domingo, 11 de outubro de 2009

Abdias, analfabestismo negro e russia multuracial

Reuno neste post três notícias recebidas nos últimos dias que considero interessante.
Primeiro, o lançamento de uma bibliografia sobre o NOSSO BAOBÁ, ABDIAS NASCIMENTO. Tudo que se diga sobre Abdias ainda é pouco e insuficiente. Os leitores do blog já estão um pouco mais familiarizado com essa figura humana impar. Que necessita de urgente redescoberta pelos meios acadêmicos e pensantes. Pelo menos dei minha contribuição - pequeninissima e singela- em minha dissertação que trabalhava a questão Quilombola.

Aos 95 anos, o líder negro Abdias Nascimento tem trajetória contada em biografia Isabela Vieira Repórter da Agência Brasil


Rio de Janeiro - “Eu sempre fui um negro desaforado”, admite o intelectual, artista e ativista, Abdias Nascimento, de 95 anos, pontuando sua indignação diante dos critérios que desde o período colonial definem papéis diferentes para negros, brancos e índios, no Brasil e no mundo. O depoimento consta de uma biografia lançada nesta semana. Dividida em dez capítulos, apresenta a trajetória de Abdias desde a infância, no interior de São Paulo, aos discursos e ideias combativas apresentadas, inclusive, no Congresso Nacional.
Há relatos sobre a participação dele em movimentos políticos da década de 1930, os desafios da vida em uma São Paulo racista, os primeiros congressos de negros no país e as experiências no Rio, onde a militância é marcada pela criação do Teatro Experimental do Negro (TEN) – uma forma revolucionária de denunciar o racismo, merecedor de um capítulo à parte. Abdias fez mais do que levar negros aos palcos (neste caso, o Teatro Municipal), a iniciativa transbordou para experiências político-culturais, que garantiam escolaridade e conscientização aos negros, dentre os quais empregadas domésticas e estivadores.
Tendo deixado o Brasil na ditadura militar, a biografia trata da convivência do ativista com o movimento pelos direitos civis, nos Estados Unidos, e com brasileiros como Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, além de uma produção artística e literária, questionadora do padrão eurocêntrico. De volta ao país, 15 anos depois, lembra a
atuação de Abdias como deputado e senador, na defesa dos direitos fundiários das comunidades quilombolas, do ensino da cultura afro-brasileira e africana e medidas para diminuir as desigualdades raciais no mercado de trabalho e nos bancos escolares.
São passagens repletas de relatos do próprio Abdias, coletadas em entrevistas e em outros livros, pela jornalista Sandra Almada. E, como não poderia deixar de ser, inevitavelmente revelam mais sobre o ativismo dos negros no Brasil, desde o período colonial aos dias atuais, além de tratar dos esforços de combate ao racismo no âmbito mundial, o pan-africanismo. “Ainda há tudo por fazer. O negro ainda está no marco zero de uma caminhada para a verdadeira liberdade. Ainda sou indignado com isso”, disse Abdias, com total lucidez, no lançamento de sua biografia.
Não fica de fora da obra a influência do líder sobre uma nova geração. Perguntado sobre o despertar de sua consciência sobre a exclusão social dos afro-brasileiros, o rapper MV Bill responde à autora da biografia: “Li, na adolescência, o livro O Negro Revoltado, de Abdias Nascimento”. Segundo Sandra Almada, o depoimento é colocado propositalmente no livro, para aproximar a juventude de Nascimento. “É possível que ideias de alguém que nasceu em 1914 façam alavancar a luta de nova gerações”, afirmou durante o evento.
O escritor Nei Lopes também pontua a importância do intelectual para a organização de reivindicações históricas e das transformações das últimas décadas. “Abdias é o elo maior do nosso movimento negro, levando em conta que ele é do início do século passado, quando a discriminação era ainda mais clara. Mesmo hoje, um pouco debilitado [pelas condições de saúde], quando ele abre a boca, sabemos que é o nosso baobá [árvore sagrada no candomblé], guarda toda a vida e história de nossa africanidade.”
Ao apresentar o grandioso legado desse intelectual, a biografia de Abdias Nascimento é, sobretudo, uma compilação de ideias para enfrentar o racismo e as desigualdade raciais, além de um convite para permanente mobilização social, independente de raças.“Enquanto houver um descendente de africano nessa situação de pobreza, miséria e de opressão, eu me sinto atingido, pois o racismo não é um coisa pessoal”, afirma o líder negro, em um dos seus depoimentos.
Edição: Talita Cavalcante
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Abaixo notícia que apesar de animadora demonstra mais uma vez a crueldade de nosso racismo e preconceito. Apesar de diminuir substancialmente nos últimos 10 anos o analfabetismo entre negros ainda é substancialmente maior do que entre os brancos e, ainda maior entre os negros em 2009 do que entre os brancos em 1999. O que denota a persistência desta mazela, ou seja, apesar do incremento de escolaridade entre negros esta ainda é inferior ao dos brancos.
Analfabetismo funcional cai entre negros e pardos, diz IBGE09 de outubro de 2009
Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE), divulgada nesta sexta-feira, mostra que emrelação à taxa de analfabetismo funcional, houve redução maisexpressiva para pretos e pardos que para brancos, entre 1997/2007. Noentanto, a desigualdade em favor dos brancos se mantém.Em 2007, a taxa de analfabetismo funcional para essa população (16,1%)era mais de dez pontos percentuais menor que a de pretos e pardos(27,5%) - sendo que essa taxa dos pretos e pardos ainda está mais altado que as dos brancos de dez anos atrás, diz o estudo.Segundo informações do IBGE, outra maneira de pensar sobre a questão aquestão é observar a distribuição por cor ou raça da população quefreqüenta escola com idades entre 15 e 24 anos. Na faixa de 15 a 17anos de idade, cerca de 85,2% dos brancos estavam estudando, sendo que58,7% destes freqüentavam o nível médio, adequado a esse grupo etário.Já entre os pretos e pardos, 79,8% frequentavam a escola, mas apenas39,4% estavam no nível médio. Por outro lado, enquanto o percentual debrancos entre os estudantes de 18 a 24 anos no nível superior era de57,9%, o de pretos e pardos era de cerca de 25%.Segundo o estudo, a média de anos de estudo da população de 15 anos oumais também apresentar uma vantagem de em torno de dois anos parabrancos (8,1 anos de estudos) em relação a pretos e pardos (6,3),diferença que vem se mantendo constante.
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Rússia pode ter primeiro prefeito negro
Imigrante africano é conhecido como "Obama de Volvogrado"
Da EFE

