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domingo, 30 de janeiro de 2011

Ainda o velho debate somos racistas?

Pensando um pouco sobre racismo e pré-conceito racial. Para inicio de conversa são fenômenos diferentes, mas vamos ao que importa a questão do lugar do outro. Principalmente o outro que é marcado no corpo. Cada vez mais acho que o corpo, ou melhor a corporeidade e a performance são os campos mais interessantes e fecundo para se discutir esta questão. E com isto quero dizer que toda uma discussão e teoria feminista, queer ou mesmo de outros movimentos de liberação sexual seriam bem vindas.

Aliás cada vez mais o corpo fala e fala por um caminho da diversidade e da pluralidade. E cada vez mais este corpo desagrada. Talvez por isto cada vez mais temos ataques a este corpo indômito. Indômito em duplo sentido no positivo porque não se deixa dominar e, no negativo, pois para aqueles que não o suportam seria o corpo mesmo do indomesticado e do selvagem.

Mas voltando ao tema corpo e racismo, retorno ao tema candente de fins do ano passado, a questão do racismo na obra de Monteiro Lobato. Impressionou naquela ocasião o nível do debate, principalmente daqueles brasileiros não racistas, a acusar as pretensas vitimas do racismo de serem elas as verdadeiras racistas. Não posso dizer que tenha sido surpresa destes debates e destes argumentos estou há muito acostumado diria que enfrentei cada um deles nos muitos debates que participei como militante, mas isto na época que enfrentava tais debates, hoje em dia sobra pouca energia e vontade para estes debates. Mas fatos como os ataques ao parecer a respeito da obra de Monteiro Lobato nos mostra como a vigilância deve ser constante e atuante. Ainda mais quando se tem como opositores boa parte da mídia e seus ideólogos.

Para finalizar este texto extemporâneo sobre o fenômeno Monteiro Lobato, mas não sobre as causas do fenômeno, lembro que aos poucos com quem tive paciência de discutir tal temática, e aqui inclui alguns alunos do curso de Antropologia-UFMG, em que ministrava aula tentei mostrar que o pior do que o racismo da obra de Monteiro Lobato, que tal qual afirma o próprio parecer não deve ser escondido e sim analisado a luz de sua época e a luz de nossa época exatamente para que se possa evitar repetir tais fenômenos, foi a atitude dos não racistas que como sempre foi o da denegação (a este respeito a psicologia tem grandes tratados) em resumo, não posso aceitar que tal livro seja racista pois por conseqüência seria eu também um racista. Algo deste tipo ocorre a respeito do fenômeno da territorialização das populações quilombolas, uma parte da critica a esta política parte do mesmo pressuposto, não posso aceitar atualmente os remanescentes de quilombo, pois deste modo estarei eu a aceitar que fomos e somos racistas. O que se perde nesta discussão é a profundidade do fenômeno, o racismo não é fenômeno ele é da ordem da história, da sociologia, da antropologia, dos indicadores econômicos, do direito e da justiça ou das injustiças passadas, mas principalmente as contemporâneas. Encarar tal fenômeno portanto é uma obrigação moral, ética, cultural, social econômica, política, jurídica, dentre outras.

sábado, 18 de setembro de 2010

Ciganos, Maconha: dilemas dos direitos humanos

A França adere vergonhosamente a um novo Vichy ao expulsar de maneira ditatorial, já que por portaria de um primeiro-ministro, e vergonhosa para um Estado que se considera Democrático, de Direito e Moderno os cidadãos de etnia cigana de suas fronteiras. Segundo o primeiro-ministro Sarkozy o modo de vida dos ciganos é indgno para a Europa e para a França, seu habitat é inaceítável e sua cultura idem. Que de pronto e obviamente foi apoiado pelo imbecil primeiro-ministro italiano Berlusconi. A despeito de tamanho absurdo, a Comissão Europeia de Direitos Humanos reagiu a tamanha brutalidade e violação de normas elementares dos direitos humanos internacionais e resolveu junto ao Parlamento Europeu condenar a França. O que de todo modo representa pouco diante do diversionismo do primeiro-ministro francês: a se lembrar a França enfrenta imensa crise economico-social e financeira (isto para não falar dos escandalos políticos-eleitorais com propinas, desvio de verba e etc), o governo Sarkozy é pessimamente avaliado e medidas populistas como essa acaba por atingir o inconsciente imperialista e racista do francês médio. A se acompanhar até onde vai tamanha vergonha. O risco que se corre sempre com medidas ignobeis como essa é a sua deflagração pelo restante do continente europeu. Diga-se de passagem que os ciganos são cerca de 12 milhões de cidadãos europeus. Lamentável que ainda nos anos de 2010 existam cidadãos de primeira segunda ou sabe se lá qual classe na Europa: cidadã. moderna, democrática e defensora das liberdades.

Enquanto isto na California, um plebiscito decidirá sobre a legalização da maconha, em novembro próximo seus cidadãos serão convocados a debater este tema espinhoso, mas no entanto, necessário. Diga-se de passagem que os favoráveis a liberalização estão na frente das sondagens eleitorais e mesmo o republicano governador do Estado Arnold Exterminator apoia a legalização. Os favoráveis acabam de receber um importante incentivo o SEIU maior sindicato dos trabalhadores da California com cerca de 1 milhão de filiados oficialmente passou a apoiar a causa da legalização, contando para isto inclusive com doações financeiras. Este blog aqui é totalmente favorável a legalização: aliás não só da maconha, como do aborto, da expropriação dos lucros absurdo dos bancos, das grandes propriedades, de uma  reforma urbana, mas ai já estamos fugindo do tema legalização da maconha, ainda que permaneçamos no campo dos direitos humanos. O fato é que o pior dos mundos é a hipocrisia que permite o tráfico e toda a sua violência inerente.Violência esta as vezes até mais forte por parte do Estado e de suas forças "legitimas" do que do próprio tráfico. Por isso tambem sou a favro da campanha PLANTE NÃO COMPRE!!!!!Plante seu Hemp não financie esta guerra que atinge sempre os mais explorados, inclusive no negócio multinacional e capitalista do tráfico, afinal plantar não é crime apenas contravenção.

sábado, 14 de agosto de 2010

Sobre a persistência do Racismo e o caso do Ministro Joaquim Barbosa

Publiquei também este pequeno texto do Blog do Nassif:

O grande, para muitos, historiador Evaldo Cabral de Mello disse em 1996 “(...) Palmares era uma república negra, foi destruída e eu prefiro para ser franco, que assim tenha sido. Por uma razão muito simples. Se Palmares tivesse sobrevivido, teríamos no Brasil um Bantustao, um Estado Independente e sem sentido.” Ou seja, em pleno 1996 o historiador demonstrava seu preconceito, seu racismo e seu medo diante da diferença. É o medo da diferença e do plural que justifica a persistência do discurso racista e elitista.

Pois bem, agosto de 2010, o Jornal o Estado de S. Paulo, publica em manchete: “Com licença médica Joaquim Barbosa vai à festa de amigos e a bar em Brasília”. No corpo da matéria explica-se que o ministro Joaquim Barbosa apesar de afastado do trabalho desde abril por licença médica, freqüenta festas de aniversários e bares. Explica-se na matéria que o referido ministro com sua licença emperra o STF e que o mesmo se mostrou bastante irritado com a invasão de privacidade feita pelo jornalista autor da matéria. Bom a se ter pelo tom da matéria devemos crer que o ministro Joaquim prevarica em suas funções e utiliza-se do soldo público para se divertir. Aliás, trata-se da opinião do presidente da OAB Ophir Cavalcanti na mesma matéria. Boas lembranças da OAB de outrora. Caberiam algumas perguntas:

• O Fato de o Ministro Barbosa ser negro influência esse tipo de policiamento? Quantas festas freqüenta o ex-presidente do STF Gilmar Mendes ou o Ministro Peluso, quem sabe quantas e quais festas freqüenta o Min. Lewandowski?

• Qual outro ministro teve sua intimidade invadida a este ponto?

• Qual é a média de tempo dos processos no STF? Qual é a média do número de processos com cada Ministro do STF? Assim saberíamos o quanto o Ministro emperra a corte suprema e se diverte à custa do erário público?

• É justo como lembra o próprio Ministro que matérias como essas (e como outras publicadas no mesmo veiculo e a respeito do mesmo ministro) sejam feitas sem ouvir sua versão dos fatos?

• Será que se o Ministro Joaquim Barbosa não tivesse dito certas palavras ao então poderoso Gilmar Mendes ele seria alvo desta campanha?

• Será que se o Ministro Joaquim, não tivesse acusado os advogados de boa fama na Praça de agir de maneira coativa, a OAB teria a mesma posição?

• Será que se o Ministro não tivesse acusado outros ministros aposentados do STF de agirem como lobistas a reação seria a mesma?

• Será que se o Ministro ainda que negro, filho de negros lavradores do interior de Minas, não tivesse um título de Doutor por Sorbonne e tivesse sido professor de Pricenton e Havard antes de assumir a cadeira no STF ele seria também atacado desta maneira?

• Por fim será que se o ministro não apresentasse uma coerência de votar sempre com a postura denegada a favor da coisa pública, da diversidade, da pluralidade ele também seria atacado? Ou melhor, será que se o Ministro fosse um negro de alma branca as coisas seriam mais fáceis? Mas ele teimou em se doutorar entre outras coisas demonstrando a Constitucionalidade a luz da CF/1988 da aplicação de políticas afirmativas às minorias.

