinhas para a Votorantim. Segundo dizem, por ai, pelo menos li isso no blog do Noblat (que todos sabemos ser um esquerdista radical e revolucionário) que: " É assim. Um grande agente econômico privado administra mal suas contas, mas fecha o balanço devido a salvadores e generosos aportes dos cofres públicos. No dia 9, o Ministro Guido Mantega anunciou a compra de 49,99% do Banco Votorantim pelo Banco do Brasil. E, nesta terça-feira, o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, revelou que injetaria R$ 2,4 bilhões para a Votorantim Papel e Celulose (VCP) comprar a Aracruz Celulose, que de forma secreta contraiu uma dívida de 2,13 bilhões de dólares porque apostou no dólar barato e fez desastradas transações com derivativos cambiais."
Pois bem, como além de idiota gosto de perguntar, lá vão mais duas: Por que o governo não obriga os bancos a emprestarem suas imensas reservas frutos de negócios mais lucrativos do que a dos estelionatarios? Assim ao invés de especularem e ganharem burras e mais burras no mercado financeiro que não distribui renda e emprego e, que somente concentra mais renda nas mãos de poucos, os banquerios ajudariam a enfrentar a tormenta da crise. Mas seria pedir demais para o setor financeiro. Nunca se sabe nesse setor quem é quem. Por exemplo, quem é banqueiro e quem é mafioso. Dantas é o que mesmo? Desse setor só confio nos especialistas neutros que dão opiniões isentas no Jornal Nacional, ainda que funcionários de grandes bancos investidores no cassino chamado bolsa e com interesses cruzados e legítimos em dividir sua opinião conosco os leigos. Lá fora, os Estados Unidos Socialistas da América (Você já leu vários textos aqui no blog a respeito) inventou o processo, que logo foi seguido pela Europa, de socialização do prejuízo e privatização do lucro. Mas como o espírito criativo do brasileiro, que alguns chamam de jeitinho, não poderia falhar já fizemos nossa adaptação: aqui como lá privatizamos o lucro e estamos a socializar o prejuízo, mas nossa peculiaridade é que nem se precisa efetivamente estar em crise para dividir os prejuízos. Aliás pensando bem, no Brasil privatizar o prejuízo é coisa antiga, coisa nossa, tradição igual o samba, a feijoada,etc.
*Fico a pensar comigo como são geniais estes meus colegas sociólogos, o caso do Simon é exemplar ele é especialista em educação, renda, trabalho, sindicalismo, reforma da previdência, questões afirmativas e etc. E ainda sobra tempo de tomar chá junto com o restante da intelectualidade paulista, os tucanos bem pensantes. Turma das boas que conta ainda com outro mineiro-paulista Bolivar Lamounier, Eunice Durham e etc,etc. Tutto bona gente, tutto multiespecialistas e principalmente suas opiniões caem como luva para o eixo Fiesp-Estadão-Folha de S. Paulo.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Melhores do Ano

