domingo, 5 de setembro de 2010
A IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO
domingo, 10 de janeiro de 2010
O Plano Nacional de Direitos Humanos, o jornalismo brasileiro e as eleições
sábado, 2 de janeiro de 2010
A década se foi
terça-feira, 22 de dezembro de 2009
Neutralidade, Imparcialidade e Ideologia
domingo, 15 de novembro de 2009
Hoje é dia da Republica
domingo, 13 de setembro de 2009
setembradas
Em 1962 o Primeiro-ministro Tancredo Neves, sabendo da ligação que ele e a esposa, a jornalista e teatróloga Zora Seljan (belo-horizontina, filha de um etnógrafo croata), mantinham com a cultura negra, ofereceu-lhe o cargo de adido cultural na embaixada do Brasil na Nigéria.
Os tempos passados em Lagos renderam uma trilogia que, embora jamais indicada nos vestibulares brasileiros, foi traduzida para 19 idiomas. Escreveu dezenas e dezenas de obra sobre a África e sobre os afro-brasileiros.
Para entender melhor as ligações do Brasil com a África, vale a pena ler a trilogia Alma da África, composta por A Casa da Água, O Rei de Keto e Trono de Vidro.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
O Choque de Gestão do Aécio
Nassif em seu blog tem se mostrado, corretamente um crítico contundente da atuação do Sr. José Serra, e como se diz por aqui, vira e mexe cita o Sr. Aécio Neves como contraponto interno no tucanato. Nada mais errôneo e injusto para com ambos. É tudo farinha do mesmo saco. Ora se José Serra vende para todo o país sua companhia de saneamento, o governador de Minas faz o mesmo com sua companhia energética. Ora se Serra pede cabeça nas redações paulistas acredito que a pós-graduação neste assunto seja o estado de Minas Gerais. Fato hoje já reconhecido e, vejam bem, denunciados pela BBC de Londres. Segundo as informações técnicas o estado de Minas Gerais teve uma diminuição de cerca de 30% em seu orçamento, mas ainda assim o governo de Minas Gerais gasta quase 70 milhões de reais,
Consórcio Espontânea – MPM - Contrato original: R$ 30 milhões. Acréscimo de 25%, R$ 7 Milhões. Dotação Orçamentária: 1491.04.131.709.4680.0001339039.09.10.1.
Lápis Raro Agência de Comunicação Ltda.- Contrato Original: R$ 7 milhões, valor do Acréscimo 25%, R$ 1.750.000,00. Dotação Orçamentária: 1491.04.131.709.4680.0001.339039.09.10.1.
RC Comunicação - Contrato Original: R$ 15 milhões, valor do Acréscimo 25%, R$ 3.750.000,00. Dotação Orçamentária: 11491.04.131.709.4680.0001.339039.09.10.1.
Net Design e Comunicação Ltda. - Contrato Original: R$ 4 milhões, valor do Acréscimo 25%, R$ 1.000.000,00. Dotação Orçamentária: 1491.04.131.709.4680.0001.339039.09.10.1.
Seja através do caladão, seja através da compra de espaços publicitários.
quinta-feira, 19 de março de 2009
A Chicana
2) Se o próprio STF julgou que a CPI não poderia quebrar o sigilo da Satiagraha, não seria ele, De Sanctis, a decidir em sentido contrário.
3) A CPI veio com um novo pedido de quebra de sigilo sem acrescentar fato novo.
4) A CPI, propositalmente ou não, mistura os grampos realizados pela Kroll (objeto da Operação Chacal) com a investigação da Satiagraha.
5) A Polícia Federal auditou o Sistema Guardião e listou os policiais que tiveram acesso aos registros da Operação Satiagraha. A Justiça verificou que todos os registros de interceptações ali existentes têm embasamento judicial.
6) Não houve, portanto, nenhum indício de “interceptações clandestinas” que tenham sido utilizadas na Operação Satiagraha, como afirma a CPI.
