quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Rio corre para o Mar

Tem uma frase que gosto muito de usar em eleições, o rio corre para o mar, lembro que usava esta frase a todo pulmão e a toda alegria em 2002, para explicar porque não seria possível para a Onda Lula, bons tempos aqueles, que seriam rompidos já (da minha parte e de alguns amigos) em inicio de 2003, com a mudança de Lula, mas isto já é outra história e já é sabida aqui do blog. Mas como dizia tal frase pode ser acusada de extremo pragmatismo mas quase nunca falha. E há muito contragosto ainda em julho apostei com amigos que como rio corre para o mar seria impossível qualquer resultado diferente deste: vitória de Dilma lá e do Anastácia aqui. Lembro-me que no primeiro caso não se teve muito espanto mas no segundo, várias destes colegas e amigos, me questionaram....dizia a eles, é com muita dor, mas se vocês analisarem desapaixonada mente verão que é praticamente impossível uma não vitória de Anastácia. Lembrava a eles que um poste (por sinal péssimo prefeito) chamado Márcio tinha sido eleito há dois anos atrás na capital, some-se a isto o fato que Anastácia tinha mais vida política do que o poste prefeito e teria mais apoio ainda, para não falar na chantagem, na sordidez, na censura e etc. Some-se a isso o erro proposital de Brasília ao impor Hélio candidato....aliás o Pteco daqui é mais Pteco que os demais, veja se isso ocorreu no Rio Grande do Sul, na Bahia, no DF...Dizia que nossa vitória seria levar o pleito ao segundo turno para pelo menos polarizar as eleições, mas mesmo esta vitória seria difícil...os números estão ai e vários vieram me falar ...vc tinha razão e ai respondo eu não era uma questão de lógica o rio corre para o mar.

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De todo modo, e com muito contragosto votarei em Hélio e, espero, mas isso é irracional é somente vontade e torcida que exista uma onda de voto útil, uma tal onda Lula que transfira votos a Hélio pois a ausência de um segundo turno em Minas é sinal de um futuro bem grave e nebuloso.....de todo modo, para além do resultado das urnas, espero que os movimentos sociais, as forças progressistas mineiras e o que restou destes partidecos que se dizem de centro possam se reorganizar e urgentemente....

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Como gosto de emoções fortes continuo onde sempre estive Dilma leva no primeiro turno, e não adianta o da DataFalha, digo DataFolha inventar marola, Dilma nunca caiu....a exceção do Data nenhum instituto jamais registrou a tal queda de Dilma...aliás não esqueçamos que enquanto os demais institutos davam Dilma muito a frente o Data dava Serra e ai, em um belo dia, sabe-se lá como, uma pesquisa Data mostrou que sabe se lá como, ou porque Dilma havia disparado e num passe de mágica o Data se igualou aos demais concorrentes; mas lembremos que antes desta repentina mudança de voto dos pesquisados pelo Data, este mesmo instituto em atitude leviana junto ao seu proprietário a Folha lançou uma série de matérias denunciando os demais institutos principalmente o Sensus e o Vox Populi, ambos mineiros.....

Agora hoje depois de inventar a tal queda de Dilma, o mesmo, DataFalha pra não ficar muito feio traz uma pesquisa que confirma as pesquisas anteriores de Sensus, Vox, Ibope....

Cadê a porra do Rock

Dá série de textos que nem eu mesmo entendo de tão confuso...reminiscências....