Dando uma peramblogada por ai, comecei a reparar uma série de eleições de os melhores do ano. Pensei em fazer o mesmo, e ai me lembrei que já tinha pensado algo do tipo ano passado mas acabei não colocando em prática. Então tomado por algo tão necessário: uma lista dos melhores. Resolvi criar uma lista dos melhores nas categorias musicais, cinematográficas, literárias, blogs, espetaculos e etc, para tanto seria necessário consultar pessoas cultas como eu, of corse. Escolhi para a empreitada 04 blogueiros amigos, sendo essa atividade e a amizade os critérios de seleção; ser cientista social foi efeito colateral do primeiro critério. Recebi 3 respostas positivas. As categorias foram:
O melhor (es) livro (s) que Vc leu em 2008 -
O melhor (es) filme (s) -
O melhor (es) disco (s) -
O melhor (es) espetaculo(s) -
O melhor (es) blogs -
O melhor (es) exposições -
O melhor (es) Categoria livre
Esclarecendo que aqui o importante foi ter sido feito, lido, ouvido e etc no ano de 2008 e não produzido nesse ano.
Daniel Martins, cientista social mestrando em Sociologia com especialidade em cultura, editor do blog http://peramblogando.blogspot.com/
O melhor (es) livro (s) que Vc leu em 2008 - Cultura Brasileira e Identidade Nacional - Renato Ortiz
1001 Discos pra Ouvir antes de Morrer (não lembro o autor)
Palavra e Sangue - Alain Tourraine
O melhor (es) filme (s) - Across the Universe
Hotel Ruanda
Cavaleiro das Trevas
O melhor (es) disco (s) - Black Ice - AC/DC
Metallica - Death Magnetic
Móveis Coloniais de Acajú
Skank - Estandarte
O melhor (es) espetaculo(s) - Show da Nação Zumbi no parque municipal
Teatro - Beatles Num Céu de Diamante
O melhor (es) blogs - Quem Matou a Tangerina
Abanjá
Kibeloco
Sedentário e Hiperativo
Irmãos Brain
O melhor (es) exposições - Do Gringo Cardia no Palácio das Artes
O melhor (es) Categoria livre - Tem o CQC, se tivéssemos uma categoria televisão e o Obama na política.
Ricardo Alvares, cientista social, mestre em antropologia com especialização em afrobrasilidades, consultor e editor de diversas listas sobre a temática quilombola e negritude e dos blogs http://quilombos.wordpress.com/ e http://diverjo.wordpress.com/
O melhor (es) livro (s) que Vc leu em 2008 - O Mameluco Boaventura, de Eduardo Frieiro.
Nunca havia lido nada dele e fiquei bastante impressionado com o estilo fluente e rápido que ele imprime ao texto. O livro é um romance histórico, ambientado em Mariana nos primórdios da colonização mineira, durante a febre do ouro. A história pinta o clima das relações sociais daquela época, ilustrando características dos valores morais de então, e o quanto os mesmos eram rígidos e hierarquizados segundo as posses (riquezas) e origens étnicas. Boaventura, apesar de rico e frequentar as rodas mais nobres da sociedade local, era mameluco, barreira intransponível para sequer sonhar em viver um amor proibido. Apesar de ser um livro da primeira metade do século XX, ter a oportunidade de lê-lo provocou em mim algo que sempre tive desejo e que somente agora estou fazendo: ler mais à fundo sobre a história de Minas Gerais.
Contos Escolhidos, de Artur Azevedo
Trata-se de uma coletânea de contos, alguns selecionados de livros e outros de jornais, escritos da segunda metade do século XIX até a primeira década do XX, todos ambientados no Rio de Janeiro de então, seja do período imperial ou da transição para a República. Bastante curtos, dá para lê-los rapidamente, quando se tem algum tempinho mínimo. Mas, o fato é que não se consegue parar de curti-los, pois são uma delícia. Por um lado, porque trás uma descrição dos costumes do Rio de Janeiro naquela época, principalmente no que diz respeito às relações amorosas, seja de namoro ou de concubinato. Por outro, justamente por esta última característica, uma delícia de se ler. Não chega a ser um Nelson Rodrigues, mas é bastante revelador, praticamente uma etnografia das relações amorosas da segunda metade do século XIX no Rio de Janeiro.
O melhor (es) filme (s) - Na Natureza Selvagem, direção de Sean Penn
Baseado em um história real, conta a saga de um jovem recém formado, no início dos anos 1990, que rompe o contato com a família e resolve sair viajando pelos EUA, a caminho do Alasca. O filme demonstra os problemas psicológicos do jovem, em função de conflitos familiares, e como ele foi fazendo amizades por onde passou, estabelecendo outras relações pessoais que se mostraram mais profundas que as familiares. Após dois anos, consegue chegar ao Alasca, onde se isola durante o inverno e tem que lutar por sua sobrevivência, em um processo intenso de auto-conhecimento. Um pouco longo demais para os padrões atuais (2h28), mas muito interessante.
O melhor (es) disco (s) -Live in Gdansk, de David Gilmour
Ex- guitarra, vocal e alma musical do Pink Floyd, Gilmour lançou no segundo semestre esta coleção de CD, DVD e LP, isso mesmo, LP; aliás, cinco! "Trata-se de uma apresentação ao vivo, em 26 de agosto de 2006, ocorrida em Gdańsk, Polônia, com a participação da orquestra “The Baltic Philharmonic Symphony Orchestra In Gdańsk“, regida por Zbigniew Preisner. Foi a última apresentação da turnê de “On An Island”, a pedido da “Gdańsk Foundation”, a qual assistiram 50.000 pessoas. Para quem não sabe, o líder operário, ativista dos direitos humanos e primeiro presidente polonês após o fim do regime comunista, Lech Walesa, era líder operário em Gdańsk, no estaleiro naval ali existente, onde ocorreu a apresentação. Em um dos produtos foi registrado um encontro de David com ele." (http://diverjo.wordpress.com/2008/09/29/a-great-day-for-freedom-live-in-gdansk-david-gilmour/) Nesta gravação foi registrado o último concerto oficial no qual participou Richard Wright, também ex-Pink Floyd, que morreu em 15 de setembro de 2008. Para quem gosta de Música - veja bem, eu disse Música, com M maiúsculo, e não som), é um registro imperdível. Outras informações no link acima.
O melhor (es) espetaculo(s) - Encontro Marcado de Sá, Rodrix & Guarabira - 14 Bis e Flávio Venturini
Aconteceu em maio, no Chevrolet Hall. Não sou da geração deles, mas como gosto muito de "coisa velha", adorei este show. O Chevrolet Hall em si é uma bosta, mas o show foi muito legal, sendo que ao final ainda apareceu um Beto Guedes extremamente eufórico e doidão pulando, cantando e dançando no palco. Impagável. Confesso que fui porque ganhei os ingressos da Localiza... Se tivesse conseguido ir a alguma apresentação do Madrigale durante o ano teria sido muito melhor, tenho certeza.
O melhor (es) blogs - Sinceramente, não acompanho nenhum específico. De vez em quando caiu em um ou outro.
O melhor (es) exposições - sobre Eduardo Frieiro, que acabou me levando a ler o livro citado anteriormente. Então cito esta, que estava em exposição na Biblioteca Estadual Luiz de Bessa, mas nem lembro o nome.
O melhor (es) Categoria livre- Não respondeu
Nota do eleitor: Tenho dificuldade de me lembrar destas coisas. Por mais que me esforce, quase sempre acabo me lembrando apenas dos últimos. Assim, a lista possui esta ressalva, está bastante contagiada por este defeito pessoal.