7) O pedido de quebra de sigilo da Satiagraha feito pela CPI, ao afirmar que houve interceptações clandestinas na operação policial, é contraditório com as conclusões do próprio relator da CPI em seu relatório parcial.
8) As possíveis irregularidades cometidas por autoridades durante a Satiagraha já são objeto de investigação pelos órgãos competentes.
9) CPI só existe sobre fatos determinados. A CPI do grampo surgiu muito antes da Satiagraha, não sendo este, portanto, seu objeto de trabalho. E o trabalho de uma CPI não se confunde com o trabalho da Justiça.
10) O trabalho de uma CPI visa o conhecimento do Ministério Público, o aperfeiçoamento do Executivo e do Legislativo. Se todas as questões colocadas com relação à Operação Satiagraha são de conhecimento do Ministério Público e objeto de investigação da própria Polícia (Poder Executivo), não há nada que a CPI possa acrescentar.
11) Os três supostos vazamentos de informação da Satiagraha ocorridos até aqui estão sob investigação por parte da Polícia. E a CPI é suspeita, agora, de ter sido parte de um quarto vazamento.
12) A CPI pressionou a Justiça para obter as informações sobre a Satiagraha.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Curtas
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
algumas palavras sobre política e Fórum Social Mundial
Ao terminar os trabalhos do 8° Fórum Social Mundial (FSM), ao qual tive a oportunidade de assistir acompanhando a Comissão de Justiça e Paz dos dominicanos e dominicanas do Brasil, membros do Comitê Organizador Internacional informaram que 133 mil pessoas provenientes de 142 países participaram nas 2 mil 310 atividades autogeridas que se realizaram em Belém do Pará, de 28 a 31 de janeiro passados. Nelas se inscreveram 489 instituições, organizações, coletivos ou movimentos da África, 119 da América Central, 155 do México e América do Norte, 344 da Ásia, 4 mil 193 da América do Sul e 491 da Europa.
Pela primeira vez, Oceania esteve representada por 27 dessas entidades. Significativamente, no enorme acampamento dedicado aos direitos humanos reuniram-se durante esses dias 10 mil pessoas, considerado um recorde, e nele estiveram representadas centenas de redes e organizações.
Uma média de 250 pessoas assistiram a cada uma das numerosas atividades que lá se realizaram, nas quais sobretudo se discutiu sobre as violações aos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais, levadas a cabo pelos governos e as empresas com seus grandes projetos hidrelétricos, mineiros e agropecuários, sobre a criminalização dos movimentos sociais, e sobre as perseguições e ameaças que sofrem as defensoras e defensores de direitos humanos. Informou-se igualmente que se realizaram mais 200 eventos, nos quais participaram aproximadamente mil artistas, que representaram a diversidade cultural dos povos do mundo. E que a imprensa colaborou com 4500 profissionais da comunicação. 2 mil credenciados e outros 2 mil que informaram sobre as atividades, conectando-se por meio de internet. Este conjunto compreendeu jornalistas independentes e representantes de 800 meios de comunicação credenciados em 30 países, entre eles, A Jornada do México, que por certo no encontro promovido pela Revista Margen Izquierda, da Editora Boitempo, sobre o futuro do fórum, foi repetidamente reconhecida pelo sociólogo Emir Sader, diante de um auditório atestado de pessoas, como um jornal crítico excepcional no mundo.
Levando em consideração a Carta de Princípios, que estabelece que o FSM não tem caráter deliberativo, e que embora funcione como instância articuladora, não tem a pretensão de ser um espaço de representatividade da sociedade civil mundial. Ao final da tarde do passado domingo 31 de janeiro foram lidos os documentos elaborados em 22 assembléias temáticas, nos quais se sintetizaram os principais pontos que se discutiram durante os quatro dias do Fórum. Tendo como eixos os direitos humanos, a justiça ambiental, os direitos coletivos dos povos, e ações para preservar a região panamazônica, neles se estabelecem compromisso para seguir enfrentando integralmente as conseqüências de morte do sistema capitalista, que na ótica dos movimentos sociais do mundo, gerou uma economia, uma política e uma civilização totalmente desconexas das necessidades mais elementares dos povos e dos direitos da natureza.