Todas são perguntas que acredito validas. Visto que como disse o nobre Evaldo Cabral que se destruam os Bantustões e não seria no STF que um deles poderia sobreviver. Ao Ministro Joaquim meu singelo, humilde, desimportante e desnecessário apoio.

ps: o Ministro esta afastado do STF por problemas na coluna que o impendem de ficar por muito tempo sentado. Eis que o Estadão ao invadir a privacidade do ministro duas vezes, na festa e no bar, nos brinda com fotos e, em todas elas o ministro se encontra: DE PÉ!!!.

Carlos Eduardo MARQUES, antropólogo e professor universitário

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Variados

-Depois de um longo e tenebroso inverno, estou de volta. O acumulo de serviço anda me assoberbando, por isso esta longa ausência. Vamos a umas rápidas palavrinhas:

-Faleceu nos EUA, a Sra. Dorothy Height, aos 98 anos, ativista dos direitos civis americanos. A Americana foi fundadora do movimento da luta pela igualdade racial e de gêneros em 1960, uma das fundadoras do movimento pelos direitos civis americanos, cuja cruzada por justiça racial e igualdade de gêneros durou mais de seis décadas, morreu na madrugada desta terça-feira, 20, de causas naturais, disse um porta-voz do Conselho Nacional das Mulheres Negras. Height estava entre os líderes da coalizão de afro-americanos que lutaram pelos direitos civis. Sua militancia começou ainda nos de 1950 e foi  uma figura-chave na luta pelo fim da segregação escolar, dos direitos de voto, oportunidades de emprego e acomodações públicas nos anos de 1950 e 1960. Height foi presidente do Conselho Nacional das Mulheres Negras por 40 anos, abandonando o título em 1997. O grupo de defesa que conta com 4 milhões de membros é composto de 34 organizações nacionais e 250 organizações de base comunitária.


- A Argentina continua acertando suas neuroses do passado para construir o futuro. Lá diferente de cá, continua-se a punir os criminosos que cometerma crime contra humanidade. Visto que os Crimes contra os Direitos Humanos é crime contra a humanidade, em sua totalidade, é crime inanfiançavel, imprescritível e por isso mesmo não atingido por qualquer tipo de anistia. Esperemos que o STF no Brasil aja de acordo com nossas leis e não de acordo com as conveniências políticas e começe a fechar de vez essa ferida putrida da tortura. Não é com anistia que resolveremos essa página ruim de nossa história e sim como Comissões de Verdade. O Tribunal Oral Federal 1 determinou, nesta terça-feira (20), no julgamento por crimes no centro clandestino de detenção e tortura do Campo de Maio, dentro das instalações do Exército Argentino, a 25 anos em prisão comum do último presidente militar, Reinaldo Bignone, de 82 anos de idade.Junto com ele, outros responsáveis pela repressão ilegal foram condenados e negados a cumprir em prisão domiciliar.
Os acusados foram julgados por ilegalidades nas detenções e invasões de domicílios, privações da liberdade e aplicação de tormentos e torturas em 56 vítimas.

-Foi licitado ontem a aberração chamada Belo Monte. Uma obra no minimo, no minimo Belo Monte é um exemplo de projeto sem precedentes, em seus tamanhos físicos, em suas consequências sociais e ambientais. Uma obra que, é criticada, também do ponto de vista de engenharia e tecnologia. Portanto, tudo cheira muito estranho nesta obra faraonica. Lamentável sob todos os aspectos.

-Para filosofar um pouco, já que estou de ressaca de uma ótima saida com alguns colegas de serviço. Repito aqui a pergunta feita por uma colega: o que o homem admira em uma mulher. Depois desta fui.

-não fui não. Pois como sempre mesmo descansando temos que carregar pedras. O Idiota fóbico chamado Demetrio Magnoli o héroi da direita carcomida e eimbecilizada brasileira, esta com nova fraude na praça, já que seus escritos não pdoem ser chamado de obras. Portanto, não perda tempo e dinheiro. Não leia a procaria chamada Fora da Lei. Já adianto o roteiro previsivel e imbecilizante do sociologo, geografo, comunicadoes e sabe se lá o que mais. Em Fora da Lei, o autor repete as táticas já conhecidas nos seus textos anteriores. Trata-se do recurso lingüístico de imputar a outrem afirmações que ninguém fez. Quem no movimento negro teria se oposto à defesa da qualidade do sistema público de ensino? Quem teria afirmado a existência biológica de raça? Haveria uma incompatibilidade na luta pela democratização do acesso à universidade pública e a defesa da escola pública? Ora os leitores deste blog, bem o sabe, que jamais nós os defensores de ações afirmativas fomos ou somos contra a defesa de um sistema público, muito pelo contrário. Quem é contra nós sabemos bem, são os amigos e finaciadores do Demetrio. O que defendemos é política universalista e diferencialista, uma não se opõe a outra, na verdade se complementam. Uma visa o futuro (melhoria escolar), a outra visa o passado, o presente  e o futuro. Quanto a raça, me recuso a discutir mais este tema. Para IDIOTAS como o Magnoli só gritando: RAÇA É SIGNO. E se ele não entende isso mostra o quão bom sociólogo ele é. Para este e outros da sua estirpe, algo sui generis ocorre no Brasil, o racismo existe mas não a raça. Ou melhor o negro é sim vitima de um processo racializado, no entanto, caso dele se organizar para lutar contra este fenômeno com seus parceiros brancos não racistas ai estes de vitimas passam a ser os algozes, os semeadores da discórdia e do ódio racial.

domingo, 11 de outubro de 2009

Abdias, analfabestismo negro e russia multuracial

Reuno neste post três notícias recebidas nos últimos dias que considero interessante.
Primeiro, o lançamento de uma bibliografia sobre o NOSSO BAOBÁ, ABDIAS NASCIMENTO. Tudo que se diga sobre Abdias ainda é pouco e insuficiente. Os leitores do blog já estão um pouco mais familiarizado com essa figura humana impar. Que necessita de urgente redescoberta pelos meios acadêmicos e pensantes. Pelo menos dei minha contribuição - pequeninissima e singela- em minha dissertação que trabalhava a questão Quilombola.

Aos 95 anos, o líder negro Abdias Nascimento tem trajetória contada em biografia Isabela Vieira Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro - “Eu sempre fui um negro desaforado”, admite o intelectual, artista e ativista, Abdias Nascimento, de 95 anos, pontuando sua indignação diante dos critérios que desde o período colonial definem papéis diferentes para negros, brancos e índios, no Brasil e no mundo. O depoimento consta de uma biografia lançada nesta semana. Dividida em dez capítulos, apresenta a trajetória de Abdias desde a infância, no interior de São Paulo, aos discursos e ideias combativas apresentadas, inclusive, no Congresso Nacional.
Há relatos sobre a participação dele em movimentos políticos da década de 1930, os desafios da vida em uma São Paulo racista, os primeiros congressos de negros no país e as experiências no Rio, onde a militância é marcada pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN) – uma forma revolucionária de denunciar o racismo, merecedor de um capítulo à parte. Abdias fez mais do que levar negros aos palcos (neste caso, o Teatro Municipal), a iniciativa transbordou para experiências político-culturais, que garantiam escolaridade e conscientização aos negros, dentre os quais empregadas domésticas e estivadores.
Tendo deixado o Brasil na ditadura militar, a biografia trata da convivência do ativista com o movimento pelos direitos civis, nos Estados Unidos, e com brasileiros como Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, além de uma produção artística e literária, questionadora do padrão eurocêntrico. De volta ao país, 15 anos depois, lembra a
atuação de Abdias como deputado e senador, na defesa dos direitos fundiários das comunidades quilombolas, do ensino da cultura afro-brasileira e africana e medidas para diminuir as desigualdades raciais no mercado de trabalho e nos bancos escolares.
São passagens repletas de relatos do próprio Abdias, coletadas em entrevistas e em outros livros, pela jornalista Sandra Almada. E, como não poderia deixar de ser, inevitavelmente revelam mais sobre o ativismo dos negros no Brasil, desde o período colonial aos dias atuais, além de tratar dos esforços de combate ao racismo no âmbito mundial, o pan-africanismo. “Ainda há tudo por fazer. O negro ainda está no marco zero de uma caminhada para a verdadeira liberdade. Ainda sou indignado com isso”, disse Abdias, com total lucidez, no lançamento de sua biografia.
Não fica de fora da obra a influência do líder sobre uma nova geração. Perguntado sobre o despertar de sua consciência sobre a exclusão social dos afro-brasileiros, o rapper MV Bill responde à autora da biografia: “Li, na adolescência, o livro O Negro Revoltado, de Abdias Nascimento”. Segundo Sandra Almada, o depoimento é colocado propositalmente no livro, para aproximar a juventude de Nascimento. “É possível que ideias de alguém que nasceu em 1914 façam alavancar a luta de nova gerações”, afirmou durante o evento.
O escritor Nei Lopes também pontua a importância do intelectual para a organização de reivindicações históricas e das transformações das últimas décadas. “Abdias é o elo maior do nosso movimento negro, levando em conta que ele é do início do século passado, quando a discriminação era ainda mais clara. Mesmo hoje, um pouco debilitado [pelas condições de saúde], quando ele abre a boca, sabemos que é o nosso baobá [árvore sagrada no candomblé], guarda toda a vida e história de nossa africanidade.”
Ao apresentar o grandioso legado desse intelectual, a biografia de Abdias Nascimento é, sobretudo, uma compilação de ideias para enfrentar o racismo e as desigualdade raciais, além de um convite para permanente mobilização social, independente de raças.“Enquanto houver um descendente de africano nessa situação de pobreza, miséria e de opressão, eu me sinto atingido, pois o racismo não é um coisa pessoal”, afirma o líder negro, em um dos seus depoimentos.
Edição: Talita Cavalcante
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Abaixo notícia que apesar de animadora demonstra mais uma vez a crueldade de nosso racismo e preconceito. Apesar de diminuir substancialmente nos últimos 10 anos o analfabetismo entre negros ainda é substancialmente maior do que entre os brancos e, ainda maior entre os negros em 2009 do que entre os brancos em 1999. O que denota a persistência desta mazela, ou seja, apesar do incremento de escolaridade entre negros esta ainda é inferior ao dos brancos.
Analfabetismo funcional cai entre negros e pardos, diz IBGE09 de outubro de 2009
Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira, mostra que emrelação à taxa de analfabetismo funcional, houve redução maisexpressiva para pretos e pardos que para brancos, entre 1997/2007. Noentanto, a desigualdade em favor dos brancos se mantém.Em 2007, a taxa de analfabetismo funcional para essa população (16,1%)era mais de dez pontos percentuais menor que a de pretos e pardos(27,5%) - sendo que essa taxa dos pretos e pardos ainda está mais altado que as dos brancos de dez anos atrás, diz o estudo.Segundo informações do IBGE, outra maneira de pensar sobre a questão aquestão é observar a distribuição por cor ou raça da população quefreqüenta escola com idades entre 15 e 24 anos. Na faixa de 15 a 17anos de idade, cerca de 85,2% dos brancos estavam estudando, sendo que58,7% destes freqüentavam o nível médio, adequado a esse grupo etário.Já entre os pretos e pardos, 79,8% frequentavam a escola, mas apenas39,4% estavam no nível médio. Por outro lado, enquanto o percentual debrancos entre os estudantes de 18 a 24 anos no nível superior era de57,9%, o de pretos e pardos era de cerca de 25%.Segundo o estudo, a média de anos de estudo da população de 15 anos oumais também apresentar uma vantagem de em torno de dois anos parabrancos (8,1 anos de estudos) em relação a pretos e pardos (6,3),diferença que vem se mantendo constante.
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Rússia pode ter primeiro prefeito negro
Imigrante africano é conhecido como "Obama de Volvogrado"
Da EFE