Evelin Nascimento, poeta, cientista social, mestranda em Antropologia e Arqueologia, especialista em arqueologia histórica, editora do blog Totem e Tabu http://capitolina-totemtabu.blogspot.com/
O melhor (es) livro (s) que Vc leu em 2008 - Achei as releituras de Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Machado de Assis e o Livro das Ignorânças do Manoel de Barros.
O melhor (es) filme (s) - se não me lembro de nenhum é porque nenhum mereceu o título.
O melhor (es) disco (s) - Otto (Sem Gravidade)
Beirut
Little Joy
O melhor (es) espetaculo(s) - Não respondeu
O melhor (es) blogs - Não respondeu
O melhor (es) exposições - Não respondeu
O melhor (es) Categoria livre -
1) Melhores trabalho em 2008: Relatório Antropológico da Comunidade Quilombola de Marques; Cinema nos Trilhos - Maranhão (e os que me deram e estão me dando mais trabalho)
2) Melhor parceiro de trabalho: Carlos Eduardo Marques (só pra babar seu ovo)
3) Melhores viagens de 2008: Maranhão; Caraça.
4) Melhor compra de 2008: um máquina de lavar;
5) Melhor decisão de 2008: fazer uma disciplina isolada no mestrado (hihihihi)
6) O pior de 2008: engordei 5kg
Nota do eleitor: De repente preciso pescar em minha memória tudo que aconteceu em 2008 para me lembrar dessas coisas. Não acho que seja fácil assim, porque posso ter lido um livro muito bom que não foi lançado em 2008. Da mesma forma posso ter um visto um filme antigo que não havia visto antes e posso ter ouvido um álbum de um artista que não conhecia. Posso achar que o livro que li ou a música que ouvi foram as melhores de 2008 porque eles têm um significado maior. Porque estavam comigo durante um período de mudança e passaram a fazer parte dela. É assim que me lembro das coisas, pelo momento e o que elas representaram nele. Por isso talvez um perfume tenha mais significado que um livro, uma cerveja signifique mais que um espetáculo. Fiquei pensando em como responder por isso decidi criar minhas próprias categorias.
Eu mesmo, cientista social, mestre em antropologia, professor universitário e ditor deste blog
O melhor (es) livro (s) que Vc leu em 2008 - Radical Chique e o Novo Jornalismo de Tom Wolfe, para ver uma critica aqui http://abanja.blogspot.com/2009/01/o-novo-jornalismo-radical-chique-e-o.html ;
As Regras do método sociológico, tem livros que Você acha que leu, mas de verdade nunca os leu. É o caso deste livro, somente este ano quando como professor tive a chance de lê-lo com maior atenção e reler junto com os alunos em seminários que percebi a grandeza do mesmo. um grande livro subestimado nos dias atuais. Sobre o livro e o autor: é aquela coisa quando você entra na faculdade lhe é dito que tal autor foi muito bom mas sua teoria é ultrapassada seus escritos idem e acriticamente você aceita. Sim a teoria de Durkheim esta ultrapassada e sua visão de mundo me desagrada bastante, mas esse é um grande livro;
Manifesto Comunista como a poeta disse acima, alguns livros a cada releitura se mostram mais potentes, nessa categoria cito este livrinho no tamanho e livraço no conteúdo de Marx e Engels;
Em defesa da sociologia de A. Giddens, vou ser direto como um historiador da sociologia é um autor brilhante, e esse livro é a exemplificação, como teórico da sociologia divide com Bourdieu (meu favorito da dupla) o título de autores mais influentes dos último quartel de século na sociologia, ainda que o segundo se considere e tenha produzido belissimas obras na antropologia. No entanto, Giddens se sente melhor como pensador e ai tudo que foi dito acima se degringola...numa baboseira de terceira via, para alem da direita e da esquerda, crítica ao marxismo, defesa de uma esquerda de mercado e outras bobagens do genêro que acaba afastando alguns de sua obra teórica.
O melhor (es) filme (s) - Cinderela Man, Ron Howard em seu melhor filme desde os anos 90 supera até mesmo Mente Brilhante e revela novamente o brilhantismo de Russel Crowe também em uma atuação tão digna como em Mente Brilhante. Em uma frase: o filme que mais emocionou nos últimos anos.
A queda, as últimas horas de Hitler pode até não ser um filme brilhante mas gosto de filmes históricos e nesse caso o interessante é a visão de dentro do Bunker, ou seja, a partir das memórias daqueles que estiveram com Hitler até seu suicídio. O melhor do filme esta após os créditos. Quando assiste a esse filme lembre-se dessa dica.
O melhor (es) disco (s) - Refavela de Gilberto Gil, lindo, lindo, emocionante para ler crítica ver http://abanja.blogspot.com/2008/09/msicas-msicas-e-msicas-x-ii-refavela.html
New York City Live (2007) de Hypnotic Brass Ensemble para ler crítica ver http://abanja.blogspot.com/2008/09/msicas-msicas-e-msicas-x-i-new-york.html
Festa Funk de Almir Ricardo, prova que existiu coisas boas nos anos 80, um disco nada cerebral mas totalmente coerente com o nome "Começando pelo nome poucas vezes um nome reflete tão bem um disco, realmente trata-se de uma festa. É o tipo do disco que Você colocava na vitrola do apartamento e já granatia a festa da moçada." ver mais http://abanja.blogspot.com/2008/09/msicas-msicas-e-msicas-de-volta-ix.html
Perola Negra (1973) de Luis Melodia, na ausência de palavras para classificá-lo digamos assim: a melhor obra das excelentes obras do Negro Gato.
Wilson Simoninha Vol. 2 do caralho honra o soul brasileiro e a memória de seu pai.
Viola Ética de Pereira da Viola, discasso que no meu caso ganhei do próprio Cara com dedicatória e muita cerveja e bom papo, veja http://abanja.blogspot.com/search/label/dias%20hist%C3%B3ricos%20no%20Mucuri
O melhor (es) espetaculo(s) - Instituto apresenta Tim Maia Racional. Bela banda, excelente vocalistas, soul, funk yeah...tudo de bom. Mistura de grandes músicos, belas canções e com a vantagem de ter sido convidado para o projeto dois excelentes interpretes: negra Li, Li de linda (oh mulher bonita, poderosa,gos...) e B' Negão.
O melhor (es) blogs - Peramblogando
Blog do Argemiro Ferreira
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Amálgama
Boteco Sujo
Liberal, libertário, libertino
O melhor (es) exposições - infelizmente não tive tempo de visitar nenhuma
O melhor (es) Categoria livre - por incrível que pareça, esse negócio do tempo é mesmo relativo, mas foi no ano de 2008 e não no outro ano, ou a três anos ou mais que me tornei mestre, parece quem tem anos...mas foi nesse. Então fico com essa opção pessoalmente gratificante e historicamente uma vitória.
Ps: faço minha as palavras do Ricardo tenho enorme problema de memória quando se refere a esse tipo de assunto. Por outro lado, quando fui responder começei a me questionar exatamente sobre esse formato de melhor disso e melhor daquilo, não deixa de ser uma concordancia com esse sistema baseado nas idéias de competição e melhor ... como disse a poeta tenta-se racionalizar algo que não é racional ... sei lá. Más pelo menos, nos permite fazer uma retrospectiva. Acho que para o ano que vem vou criar novas categorias como: melhor bar, com que Vc queria trepar, com que Vc não treparia, uma paixão, um desejo, uma mulher, um homem e coisas desse tipo intangível...