Como sempre aconteceu em todos estes Fóruns, nessa Assembléia Geral se acordaram também uma série de ações internacionais dos movimentos sociais que incluem, para este ano, mobilizações para defender o direito humano à água, a sua administração não comercial e sustentável durante o Fórum promovido pelas multinacionais em Istambul, Turquia, a partir da terceira semana de março; sua presença no encontro dos principais países industrializados e emergentes em Londres, os primeiros dias de abril, para pressionar o mundo por uma alternativa à atual crise inédita do sistema capitalista, e no dia 4 de abril em Estrasburgo, diante do parlamento Europeu, e depois, no dia 28 de julho na Itália, para seguir promovendo um mundo sem armas e sem guerras. Para o dia 12 de outubro está prevista uma mobilização global das organizações indígenas contra a mercantilizaçã o da vida, os transgênicos e a defesa de seus direitos à terra e a seus territórios, e em dezembro deste ano em Copenhague, palco da reunião da ONU sobre a mudança climática, um encontro global para promover as conclusões do Fórum sobre este urgente tema.
Em torno dos eixos da criminalização do protesto social, a violência de gênero, a discriminação e os direitos econômicos, sociais e ambientais, a declaração do Fórum sobre os direitos humanos estabelece também propostas concretas de solidariedade entre as organizações e os movimentos sociais, campanhas globais e mecanismos de vigilância, controle e comunicação por parte de agentes particulares e de governos, assim como ações de solidariedade com o povo palestino e a autodeterminação das nações e os povos originários. Ao final do Fórum quase todos os comentários dos participantes coincidiram em que este vai à direção correta, cada vez mais fortalecido pela crise atual do sistema capitalista, porém que é necessário atrair mais entidades da Ásia, África, Leste da Europa e outras regiões do mundo. Ficou, entretanto sem resolver a polêmica, também cada vez mais intensa, de se o Fórum pode assumir tomada de posição mais concreta em torno de temas urgentes, assim seja através das Assembléias dos Movimentos Sociais.
Frei Miguel Concha Malo, O.P.é promotor regional de Justiça e Paz de Cidalc.
(Artigo publicado sábado 7 de fevereiro no jornal mexicano "La Jornada")
No Fórum Social Mundial de Belém se concluiu que as alternativas ao neoliberalismo e à construção do ecossocialismo não se engendram na cabeça de intelectuais ou de programas partidários, e sim na prática social, através de lutas populares, movimentos sindicais, camponeses, indígenas, étnicos, ambientais, e comunidades de base. Aqui entro eu: Será? Temos que ser mais realistas e menos idealistas; venho de um contato muito intenso com um setor do movimento social e hoje diria que apesar de concordar na teoria com a afirmação acima discordo na prática. Devemos ter claro que o MST, por exemplo, é uma excessão.
Para gestar tais alternativas exigem-se pelo menos quatro atitudes. A primeira, visão crítica do neoliberalismo. Este aprofunda as contradições do capitalismo, na medida em que a expansão globalizada do mercado acirra a competição comercial entre as grandes potências; desloca a produção para áreas onde se possam pagar salários irrisórios; estimula o êxodo das nações pobres rumo às ricas; introduz tecnologia de ponta que reduz os postos de trabalho; torna as nações dependentes do capital especulativo; e intensifica o processo de destruição do equilíbrio ambiental do planeta.
A segunda atitude - organizar a esperança. Encontrar alternativas é um trabalho coletivo. Elas não surgem da cabeça de intelectuais iluminados ou de gurus ideológicos. Daí a importância de se dar consistência organizativa a todos os setores da sociedade que esperam outra coisa diferente do que se vê na realidade atual: desde agricultores que sonham lavrar sua própria terra a jovens interessados na preservação do meio ambiente. Aqui entro eu de novo. Neste caso sim concordo até mesmo como antropologo que a solução se encontra com os próprio grupos.