 
Há algum tempo venho me perguntando e perguntando a alguns cadê o rock’n roll. Tudo bem no Brasil este tal de rock’n roll sempre foi coisa mesmo de um espaço marginal, afinal o BROCK maravilhoso é MPB e das boas. Digo rock, rock mesmo, se é que este rock, rock existe, já que le é tão adjetivado... Mas de uns tempos para cá, a coisa ta feia. É tudo pasteurizado, é tudo muito bobo, é tudo muito um romanticozinho sei lá o quê. E antes que me acusem o maior disco de rock da decada passada é puro romance, aliás ando cada vez mais viciado. Portanto não se trata de ser romantico e sim romanticozinho, bestinha....romantico mesmo é Los Hermanos que não sai do meu tocador...Tem momentos que penso que o sertanejo dominou tudo e ai ele se transveste ás vezes de rock, pop e etc...é uma chatice pesudo romântica....
Na nova cena falta de tudo, música, ritmo, pegada, melodia e incrível, no caso brasileiro, falta até a poesia... O processo de declínio iniciou-se nos anos 90, teve uma breve pausa em 1994, voltaremos a isso logo a frente e degringolou de vez depois disso.
O ano de 1994, não bastasse a Copa do mundo e o Real, dois fatos para tornar o ano de 1994 inesquecível. 1994 marcou um sopro de vitalidade no combalido rock brasileiro, se já estávamos meio sujo e vestindo calças largas e camisas xadrez influenciados por Nirvana, e outros moleques de Seatle como Pearl Jam, Soudgarden no Brasil estourava o Planet Hemp, Raimundos e o Movimento Mangue Beat. Eta aninho bom mas depois veio o refluxo. Veja aqui não se trata de pensar em Pop este até produziu coisas boas como Skank, Jota Quest, Paralamas (do pós Vamo bate Lata) mas mesmo estes, talvez com exceção do primeiro andam cada vez mais pasteurizado. Falo do velhos e bons rock, e ai veja que no rigor o Mangue Beat não é rock, mas foi ele que permitiu a revitalização de algo que é totalmente rock e totalmente nosso, a mistura de ritmos, a mistura de rock, reggae, forró, punk, afro, samba, maracatu, a Afrociberdelia do Nação e Chico Science.  Musicalmente ao lado do citado Los Hermanos o Planet Hemp (neste caso com a funçõ mais clara ainda que o primeiro, ainda que o primeiro sambe como poucos) a melhor banda brasileira desde os 90, musicalmente e de letra para não falar na formação que teve em sua fase áurea BNegão D2, Skunk, Bacalhau, com participações de Black ALien, etc. Alias são de sua lavra 03 discos essenciais, os três lançados pela banda, dos quais adoro os dois primeiros: Usuário (1995), Os Cães Ladram mas a Caravana não Pára (1997) e A Invasão do Sagaz Homem Fumaça (2000). Para além disso tivemos o Rappa com sua formação clássica....bom enfim me perdi, mas o texto era para perguntar cade a porra do rock’nroll e me dou conta que rock, apesar de a frase ser piegas, é um estado de espirito e provavelmente o rock ‘nroll vai muito bem, mas senão me agrada mais é exatamente porque não tenho o mesmo pique de outrora, no fundo o rock é uma música adolescente e assim fica intrasponivel para um velhinho de 28 entender, aturar, ouvir e gostar de restart e coisa do genero aliás nunca suportei nem o CPM22 e Nxzero nomes imbecis para banda de rock....viu instrasponivel....

domingo, 26 de setembro de 2010

Como votarei



Tenho escrito pelo menos um texto semanal aqui para o Blog, sempre aos sábados ou domingo. Nesta semana acabei por antecipar este texto, publicando-o na última quarta-feira.



Encontro-me hoje com tanto assunto, mas ao mesmo tempo sem muita paciência para debatê-los. Poderia falar das eleições em Minas, mas estas andam tão desanimadoras. Fazer o que NE. A candidatura imposta de Hélio Costa patina e, não pdoeria ser diferente, como lembrou um dia desses, meu amigo e colega pesquisador Alexandre Sampaio: seria necessário que minimamente o Hélio tivesse um norte. Ou ele é oposição ou ele é situação, mas fica nesse sopra e morde. Concordo com o Alex este é o pior dos mundos. Pior porque joga no colo de um ilustre poste o governo do Estado. Já disse aqui e alhures que me preocupa demais a morte da política, pois só deste modo posso entender que, primeiro os belo-horizontinos e agora os mineiros colocaram em seus executivos ilustres desconhecidos, na base do só porque os donos do poder mandaram. Uma pena a decisão caso haja mesmo em primeiro turno, perde-se a democracia, perde-se os mineiros que de novo ficarão distante de um necessário e sadio (pois dentro das regras) debate sobre o que queremos para Minas. Já repararam que apesar (e bota a-pesar nisso) de toda a propaganda e censura jamais se teve nestes últimos 08 anos um programa claro de governo. Qual foi a linha deste governo, qual a grande política (e não vale obras, ainda que elas sejam importantes) que restara do período Aécio? Alguns dirão o choque de gestão e o Minas para Resultado. Realmente, e aqui sem entrar no mérito discursório e ideológico destes programas (pois ai mostraria meus descontentamentos) é pouco é muito pouco que um governo seja marcado somente por um ajuste burocrático. Ora tal ajuste em um Estado que possui uma Escola de Elite para Administração Pública é dever de oficio.



Por fim e a muito contra-gosto deverei aderir ao voto útil, ao voto necessário para um segundo turno. Um voto que permita que no segundo turno o candidato Hélio Costa possa efetivamente assumir um compromisso com bandeiras históricas dos movimentos sociais. Fica assim então para Presidente vou de Plínio 50, para governador de Vanessa 16 ou Hélio 15 (aqui toda a torcida para os votos úteis pelo segundo turno, ainda que a tendência seja pelo voto útil para terminar logo “essa chatice” e ai o Anastácia ...) para deputado federal pela coerência, dignidade, honestidade e compromisso com as questões dos direitos sociais e humanos, voto em quem sempre votei, vou de Sérgio MIRANDA 1212, no restante para estadual e nos dois senadores resta o voto na esquerda ideológica, seja PSOL seja PSTU.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Faltam 10 dias para as eleições