Se os eleitores de Volgogrado derem crédito, e voto, a Joaquim Crima nas eleições municipais russas deste domingo (11), farão história num país onde quase todos são loiros e têm olhos claros. O candidato nascido em Guiné-Bissau pode ser o primeiro negro a assumir um cargo público na Rússia.
- Sou negro por fora e russo por dentro.
Assim se define o candidato a chefe de distrito em Volvogrado, equivalente a prefeito. "A Rússia é a minha pátria. Falo, atuo e penso como um russo", diz o africano de 37 anos, que chegou ao país para estudar, em 1989, às vésperas da queda do Muro de Berlim, e acabou ficando na Rússia para sempre.
Admirador do primeiro astronauta da história a viajar ao espaço, o soviético Yuri Gagarin, Crima chegou à Universidade de Volgogrado com a mala cheia de esperanças, mas o racismo e a discriminação, então emergentes na sociedade russa, o despertaram do sonho.
A Rússia não era o que pode ser chamado de paraíso na Terra, como alegavam os militares soviéticos que ajudaram Guiné-Bissau a conquistar sua independência de Portugal, em 1974. Atualmente, Crima é cidadão russo de pleno direito, casado com uma armena, tem um filho de dez anos e vive na região de Volgogrado como vendedor de melancias e melões.
Obama de Volvogrado
Crima se candidatou às eleições locais "para mudar as coisas", segundo ele, e, por isso, ficou conhecido tanto na Rússia quanto no exterior como o "Obama de Volgogrado", em alusão ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que utilizou o lema da mudança em sua campanha eleitoral. Ele se diz admirador do americano:
- Sou um idealista igual a Obama.
Nunca na história um africano ocupou um cargo na administração pública no país, mas isso não o amedronta. Falando russo sem sotaque, ele diz:
- Chegou a hora de reagir. Quero mudar a mentalidade de meus compatriotas e mostrar ao mundo que nem todos os russos são racistas. Na Rússia há lugar para todos.
Se for eleito, assegurou que enviará os jovens do distrito para estudar no exterior, para que conheçam outros países e depois retornem para contribuir, com a "mente aberta", com o progresso da região. Para ganhar votos, Crima demonstra que é um pragmático. O lema de sua campanha é "trabalhar como um negro", segundo ele, rindo.
Em sua opinião, esta é a única forma de combater o racismo é "colocar aqueles que sofrem com ele em evidência". Crima é membro do partido Rússia Unida (RU) e admirador confesso do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladimir Putin.
- Ele fez muito por este país. Nos anos 90 havia longas filas para comprar um pouco de pão ou carne. Isso acabou. (...) A princípio, confessa que muitos de seus concidadãos não o levaram a sério e que, inclusive, tentaram suborná-lo para que mudasse de opinião, mas "agora, as coisas mudaram". Contudo, não será fácil, já que, apesar de Crima ser membro do RU, o partido do Kremlin apoia abertamente outro candidato.
Às vésperas do pleito, Crima denunciou pressões por parte de representantes regionais da RU para que abandonasse a corrida eleitoral. "Pediram-me que retirasse minha candidatura. Se eu renunciasse, o povo não entenderia, me acusariam de traição. Por isso, irei até o final", disse Crima, que tem 6% das intenções de voto, segundo as pesquisas.
Entre os sete candidatos a chefe de distrito há mais um de origem africana: Filipp Kondratyev, de pai ganês e mãe russa, que trabalha para uma construtora local. Embora isso possa roubar votos, Crima acredita que "é melhor assim". "Isso demonstra que me levam a sério. Gosto de desafios, quanto mais difícil, melhor", assegura.

domingo, 13 de setembro de 2009

estarrecedoras

Eis o Brasil em alguns números e uma notinha sobre o mundo da net:
- A revista The Economist gosta de inovar em suas análises. Desta vez a Revista pesquisou em cerca de 80 países quanto custa o Big Mac (sanduba ruim a bessa vendida na loja Mc Donalds...se bem que não sou boa fonte deve ter uns belos 8 anos que não como um...ainda bem...) e depois dividiu o preço do sanduba pelo salário médio. Eis que em São Paulo precisa-se trabalhar, em média, 40 minutos para se comprar um Big Mac (um pouco acima da média tomada em 73 cidades do mundo). Em Tóquio, labuta-se 12 minutos…e na Cidade do México, mais de 2 horas. Em todas as cidades pesquisadas da Europa Ocidental (excessão de Budapeste), dos EUA, Japão, Austrália, Canada trabalha-se menos de 20 minutos por um Big Mac.
- Segundo o IPEA, Instituto de Pesquisas Aplicadas uma tonelada de minério de ferro é vendida em média no mercado internacional por 60 dólares. Isso mesmo. 60 DÓLARES. Toda o desgaste sócio-ambiental e cultural por míseros 60 dólares. Segundo o mesmo IPEA com esse valor não é possível comprar um tênis de boa marca, ainda segundo o IPEA o principal comprador desta matéria prima brasileira é a China, no entanto, cada vez mais ela nos exporta produtos manufaturados. Essa história Vocês já conhecem o enredo. Vende barato compra caro. Segundo IPEA devemos investir mais em ciência e tecnologia.
- O Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) da Universidade Candido Mendes (RJ) compilou diversos dados sobre violência. No o Rio de Janeiro, onde a taxa de homicídios de jovens negros entre 22 e 25 anos atinge picos de 400 por 100 mil habitantes. GENOCÍDIO. Estão genocidando os jovens negros neste país. Cade o MPF para cima dos poderes públicos constituídos que permitem tal barbárie. Ainda segundo o estudo este índice é oito vezes superior à taxa de homicídio juvenil no Brasil (51,5 por 100 mil habitantes). O que completo eu já é absurda.
- Mais uma do IPEA uma em cada quatro mortes por homicídio na cidade do Rio entre 2003 e 2006 foi de responsabilidade das forças policias (militar e civil). Quando um PM mata uma pessoa, o caso é classificado como “auto de resistência”.
- Segundo a UNESCO existem no Brasil cerca de 190 idiomas. Viva a nossa multiculturalidade e nossa pluralidade. No entanto a notícia ruim do Atlas de Línguas em Risco no Mundo é que a diversidade lingüística no Brasil que é das maiores do mundo também esta entre as mais ameaçadas: rivalizamos com a Índia (196 línguas em risco) e os Estados Unidos (192).
-Outra da The Economist: existem no mundo cerca de 1,4 bilhões de miseráveis; aqueles que vivem com menos de 1,25 dolares e cerca de 1 bilhão de internautas.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

As Ações Afirmativas nas Universidades Públicas

DEBATE – AÇÕES AFIRMATIVAS NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS

Recente debate entre Yvonne Maggie (contra as cotas raciais) x Elio Gaspari (a favor das cotas raciais) no contexto de suspensão das cotas raciais nas universidades estaduais do Rio de Janeiro. Acresço como pós-texto e algumas horas após postar esse texto, um e-mail que recebi e tem tudo haver com a discussão aqui travada. Trata-se do texto de um editor da Revista época, chamado: Nunca tive uma namorada negra.
A seguir, entrevista do Farol de Alexandria anti-cotas Yvonne Maggie, depois meu comentário e após este um texto do Gaspari. O interessante a respeito da profesora Yvonne é que apesar de usar com desenvolvtura os espaços da mídia-racista e anti-cotas, ela não apresenta o mesmo vigor quando o debate deve ocorrer nas esferas acadêmicas (por que será)? Por que será que a professora não aceita participar de mesas onde o contraditório estará presente como foi o caso da Mesa proposta para o último encontro da Associação Brasileira de Antropologia para debater esta questão? Neste caso, ela alegou outros compromissos; provavelmente mais uma reportagem "bombástica como essa" para usar a expressão do editor do Jornal Nacional, Willian Bonner.