Se os eleitores de Volgogrado derem crédito, e voto, a Joaquim Crima nas eleições municipais russas deste domingo (11), farão história num país onde quase todos são loiros e têm olhos claros. O candidato nascido em Guiné-Bissau pode ser o primeiro negro a assumir um cargo público na Rússia.
- Sou negro por fora e russo por dentro.
Assim se define o candidato a chefe de distrito em Volvogrado, equivalente a prefeito. "A Rússia é a minha pátria. Falo, atuo e penso como um russo", diz o africano de 37 anos, que chegou ao país para estudar, em 1989, às vésperas da queda do Muro de Berlim, e acabou ficando na Rússia para sempre.
Admirador do primeiro astronauta da história a viajar ao espaço, o soviético Yuri Gagarin, Crima chegou à Universidade de Volgogrado com a mala cheia de esperanças, mas o racismo e a discriminação, então emergentes na sociedade russa, o despertaram do sonho.
A Rússia não era o que pode ser chamado de paraíso na Terra, como alegavam os militares soviéticos que ajudaram Guiné-Bissau a conquistar sua independência de Portugal, em 1974. Atualmente, Crima é cidadão russo de pleno direito, casado com uma armena, tem um filho de dez anos e vive na região de Volgogrado como vendedor de melancias e melões.
Obama de Volvogrado
Crima se candidatou às eleições locais "para mudar as coisas", segundo ele, e, por isso, ficou conhecido tanto na Rússia quanto no exterior como o "Obama de Volgogrado", em alusão ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que utilizou o lema da mudança em sua campanha eleitoral. Ele se diz admirador do americano:
- Sou um idealista igual a Obama.
Nunca na história um africano ocupou um cargo na administração pública no país, mas isso não o amedronta. Falando russo sem sotaque, ele diz:
- Chegou a hora de reagir. Quero mudar a mentalidade de meus compatriotas e mostrar ao mundo que nem todos os russos são racistas. Na Rússia há lugar para todos.
Se for eleito, assegurou que enviará os jovens do distrito para estudar no exterior, para que conheçam outros países e depois retornem para contribuir, com a "mente aberta", com o progresso da região. Para ganhar votos, Crima demonstra que é um pragmático. O lema de sua campanha é "trabalhar como um negro", segundo ele, rindo.
Em sua opinião, esta é a única forma de combater o racismo é "colocar aqueles que sofrem com ele em evidência". Crima é membro do partido Rússia Unida (RU) e admirador confesso do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladimir Putin.
- Ele fez muito por este país. Nos anos 90 havia longas filas para comprar um pouco de pão ou carne. Isso acabou. (...) A princípio, confessa que muitos de seus concidadãos não o levaram a sério e que, inclusive, tentaram suborná-lo para que mudasse de opinião, mas "agora, as coisas mudaram". Contudo, não será fácil, já que, apesar de Crima ser membro do RU, o partido do Kremlin apoia abertamente outro candidato.
Às vésperas do pleito, Crima denunciou pressões por parte de representantes regionais da RU para que abandonasse a corrida eleitoral. "Pediram-me que retirasse minha candidatura. Se eu renunciasse, o povo não entenderia, me acusariam de traição. Por isso, irei até o final", disse Crima, que tem 6% das intenções de voto, segundo as pesquisas.
Entre os sete candidatos a chefe de distrito há mais um de origem africana: Filipp Kondratyev, de pai ganês e mãe russa, que trabalha para uma construtora local. Embora isso possa roubar votos, Crima acredita que "é melhor assim". "Isso demonstra que me levam a sério. Gosto de desafios, quanto mais difícil, melhor", assegura.

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