A imprensa tem direito de falar o que quiser, e o presidente tem direito de rebater. A Constituição prevê liberdade de imprensa e também a liberdade de expressão. José Eduardo Dutra, presidente do PT

Faltam 10 dias para as eleições
Carlos E. Marques, antropólogo

Faltam 10 dias para as eleições, e se inicia agora a chamada reta final das eleições. Resta agora o período mais critico do processo eleitoral. Período este que tudo indica será bastante sangrento, visto que, os últimos pudores, sé é que eles ainda existiam por parte de certo setor da imprensa desapareceu de vez. Agora é a vez do vale-tudo seja partidário, seja midiático.
Na junção destes dois vale-tudo estamos diante segundo as novas vestais da liberdade, de um eminente ataque a democracia, afaste-se aqui por ser desnecessário, que os democratas de hoje são os autocratas de ontem, aqueles que jamais se preocuparam com estas ameaças e temores durante longos períodos de ausência desta mesma democracia e liberdade hoje tão querida e ameaçada.
Seria risível, senão fosse preocupante tal movimento, preocupante, pois por trás de um discurso de defesa das liberdades encontra-se na verdade uma semente de destruição desta mesma liberdade. Ora qual é a ameaça de liberdade que enfrentamos neste país? Como nos lembra Luiz Fernando Veríssimo “Desde UDN x Getúlio nenhum presidente brasileiro foi tão atacado e denunciado quanto Lula.” Com efeito, lembra ainda o grande escritor e cronista gaucho e colorado que “O que talvez precise ser revisado, depois dos oito anos do Lula e depois destas eleições, quando a poeira baixar, seja o conceito da imprensa como formadora de opiniões.”
Tal qual Veríssimo corretamente o presidente do PTeco (e veja, portanto, que podemos não ser eleitores de um candidato, podemos inclusive ser critico de um governo, sem no entanto, que com isso sejamos antidemocráticos) lembra de modo indireto que a liberdade de imprensa é filha da liberdade de expressão. Dito de modo vulgar “Fala-se o que quer e ouve-se o que não quer”. Na mesma direção do Veríssimo, do presidente do PT segue o jornalista Alon Feuerweker quando lembra “Qual é o problema nos protestos de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT e de aliados contra a imprensa? Não são as reclamações em si. A imprensa possui o direito de publicar/veicular o que bem entende, e também os críticos da atividade jornalística têm a prerrogativa de dar opinião a respeito. É um direito universal. Justamente empenhada na defesa da própria liberdade, não é razoável a imprensa ficar com não me toques quando se exerce a liberdade alheia. Se o jornalista ou a empresa jornalística avaliam que foram atingidos na sua honra, que recorram à Justiça. O Código Penal está aí. O mesmo vale para os políticos, do governo ou da oposição: o Judiciário é o caminho para a busca de reparação." Em sua argumentação Alon corretamente observa que em verdade não se encontra nenhuma ameaça real a liberdade e se acaso houver existem mecanismos para sua refutação como o STF (que em várias decisões e jurisprudências afastou qualquer tipo de suposta ameaça ao campo das liberdades) e mesmo o Congresso Nacional.
Como tenho dito, a democracia não é necessariamente o melhor governo e sim o governo da maioria. Simples assim. Aqueles que não concordem com a regra que se busque dentro das normas sua alteração. No mais, como temos visto por parte da candidatura e dos apoiadores de José Serra (o partido da mídia golpista) é uma vergonha. Fala-se despudoradamente em manipulações, em ataques a honra, destruição de reputações e sobre o manto do discurso da liberdade em se violar esta mesma liberdade. Lamentável!!! O rio corre para o mar e se essa corrida não nos agrada paciência (não me agrada o governo Aécio e sua real violação das liberdades, nõ me agrada suas manipulações, não me agrada seu candidato, no entanto, devo resignar-me e aceitar se for a decisão da maioria mais quatro anos de promiscuidade entre a coisas publica e a coisa privada), faz parte do jogo democrático liberal burguês, o que não faz parte deste jogo é tentar por quais vias forem atingir o processo de forma autoritária. Pelo menos é o que pensa este socialista, defensor do pluralismo, das diferenças e do exercício radical das liberdades. E antes que perguntem, abro meu voto obrigatório (violador das minhas liberdades individuais) sempre à extrema-esquerda. Sou Plínio, sou a favor das reformas agrária, urbana, financeira, da taxação das grandes fortunas, da diminuição dos lucros acachapante dos bancos e do capital especulativo, sou a favor das minorias indígenas, quilombolas, homoafetivas, de direitos diferenciados para negros, mulheres e outras minorias historicamente violadas em seus direitos, do aborto, da legalização da maconha, liberdade religiosa e outras coisitas assustadoras para uns e outros denunciadores das ameaças as liberdades, aliás, varias destas vestais acabam em seu afã de defender as liberdades, não aceitando a liberdade de opinião e das práticas dos que pensam diferentes.