No seu apogeu, o capitalismo mercantiliza tudo: a biodiversidade, o meio ambiente, a responsabilidade social das empresas, o genoma, os órgãos arrancados de crianças etc, e até mesmo o nosso imaginário. Um exemplo trivial é o que se gasta com a compra de água potável engarrafada em indústria, dispensando o velho e bom filtro de cerâmica ou mesmo a coleta da limpíssima água da chuva após um minuto de precipitação.
Sem utopias não há mobilizações motivadas pela esperança. Nem possibilidade de visualizar um mundo diferente, novo e melhor.
Quarta atitude - elaborar um projeto alternativo. A esperança favorece a emergência de novas utopias, que devem ser traduzidas em projetos políticos e culturais que sinalizem as bases de uma nova sociedade. Isso implica o resgate dos valores éticos, do senso de justiça, das práticas de solidariedade e partilha, e do respeito à natureza. Em suma, trata-se de um desafio também de ordem espiritual, na linha do que apregoava o professor Milton Santos, de que devemos priorizar os "bens infinitos" e não os "bens finitos".
O projeto de uma sociedade ecossocialista alternativa ao neoliberalismo exige revisar, a partir da queda do Muro de Berlim, os aspectos teóricos e práticos do socialismo real, em particular do ponto de vista da democracia participativa e da preservação ambiental. Aqui para mim atingimos nosso calcanhar de aquiles; sei que assustarei muito mas não importa: é preciso rompermos com essa verdade absoluta chamada democracia e com essa sua vertente iluminada pelos intelectuais e gurus chamado Democracia Participativa. Principalmente se entendermos por democracia participativa, por exemplo, os projetos petistas. Vide o caso do OP e mesmo de políticas específicas como as dos quilombolas. Em uma locução "pra inglês ver".
O ecossocialismo se caracterizaria pela capacidade de incorporar conceito e práticas de igualdade social e desenvolvimento sustentável a partir de experiências dos movimentos sociais e ecológicos, assim como da Revolução Cubana, do levante zapatista do Chiapas, dos assentamentos do MST etc.
É vital incluir no projeto e no programa os paradigmas ora emergentes, como ecologia, indigenismo, ética comunitária, economia solidária, espiritualidade, feminismo e holística.
Este sonho, esta utopia, esta esperança que chamamos de ecossocialismo, não é senão a continuação das esperanças daqueles que lutaram pela defesa da vida, como Chico Mendes e Dorothy Stang, dois lutadores cristãos que deram suas vidas pela causa dos pobres, dos explorados, dos indígenas, dos trabalhadores da terra e dos povos da floresta.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
O Dom da Paz
O silêncio da rua cedeu lugar ao leve barulho provocado pelo arrastar das botas dos soldados no asfalto à medida que uma mancha pequena e sem contornos definidos ia se infiltrando no meio deles. A mancha cresceu quando estava mais próxima do portão principal da universidade e deu para ver que se tratava de uma pessoa de baixa estatura. Não parecia ser um militar. A certa altura, concluí que não era um militar. Mas naquelas circunstâncias, à passagem de quem uma tropa disciplinada e prestes a recorrer à violência abriria espaço de modo tão espontâneo?
“Com licença, boa noite... Com licença, boa noite”, sussurrava o dono da voz ao tocar de leve no braço de um ou de outro soldado perplexo. O homem baixinho estava só. Usava uma boina e uma capa de lã que lhe deixava à mostra apenas os sapatos de couro preto. Momentos antes correra de boca em boca dentro do pátio da universidade a notícia de que ele estava indo ao encontro dos estudantes. Parte dos estudantes se agrupou em torno do portão para vê-lo entrar. Os líderes da passeata frustrada se reuniram num canto para discutir o que fazer.