ENTREVISTA com Yvonne Maggie no jornal O Globo
Fervorosa ativista contra o sistema de cotas raciais para o ingresso nas universidades, a antropóloga Yvonne Maggie, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, comemorou a recente suspensão, pelo Tribunal de Justiça, da lei estadual que estipulava a reserva de vagas em universidades estaduais, como um primeiro passo para a revogação de leis raciais. A seu ver, elas servem apenas para dividir os brasileiros que, no geral, diz, rejeitam o racismo. Segundo ela, o sistema de cotas é fruto de pressão internacional alimentada por milhões de dólares da Fundação Ford: — Essa pressão talvez tivesse caído no vazio se não houvesse dinheiro americano nessa história.
José Meirelles Passos
O GLOBO: O sistema de cotas é apresentado como forma de criar oportunidades iguais para todos. A senhora discorda. Por quê?
YVONNE MAGGIE: Porque ele faz parte de leis raciais que querem implantar no Brasil. E elas são inconstitucionais. A Constituição Federal proíbe criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. A do Estado do Rio também. Estou defendendo o estatuto jurídico da nação brasileira, com base no fato de que raça não pode ser critério de distribuição de justiça. Raça é uma invenção dos racistas para dominar mais e melhor.
O GLOBO: Que critério usaram para criar tal sistema?
YVONNE: Surgiu no governo de Fernando Henrique Cardoso, propondo cotas para negros ou pardos, hoje chamados de afrodescendentes, sob o critério estatístico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas isso não significa que as pessoas se identifiquem com aquilo. Nós, brasileiros, construímos uma cultura que se envergonha do racismo.
O GLOBO: Mas existe racismo no Brasil, não?
YVONNE: Eu nunca disse que não há racismo aqui. Mas não somos uma sociedade racista, pois não temos instituições baseadas em lei com critério racial. É interessante ver que o Brasil descrito nas estatísticas foi tomado como verdade absoluta. Há Uma coisa é dizer que o Brasil é um país desigual, com uma distância muito grande entre ricos e pobres. Outra coisa é atribuir isso à raça.
O GLOBO: Quais os motivos para a criação de leis raciais no país?
YVONNE: Outra alucinação: a de que a forma de combater a desigualdade no Brasil deve ser via leis raciais. Elas propõem dividir o povo brasileiro em brancos e negros. Há quem diga que o povo já está dividido assim. Digo que não. Afinal, 35% dos muito pobres no Brasil se definem como brancos.
O GLOBO: Qual é o melhor critério?
YVONNE: Em vez de lutar contra o racismo com ações afirmativas, colocando mais dinheiro nas periferias, o governo optou pelas cotas raciais reservando certo número de vagas na escola e, com o estatuto racial, no mercado de trabalho. Então, o país que não se pensava dividido está sendo dividido.
O GLOBO: Seja como for, a idéia das cotas está ganhando adeptos.
YVONNE: Nem tanto. Pesquisa recente feita no Rio pelo Cidan (Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro), mostrou que 63% das pessoas são contra as cotas raciais. A maioria do povo brasileiro acha que todos somos iguais. Aprendemos isso na escola. O objetivo era beneficiar negros e pardos. Agora no Rio já existem cotas para portadores de deficiência, para filhos de policiais, de bombeiros.
O GLOBO: A tendência é esse leque aumentar?
YVONNE: A lógica étnica ou racial não tem fim. Tudo surgiu porque houve pressão internacional com o sentido de combater o racismo. Mas quem domina os organismos internacionais são os países imperialistas, sobretudo Inglaterra e Estados Unidos, que têm uma visão imperialista de mundo dividido. Os EUA são um país dividido. Não pensam como nós. Lá a questão racial é a primeira identidade. Você pergunta quem é você?Eles dizem: eu sou afroamericano, etc. Como não vivemos ódio racial no Brasil não sabemos o que é isso. O problema é que ao dividir e criar uma identidade racial, fica impossível voltar atrás.
O GLOBO: O Brasil sucumbiu à pressão internacional?
YVONNE: A pressão talvez tivesse caído no vazio se não houvesse dinheiro americano nessa história. A Fundação Ford investiu milhares de dólares no Brasil, formando advogados, financiando debates, criando organizações não governamentais (ONGs). Não temos mais movimentos sociais. Quem luta em favor das cotas se transformou em ONG que recebe dinheiro do governo e da Fundação Ford. Juntou-se a fome com a vontade de comer. O governo inventa as ONGs, financia, e depois diz que as cotas são uma demanda do povo.
O GLOBO: Como combater a desigualdade no acesso à universidade?
YVONNE: O Brasil tem que enfrentar a questão da educação básica de forma madura e consciente, investindo. Precisamos de recursos financeiros e humanos. Melhorar o salário dos professores e sua formação. E mudar a concepção de educação. Sem investimento não construiremos uma sociedade mais igual. Estamos criando uma sociedade mais desigual, escolhendo um punhadinho entre os pobres. Na verdade, a competição pelos recursos não é entre o filho da elite e o filho do pobre: ocorre entre os pobres.
O GLOBO: Como a senhora vê a educação no Brasil?
YVONNE: A formação de professores e a concepção de educação são precárias. Não se obriga as escolas a ensinar. Obama acaba de fazer uma grande melhoria nos EUA: premia os bons professores. São os que ensinam melhor. E pune os maus. Quem não consegue fazer com que o seu aluno tire nota boa nas provas de avaliação externas, sai ou é reciclado.
O GLOBO: Há luz no fim do túnel?
YVONNE: Sou otimista. Acho que as leis raciais não vingarão no Brasil. Creio que os congressistas têm mais juízo. E que em vez de lutar pelas cotas, o ministro da Educação deve fazer com que prefeitos e governadores cumpram as metas. Elas são excelentes. A idéia dele é fazer com que os municípios mais pobres recebam mais dinheiro. A opção é investir nas escolas e nos bairros mais pobres.
O GLOBO: É possível conter o lobby das ONGs favoráveis às cotas?
YVONNE: É muito difícil ir contra grupos que se apresentam como o povo organizado. Temos que lutar pelo povo desorganizado, o povo que anda pela rua, que casa entre si, que joga futebol junto, que bebe cerveja, e não está o tempo todo pensando de que cor você é, de que cor eu sou. Povo é o que nos ensina que é melhor dar a mão do que negar um abraço.
OPINIÃO sobre a entrevista de Yvonne Maggie
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Agora sou eu, em mensagem enviada ao Gurpo de Trabalho Quilombos da Associação Brasileira de Antropologia:
Só não entendi bem:
a) o Brasil é um país não racista que se envergonha do racismo mas ela não se atreve a dizer que não existe racismo?
b) Ou será que o racismo não existe porque a legislação brasileira não adota critérios raciais? Isso significa que não existem assassinatos, afinal a legislação brasileira não permite a pena capital (salvo excessão dos períodos de guerra).
c) Ou será ainda que não devemos tomar as estatísticas como "verdade absoluta". Neste caso, então não devo acreditar que "35% dos muito pobres no Brasil se definem como brancos." ou que "Pesquisa recente feita no Rio pelo Cidan (Centro Brasileiro de Informação e Documentação do Artista Negro), mostrou que 63% das pessoas são contra as cotas raciais." Ou será que só valem as estatísticas que são favoráveis aos meus argumentos?
d) Que dizer então que toda a discussão sobre cotas faz parte de um plano imperialista dos yankees e dos ingleses?
e) Como assim: lutar favor das cotas é ser membro de Ongs e ser financiado. Sou a favor das cotas desde o ano de 2001 e nunca recebi nada em troca a não ser chateações como essa matéria.... Isso é ser leviano, tal qual eu afirmar que todos que são contra as cotas são os membros da elite econômica, social e racial deste país. Mas neste caso, mais do que leviano, eu na verdade só estou demonstrando o mal que representa essa política de ódio racial. Eis o paradoxo: estamos preso na camisa de força, nisto devemos reconhecer o brilhantismo da Profa. Ivonne Maggie, ou bem concordamos com ela, ou somos racistas e pregadores do ódio racial. Ah para falar a verdade como dizem os burgueses de S. Paulo Cansei...é necessário mais seriedade e profundidade para discutir um assunto tão sério. E pensar que essa senhora ocupa sucessivamente cargos importantes na ABA.... (aqui alguns colegas me alertaram e faz necesário esclarecer a professora Maggie efetivamente não ocupa cargos de tanta relvãncia na Assoiação e mesmo no mundo antropológico, obviamente que por seu curriculo e militância ela chama a atenção por coordenar Mesas de trabalhos e fóruns anti-cotas nos Congressos- mesas e fóruns onde todos tem visões semelhantes). Me impressiona a falta de argumentos desta ala contrária as cotas (existem vários argumentos factíveis, mas a pesquisadora não conseguiu apresentar nenhum). São sempre os mesmos discursos raivosos e vazios, repleto de contradições como as expressas acima ou a velha cantilena que é necessário melhorar o ensino publico, como se alguém fosse contra a melhoria das escolas públicas. A velha idéia da subtração do ou ao invés da soma. Ou será que ter políticas afirmativas é mutuamente excludente de políticas universalistas?
f) Um outro colega, não o citarei aqui pois não pedi sua autorização também me lembrou algo vital. Essa mesma Yvonne que acusa a Fundação Ford foi durante muito tempo bolsista ou recebeu verbas de pesquisa da mesma. Naquela época provavelmente a Fundação Ford não era uma organização terorista da ultra-direita yankee...ou como já percebemos a opinião da professora qualifica a tudo e a todos por sua visão estreita da realidade. Pesquisa e financiadores só são bons se aformam minha visão.
Carlos Eduardo Carlos Eduardo Marques - Professor da Faculdade de Ciências Jurídicas da FEVALE/UEMG. Membro do Núcleo de Estudos em Populações Quilombolas e Tradicionais da UFMG (NUQ/UFMG). Membro do Grupo de Trabalho Quilombos da Associação Brasileira de Antropologia (GT Quilombos/ABA)
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Abaixo um artigo de Elio Gaspari (com dados a respeito do sistema de cotas) um contraponto a Yvonne Maggie.
As cotas desmentiram as urucubacas - Elio Gaspari
03-Jun-2009 - FOLHA DE S. PAULO
Os negros desorganizariam as universidades, como a Abolição destruiria a economia brasileira QUEM ACOMPANHASSE os debates na Câmara dos Deputados em 1884 poderia ouvir a leitura de uma moção de fazendeiros do Rio de Janeiro:
"Ninguém no Brasil sustenta a escravidão pela escravidão, mas não há um só brasileiro que não se oponha aos perigos da desorganização do atual sistema de trabalho."
Livres os negros, as cidades seriam invadidas por "turbas ignaras", "gente refratária ao trabalho e ávida de ociosidade". A produção seria destruída e a segurança das famílias estaria ameaçada.
Veio a Abolição, o Apocalipse ficou para depois e o Brasil melhorou (ou será que alguém duvida?).
Passados dez anos do início do debate em torno das ações afirmativas e do recurso às cotas para facilitar o acesso dos negros às universidades públicas brasileiras, felizmente é possível conferir a consistência dos argumentos apresentados contra essa iniciativa.
De saída, veio a advertência de que as cotas exacerbariam a questão racial. Essa ameaça vai completar 18 anos e não se registraram casos significativos de exacerbação. Há cerca de 500 mandados de segurança no Judiciário, mas isso nada mais é que a livre disputa pelo direito.
Num curso paralelo veio a mandinga do não-vai-pegar. Hoje há em torno de 60 universidades públicas com sistemas de acesso orientados por cotas e nos últimos cinco anos já se diplomaram cerca de 10 mil jovens beneficiados pela iniciativa.
Havia outro argumento: sem preparo e sem recursos para se manter, os negros entrariam nas universidades, não conseguiriam acompanhar as aulas, desorganizariam os cursos e acabariam deixando as escolas.
Entre 2003 e 2007 a evasão entre os cotistas na Universidade Estadual do Rio de Janeiro foi de 13%. No universo dos não cotistas, esse índice foi de 17%.
Quanto ao aproveitamento, na Uerj, os estudantes que entraram pelas cotas em 2003 conseguiram um desempenho pouco superior aos demais. Na Federal da Bahia, em 2005, os cotistas conseguiram rendimento igual ou melhor que os não cotistas em 32 dos 57 cursos. Em 11 dos 18 cursos de maior concorrência, os cotistas desempenharam- se melhor em 61 % das áreas.
De todas as mandingas lançadas contra as cotas, a mais cruel foi a que levantou o perigo da discriminação, pelos colegas, contra os cotistas.
Caso de pura transferência de preconceito. Não há notícia de tensões nos campus. Mesmo assim, seria ingenuidade acreditar que os negros não receberam olhares atravessados. Tudo bem, mas entraram para as universidades sustentadas pelo dinheiro público.
Tanto Michelle Obama quanto Sonia Sotomayor, uma filha de imigrantes portorriquenhos nomeada para a Suprema Corte, lembram até hoje dos olhares atravessados que receberam ao entrar na Universidade de Princeton. Michelle tratou do assunto em seu trabalho de conclusão do curso. Ela não conseguiu a matrícula por conta de cotas, mas pela prática de ações afirmativas, iniciada em 1964. Logo na universidade onde, em 1939, Radcliffe Heermance, seu poderoso diretor de admissões de 1922 a 1950, disse a um estudante negro admitido acidentalmente que aquela escola não era lugar para ele, pois "um estudante de cor será mais feliz num ambiente com outros de sua raça". Na carta em que escreveu isso, o doutor explicou que nem ele nem a universidade eram racistas.
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REVISTA ÉPOCA
27/05/2009 - 18:33 - Atualizado em 29/05/2009 - 19:25
Nunca Tive Namorada Negra
O Preconceito Molda a Nossa Capacidade de Amar
Ivan Martins

IVAN MARTINS É editor-executivo de ÉPOCA
Eu nunca tive uma namorada negra. Saí uma ou duas vezes com moças negras na universidade, tive um caso intenso e demorado com uma mulher negra há pouco tempo, mas nenhuma delas foi namorada, relação firme, gente se que incorpora à vida e se leva à casa da mãe. Por que razão? Um dos motivos é geográfico: desde a adolescência quase não há pessoas negras ao meu redor. Elas não estavam no colégio, não estavam na faculdade e não estão no trabalho, com raras e queridas exceções. É nesses ambientes - escola e emprego -- que se constroem relações duradouras de amor e amizade.
O outro motivo é vergonhoso: racismo. Deve haver um pedaço de mim que acha mulher branca mais bacana que mulher negra, independente de beleza, inteligência ou caráter. Mesmo tendo ancestrais negros, cresci numa sociedade em que a cor, os traços e os cabelos africanos são tratados como defeito. É difícil livrar-se desse lixo. Ando pensando sob re essas coisas desde que tive uma discussão, dias atrás, com meu melhor amigo, sobre cotas raciais na universidade. Ele contra, eu a favor. Ele defende cotas econômicas, para jovens pobres oriundos das escolas públicas. Eu sinto que isso não é suficiente. Acredito que os negros têm sido sistematicamente prejudicados ao longo da história brasileira e fazem jus a políticas e tratamento preferenciais.
Penso nas namoradas negras que eu não tive. Elas não estavam na boa escola pública de primeiro grau onde eu entrei depois de um exame de admissão. Também não estavam na escola federal onde fiz o colégio. Ali só se entrava depois de um vestibular duríssimo. Na Universidade de São Paulo, onde estudei jornalismo, só havia um colega negro, nenhuma garota que eu me lembre. Será que isso é apenas econômico? Duvido.
Eu vim de uma família pobre e cheguei à universidade e à classe média. O mesmo fizeram minhas irmãs e meus amigos brancos. Os coleguinhas negros da infância - com poucas exceções -- não chegaram. Estavam em desvantagem. Tem algo aí no meio que é mais do que pobreza. É fácil para mim enxergar que a linha de corte na sociedade brasileira não é apenas de renda. Ela é de cor também. Essa linha está dentro de nós, dentro de mim. Somos racistas, embora mestiços. Por isso me espanta que as pessoas não se inclinem gen erosamente pela idéia de uma reparação aos sofrimentos infringidos aos negros - até como forma de purgar essa coisa ruim e preconceituosa que trazemos dentro de nós.
Eu, que nunca tive uma namorada negra, gostaria que meus filhos vivessem num país melhor. Um país em que houvesse garotas e garotos negros na universidade pública, ao lado deles. Um país em que eles tivessem colegas de trabalho negros. Engenheiros. Médicos. Advogados. Jornalistas. Um país onde as pessoas pudessem se conhecer, se admirar e se amar sem a barreira do preconceito que ainda nos divide.

sábado, 30 de maio de 2009

Racismo em versão Chris Rock

O ótimo Chris Rock, comediante, ator e escritor talentoso como mostra o seriado por ele roteirizado sobre suas memórias, chamado por aquid e Todo Mundo Odeia o Cris. Pois bem, Cris explica o racismo na América algo que é similar aqui no Brasil (piorado diga-se de passagem).
"I live in Alpine, New Jersey, in a $3 million home. There are 4 other black people that live in my neighborhood. So it's me, a fairly successful comedian, then Mary J. Blige, one of the greatest R&B singers of all time, Jay-Z, one of the greatest rap artists, and Denzel Washington, one of the great actors today, right? Everyone else is white.
You know what my neighbor does?
He's a dentist!
He's not a superstar dentist. He's not the best dentist in the world. He's not going to the dental hall of fame. He's just a dentist!
You know what it would take for a black dentist to live in that neighborhood? If a black dentist wanted to live in that neighborhood, he would have had to invent teeth!" Cris Rock
Algo que em português suaria assim:
Eu vivo em Alpine, Nova Jersey, em uma casa de US $ 3 milhões. Existe outras 4 pessoas negras vivendo no meu bairro. Então, um sou eu, comediante de bastante sucesso e, em seguida, Mary J. Blige, uma das maiores cantoras R & B de todos os tempos, Jay-Z, um dos maiores artistas rap, e Denzel Washington, um dos grandes atores de hoje, certo? Todo o resto é branco.
Você sabe o quem é meu vizinho?
Ele é um dentista! Ele não é um dentista superstar. Ele não é o melhor dentista do mundo. Ele não vai para o hall da fama dentária. Ele é apenas um dentista!
Você sabe o que levaria um dentista para negros a viver no bairro? Se um dentista negro quiser viver naquele bairro, ele terá de inventar dentes!

A negrinha e o negro no teatro

Como ando sem tempo, sem saco e sem inspiração. Quebro a regra deste ano no Blog de ser mais autoral e reproduzo aqui mais um excelente e ótimo texto dele, Alex Castro, do Blog Liberal, Libertário e Libertino.
Negrinha, de Monteiro Lobato (Cadernos de Teatro, 6)
Primeiro, uma rápida historinha dos negros no teatro brasileiro.

Durante a época colonial, o teatro brasileiro eram dominado por negros e mulatos. Talvez dominado não seja bem a palavra. Negros e mulatos trabalhavam com teatro porque ninguém mais queria fazê-lo: era o que sobrava para eles. Até 1794, a profissão de ator era considerada oficialmente "infame" pela lei portuguesa, barrando esses profissionais de uma série de atividades mais nobres e limitando seus direitos civis. Relatos de visitantes estrangeiros estão repletos de descrições sarcásticas, pejorativas e horrorizadas sobre as orquestras e companhias teatrais negras que, muito precariamente (segundo os padrões europeus), tentavam interpretar aqui os sucessos da cena metropolitana.
Finalmente, em 1808,
D. João VI traz não apenas as mudas do Jardim Botânico e os livros da Biblioteca Nacional, mas também o teatro. Agora praticado e prestigiado por brancos europeus, o teatro começa a perder sua pecha de amador, ridículo, mambembe - ou seja, coisa de preto - e vai vai adquirindo prestígio social. Logo, já é reconhecido como o único meio de comunicação de massa, talvez a manifestação artística mais importante, e elemento essencial na educação do povo e na formação da identidade brasileira. Finalmente, em 1838, de acordo com a opinião quase unânime de críticos, historiadores e dramaturgos, é fundado o Teatro Brasileiro com T e B maiúsculos - varrendo para baixo do tapete da história o teatro brasileiro que vinha sendo praticado, aos trancos e barrancos, por atores negros pelas últimas centenas de anos.
Preciso mesmo acrescentar que, nesse momento de prestígio máximo do teatro, os atores e músicos negros já tinham sido fisicamente expulsos do palco faz tempo? Enigma de Tostines: a profissão de ator era infame por ser profissão de negro ou era profissão de negro por ser infame? De qualquer modo, quando vira uma profissão digna, torna-se profissão de branco.
Ao longo do século XIX, época de maior prestígio do teatro nacional, apesar das muitas peças sobre a escravatura, os papéis de negros eram invariavelmente interpretados por atores brancos. No século seguinte, começa uma mudança gradual e muito lenta. Por exemplo, na década de 1940, quando Procópio Ferreira encena uma remontagem de "
O Demônio Familiar", de José de Alencar, peça sobre as diabruras de um moleque escravo, o papel-título foi interpretado por ator branco.

Entre a vasta bibliografia sobre as lutas dos atores negros por melhores papéis, recomendo o livro de Miriam Garcia Mendes, "O Negro e o Teatro Brasileiro" (acima, à direita). Existe até mesmo uma peça sobre isso: "A Revolta da Cachaça" (1957), de Antonio Callado, sobre um ambicioso ator negro que, em desespero pela falta de papéis dignos, e de tanto insistir com um amigo dramaturgo para que os escreva, acaba enlouquecendo de frustração e matando o amigo. A peça, apesar de fraca, é um aviso para todos os dramaturgos brasileiros.
Até hoje, é comum vermos grandes atores negros restritos a escravos domésticos, traficantes malvados e motoristas de madame, e sempre se perguntando:

Onde estão os grandes papéis negros?
* * *
O monólogo "Negrinha", baseado
no conto homônimo de Monteiro Lobato, foi desenvolvido por Luiz Fernando Marques (direção), Renato Bolelli Rebouças (direção de arte) e Sara Antunes (atuação), todos membros do Grupo XIX de Teatro, e estrelado por essa última, numa performance sensacional.
A questão da cor acompanha toda a narrativa. A personagem título, chamada simplesmente de Negrinha, foi abandonada num casarão colonial depois da Abolição e, agora, sem entender o preconceito racial, tenta fazer sentido dessa complexa hierarquia de cores do Brasil. Assim, ela interage com a platéia, classificando cada pessoa por meio de uma cor ("esverdeado", "amarelenta", "chocolate", etc; eu fui "sem-cor"), ao mesmo tempo em que relembra episódios de sua vida de escrava.
No Rio, o Casarão de Austregésilo de Athayde (do lado da estação do Corcovado) foi especialmente escolhido por ser um típico casarão do século XIX. A peça inteira acontece em um único quarto, mobiliado de acordo com a época, com todos os espectadores sentados pelos cantos e pelo chão, e Sara Antunes, interpretando a Negrinha, andando por entre eles, fazendo perguntas, questionando-os, engajando-os. A única luz em cena são as velas que ela consistentemente acende e apaga, criando toda uma atmosfera fantasmagórica. A compreensível insanidade subjacente em sua voz (afinal, é uma menina abandonada sozinha em um casarão) só torna tudo ainda mais assustador. Tudo é perfeito: o texto, a atuação dialógica com a platéia, o jogo de luz, a atmosfera, a locação.
"Negrinha", com Sara Antunes, é uma experiência inesquecível e aterradora, remanescente de um horror que nós hoje mal podemos conceber, mas que devemos sempre tentar relembrar.
* * *
Minha única criticazinha é política: apesar de eu não poder imaginar interpretação melhor que a de Sara Antunes, por que dar um papel bom desses para uma atriz branca quando atores negros ainda estão por aí lutando por qualquer migalha?

Reparem: não estou caindo no erro dos críticos que censuram Castro Alves por, entre outras coisas, "nunca adotar o ponto de vista negro" e "escrever sobre o negro por uma ótica branca", etc. Dado que Castro Alves era branco e não poderia metamorfosear-se em negro, o máximo que ele poderia fazer era mesmo escrever como branco e de um ponto de vista branco e, assim, dar sua importante contribuição artística e política à questão. (Sobre isso, vejam meu artigo Três Leituras de "Lúcia", de Castro Alves)
Do mesmo modo, não censuro Sara Antunes por ser branca. Não conheço o processo de elaboração da peça. Vai ver foi idéia ou iniciativa dela e, naturalmente, quis o papel principal para si, consciente de que daria um show. Nada a criticar nisso, e ela ainda mereceria o crédito por trazer o assunto à baila.
E, sim, o estranhamento causado por ver uma pequenina mulher branca articulando aquele discurso de negra escrava, ao mesmo tempo em que classifica todos na sala por sua cor, também ajuda a levantar a insólita questão racial no Brasil e o nonsense intrínseco das classificações raciais.
Mas, pelo menos no meu caso, uma das reflexões que esse estranhamento causou foi justamente lamentar menos um papel para uma atriz negra de talento.

* * *
Então, se não cabe censura à cor de Sara Antunes (pois, afinal, isso seria cair da armadilha articulada pela própria montagem!), eu diria que essa questão deveria ter sido melhor abordada na divulgação da peça. Por exemplo,
em um texto que parece um press-release, escrito por Bianca Senna e publicado no Portal Literal, podemos ler:
"O monólogo também derruba o mito de que atores devem viver personagens com a mesma semelhança física, já que Sara é branca."
Oras, Bianca, isso tanto não é um mito, como é a regra. Nos últimos duzentos anos, pelo menos em relação a pessoas negras, a regra no teatro brasileiro é que os atores NÃO PRECISAM viver personagens com a mesma semelhança física - tanto que boa parte dos papéis de personagens negros foram vividos por atores brancos.

Ou seja, não estou censurando uma atriz branca, ainda mais do calibre de Sara, viver uma personagem negra, mas, por favor, não venha me dizer que isso é "quebra de mito". Pelo contrário, é a continuação de um "business as usual" centenário, é a confirmação de uma prática nascida do racismo e do preconceito.
Senão, daqui a pouco, o governo vai promover um homem a Almirante e ainda vai querer dizer que está quebrando o mito da discriminação sexual nas Forças Armadas! Ora, quebra de mito seria promover uma mulher. Promover um homem não é necessariamente sexista ou censurável, mas também não é quebra de mito alguma: é somente mais um Almirante homem em uma longa tradição de Almirantes homens.
* * *
"Negrinha" já visitou mais de 15 cidades e
foi escolhida para representar o Brasil na Semana da Consciência Negra, na França.
O espetáculo fica em cartaz no Rio até esse fim-de-semana, 31 de maio, então vocês só têm mais duas apresentações pra ir, sábado e domingo, às 19h. Quem tem qualquer interesse sobre escravidão ou relações raciais no Brasil não deveria perder.
* * *
Sobre a Série "Cadernos de Teatro"Estou começando a estudar teatro e resolvi aproveitar meus meses no Rio e em São Paulo para conhecer a produção contemporânea. Esses textos são minha tentativa de não só documentar as peças que assisti mas também de escrever mais criticamente sobre teatro.

domingo, 17 de maio de 2009

Frases Fenomenais

Frase Fenomenais
"Quero ver alguém dizer que não existe racismo no Brasil"
'tenho no meu computador (como tela) a foto minha com o Mandela (...) é o cara que mais adimiro (...) li a biografia dele (...) realmente o adimiro (...) a história dele, a história da libertação dos negros da Africa do Sul"
Ronaldo, o fenômeno.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Mixes do 13 de maio

Tá lá no outro Blog que editamos http://quilombos.wordpress.com/ a manifestação dos quilombolas capixabas realizado ontem.

Participantes de caminhada pedem liberdade religiosa

Diversos grupos religiosos, entidades de defesa dos direitos humanos e integrantes do movimento negro reuniram-se nesta quarta-feira (13/5/09) na 1ª Caminhada Cultural pela Liberdade Religiosa e pela Paz. O evento, realizado no Centro de Belo Horizonte, teve apoio da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Em 6 de maio, a comissão promoveu audiência pública para discutir a intolerância religiosa no Estado.
"A caminhada é muito positiva, representa a liberdade de cada um, de expressão, por que não de religião? Tem todo o apoio da Assembleia e da Comissão de Direitos Humanos. Que cada um possa expressar seus sentimentos e seus pensamentos" , afirmou o deputado Carlos Gomes (PT), que participou do evento.
A caminhada marcou também a comemoração dos 121 anos da assinatura da Lei Áurea, que aboliu a escravidão no País. "Queremos respeito com o negro, com a nossa religião, com o ser humano", declarou a adepta do candomblé Norma Lúcia Dias. Ela reclamou da violência contra terreiros de candomblé em Minas.
Na audiência pública da Comissão de Direitos Humanos, adeptos da religião já haviam denunciado a invasão de dois terreiros, um em Contagem e outro em Belo Horizonte. O coordenador de Comunicação da União de Negros pela Igualdade (Unegro), Alexandre Braga, disse que o movimento negro reivindica a criação de um comitê com representantes das polícias Militar e Civil e do Ministério Público para acompanhar casos de intolerância religiosa no Estado.
Outra religiões - Embora os adeptos de cultos de matriz africana fossem maioria no evento, a Caminhada pela Liberdade Religiosa e pela Paz contou com a presença de representantes de outros grupos religiosos, como o movimento Hare Krishna, a igreja Metodista e católicos franciscanos e agostinianos. Um deles foi o frei Gabriel Ferreira Silva, da Ordem dos Franciscanos. Ele citou o fundador da ordem, São Francisco de Assis, para defender o apoio à liberdade religiosa. "O próprio Francisco foi um homem ecumênico, da paz", afirmou.
Os participantes da caminhada concentraram- se na Praça Sete, no Centro de Belo Horizonte, de onde seguiriam até a praça Afonso Arinos.
A comissão especial criada para analisar o Estatuto da Igualdade Racial (Projeto de Lei 6264/05) discute o projeto de cotas para negros em programas de televisão e em comerciais, criminaliza o incentivo ao preconceito pela internet, reconhece a capoeira como esporte nacional, assegura liberdade religiosa aos adeptos de cultos africanos, proíbe exigência de boa aparência para candidatos a empregos e de fotos em currículos e prevê isonomia para negros em programas habitacionais e de acesso à terra, entre outros pontos.
A proposta em votação é o substitutivo do relator, deputado Antônio Roberto (PV-MG). Depois de ser votado na comissão, o projeto voltará para o Senado, por ter sido alterado na Câmara. O projeto tramita em caráter conclusivo e só será submetido ao Plenário se houver recurso de 51 deputados.
Veja abaixo os principais pontos da proposta:
Discriminação - o projeto acrescenta à Lei 7.716/89, sobre discriminação racial, o crime de expor, na internet ou em qualquer rede pública de computadores, informações ou mensagens que induzam ou incitem a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. A pena prevista é reclusão de um a três anos e multa.
Cotas na televisão - conforme o projeto, os filmes e programas veiculados pelas emissoras de televisão deverão apresentar imagens de pessoas negras em proporção não inferior a 20% do total de atores e figurantes. Será considerada a totalidade dos programas veiculados entre a abertura e o encerramento da programação diária.
Cotas em comerciais - as peças publicitárias destinadas à televisão e ao cinema deverão apresentar pessoas negras em proporção não inferior a 20% do total de atores e figurantes. Os órgãos públicos ficam obrigados a incluir cláusulas de participação de artistas negros, em proporção não inferior a 20% do total de artistas e figurantes, nos contratos de realização de filmes, programas ou quaisquer outras peças de caráter publicitário.
Educação - o projeto não fixa cotas na educação. Diz apenas que as vagas nos estabelecimentos públicos e privados de ensino poderão ser preenchidas por sistema de cotas destinadas a alunos de escolas públicas, em proporção no mínimo igual ao percentual de pretos e pardos na população do estado onde está instalada a instituição de ensino.As cotas na educação foram tema de outro projeto, aprovado pela Câmara em novembro de 2008 e devolvido ao Senado. Atualmente, os senadores estão divididos entre manter as cotas sociais (para alunos de escolas públicas), conforme a proposta aprovada na Câmara, ou instituir cotas raciais (para negros e índios).
Empregos - O projeto não fixa cotas na área de empregos. Diz que o poder público deverá adotar ou incentivar a adoção de cotas para negros tanto no serviço público como em empresas privadas.
Capoeira - O projeto reconhece a capoeira como desporto de criação nacional. Assim, o Estado deverá garantir o registro e a proteção da capoeira, inclusive destinando recursos públicos para essa prática. A atividade de capoeirista é reconhecida em todas as modalidades (esporte, luta, dança e música).
Liberdade religiosa - O projeto assegura o livre exercício dos cultos religiosos de origem africana, prevendo inclusive assistência religiosa aos seus seguidores em hospitais e também denúncia ao Ministério Público para abertura de ação penal em face de atitudes e práticas de intolerância religiosa.
Acesso à terra - Conforme o projeto, o poder público promoverá a isonomia nos critérios de financiamento agrícola para incentivar o desenvolvimento das atividades produtivas da população negra no campo.
Remanescentes de quilombos - O projeto reconhece a propriedade definitiva das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas. Os órgãos públicos deverão priorizar, nos processos de registro de propriedade, as comunidades expostas a conflitos.
Moradia - Os programas de moradia do governo federal deverão assegurar tratamento equitativo à população negra, assim como os bancos públicos e privados que atuam em financiamento habitacional.
Foto em currículo - O projeto proíbe empregadores de exigir boa aparência e de pedir fotos em currículos de candidados a empregos. Os infratores dessa norma ficam sujeitos à pena de multa e prestação de serviços à comunidade.
Recursos públicos - Os planos plurianuais (PPAs) e os orçamentos anuais da União deverão prever recursos para a implementação dos programas de ação afirmativa nas áreas de educação, cultura, esporte e lazer, trabalho, meios de comunicação de massa, moradia, acesso à terra, segurança, acesso à Justiça, financiamentos públicos e contratação pública de serviços e obras.
Saúde - O projeto fixa as diretrizes da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Com ajuda do site da Camara dos Deputados.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Apoio a Joaquim Barbosa II

Por ser de utilidade pública neste debate entre Joaquim e Gilmar, colo aqui e-mail que recebi de uma liderança quilombola de Paracatu-MG, cidade do Ministro Joaquim Barbosa. Antes porém um esclarecimento, como texto não vinha com autoria fiz uma pesquisa na Internet Acabo de fazer para descobrir o autor do texto e acredito ser do Eduardo Guimarães do Blog Cidadania.com http://edu.guim.blog.uol.com.br/
E na sequência entrevista que o Terra fez com o grande Abdias Nascimento.
Joaquim Benedito Barbosa Gomes é o nome dele.

Conhecido como Joaquim Barbosa, apenas, ele é ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil desde 25 de junho de 2003, quando nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. É o único negro entre os atuais ministros do STF.
Joaquim Barbosa nasceu no município mineiro de Paracatu em 7 de outubro de 1954 (54 anos), noroeste de Minas Gerais.
É o primogênito de oito filhos.
Pai pedreiro e mãe dona de casa, passou a ser arrimo de família quando estes se separaram.
Aos 16 anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público.
Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do Estado.
Prestou concurso público para Procurador da República e foi aprovado.
Licenciou-se do cargo e foi estudar na França por quatro anos, tendo obtido seu Mestrado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1990 e seu Doutorado em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) em 1993.
Retornou ao cargo de procurador no Rio de Janeiro e professor concursado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Foi Visiting Scholar no Human Rights Institute da faculdade de direito da Universidade Columbia em Nova York (1999 a 2000), e Visiting Scholar na Universidade da California, Los Angeles School of Law (2002 a 2003).
Fez estudos complementares de idiomas estrangeiros no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Áustria e na Alemanha. É fluente em francês, inglês e alemão.

O currículo do ministro do STF Joaquim Barbosa que vocês acabam de ler foi extraído da Wikipédia, mas pode ser encontrado facilmente nos arquivos dos órgãos oficiais do Estado Brasileiro.
“E o que mostra esse currículo?”, perguntarão vocês. Antes de responder, quero dizer que o histórico de vida de Joaquim Barbosa pesa muito neste caso, porque mostra que ele, à diferença de seus pares, é alguém que chegou aonde chegou lutando contra dificuldades imensas que os outros membros do STF jamais sequer sonharam em enfrentar.
Não se quer aceitar, nesse debate – ou melhor, a mídia, a direita, o PSDB, o PFL, os Frias, os Marinho, os Civita não querem aceitar –, que Joaquim Barbosa é um estranho no ninho racialmente elitista que é o Supremo Tribunal Federal, pois esse negro filho de pedreiro do interior de Minas é apenas o terceiro ministro negro da Corte em 102 anos, conforme a Wikipédia, tendo sido precedido por Pedro Lessa (1907 a 1921) e por Hermenegildo de Barros (1919 a 1937).
E quem é o STF hoje no Brasil? Acabamos de ver recentemente nos casos Daniel Dantas, Eliana Tranchesi etc. É o que sempre foi: a porta por onde os ricos escapam de seus crimes.
Joaquim Barbosa é isolado por seus pares pelo que é: negro de origem pobre numa Corte quase que exclusivamente branca nos últimos mais de cem anos, que julga uma maioria descomunal de causas que beneficiam a elite branca e rica do país.
Sobre o que ele disse ao presidente do STF, Gilmar Mendes, apenas repercutiu o que têm dito, em ampla maioria, juízes, advogados, jornalistas, acadêmicos de toda parte do Brasil e do mundo, que o atual presidente do Supremo, com suas polêmicas midiáticas, com denúncias de grampos ilegais que não se sustentam e que ele até já reconheceu que “podem” não ter existido – depois de toda palhaçada que fez –, desserve à instituição que preside e ao próprio conceito de Justiça.
Gilmar Mendes pareceu-me ter querido “pôr o negrinho em seu lugar”, e este, altivo, enorme, colossal, respondeu-lhe, com todas as letras, que não o confundisse com “um dos capangas” do supremo presidente “em Mato Grosso”.
Falando nisso, a mídia poderia focar nesse ponto, sobre “Mato Grosso”, mas preferiu o silêncio. Esperemos...
Recomendo-lhes que, depois de terminarem de ler este texto, voltem aqui e terminem de ler o currículo de Joaquim Barbosa na Wikipédia, clicando
Aqui. Claro que muitos dirão que a Wikipédia é “aparelhada pelo PT”, sem darem maiores explicações sobre como e por que isso acontece. Mas eu concordo com o texto ali postado. A meu ver, está mais do que correto.
Finalmente, esse episódio revelou-se benigno para a nação, a meu juízo, pois mostrou que ainda resta esperança para a Justiça brasileira. Enquanto houver um só que enfrente uma luta aparentemente desigual para si simplesmente para dizer o que falam quase todos, porém sem que os poucos poderosos dêem ouvidos, haverá esperança. Enquanto um resistir, resistiremos todos.
Joaquim Barbosa é um estranho no ninho do STF, entre a elite branca da nação, e está sendo combatido por isso e por simplesmente dizer a verdade em meio a um mar de hipocrisia. O Brasil inteiro sabe disso e essa talvez seja a verdade mais importante, pois dará conseqüência aos fatos, se Deus quiser.
Abdias: Há racismo contra Joaquim Barbosa
Claudio Leal
Na década de 40, quando o movimento negro era uma ilha, o dramaturgo Nelson Rodrigues cravava nas gazetas: Abdias do Nascimento é "o único negro do Brasil". E não houve quem o desmentisse. A "flor de obsessão" admirava no ator e ativista negro a "irredutível consciência racial", a coragem de esfregar a "cor na cara de todo o mundo".
Abdias, 95 anos, segue atento às novas gerações do movimento negro. Vibrou com a vitória do presidente Barack Obama, nos Estados Unidos. E hoje, a partir da leitura dos jornais, se "orgulha" da atuação do ministro Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal (STF).
- Estou orgulhoso de ter um juiz à altura da situação em que se encontram todos os milhões e milhões afrodescendentes - declara.

Primeiro negro na suprema corte brasileira, Barbosa fez ontem acusações públicas ao presidente do STF, Gilmar Mendes. "Vossa excelência não está na rua, não. Vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro", atacou. Mendes pediu "respeito". Barbosa ainda prosseguiu: "Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. O senhor respeite."
Com esse revide, a briga tomou uma feição racial. Abdias não foge à pergunta:
- Acho que houve, sim, um viés racista naquela maneira que o presidente do Supremo respondeu a ele, logo no começo da discussão.
Para o fundador do Teatro Experimental do Negro, em 1944, a presença de Joaquim Barbosa no STF causa desconforto aos colegas. Ex-deputado federal e ex-senador, Abdias conta que foi "esmagado" no Congresso. "Sempre quando ele (o negro) ergue a voz, já é um crime", afirma. "Há um racismo na Justiça brasileira."
Terra Magazine - A atuação do ministro Joaquim Barbosa no STF fortalece o movimento negro? O senhor viu o embate com o ministro Gilmar Mendes? Abdias do Nascimento - Vi hoje nos jornais. Bom, eu acho que ele respondeu à altura, de acordo com a postura dele, a dignidade de juiz. Ele respondeu à altura. Achei que foi muito digna a postura. E ele correspondeu ao que esperávamos dele numa situação daquela.
Quando os ministros reagem a uma postura como a de Joaquim Barbosa, há um viés racialista? Eles se sentem incomodados com um negro?Eu acho que sim.
Por ele ser o primeiro negro no Supremo?Acho que houve, sim, um viés racista naquela maneira que o presidente do Supremo respondeu a ele, logo no começo da discussão.
É uma irritação prévia?Aliás, o jornal dá uma história anterior de incidentes e dá a enteder que já havia uma predisposição.
Como o senhor vê a presença dos negros na Justiça brasileira? Ainda é incipiente?É muito incipiente. E a Justiça é racista mesmo. Estou de acordo: há um racismo na Justiça brasileira. Acho que os negros são olhados como se ainda fossem escravos.
Quando Joaquim Barbosa ergue a voz, é como se já estivesse errado?É claro que sempre quando ele ergue a voz, já é um crime. Já é um crime. Porque o negro já nasce criminoso aqui no Brasil.
A vitória de Barack Obama foi importante para fortalecer a presença dos negros em nossas instituições?Sim. Eu avalio que a vitória dele teve uma importância e uma influência em toda a população negra no mundo. Porque mostra que os negros podem comandar a primeira nação do mundo. Isso é um crédito formidável para os Estados Unidos.
O senhor tem essa luta desde a década de 30. Como avalia, com essa trajetória, o crescimento do poder político do negro?Claro que fico muito emocionado com essa campanha que acompanho aqui nos meios de informação. Acompanhei a luta dele (Obama), sofri com o que ele deve ter sofrido nessa campanha. Não foi uma coisa fácil. E o desassombro de ver um negro liderar no mundo. No Brasil, que tem essa fama toda de democrático, me lembro como fui esmagado quando fui senador. E, afinal de contas, senador não é nada, não tem poder nenhum. Imagina lá nos Estados Unidos, um chefe do Executivo...
No teatro, o senhor também foi pioneiro na questão racial. Praticamente, só Nelson Rodrigues lhe era solidário.Foi. Nelson Rodrigues era formidável. Ele não se atrapalhou com a encenação que a sociedade brasileira faz sobre o racismo. Fazem um teatro.
Tem gostado, então, do ministro Joaquim Barbosa?Gostei muito. Estou orgulhoso de ter um juiz à altura da situação em que se encontram todos os milhões e milhões afrodescendentes.
Terra Magazine
Fonte:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3721329-EI6578,00-Abdias+Ha+racismo+contra+Joaquim+Barbosa.html

domingo, 25 de janeiro de 2009

Somos todos Gaza

Retorno ao tema do massacre na Palestina, agora sem numera-lo no título do post, pois acredito que o fim do mesmo não pode significar o silêncio diante dos crimes cometidos. Este blog fez um acompanhamento de perto do tema senão me engano cerca de 20 posts e, portanto, na medida do nosso tempo prometemos continuar acompanhar essa questão.
É Gabriel Kolko historiador e especialista renomado em guerras que pergunta: "Como a história falará da guerra contra os palestinos em Gaza? Outro holocausto, dessa vez perpetrado pelos filhos das vítimas do anterior? Um golpe eleitoral, montado por ambiciosos políticos israelenses, para ganhar votos nas eleições do dia 10 de fevereiro próximo? Um teste para os novos modelos de armamento fabricados pelos EUA? Ou como uma tentativa de encurralar o novo governo Obama numa posição anti-Irã? Ou como tentativa para estabelecer a “credibilidade” do exército de Israel, depois da vergonhosa derrota na guerra contra o Hezbolá no Líbano em 2006? Tudo isso, provavelmente. E muito mais."
Ao que ele mesmo responde
A ONU e grupos de Direitos Humanos já exigem que Israel seja julgado por crimes de guerra, pelo número oficial de 1.300 mortos em Gaza, assassinados por descomunal poder de fogo e com munições como a bomba de fósforo, proibida e ilegal. Israel já avisou seus principais oficiais para que se preparem para defenderem-se contra a acusação de prática de crime de guerra. O Procurador Geral de Israel, General Menahem Mazuz, disse que o governo já espera “uma onda de processos internacionais.”
Durante todo o massacre e agora no pós-massacre existem vozes minoritárias de israelenses condenando tal barbárie, estes são chamados estranhamente em Israel e pelos sionistas de dissidentes. Estes precisam ser fortalecidos.
O maior dos problemas, por qual Israel passa é o que Gideon Levy denomina de perda de um senso e de massa crítica. É dessa perda ética e moral que Levy (destacado dissidente) fala em entrevista a Folha de S. Paulo, de hoje. Tal perda atingiu até mesmo antigos pacifistas e membros da esquerda israelense (seja lá o que isso signifique, afinal esquerda em Israel tem Ben Guryon e Erhud Barack - atual ministro da defesa e maior responsável por essa barbaridade), de forma que até mesmo antigos e notórios pacifistas mudaram de lado, fato aliás comprovado na mesma Folha em entrevista a um dos expoentes do antigo pacifismo agora favorável a guerra. Visto cá de fora uma palavra resume as posições desses antigos pacifistas e, o que é mais preocupante já que vinda de um intelectual: a alienação.
A perda a que se refere Levy é explicitado pelo antigo pacifista, a sociedade de Israel como um todo encontra-se em um processo de lavagem cerebral que desumanizou (palavras de Levi) os palestinos. É neste ponto em que a insanidade domina, quando para grande parte dos israelenses as mortes de Palestinos são aceitáveis visto que estes pertencem a outra espécie. Sem querer fazer comparações inúteis e descabidos, mas como uma provocação para pensarmos: não era isso que pensavam os arianos de outros grupos? Não é isso que pensam algumas tribos a respeito de outras na África? Ou nas guerras étnicas na Europa, Ásia, África? Se a comunidade internacional, que efetivamente uma solução para a questão Palestina/Israel sua primeira contribuição passa pela identificação deste problema. De forma a criar uma nova massa crítica dentro de Israel.