POS TEXTO, ACRESCIDO HOJE, DOMINGO
Mais uma reflexão chamando as coisas como são e defendendo um pouco mais de civilidade.
Luis Carlos Bresser Pereira (ex-ministro dos governos Sarney e FHC) mas acima de tudo um intelectual que sabe a importância de se desmontar bravatas:

Com estas considerações em mente, li em "Política de Direitos Humanos", excelente livro organizado por uma jovem professora de ciência política da USP, Rossana Rocha Reis, duas conferências pronunciadas por dois homens públicos da mais alta qualidade, José Gregori, primeiro titular da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, criada em 1997, e Paulo Vannuchi, atual titular dessa secretaria de nível ministerial
Os dois são amigos muito caros para mim: Gregori foi meu contemporâneo na Faculdade de Direito, e companheiro político de toda vida, Vannuchi, meu aluno no doutorado em ciência política na USP -um aluno de convicções firmes que milita no PT desde a sua fundação.
As duas conferências nos dão um quadro da luta pelos direitos humanos no Brasil, mas o que mais me chamou a atenção foi como elas se completam. Como o trabalho de um foi continuado pelo outro, como a luta pelos direitos humanos não é uma questão de partidos em conflito, mas de uma sociedade que se irmana na luta contra a tortura e a violência policial, contra o racismo e o antissemitismo, contra a prostituição de menores, contra a exploração de crianças e adolescentes, contra as violências dirigidas às mulheres, aos homossexuais.
Vannuchi foi o primeiro a falar. E sua fala foi a do reconhecimento de uma construção e de uma continuidade: "Existem avanços no sentido da consolidação de direitos, o que é particularmente claro de 1988 para cá... No governo FHC houve importantes avanços".
Gregori, por sua vez, além de corresponder ao apreço que Vannuchi manifestara por ele, assinalou: "Nossas posições políticas como todos sabem não coincidem, mas a nossa essência do ponto de vista do papel dos Direitos Humanos no Brasil é praticamente coincidente".
Não é só nesta área que há continuidade. Em vários setores ela data da transição democrática. Uma continuidade que responde à Constituição de 1988.
Por isso, nestas eleições, não posso deixar de ver com perplexidade, de um lado, a tese de que tudo começou no governo Lula, que jamais em tempo algum houve um governo como esse, e, do outro lado, o renascimento do udenismo liberal-autoritário segundo o qual o governo atual desrespeita a Constituição e a candidatura Dilma Rousseff é uma ameaça para a democracia brasileira.

Manifestações partidárias e apaixonadas desse tipo, sem base na realidade, não honram quem as faz. Não contribuem para a democracia brasileira.

sábado, 18 de setembro de 2010

Ciganos, Maconha: dilemas dos direitos humanos

A França adere vergonhosamente a um novo Vichy ao expulsar de maneira ditatorial, já que por portaria de um primeiro-ministro, e vergonhosa para um Estado que se considera Democrático, de Direito e Moderno os cidadãos de etnia cigana de suas fronteiras. Segundo o primeiro-ministro Sarkozy o modo de vida dos ciganos é indgno para a Europa e para a França, seu habitat é inaceítável e sua cultura idem. Que de pronto e obviamente foi apoiado pelo imbecil primeiro-ministro italiano Berlusconi. A despeito de tamanho absurdo, a Comissão Europeia de Direitos Humanos reagiu a tamanha brutalidade e violação de normas elementares dos direitos humanos internacionais e resolveu junto ao Parlamento Europeu condenar a França. O que de todo modo representa pouco diante do diversionismo do primeiro-ministro francês: a se lembrar a França enfrenta imensa crise economico-social e financeira (isto para não falar dos escandalos políticos-eleitorais com propinas, desvio de verba e etc), o governo Sarkozy é pessimamente avaliado e medidas populistas como essa acaba por atingir o inconsciente imperialista e racista do francês médio. A se acompanhar até onde vai tamanha vergonha. O risco que se corre sempre com medidas ignobeis como essa é a sua deflagração pelo restante do continente europeu. Diga-se de passagem que os ciganos são cerca de 12 milhões de cidadãos europeus. Lamentável que ainda nos anos de 2010 existam cidadãos de primeira segunda ou sabe se lá qual classe na Europa: cidadã. moderna, democrática e defensora das liberdades.