De pé sobre uma cadeira e diante dos estudantes sentados no chão do hall de entrada da universidade, o homem baixinho tirou a boina da cabeça com um largo gesto teatral e disse num inconfundível sotaque cearense do qual jamais se livrou ou quis se livrar:
- Eu vim para ficar ao lado de vocês...
A platéia levantou-se, começou a aplaudir e a gritar.
O homem baixinho fez um gesto para que cessasse o barulho e para que todos se sentassem no chão novamente. Em seguida, disse:
- Alegro-me que padres, professores e operários estejam unidos com vocês, pois sua luta é a luta do povo. Eu só sairei daqui na companhia de vocês...
Novamente a platéia se pôs de pé, o aplaudiu em delírio e, a um novo gesto dele, fez silêncio e se sentou no chão.
Ex-bispo auxiliar do Rio de Janeiro, arcebispo de Olinda e Recife desde abril de 1964, em rota de colisão com os militares que mandavam no país, dom Hélder Pessoa Câmara, a figura mais carismática da Igreja Católica na segunda metade do século passado, empregou o resto do seu discurso para apascentar o espírito daqueles jovens que temiam um confronto violento com a polícia. Por fim, ofereceu-se para negociar com o governo o fim do cerco à universidade e a libertação de nove estudantes que tinham sido presos durante a passeata.
Enquanto esperava, não sabia que a pouco mais de dez quilômetros dali, sozinho em sua acanhada casa nos fundos da igreja de Nossa Senhora das Fronteiras, dom Hélder registrava em carta para um grupo de amigos o que acabara de acontecer. Era uma espécie de diário que ele começara a escrever ainda como bispo auxiliar do Rio de Janeiro nos anos 50. A carta daquele dia, datada de 27/28.6.68 está identificada no alto à esquerda como “407a. Circular”. Sobre a passeata reprimida pela polícia, dom Hélder escreveu: “O pau cantou e houve prisões numerosas”.
Mais adiante, disse por que fora ao encontro dos estudantes:
- 22h. Soube do cerco à Católica. Fui chamado. Não vacilei. Há segundos que decidem a vida. Se falhasse naquele instante com os universitários estaria liquidado para eles. Parti imediatamente. Atravessei as tropas sem que ninguém me interrompesse ou interpelasse. Os oficiais me cumprimentavam e os soldados, visivelmente, me saudavam com carinho. Os soldados, coitados, de cassetete ou de metralhadora e com amplos escudos romanos...
O “Jornal do Commercio” “furou” o “Diário” naquele dia. Sua manchete de capa foi “Diálogo Hélder-Salviano põe fim a cerco da Católica”. Salviano Machado era o governador em exercício. O “Diário” publicou que a universidade permanecera cercada até o início da madrugada. Ninguém que “não tenha sofrido” a “paixão insaciável” do jornalismo pode “conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo das primícias, a demolição moral do fracasso”, escreveu anos depois o romancista colombiano Gabriel García Márquez.
Trecho do terceiro capítulo do livro "Memórias Profissionais - O que é ser jornalista", editado pela Record.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
Para não dizer que não falamos em flores
Pra nascer, a Maternidade Marly Sarney.Pra morar, escolha a Vila Sarney. Ou então a Sarney Filho ou a Kiola Sarney.Pra estudar, as escolas Sarney Neto, Roseana Sarney, Fernando Sarney, Marly Sarney ou José Sarney.Pra pesquisar, vá à Biblioteca José Sarney.Pra se informar, leia O Estado do Maranhão, veja a TV Mirante ou ouça a Mirante AM ou FM, todos da família... Sarney.Pra saber sobre as contas públicas, vá ao Tribunal de Contas Roseana Sarney.Não gostou de nada disso e quer reclamar? Vá ao Fórum José Sarney.