Obama: 44° president of USA

Barack Hussein Obama já é o 44 ° presidente da história dos EUA. Bom fora as pompas e os cerimoniais, trago aqui o que considero mais importante dessa primeira fase da posse, pois a mesma ainda continuará com desfiles e festas.
Aretha Franklin: lindo, lindo, lindo sempre é lindo vê a Maria Betânia deles. Os que me conhecem sabe da minha paixão por ambas.
2° O discurso de posse. Neste caso me chamaram a atenção os seguintes pontos:
- Obama diz com todas as palavras que não importa o tamanho do estado e sim sua competência em atender ao seu público alvo. Nesta parte disse mais o mercado é bom mas insuficiente. Bom de forma velada como deve ser em um discurso como esse Obama joga na lata de lixo a onda neo-liberal. Foi ela segundo ele que levou a atual crise.
- Obama lembrou que as armas são importantes mas que respeito não se conquista com elas e sim com o ideal americano. Nesta parte também se disse aberto a cooperação com os amigos e ao dialogo com os inimigos. "É mais importante construir do que destruir". Ainda nesse tema Obama bateu pesado nos anos Bush e prometeu o retorno aos dogmas norte-americanos: a liberdade. Neste trecho ele então afirma que esta na hora da América voltar a sua tradição de cidadania.
- E por fim, se politicamente os momentos políticos foram os resumidos acima. O momento mais emocionante foi a parte final quando disse algo do tipo: há 60 anos um homem negro não poderia entrar em um restaurante e hoje seu filho faz esse juramento e assume a esse cargo.
Um grande discurso curto, potente, coerente e que deu recado.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

De Abraham Lincoln a Barack Obama

A admiração de Obama a Lincoln é notória e repetida várias vezes por Barack. Mas quem foi Abraham Lincoln? Em comum com Barack Obama, Lincoln fez carreira política em Chicago. Lincoln era um republicano, sim como já dissemos naquela série de post sobre a história política norte-americana, até a eleição de Delano Roosvelt, outro dos heróis de Obama, o partido progressista era o Republicano. O partido fundado pelos moradores do norte, pró-abolição e pró-confederação. Enquanto isso o partido democrata era dominante no sul racista, segregacionista, separatista e escravista. A eleição de Lincoln difere em tudo da de Obama, sua vitória fora apertada e sua posse já se dera sobre o efeito do que viria a ser a guerra civil: sete estados já estavam em rebelião aberta contra a União, para criar a Confederação sulista.
Além disso segundo várias publicações respeitadas norte-americana, inclusive a Enciclopédia Lincoln, a famosa viagem de trem, agora repetida por Obama, se deu em um clima bastante tenso. Segundo informações nunca totalmente confirmada, Lincoln seria assassinado durante essa viagem: segundo essa versão da história, os escravocratas de Mryland revoltados com a promessa do fim da escravidão teriam conspirado para assassinar Lincoln em Baltimore.
Alertados por uma agência de detetives contratada para a segurança do presidente eleito (sim naquela época não existia serviço secreto) a comitiva de Lincoln teria trocado de trem e abortado a parada na cidade de Baltimore. A respeito da possível conspiração não existem provas irrefutáveis mas é fato que a comitiva não parou em Baltimore, o que aliás foi motivo de chacota dos escravistas como na charge de Harper’s a 9 de março de 1861, sob o título “Flight of Abraham” (A fuga de Abraão).
Tudo isso é importante, pois se Lincoln que carregava o nome de patriarca e, como, tal foi um dos construtores da América moderna, hoje esse fardo cabe a seu admirador Obama. Esperemos que o fim da história seja diferente. Para quem não sabe, quatro anos após essa possível conspiração Abraham Lincoln seria assassinado no balcão do Ford’s Theatre pelo ator John Wilkes Booth.
PS: para os Obamaniacos ou os mais jovens toda euforia exagerada corresponde a uma decepção idem. Eu vi e vivi algo assim em 2002 e deu no que deu. Aliás como se parecem ambas as festas e a enormes expectativas.

Obama

Dando uma pequena pausa na questão da Palestina. Passemos para o principal assunto dessa semana quando se comemora o King Day, a posse de Barack Obama na presidência dos EUA. Como as eleições americanas teve o maior número de post da história do blog. Fiquemos com a criatividade brasileira.



sábado, 17 de janeiro de 2009

Somos Todos Gaza XVII

No dia em que o cinismo chega ao grau máximo. Depois de mais de 1200 mortos do desrespeito ao cessar-fogo aprovado pela ONU e da recusa de Israel de estudar o cessar-fogo negociado por Egito. Israel acuado, como eu previa em um dos textos publicados aqui a cerca de 3 ou 4 dias, pela posse de um novo presidente norte-americano, vem a público - na posição que melhor sabe vender de ilha de democracia resolve decretar um cessar-fogo unilateral. Que na verdade é mais um ato de ocupação. Desta forma, Israel de novo vende sua imagem de mocinho e obriga aos Palestinos ao recusarem tamanha afronta a posição de bandido. Haja cinismo, tudo isso com o devido apoio da mídia ocidental e da mídia brasileira. Veja um exemplo da insanidade desse massacre.
Uma TV israelense transmitiu ao vivo o desespero de um médico palestino, Dr. Abu El-Aish, pacifista que trabalhou em Israel e acabara de ter sua casa bombardeada. Era comum sua participação pelo telefone contando a situação em Gaza. Suas três filhas morreram e outras duas foram feridas.
Outros dois exemplo, eu mesmo vi no Jornal do SBT. Um homem teve sua casa atingida em mais um "ataque cirúrgico" e perdeu todos os seus filhos. Eis que em mais um ataque de cinismo o governo israelense, esse então recolheu o desesperado pai e o levou para uma clínica de recuperação em Israel, pois não é que em sua chegada, um arremedo de homem foi atacado por uma israelense. Ou seja, o ataque a um homem que só conseguia soluçar de chorar. Cena deprimente mas didática do que informa os israelenses pacifistas. Israel de hoje é um país cada vez mais fechado em si mesmo a partir das mentiras de seus governantes. A outra notícia no mesmo jornal era sobre um homem que filmava os ataques aéreos israelenses sobre Gaza e lamentava a falta de mais ação por parte do exército. Eis ai outra característica da doença que atinge Israel, o alheamento da razão. Nesse caso, não se trata de um israelense radical e sim de alguém que admira o ato da destruição; alguém que perdeu a humanidade.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Somos Todos Gaza XVI

Abaixo um post em que tento mostrar a insanidade desse massacre, o que chamo de horror macabro. Agora um texto do historiador Élcio Siqueira, conhecedor da história e do presente de Israel. Com esse texto entendemos o processo de direitização, militarismo e abondono da laicização e as questões demográfiocas. Enfim, como já disse em outrosposts se o mundo, a começar pelos EUA não botar um freio nesse novo Israel muitos e muitos outros horrores macabros virão.
Ps: a cobertura do jornal nacional, com minusculas mesmo, de hoje foi pavorosa. Impressinante como a Globo mudou a cobertura ao longo do massacre.
CORRELAÇÃO DE FORÇAS EM ISRAEL MUDOU PRA PIOR
por Élcio Siqueira
Agnóstico, formado numa família católica, tomei contato com a comunidade hebraica através dos judeus progressistas, no começo dos anos 80. Gente que eu encontrava em protestos em São Paulo contra a invasão israelense do Líbano em 1982, que realizava um debate muito sério com militantes da OLP e se referenciava no movimento Paz Agora e em outras iniciativas de diálogo originadas no interior do universo judaico. Para contato com as idéias dessa brava e honorável gente, recomendo o sítio http://www.pazagora.org/ no qual estão disponíveis, dentre outros textos interessantes, matérias muito recentes de jornais e pensadores israelenses traduzidas para o português.
Acredito que esses horríveis acontecimentos na Faixa de Gaza que ora estamos acompanhando pela mídia remetem a dois pontos de estrangulamento.
O principal (e mais imediato) é a recusa israelense a realizar quaisquer concessões significativas aos palestinos nos territórios ocupados, como ficou claro durante o governo de Ehud Barack (1999-2001). Eleito sob o signo da retomada do processo de negociações que tinha sido interrompido com o assassinato do premiê Yitzhak Rabin em 1995 e pela vitória do Likud nas eleições de 1996, Barack apresentou um projeto que, dentre outros problemas, devolveria uma parcela mínima da Cisjordânia aos palestinos e retalhava seu território no meio dos assentamentos judeus que não seriam retirados, proposição reconhecida pelos palestinos (e internacionalmente) como inaceitável.
Mesmo que esta proposta tenha resultado menos da inabilidade do governo de Barack (e mais da própria correlação de forças dentro do parlamento israelense), o fato é que, no fim das contas, a iniciativa representou uma derrota política da coalizão então hegemônica, à qual se somou o fracasso da busca de uma solução negociada que encerraria a ocupação israelense do sul do Líbano. Nessa área, o exército israelense vinha tendo um índice de baixas de 05% no contingente engajado, marca reconhecida em mundo como característica de guerra aberta entre forças equivalentes.
Partindo dessa contestação – que poderia, em tese, ter levado à obtenção de ganhos políticos e diplomáticos através da negociação de uma saída honrosa – o governo Barack acabou colhendo uma derrota espetacular; suas tropas foram simplesmente enxotadas das terras libanesas pelo Hesbollah, na primeira grande vitória de uma força árabe num confronto direto com Israel.
Entre os governos de Yitzhak Rabin em 1992-1995 (durante o qual foi assinado o Acordo de Oslo com a OLP que permitiu a criação da Autoridade Palestina) e Ehud Barack, a correlação de forças dentro da sociedade israelense mudou para pior com a chegada massiva de judeus da União Soviética em derrocada (que deram base a um partido bastante conservador) e com a proliferação de partidos confessionais de vários matizes, sem os quais é muito difícil compor uma maioria parlamentar estável.
O preço (literalmente) cobrado é a destinação de recursos públicos para escolas de feição religiosa fundamentalista e a imposição de impedimentos de toda sorte às conversações com as lideranças palestinas.
Outro sinal do mesmo processo de direitização da política israelense foi a criação do partido Kadima em 2005, reunindo antigos líderes do Likud e supostos adversários trabalhistas de épocas passadas, como Shimon Peres. Um denominador comum entre todos é que os assentamentos israelenses em terras árabes são entendidos como uma realidade que veio para se firmar em definitivo. Aliás, a maior concessão que qualquer governo israelense se permitiu nesta questão foram os supostos “congelamentos” de novos núcleos judeus em áreas palestinas.
Existem, claro, expressivos setores progressistas e lúcidos em Israel, capazes de se fazer sentir nas disputas internas como um fator de moderação contra propostas de novas aventuras militares. Entretanto, a idéia de que a sociedade israelense, no seu conjunto, tem feição politicamente avançada parece pertencer a um passado de retorno cada vez mais difícil.
O outro aspecto fundamental é a composição demográfica do Estado de Israel. De acordo com Sergio Della Pergola, reconhecido professor de Demografia Judia na Universidade Hebraica de Jerusalém, Israel contava, em 2005, com 10,5 milhões de habitantes, sendo 50% de hebreus. Os árabes nascidos em Israel eram 1,3 milhões e os palestinos nesse mesmo território somavam 3,3 milhões. Mantida a tendência ora verificada, o número de judeus cairá para 35% do total da população israelense até 2050: as mães judias têm uma média de 2,7 filhos contra 04 filhos por mulher entre as palestinas (conforme http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=1215 e http://maierovitch.blog.terra.com.br/2009/01/09/em-gaza-a-lei-e-outra/). O mesmo estudioso assinala que, em todo o mundo, o crescimento da população judaica é negativo, com um percentual crescente de idosos em pouco mais de 13 milhões de indivíduos. 05 milhões vivem nos Estados Unidos, onde são 02% do contingente populacional.
Portanto, uma eventual incorporação da população árabe dos territórios ocupados à política israelense simplesmente implodiria o Estado Judeu. Mas, até quando será possível tanto inviabilizar o Estado Palestino quanto negar direitos de cidadania às populações árabes da Cisjordânia e de Gaza? Aparentemente, os setores majoritários da opinião pública de Israel preferem acreditar que decisões dessa natureza podem ser proteladas indefinidamente e que quaisquer concessões feitas por um governo aos palestinos poderão ser canceladas por outro que vier, mais firme e decidido.
Nessas condições, não é surpreendente que, em 2001, Ariel Sharon tenha sucedido ao hesitante Ehud Barack na liderança de Israel. Já que os setores nominalmente favoráveis a negociações com os palestinos e com os Estados vizinhos não tinham nem firmeza de propósitos em suas ações, nem capacidade de articular uma maioria parlamentar coerente, Sharon propunha-se a realizar sem problemas de consciência a destruição da estrutura administrativa da Autoridade Palestina e a aplicação de uma política de extermínio seletivo das lideranças árabes nos territórios ocupados, combinada com um esforço sistemático para desmoralizar o governo do Presidente Yasser Arafat.
Outro ponto essencial de seu governo foi a construção de dezenas de quilômetros de muros para isolar as áreas de população majoritariamente palestina, com direito a portões de entrada vigiada, torres com homens pesadamente armados e limitações de acesso à água para os confinados. Essas medidas restringiram as possibilidades de obtenção de empregos para os palestinos fora das terras onde residem, agravando os índices de pobreza em seu meio.
Dessa maneira, o Estado de Israel tornou-se crescentemente parecido com o extinto regime sul-africano do apartheid, com a construção de barreiras físicas destinadas a proteger uma minoria privilegiada numa escala provavelmente nunca imaginada pela liderança africâner.
A incansavelmente repetida alegação de que Israel é um país democrático não invalida o paralelo, pois o apartheid era um regime democrático para a elite branca que tratava o principal movimento de oposição ao sistema (o Congresso Nacional Africano, de Nelson Mandela) como organização terrorista, tal como ocorre em Israel em relação a qualquer movimento palestino de resistência.
Nos primeiros dias de 2006, o premiê Sharon entrou em estado vegetativo, não podendo, conseqüentemente, testemunhar o principal resultado das ações de seu governo: a vitória do Hamas nas eleições palestinas de 25 de janeiro desse ano, à qual se seguiu (dentro do meio palestino), o rompimento com o governo moderado do Presidente Abbas, com a instauração de um domínio exclusivista dessa facção na Faixa de Gaza; catástrofes tão evidentes que as forças políticas dominantes em Israel viram-se na contingência inadiável de restabelecer relações com a Fatah, facção palestina do falecido Arafat. No entanto, o estrago estava concretizado: o Hamas emergiu como a liderança de enormes parcelas dos palestinos e nenhuma negociação séria sobre os territórios ocupados poderia ocorrer sem a sua presença a partir de então.
Ehud Olmert, continuador de Sharon no governo de Jerusalém, tem se revelado um colecionador de desastres. O primeiro foi a invasão do sul do Líbano em 2006 que resultou na segunda grande vitória do Hesbollah sobre Israel, ao qual se seguiram escândalos que reduziram o Premiê a uma personalidade desmoralizada. O terceiro grande fracasso pode estar ocorrendo neste momento, em Gaza, às vésperas das eleições israelenses marcadas para março próximo.
Estamos assistindo a um desgaste inédito de Israel e do sionismo perante a opinião pública de todo o mundo que assiste horrorizada à matança de centenas de crianças e a práticas como bombardear residências, escolas e hospitais para, em seguida, cercar as áreas atingidas para que o socorro humanitário não chegue a tempo. Por outro lado, o Exército Israelense até agora não foi capaz de apresentar evidências claras de qualquer ganho fundamental na suposta luta contra o terrorismo; alguma coisa como a eliminação da liderança ou da estrutura de funcionamento do Hamas ou de alguma outra organização palestina.
Uma meta desse tipo, aliás, dificilmente poderá ser realizada devido ao conhecido fato de que o Hamas e outras facções terroristas não possuem um comitê central ou uma estrutura hierarquizada que, ao ser destruída, paralisaria a organização. Muito ao contrário, o modelo vigente é o de pequenos núcleos que não se conhecem entre si cujos membros, se capturados, não têm nenhuma informação cuja revelação comprometeria de forma importante o movimento. Também é imprudente prometer a “destruição das bases de lançamento de mísseis contra o território de Israel” porque os artefatos que militantes palestinos disparam a partir de Gaza são de fabricação caseira, produzidos em boa parte com produtos de limpeza...
O governo israelense parece ignorar que, se Clausewitz estava certo ao conceber a guerra como continuidade da política, ações armadas não deveriam iniciar-se sem que, antes, seus objetivos tenham sido estabelecidos com clareza. Nessa maneira clássica de encarar o problema ora considerado, as alternativas são: ou a equipe de governo de Israel está jogando uma espécie de partida de xadrez visualizando os lances que ocorrerão sete ou oito jogadas adiante – num horizonte muito além da percepção do grande público – ou a aventura em Gaza prosseguirá até o momento em que se perceba que o isolamento político e diplomático de seu país atingiu níveis que nem mesmo a tradicional prepotência israelense pode permitir-se.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Somos Todos Gaza XV

O horror macabro
15-01-2009
Israel em um só dia dá três exemplos do seu horror macabro. Quais sejam: bombardeou um prédio da Comissão de Refugiados da ONU; prédio esse, que estocava alimentos, medicamentos, roupas e outras doações da comunidade internacional à Palestina. Eis o macabro a sorrir com sua cara feia. O segundo episódio foi o bombardeio do principal cemitério de Gaza. Não se respeita nem mais a memória dos que se foram; agora Israel que ter certeza que não sobrará nem os restos mortais dos Palestinos. O macabro sorri novamente ao impedir aos Palestinos o direito de enterrar os seus. O terceiro episódio foi a recusa de Israel a mais um cessar-fogo. E a comunidade internacional? Bem a comunidade internacional continua com seu faz de conta. O horror macabro se vale por um lado da banalidade do mal e de outro da complacência dos demais países. A humanidade é o que nos une, no momento que se torna aceitável seja por qual razão for, as desumanidades, nos tornamos também menos humanos.
O horror macabro sorri mais feliz ainda quando os jornais e o próprio governo israelense informam que Israel desrespeitou o cessar-fogo, invadiu Gaza e matou seis ou sete (há controvérsia quanto ao número de assassinados, não quanto ao crime de assassinato) militantes palestinos, dia 4/11. Vejam a data, foi Israel que provocou a reação do Hamas a partir de 6 de novembro. Aliás, Israel reconhece isso como se lê nas páginas do governo de Israel, “o Hamas retaliou contra Israel e lançou mísseis.” E continuou a gargalhar quando o jornal Haaretz informou que Barak, ministro da Defesa de Israel, começou a planejar o massacre de Gaza muito antes, até, de haver acordo de cessar-fogo. De fato, conforme o Haaretz, a chacina de Gaza começou a ser planejada em março de 2008.
Mas é Norman Finkelstein que escacara o sorriso macabro do horror ao demonstrar que o atual massacre tem uma dupla razão: "a capacidade de Israel para semear pânico e morte em toda a região e submetê-la mediante a pressão das armas, da chantagem, do medo. Depois de ter sido derrotado no Líbano em julho de 2006, o exército de Israel entendeu que seria importante comunicar ao mundo que Israel ainda é capaz de assassinar, matar, mutilar e aterrorizar quem se atreva a desafiar seu poder pressuposto absoluto, acima de qualquer lei." e a segunda "o Hamas começou a dar sinais muito claros de que deseja construir um novo acordo diplomático a respeito das fronteiras demarcadas desde junho de 1967 e jamais respeitadas por Israel.Em outras palavras, o Hamas sinalizou que está interessado em fazer respeitar exatamente os mesmos termos e conceitos que toda a comunidade internacional respeita e que, em vez de resolver os problemas a canhão e com campanhas de mentiras por jornais e televisão, estaria interessado em construir um acordo diplomático."
Ah tempo. Informo que já passa de 1000 o número de mortos sendo mais de 300 crianças. O horror macabro continua a sorrir impiedosamente. Como sorri a mais de 40 anos. A rigor a fala de Finkelstein se baseia em fatos. Desde 1989, anualmente a ONU aprova uma moção e um documento em que defende a existência de dois estados: Israel e Palestina. Desde 1989 essa moção é aprovada por maioria absoluta do Plenário da ONU, no entanto desde 1989 insistentemente 3 países votam contra essa solução: Israel, EUA e Dominica. Mas terrorista e radicais são os outros, os islâmicos. Ocorre que os 22 países da Liga Árabe sempre votam a favor desse acordo. Ou seja, os árabes reconhecem a existência de Israel. Quem não reconhece, não aceita o outro? Novamente Finkelstein nos explica: "o ponto mais importante de tudo isso é que, em todas as ocasiões em que se discutiram essas questões, os palestinos sempre aceitaram fazer concessões. Fizeram todas as concessões. Israel jamais fez qualquer concessão."
Dados esses confirmados pela Universidade de Tel Aviv e pela European University, que afirmam: a violência do exército israelense já foi responsável pela interrupção ou violação de 79% de todas as tréguas firmadas na região desde a II Intifada; o mesmo estudo constatou que o Hamas e outros partidos palestinos só podem ser declarados responsáveis por 8% das violações e interrupções. Mas o horror macabro se regojiza-se sempre que surge a notícia de que Israel impediu que os feridos palestinos recebessem atendimento médico e estar a impedir a circulação de médicos e paramédicos, em um contexto em que existem feridos e crianças presas em casa, sem alimentação e remédios, ao lado de cadáveres de familiares, fato que foi noticiado em matéria pela rede CNN, para todo o mundo.
O horror macabro dança e tripudia quando Israel com seus altos comandos militares e civis mente e comete seus crimes de guerra. Quando atacam escolas com a bandeira azul da ONU e alegam ser um covil de terroristas e apresentam como provas fotos tiradas dois anos antes. Mas feliz mesmo, o horror macabro fica quando o exército israelense vem a público e assume que as fotos eram antigas e que se for preciso destruirá cada aldeia Palestina. Ou então, quando as lideranças civis como o primeiro ministro israelense comemora (está no Yahoo dos EUA) a abstenção dos EUA no Conselho de Segurança da ONU. Nas palavras do primeiro ministro israelense tudo se passou da seguinte forma: Cond Ricce foi a New York elaborou um Plano de Cessar Fogo, convenceu a comunidade internacional de aprová-lo e ai nas vésperas da votação ele ligou para Bush, que não podia atendê-lo então ordenou que Bush fosse ao telefone e lá comunicou, ao Macabro do Horror Bush II, vocês não podem aprovar esse Plano. Mas o horror macabro realmente se vangloria ao saber que tudo isso foi dito pelo primeiro ministro em um comício eleitoral. Afirmou ainda, o primeiro ministro, que Cond Rice teria ficado digamos assim, com cara de boba. Sim, pois a cada ataque um novo comício e o aumento na taxa de votos.
Mas o horror macabro deve estar a tremer, pois o dia 20 se aproxima rapidamente e ai nem tanto pelos seus verdadeiros sentimentos mas em nome de sua popularidade espera-se que o senhor Obama se entenda com os verdadeiros sionistas como Avnery (já aqui transcrito em 2 belíssimos textos) o professor Avi Shlaim, da Oxford University,que classificou o seu estado de Israel como “Estado terrorista” e “Estado gângster, entregue a políticos completamente inescrupulosos” (citados em The Guardian). Ou então Neve Gordon, professor de política na Universidade Ben Gurion, disse que as ações de Israel contra Gaza são “como matar animais num abatedouro” e manifestam “mais um novo bizarro elemento amoral” nas guerras. Ou, Gideon Levy do Haaretz(que também já publicamos aqui)“Calaram à força todas as vozes da contenção moral. Hoje, tudo é permitido”, Amira Haas, também colunista do Haaretz e filha de sobreviventes do holocausto “Sorte que meus pais já não estejam vivos e não precisem ver a Israel de hoje”, escreveu ela.
Mesmo acabrunhado o horror macabro volta a dançar, rir e regojizar quando lembra que suas atitudes têm como conseqüência o aumento do ódio e a formação de dezenas de movimentos radicais, do fortalecimento dos xiitas e quem sabe da Al Quaeda na Palestina. Assim se pode repetir anualmente tão macabro horror.
Carlos Eduardo Marques- Antropologo e Professor Universitário

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Somos todos Gaza XIV

Quando os números da matança de Palestinos de Gzza chega ao fatídico número de mais de 1000 mortos e se fala em mais de 200 crianças. Só nos resta publicar um novo texto de Uri Avnery, um bravo judeu que escreveu uma carta aberta a Obama pedindo que esse condene seu próprio país e desta vez disse corretamente: "Gente que sofra de insanidade moral não pode, mesmo, entender os motivos que regem a ação de gente normal."

Quantas divisões?
Uri Avnery
Há quse 70 anos, durante a II Guerra Mundial, cometeu-se um crime de ódio em Leningrado. Por mais de mil dias, uma gang de extremistas, chamada "o Exército Vermelho" sequestrou e manteve sob sítio os milhões de habitantes da cidade, o que provocou ação de retaliação pela German Wehrmacht, que teve de agir em áreas superpovoadas. Os alemães só tiveram essa escolha: bombardear e encurralar a população e impor total bloqueio, o que matou centenas de milhares. Pouco antes disso, crime similar foi cometido na Inglaterra. A gang de Churchill infiltrou-se entre os moradores de Londres, servindo-se de milhões de seres humanos como escudo humano. Os alemães foram obrigados a despachar para lá sua Luftwaffe e muito relutantemente reduziram a cidade a ruínas. Chamaram de "a Blitz".
Essa seria a narrativa da história, que veríamos hoje nos livros escolares – se os alemães tivessem vencido a guerra. Absurdo? Tão absurdo quanto o que se lê diariamente nos jornais em Israel, repetido ad nauseam: os terroristas do Hamas "sequestraram" os habitantes de Gaza e exploram mulheres e crianças como "escudos humanos". Não deixam alternativa ao exército de Israel, que é obrigado a bombardear furiosamente, processo durante o qual, Israel lamenta muito, Israel mata e mutila milhares de mulheres, homens desarmados e crianças.
Na guerra em curso em Gaza, como em todas as guerra modernas, a propaganda desempenha papel de protagonista. A disparidade entre as forças, entre o exército de Israel - aviões de última geração, metralhadoras, fuzis, lança-granadas, navios de guerra, tanques, carros blindados de todos os tipos - e uns poucos milhares de combatentes do Hamas, que só têm armas leves, é disparidade absoluta: de um, para mil, talvez de um, para um milhão.
Na arena política a diferença é ainda mais ampla. Mas na guerra de propaganda, a diferença é quase infinita. Praticamente toda a imprensa ocidental só fez repetir, de início, a linha oficial da propaganda de Israel. Ignoraram completamente o outro lado, o lado palestino da história, para não dizer que jamais noticiaram as manifestações diárias que acontecem, feitas pelos militantes israelenses dos grupos pela paz. O mundo aceitou como verdadeiro o argumento de propaganda do governo de Israel ("O Estado tem de defender os cidadãos contra os foguetes Qassam"). Nenhum jornal lembrou que os Qassams são reação ao sítio, cerco, bloqueio que mata de fome 1,5 milhão de seres humanos na Faixa de Gaza. Só depois que as televisões ocidentais começaram a exibir cenas horrendas, imagens da Faixa de Gaza, então, a opinião pública gradualmente começou a mudar. É verdade que as televisões ocidentais e israelenses só mostraram uma pequena porção dos horrores que aparecem, 24 horas por dia, mostrados ao mundo árabe pelo canal árabe da Al-Jazeera, mas uma única imagem de um bebê morto, nos braços de um pai alucinado é mais poderosa do que o infindável palavrório de frases bem construídas do porta-voz do exército israelense. No final, aquele pai e aquele bebê comprovaram-se mais poderosos que o exército e o porta-voz do exército de Israel.
A guerra - qualquer guerra - é o império das mentiras. Chamem-nas "propaganda", ou "guerra psicológica", aceita-se em geral que muitos mintam a um país inteiro. E quem tente dizer a verdade corre o risco de ser acusado de traição.O problema da propaganda é que ela sempre convence mais o propagandista, que o resto do mundo. E depois de alguém passar a crer que uma mentira é verdade, que o falso é real... já ninguém é capaz de tomar decisões racionais. Exemplo desse processo viu-se no episódio mais chocante, até agora, da guerra de Gaza: o bombardeio da Escola Fakhura, da ONU, no campo de refugiados de Jabaliya. Imediatamente depois de o mundo tomar conhecimento do crime que ali se cometeu, o exército de Israel "revelou" que combatentes do Hamas estariam disparando granadas de área próxima à entrada da escola. Como prova, exibiram uma foto aérea na qual, sim, se via uma escola e uma granada. Minutos depois, o mentiroso de plantão no exército teve de admitir que a foto era antiga, de mais de um ano. Em resumo: a foto foi falsificada. Depois, outro mentiroso armado 'declarou' que "nossos soldados estavam sendo atacados a tiros, de dentro da escola". Dia seguinte, o exército foi obrigado a reconhecer frente aos funcionários da ONU, que também a segunda 'declaração' era mentira. Ninguém foi atacado a tiros, de dentro da escola, nem havia combatentes do Hamás dentro da escola. Dentro da escola só havia refugiados desarmados e apavorados. De qualquer modo, o desmentido não fez grande diferença. Àquela altura, a opinião pública já estava cegamente convencida de que "estavam atirando de dentro da escola" - o que jornalistas continuaram a 'noticiar' pela televisão, como se fosse verdade. E assim por diante, a cada nova atrocidade, uma nova mentira. Cada bebê metamorfoseava-se, no momento de morrer, em terrorista do Hamas. Cada mesquita bombardeada convertia-se instantaneamente em base do Hamas. Cada prédio de apartamentos, em esconderijo de armas; cada escola, em posto de comando do terror; cada prédio da administração pública, em "símbolo do poder dos terroristas do Hamas". Assim, o exército de Israel travestiu-se, mais uma vez, de "o mais moral exército do mundo".
A verdade é que as atrocidades são consequência direta do plano de guerra. Refletem a personalidade de Ehud Barak - homem cujo modo de pensar e agir são exemplo do que se conhece como "insanidade moral", desordem sociopata. O objetivo real da Guerra de Gaza (além de conquistar algumas cadeiras nas eleições próximas) é destruir o Hamas na Faixa de Gaza. Na imaginação dos estrategistas sociopatas do exército de Israel, o Hamas é um invasor que controla um país estrangeiro. Claro que a realidade é outra.O movimento Hamas venceu eleições perfeitamente legais e democráticas realizadas na Cisjordânia, em Jerusalém Leste e na Faixa de Gaza. Venceu, porque os palestinos chegaram à conclusão de que a abordagem pacífica do Fatah nada obtivera, que prestasse, de Israel - sequer foi interrompida a construção de novas colônias; nenhum prisioneiro político foi libertado; nenhum passo significativo foi dado para pôr fim à ocupação ilegal e criar o Estado da Palestina. O Hamas está profundamente enraizado na população, não só como movimento de resistência que combate a ocupação ilegal, como foi, no passado, o movimento Irgun e o Grupo Stern, mas também como corpo político e religioso que oferece serviços de assistência social, educacional e serviços de saúde. Do ponto de vista da população da Palestina, os combatentes do Hamas não são um 'corpo estranho': são os filhos das famílias que vivem na Faixa e em outras regiões da Palestina. Eles não são nem estão "infiltrados na população", nem "usam a população como escudos humanos". A população da Palestina vê os combatentes do Hamas como os seus, como os seus soldados, como os seus defensores. Portanto, toda a operação que levou a essa guerra baseou-se em premissas erradas.
Transformar o dia-a-dia da Palestina em inferno jamais levará os palestinos a levantar-se contra o Hamás. Acontecerá exatamente o oposto: a população unir-se-á cada vez mais firmemente em torno do Hamas; a cada dia aumentará a decisão de não se render. Os habitantes de Leningrado não se levantaram contra Stalin. Nem os ingleses de Londres levantaram-se contra Churchill.Quem ordena que os soldados façam o que têm feito, mediante os métodos que o exército de Israel tem usado em área densamente povoada, sabe que massacrará civis. Aparentemente nada disso o perturba. Ou, então, ele pensa que "mudarão de opinião" e "acordarão para o bom-senso", de modo que, no futuro, nunca mais se atreverão a resistir contra Israel. A prioridade do exército de Israel era minimizar o número de soldados mortos, porque sabem que a opinião dos eleitores mudará, no instante em que Israel comece a enterrar seus filhos. Aconteceu exatamente assim, nas duas guerras do Líbano. Essa consideração teve papel particularmente importante, porque toda a guerra é item da campanha eleitoral. Ehud Barak, que chegou ao topo das pesquisas nos primeiros dias da guerra, sabe que despencará de lá, se as televisões começarem a mostrar imagens de soldados israelenses mortos.
Portanto, Israel implementa hoje outra doutrina: evitar baixas; para tanto, destruir tudo o que apareça à frente dos tanques ou abaixo dos aviões ou na mira dos canhões dos barcos. Os estrategistas estão trabalhando, não só para matar 80 palestinos para salvar um soldado, como está acontecendo; estão preparados para matar 800 palestinenses, por israelense. Evitar baixas é, hoje, o primeiro mandamento em Israel. Para tanto, estão matando número recorde de civis palestinenses. O que aí se vê é a escolha consciente de um tipo particularmente cruel e injusto de estratégia de guerra. Esse erro é o calcanhar de Aquiles do exército de Ehud Barak.Um homem sem imaginação como Barak (seu slogan eleitoral é "Não um bom sujeito. Um líder!"), não faz idéia de como gente de bem, em todo o mundo, reage ante assassinatos de famílias inteiras, destruição de casas, soterramento de mães e filhos, pilhas de cadáveres de meninos e meninas envoltos em mortalhas brancas, a relatórios que informam sobre feridos que sangram até morrer, porque o exército de Israel impede o trânsito de ambulâncias; ante assassinatos médicos e paramédicos que tentam cumprir seu dever; ou de motoristas de caminhões da ONU que dirigem caminhões que transportam farinha. O mundo está horrorizado com o que está vendo. Nenhum argumento eleitoral ou estratégico terá jamais qualquer força, ante a imagem de uma menina ferida, no chão, procurando a mãe. Os estrategistas de Israel supuseram que impediriam o mundo de ver essas cenas; que bastaria impedir o trabalho dos jornalistas.
Os jornalistas israelenses, para sua perpétua vergonha, deram-se por satisfeitos com os releases e imagens oficiais, fornecidas pelo porta-voz do exército, como se fossem notícia e fato; ao mesmo tempo, preservaram-se, a quilômetros de distância de qualquer perigo. A imprensa estrangeira também foi proibida de trabalhar, mas os jornalistas estrangeiros, pelo menos, protestaram. Conseguiram ser levados em tours rápidos pelas cidades, em grupos pequenos, selecionados e fiscalizados. Fato é que, nas guerras modernas, esse tipo de noticiário estéril e manufaturado já não exclui completamente outras vias de obter e distribuir informação. Há máquinas fotográficas e filmadoras com a população, na Faixa, no meio do inferno. E, essas, não podem ser controladas.
As equipes da rede Al-Jazeera distribuem imagens e boletins 24 horas por dia. E todas as casas recebem as imagens.Essa batalha, pelas telas de televisão, é hoje uma das mais decisivas de toda a guerra de Gaza. Centenas de milhões de árabes, da Mauritânia ao Iraque, mais de um bilhão de muçulmanos, da Nigéria à Indonésia vêem e horrorizam-se. Não se subestime o impacto dessas redes, sobre o desenrolar da guerra de Gaza. Milhões de pessoas estão assistindo ao que fazem e dizem os políticos do Egito, da Jordânia e da Autoridade Palestina. Para muitos, todos esses aparecem como colaboracionistas, como parceiros de Israel, nas atrocidades de que são vítimas, hoje, seus irmãos palestinos. Os serviços de segurança de vários regimes árabes já registram uma fermentação perigosa em vários países. Hosny Mubarak, de todos os líderes árabes o que está mais exposto, por ter fechado a passagem de Rafah, praticamente diante de multidões de refugiados apavorados, está sendo forçado a pressionar Washington, que, até há pouco tempo recusava-se a cogitar de qualquer tipo de acordo para o cessar-fogo. Todos já começam a pressentir algum tipo de grave ameaça aos interesses vitais dos EUA no mundo árabe.
De fato, já mudaram de atitude, o que causou consternação entre os complacentes diplomatas israelenses. Gente que sofra de insanidade moral não pode, mesmo, entender os motivos que regem a ação de gente normal. "Quantas divisões tem o Papa?" perguntou Stálin. "Quantas divisões têm os seres humanos decentes?" - deve estar-se perguntando, agora, Ehud Barak.Fato é que os seres humanos decentes têm, sim, algumas divisões. Não muitas. Nem capazes de reação muito rápida. Nem são muito poderosas, nem muito bem organizadas. Mas num determinado momento, quando as atrocidades cometidas por Israel começaram a vazar por todos os lados, começaram a surgir protestos em massa, de grande envergadura. Esses protestos podem decidir uma guerra. O erro, o fracasso, a incapacidade para perceber a real natureza do Hamas levou a outros erros, de resultados previsíveis. De um lado, Israel é incompetente para vencer. De outro lado, o Hamas não perderá essa guerra. Ainda que Israel conseguisse matar todos os combatentes do Hamas, até o último homem, ainda assim o Hamás venceria. Os combatentes do Hamas passarão a ser vistos como exemplos para o mundo árabe, heróis do povo da Palestina, exemplo a ser copiado para todos os jovens árabes. A Cisjordânia cairá no colo do Hamas, como fruta madura. O Fatah naufragará num mar de escárnio, vários regimes árabes estarão sob risco de colapso. Se, ao final dessa guerra, ainda houver Hamas, dilacerado, que seja; em frangalhos, que seja, mas ainda vivo, sobrevivente à fuzilaria da máquina militar de Israel, será a mais prodigiosa das vitórias, será fantástico, será como o espírito que derrotou a matéria.Na consciência do mundo estará fixada a imagem de uma Israel sedenta de sangue, pronta para, a qualquer momento, cometer os mais atrozes crimes de guerra, que nada detém, nenhuma rédea moral. As conseqüências serão muito severas, para o futuro de longo prazo de Israel, para nossa existência no mundo, para as chances de Israel algum dia poder viver em paz e sossego. No fim a guerra de Gaza é, sobretudo, guerra contra Israel, também. É crime contra o Estado de Israel.
Tradução: Caia Fitipaldi
Uri Avnery é jornalista, membro fundador do Gush Shalom (Bloco da Paz israelense).

Somos todos Gaza XIII

Até que enfim Pedro Dória começa dar o ar de sua graça. Até mesmo por que já estava pegando mal um dos principais blogs de política do país segundo diversos levantamentos e que tem como uma de suas finalidades a política internacional permanecer em silêncio obsequioso. Compreende-se que seja dificil a um judeu comentar sobre seu próprio estado, que na verdade é sua própria origem e religião- lembremos Israel é a promessa de Deus ao Patriarca, sem terra não existe judaísmo- mesmo assim demorou-se demais o Pedro. Mas enfim ele escreveu. Trechos de um texto onde condena as atitudes de Israel. Para ver texto completo http://pedrodoria.com.br/
"(...) Israel têm líderes covardes e ineptos, à esquerda e à direita. Eles simplesmente não têm coragem de tomar decisões difíceis, morrem de medo da opinião pública, consequentemente não inspiram segurança. O resultado é que, inseguro, o povo reage como povos reagem: se tudo está perdido, às armas. Os políticos sabem que isto não resolve. Mas sentem-se eles próprios acuados eleitoralmente e lançam-se às armas. Após mil palestinos mortos, o problema de Israel continua lá e tem o mesmo tamanho. Terão ganho alguns meses sem foguetes? Talvez. Provavelmente não. Certamente terão ampliado o ódio e distanciado qualquer possibilidade de paz.
Alguns dizem: ‘mas a paz não é possível de qualquer jeito.’ É evidente que a paz é possível. Porque, se a paz não é possível, Israel não vale a pena. Se cada pai israelense pensar que a vida toda de seus filhos e netos será o eterno defender-se dos ataques externos, um eterno construir muros, um eterno ocupar da terra dos outros e temê-los para sempre, para que Israel? Para que viver assim? Ou se acredita que a paz é possível, ou é melhor se mudar.
A paz é difícil. E ela só virá com uma negociação complicada na qual ambas as partes terão que ceder. Onde Israel errou? Errou no momento da eleição do Hamas.
Israel não escolhe com quem conversa do lado palestino. Aceita o que tem ou não há conversa. Os palestinos são o que são e é com eles que a paz deve ser negociada. Mas a maioria, lá, quer paz assim como a maioria dos israelenses. E eles também não têm grandes líderes. Nem Yasser Arafat o foi. Se tivesse sido, já haveria Palestina. Assim como os atuais líderes israelenses, morria de medo de dizer para o povo algo impopular.
O Hamas não existiria se Israel não tivesse enchido o grupo de dinheiro nos anos 1980. Agora o Hamas existe. O Hamas não é apenas um grupo terrorista. É também um grupo terrorista. Mas é uma filantropia e é um partido político. Margaret Thatcher negociou com os políticos do IRA. Não é agradável, mas faz parte do processo que leva ao fim da violência. Como lembra o jornalista palestino Daoud Kuttab,
o Hamas são muitos. Políticos querem poder. Extremistas querem morte. Os políticos do Hamas não podem dizer que não desejam mais a destruição de Israel. Poderão dizer um dia, quando já houve Palestina; agora, não podem.
O importante é que, a portas fechadas, podem dar garantias de cessar-fogo a diplomatas israelenses. A Guerra da Coréia ainda não terminou. Mas o cessar-fogo dura já tanto tempo que ninguém lembra disto. O que querem em troca são condições de exercer seu poder. Poder, diga-se, outorgado pela população palestina através do voto. E um poder, é importante sempre lembrar, que eles estavam quase perdendo legitimamente. Tanto em Gaza quanto na Cisjordânia o Hamas estava a caminho de uma estrondosa derrota eleitoral ainda no primeiro semestre deste ano. Israel não permitiu que o processo político democrático punisse o Hamas. Mais alguns meses de foguetes que não matam ninguém e a situação palestina seria outra.
Quando o Hamas foi eleito, Israel e EUA se recusaram a reconhecê-lo. Isto deu forças para que o Fatah criasse problemas, trouxe instabilidade ao governo, golpe em Gaza. Ações têm conseqüências. O braço político do Hamas tinha que ter alguma força e alguma prova de que política traz resultados. Em caso contrário, os extremistas sempre vencerão a queda de braço interna."