Enquanto isto na California, um plebiscito decidirá sobre a legalização da maconha, em novembro próximo seus cidadãos serão convocados a debater este tema espinhoso, mas no entanto, necessário. Diga-se de passagem que os favoráveis a liberalização estão na frente das sondagens eleitorais e mesmo o republicano governador do Estado Arnold Exterminator apoia a legalização. Os favoráveis acabam de receber um importante incentivo o SEIU maior sindicato dos trabalhadores da California com cerca de 1 milhão de filiados oficialmente passou a apoiar a causa da legalização, contando para isto inclusive com doações financeiras. Este blog aqui é totalmente favorável a legalização: aliás não só da maconha, como do aborto, da expropriação dos lucros absurdo dos bancos, das grandes propriedades, de uma  reforma urbana, mas ai já estamos fugindo do tema legalização da maconha, ainda que permaneçamos no campo dos direitos humanos. O fato é que o pior dos mundos é a hipocrisia que permite o tráfico e toda a sua violência inerente.Violência esta as vezes até mais forte por parte do Estado e de suas forças "legitimas" do que do próprio tráfico. Por isso tambem sou a favro da campanha PLANTE NÃO COMPRE!!!!!Plante seu Hemp não financie esta guerra que atinge sempre os mais explorados, inclusive no negócio multinacional e capitalista do tráfico, afinal plantar não é crime apenas contravenção.

O fim um ciclo em que a velha mídia foi soberana

Ainda que possa discordar aqui ou ali do texto abaixo, acho um belo relato do momento em que estamos vivendo.

O fim um ciclo em que a velha mídia foi soberana


Enviado por luisnassif, sab, 18/09/2010 - 07:20



Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.



O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.



Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.



Fim de um período odioso

Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.



As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.



Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.



A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.



O general que traiu seu exército

Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.



Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.



Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.



Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.



A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.



Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.



Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.



Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.



A marcha da história

Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.



Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.



Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.



Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.



Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.



Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.



Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra UM deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.



E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.



Os novos tempos

A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.



De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.



A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.



Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.


As ameaças à liberdade de opinião

Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo.

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-fim-um-ciclo-em-que-a-velha-midia-foi-soberana#more

sábado, 11 de setembro de 2010

11 de setembro

Hoje são 11 de setembro, uma dia simbólico pelas fatalidades: foi neste di, há 09 anos atrás que as Torres Gemêas foram dinamitadas por fundamentalistas islâmicos. Para além do que representa os EUA, suas políticas e suas perversidades (que culminaram no outro 11 de setembro, falaremos dele mais adiante) o ataque as torres gemêas se constituiram em um ataque covarde e cruel pois atingiu de forma indiscriminada civis e não somente aqueles propositores de uma política tão fundamentalista quanto a de seus atacantes.

Mas 11 de setembro, e isto é esquecido, os silêncios convenientes, é também a data de derrubada do governo Allende. Na fatídica manhã do dia 11 de setembro de 1973, liderados por Pinochet a direita chilena bombardeia o Palácio de La Moneda o que leva ao suicidio/homicidio de Allende. 

Chile 1970
Salvador Allende lidera a Frente Partidaria denominda  Unidade Popular (coalizão formada pelos Partidos Socialista e Comunista, além de importantes grupos de esquerda como o MIR e o MAPU) que é eleita (isto mesmo, eleita por vias liberais democráticas, ou em linguagem marxista-leninista seguindo as regras e ditames do sitema burguês liberal). A direita chilena adota então uma série de medidas para minar o governo Allende, o primeiro governo socialista a chegar o poder por eleições como gostava de dizer alguns apoiadores de Allende,  como por exemplo: sabotagem, dos assassinatos cometidos por grupos de extrema-direita como o Patria y Libertad, dos blecautes patronais. Apesar ou por causa destes atos, nas eleições intermediárias de 1972, a Unidade Popular conseguiu ainda mais votos do que nas eleições presidenciais que levaram Allende ao poder, em 1970. Tal arrobo foi considerado a gota da agua e em 11 de setembro de 1973, sob as ordens de Pinochet o Moneda é atacado. Resta a Allende o gesto supremo dos grandes estadistas: Pagaré con mi vida la lealtad del pueblo. Allende resiste por algum tempo, com uma pistola, o apoio de muitos leais companheiros e sua guarda presidencial.
Aqui neste QUILOMBO prestamos nossa referência a estes heróis. Allende Vive!!!! Companerõ Presente, como diriam os chilenos ou os brasileiros daquela época.
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O Chile como o Brasil, Argentina, Uruguay e outros companerõs de latino-américa fomos vitimas desta praga chamada ditadura, portanto, datas como as de hoje deveriam ser dias civicos para que horrores como estes não se assanhem novamente e, mesmo para que, em honra dos que verteram sangue pela democracia a mesma não fosse tão enxovalhada pela elite punhos de seda de sempre. Deprimente ver esta eleite que se esbaldou, deitou e rolou, empanturrou-se como o bolo mal dividido falar hoje em ameaça a democracia e liberdades. Hoje como ontem efetivamente sofremos ameaças as nossas liberdades mas ontem como hoje os ameaçadores são os mesmos, uma parte retrogada, elitista e imbécil da elite brasileira. Foi esta que tão bem Claudio Lembro definiu de elite brnca, aliás o Claudio Lembo é ele mesmo um exemplo que é possível ser outro tipo de elite.
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Ainda hoje no dia 11 de setembro leio que a chamada War on drugs, outro feito de W. Bush, já matou no México, nos últimos 04 anos 28.361 pessoas. Destas, 70% das vítimas eram civis de ficha e conduta limpas. Dentre os mortos estão 900 mulheres, 90 crianças e 30 jornalistas.LAMENTÁVEL. Lembrete: Caldeiron, atual presidente do México e fiel seguido da War on drugs foi "eleito" sobre uma forte desconfiança de fraude e ao assumir, em dezembro de 2006, a Presidência com o cheiro e algo mais de fraude eleitoral no ar, convocou  no primeiro dia do mandato as Forças Armadas e partiu para a Guerra às Drogas. A meta era desviar a atenção e tentar legitimar o mandato por meio de forte adesão à anunciada estratégia.

domingo, 5 de setembro de 2010

A IGREJA NOSSA SENHORA DO CARMO

O texto abaixo é na verdade memórias não revisadas sobre o papel. Portanto pode ser que não faça sentido para uns e outros. Logo abaixo, uma matéria jornalistica de uma Revista aqui de BH.

A Igreja do Carmo

Quando criança era um freqüentador assíduo das missas da Igreja de Nossa Senhora do Carmo. Ir a Missa era algo bastante prazeroso e esperado. Engraçado minha mãe conta que meu afã era tão grande que eu a reaproximei da Igreja.

Por outro lado, desde muito cedo, me incomodou a maldita injustiça. Desde muito cedo aprendi como afirmara o poeta Carlos Drumond “Vai Carlos ser gauche na vida”. E assim sigo pelas margens. Aproximando, portanto, por um lado este catolicismo primário e, por outro esta incapacidade de aceitar o injusto. Acredito que um dos locais onde me tornei o que sou hoje foi a Igreja do Carmo. E nesta, seu líder Frei Caludio Van Balen, ou simplesmente Frei Claudio. Frei Claudio merece o título de Padre. Na figura de Frei Claudio encontramos as melhores qualidades a um ser humano: decência, honestidade, caráter, respeito ao próximo, acima de tudo em Frei Claudio encontra o verdadeiro conceito de justiça cristã. Acho que foi na Igreja do Carmo que compreendi que era inaceitável a injustiça, pois nela Jesus de Nazaré é novamente crucificado. Na Igreja do Carmo apreendi que Jesus em sua infinita bondade é caridade. Lá aprendi que Cristo vive no meu irmão mais humilde que o Cristo Ressuscitado é aquele que se encontra entre as minorias oprimidas. Lá aprendi que o verdadeiro Cristo é aquele que luta junto aos sem terra, aos sem casas, ao sem direitos, aos que são vilipendiados em sua dignidade. Lá aprendi que Cristo ao contrário do que faz crer a hierarquia católica não pertence a senhores, inclusive senhores eclesiais. Mas lá também comecei a perceber que o Jesus que me inspirava não cabia mais na Igreja que o aprisionara, lá comecei a perceber que o Cristo Libertador não poderia se aprisionar em dogmas tão pequenos.
De todo modo, mesmo que a distancia física sempre continuei a ser membro da Comunidade do Carmo. Engraçado que mesmo distante há quase 10 anos do Carmo ainda me sinto membro deste lugar. Ainda quando me coloco nas lutas me lembro da Igreja do Carmo. Na distância física, mas jamais emocional, continuei a ser um paroquiano infiel e, principalmente a ser um entusiasta das lutas do Carmelo Belo Horizontino, seja no dia-a-dia do Ambulatório, seja na caminhada com os irmãos sem casa, sem terra, a favor de um desenvolvimento mais justo, solidário e ecológico, seja nas palavras sempre fortes e sabias de Frei Claúdio. Todas estas lembranças e estes textos são fruto de uma necessidade de colocar no papel o grito de abafo. Este ano de 2010 tem sido bastante difícil. Primeiro foram às queixas e ameaças de destituição dos Freis, depois as repreensões e, agora o silencio de Frei Claudio. Estes são dias difíceis e a crise é nossa como lembra o Conselho de Paroquianos, somos nós o Povo de Deus (mesmo aqueles que como eu já tenha rompido com essa Igreja violada pelo poder demasiado humano, vaidoso e a favor das elites) que estamos sendo questionados, inquiridos e ameaçados. Querem proibir nosso modo de vivenciar a Fe como cidadania, a fé como política, a fé como caridade irrestrita ao projeto libertador dos oprimidos.
A sanha e o medo dos senhores do Templo não toleram um espaço de tamanha cidadania. O que a ditadura tentou e não conseguiu agora a Cúria conseguiu. Mas como sabemos em Jesus a Fé é libertadora. Cristo não se submeteu às intimidações (Lc 13, 31-33); denunciou a dominação daqueles que davam sustentação ao poder local (Mt 23, 13-36; Mc 12, 38-40); mas principalmente aprendemos que os rejeitados são os que participarão da festa do Reino (Lc 14, 15-24). Os últimos serão os primeiros e os que se “vestem com roupas finas e vivem no luxo” (Lc 7, 25) e são a elite da sociedade serão “derrubados dos tronos” e “despedidos sem nada”. Portanto, aqueles que se arrogam em seus solidéus e roupas de luxo, “Todos que usam a espada, pela espada morrerão” (Mt 26, 52).


Materia da Revista Viver
Frei Cláudio, por que te calas?

Há 43 anos ele é vigário da igreja do Carmo. Após o imbróglio que envolveu sua possível saída, o carismático e polêmico padre foi proibido de se pronunciar. Os fiéis deram voz a ele

Texto: Eliana Fonseca
Fotos: Pedro Vilela
Cláudio Van Balen não pode falar. Depois de enfrentar um dos maiores desafios de sua vida religiosa, em que sua posição de vida incomodou a hierarquia da igreja Católica e quase foi forçado a abandonar a Paróquia Nossa Senhora do Carmo, o que esse holandês de 78 anos quer é ficar em silêncio. Pelo menos para a imprensa. Porque para os frequentadores da paróquia do Carmo, onde vive há 43 anos e é conhecido por frei Cláudio, ele não muda nunca. Sua filosofia de vida, em que a cidadania é também um ato de fé, transformou seus fiéis. Aliás, foram essas pessoas que montaram a partir de uma visão um tanto particular, o significado do religioso para cada um deles e para as comunidades das regiões do Carmo.

Os amigos cultivam em frei Cláudio um tipo de herói incomum, que motiva admiração, mas ao mesmo tempo chama todo mundo para participar do feito. Vigário de uma paróquia que agrega regiões que apontam para duas Belo Horizonte – a dos bairros desenvolvidos como o Cruzeiro, Carmo, Anchieta, Sion, mas também para a desigualdade dos aglomerados – frei Cláudio segue à risca em suas ações o preceito de que todos são iguais aos olhos de deus. Há 25 anos, o técnico em enfermagem e morador do Morro do Papagaio, João do Carmo, estava passando por situação-limite na creche grupo Amigo da Criança. O desafio era consolidar a instituição, que era primordial para as crianças do local. “não sabia o que fazer, as crianças estavam passando fome, as mães estavam cobrando uma solução. À noite sonhei que tinha ido à igreja do Carmo”, conta. O encontro com frei Cláudio traduziu-se num apoio que foi constante durante todos esses anos e que tem rendido vários frutos.
Carlos Roberto Vasconcelos: “Frei Cláudio forma, antes de tudo, um cidadão”

Há dois anos, as visitas constantes dos vicentinos aos enfermos e pessoas com deficiência do morro gerou um novo projeto, também com o apoio de frei Cláudio. Essas pessoas estão recebendo banheiros adaptados para possibilitar maior dignidade e mobilidade. Uma das primeiras doações para essas construções veio do vigário da Paróquia do Carmo que repassou 12 mil reais recebidos de herança de uma irmã. “Ele nos falou que dava aquele dinheiro com todo carinho. Frei Cláudio tem um carisma muito especial. Ele é tranquilo, firme em sua espiritualidade. Tudo que ele fala, a gente entende”, afirma João do Carmo.

Essa compreensão ultrapassa bairros e vai buscar aquele católico já cansado dos ritos e discursos da igreja. O que procura algo diferente. Foi o que aconteceu com o especialista em trânsito e assuntos urbanos, José Aparecido Ribeiro. Ele frequentou as igrejas da Vila Paris, Lourdes, Boa Viagem, São Judas Tadeu, São Sebastião, Mãe da Igreja, Belvedere. Nenhuma, em sua opinião, motivava o fiel a uma reflexão maior.

“Frei Cláudio usa a palavra e o conhecimento de maneira muito acessível. Sua mensagem nos leva à paz, mas também à responsabilidade. Ele nos convida a ser cidadãos e isso tudo pregando e praticando uma religião que não nos infantiliza”. Ribeiro frequenta a Igreja do Carmo há cinco anos. Talvez um dos maiores aprendizados que veio com as reflexões de frei Cláudio foi o da responsabilidade que cada um tem com o seu próprio destino. “Ele propõe uma religiosidade adulta em que Deus não é punitivo, mas benevolente, sempre disponível. E o mais importante, ele não precisa de mediadores e nem de representantes. Bastam só eu e ele”, refle- te o especialista.

Essa capacidade de agregar pessoas é uma das características citadas por frei Betto para designar o amigo desde os anos 70. Frei Cláudio desafiou a ditadura militar em falas públicas e cartas ao amigo Betto, publicadas no livro Cartas da Prisão, em que o apoiava, além das visitas rotineiras à família que era sua paroquiana. “Ele é o pároco mais eficiente que já conheci em termos de organizar e dinamizar uma paróquia. Cláudio tem uma coisa rara na igreja Católica, o atendimento personalizado aos seus fiéis. Ele conhece as pessoas pelo nome, dá atenção, além de ser uma pessoa extremamente aberta, ecumênica, sem pre-conceitos, na linha de um discípulo de jesus”, observa frei Betto.

Não há como falar da vida de frei Cláudio antes do Brasil. Quem poderia fazê-lo é o próprio religioso, que preferiu não se posicionar nesta entrevista. Talvez um dos amigos mais antigos do frei seja o médico Lermino Pimenta, 78 anos. foi preciso ele atravessar o Atlântico e aportar em terra francesa para ouvir falar, pela primeira vez, em frei Cláudio Van Balen, um holandês alto e magro que viria a conhecer pouco tempo depois. Era 1966, em viagem para fazer uma pós-graduação, Pimenta encontrou-se com um frade carmelita brasileiro. Conversa vai e vem, a pergunta inevitável da origem levou Pimenta a falar sobre o bairro Carmo e a rua Grão Mogol, onde morava em Belo Horizonte. “Você vai encontrar a paróquia do Carmo completamente mudada”, antecipou o frei ao jovem médico, que não frequentava a igreja porque não gostava da posição política da instituição, que considerava de direita e ligada à organização Tradição, Família e Propriedade ( TFP).

“É um homem extremamente humano. Quando perdi meu irmão em acidente de aviação, ele foi o primeiro a chegar à minha casa para consolar-me. quando fui operado de ponte de safena, ele levava a comunhão. É sempre amigo, leal, franco”, diz.

Entre um dos casos mais emocionantes de que se lembra, está a morte de um cachorro do filho, nos anos 70, quando o menino ainda estava com 10 anos. Transtornado, o garoto foi à igreja conversar com frei Cláudio. Voltou alegre. “Ele ficou mais de uma hora conversando com o meu filho porque sabia da importância daquele animal de estimação para ele”.

O homem sem medo que lutou contra a transposição do rio São Francisco e tem opiniões contundentes sobre aborto, eutanásia em artigos que estão na internet sob críticas severas dos católicos mais ortodoxos, é considerado um revolucionário para seus fiéis. É o caso do engenheiro e empresário Carlos Roberto Vasconcelos, o Tim, que admira o frei principalmente pelo fato de ele sempre estimular as pessoas a exercer a cidadania, a refletir sobre as questões ambiental, social. Frei Cláudio batizou os filhos de tim e também seus três netos. “Ele forma, antes de tudo, um cidadão. Quando ele ficou contra a transposição do rio São Francisco, teve coragem, independência. Autêntico e sincero, tem pontos de vista muito bem definidos e exterioriza isso de uma maneira muito clara”.

José Aparecido Ribeiro: “ele propõe uma religiosidade adulta”

Talvez seja por isso que um fato inédito ocorreu com a possibilidade de frei Cláudio sair da paróquia do Carmo. Houve uma mobilização dos frequentadores para que isso não acontecesse. Foi uma mobilização, segundo os amigos, que nas- ceu da empatia do frei com os fiéis. O médico Lermino Pimenta conta, por exemplo, que tão logo conheceu frei Cláudio no final dos anos 60, ele uniu-se ao religioso em seu trabalho e foi o primeiro médico a atender nas obras assistenciais da Igreja do Carmo. para ele, frei Cláudio é mais do que um padre. “Ele atualiza a liturgia”, diz.

Sua mulher, Eliane Pacheco Pimenta, 70, reforça que essa aproximação foi porque, antes de tudo, frei Cláudio se tornou o principal representante da renovação teológica. “O tempo todo ele sempre defendeu a questão da fé como uma via de libertação da pessoa e não de seu aprisionamento”. Essa modificação traduziu-se num trabalho voluntário sem precedentes na paróquia do Carmo. São cerca de 500 voluntários e um ambulatório médico que atende cerca de 3.000 pessoas por mês. “O grande compromisso do frei Cláudio é mostrar a verdadeira face de jesus Cristo. Qualquer pessoa ligada, muito ou pouco, ao frei sente que pode contar porque ele é realmente um irmão. Ele nos faz muito bem”, completa o médico Lermino Pimenta que, juntamente a outros fiéis e admiradores, deram voz a frei Cláudio nessa matéria.