sábado, 31 de janeiro de 2009
Apartar ou optar
É constrangedor acompanhar a troca de acusações entre dois ministros. Reinhold Stephanes, da Agricultura, defendendo o aumento da produção agrícola, e Carlos Minc, ministro do Meio Ambiente, a preservação das florestas. Os dois têm razão, o governo é que não tem. Cada um defende os objetivos de sua respectiva pasta, porque o governo não definiu uma linha de ação à qual os ministros fiquem submetidos. É preocupante ver o governo determinar que uma ministra aparte os que estão brigando, no lugar de fazer uma opção sobre quem tem razão. Como se o problema estivesse no desentendimento pessoal e não no choque conceitual. O problema não é apartar duas visões diferentes, mas formular uma visão e optar por ela.
O que está em jogo não é fazer que os dois ministros se calem, mas determinar a escolha, entre concepções diferentes, para definir uma linha que oriente o desenvolvimento que o País precisa seguir. O que deve estar em debate não são as posições dos dois ministros, mas a posição do governo e do País para seu futuro: manter o velho padrão de desenvolvimento a qualquer custo, ou escolher um modelo com base na conservação de nosso patrimônio natural e na justiça social.
Aparentemente esta escolha não vai acontecer, porque o atual governo é de "apartar", não de "optar". O estilo do presidente Lula é de apartar as diferenças que existem nos diversos grupos sociais e políticos nacionais, procurando e conseguindo aglutinar pela omissão da escolha. No mesmo momento do embate entre Agricultura e Meio Ambiente, temos a disputa entre o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e o ministro Mangabeira Unger, encarregado de formular idéias para o futuro do Brasil, entre manutenção da assistência ou saídas estruturais para a pobreza. Na ótica da assistência, a Bolsa Família é um instrumento generoso e correto para reduzir a fome e a miséria; na ótica do futuro, é necessário um instrumento estrutural – a educação – que permita reduzir a pobreza. A próxima contenda a ser apartada pelo presidente será entre o Ministro Lupi, do Trabalho, que corretamente defende que o dinheiro público seja usado para conservar emprego e os empresários que consideram um direito receber dinheiro público, sem compromisso público.
O que caracteriza o Presidente Lula é sua capacidade de "apartar" as diferentes opiniões, juntando-as em um silêncio reverencial por parte dos intelectuais, na submissão dos sindicatos e dos empresários; no acomodamento dos estudantes e da juventude; na formação de pacotes partidários tão amplos que ele fica sem oposição, porque mesmo quando esta vence, ele vence também. No lugar de serem as forças da "opção", Lula e o PT são as forças da aglutinação ao "apartar" cada grupo e uni-los por meio da interminável conciliação.
Por um lado, isto traz tranquilidade social ao País. Basta comparar nossa situação com os vizinhos, onde os presidentes "optaram" e dividiram as sociedades de seus países. Mas, esta aglutinação leva a um acomodamento que, por sua vez, leva ao adiamento do enfrentamento de nossos problemas. Em nome de ficar no poder e ganhar novas eleições, o governo posterga as "opções" que o País precisa para construir o futuro. Em nome de manter-se no cargo, os ministros calam, como se não houvesse um problema a ser enfrentado. Em nome de não romper alianças, o presidente tolera as discordâncias públicas entre seus ministros.
A militância do PT tinha orgulho do lema "optei", mas ao chegar ao poder escolheu o "apartei", que caracteriza o governo Lula. Não sabemos o preço que o Brasil pagará por adiar por mais tempo a opção que deverá fazer, nem quanto vai custar nosso vício histórico de sempre apartar, acomodar, para não optar.
Fomos o último país a abolir a escravidão, seremos o último a fazer as opções necessárias para a construção de um desenvolvimento sustentável e justo. Certamente, será depois dos EUA que já começaram a fazer opções com o governo Obama. No Brasil, o presidente Lula tem todas as condições de ser um presidente da opção, ao mesmo tempo que tem a competência da aglutinação.
Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF