quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Interatividade

Como uma das coisas bacanas dos blogs é a interatividade. Abaixo publico o comentário feito por minha poeta favorita, Capitu, pelo ótimo comentário dela abaixo, a partir do textoDeu no NYTimes percebe-se que além de grande poeta a menina é também uma grande conhecedora do noite belo horizontina:

Capitu:
Eu precisava vir aqui e corrigir o ditado popular (entenda-se, popularmente conhecido em beagá):
"Se não tem mar, intão vão pro bar!"
(nota para leitura: é preciso carregar no sotaque)...
Mas, ainda que tenha gostado da matéria, considerando meu espírito bairrista de ser, preciso fazer alguns apontamentos: acho que o repórter precisava de um guia melhor! Tudo bem, ele foi ao Mercado Central (um ícone, todos devem ir, ainda que não gostem de fígado, muito menos com jiló). Mas, nenhuma referência ao Maleta?! Eu perdi alguma coisa? Pulei alguma parte? Porque o Maleta é essencial! Não apenas pelo fato da Cantina o Lucas ser tombada como patrimônio municipal, mas porque além de cerveja gelada (e uma carne seca ótima, podem confiar - e não é no Lucas!) tem vários sebos! E tem cada figura!...

Aliás, ninguém levou esse cara pra comer uns pastéis no Janaína? Digo, comer pastéis no Janaína às 5h da manhã (e ficam melhores no reveilón, se você estiver voltando d'AObra)!!!

E, putz, não sei se acho bom ou se lamento (afinal bêbado que se preze quer o buteco só pra ele) nunca citam o Brasil 41! Gente, o povo só fecha 30 dias no ano quando dá férias coletivas, isso depois do carnaval. E não pensem que é por causa da quaresma, porque eles reabrem na semana santa (ou melhor, nos últimos 10 dias da quaresma). Afinal, todo bom católico que jejua quer comer um bolinho de bacalhau! E onde podemos encontrar o melhor (sic) bolinho de bacalhau de Beagá? Ali, no inicinho da Avenida Brasil! Definitivamente, é o meu buteco preferido, tem pra ninguém! Porque os garçons não são mau-humorados, eles são blasés, gente! Porque é muito bebum pra pouco garçom, eles têm que propositadamente ignorar alguns (mas nós que já sabemos disso relevamos, e até levantamos e vamos até o balcão buscar a cerva).

Eu poderia ficar horas falando dos butecos de beagá, e já ia me esquecendo do Cabral (mas esse é pra quem freqüenta as bandas da federal)...

Interatividade

Como uma das coisas bacanas dos blogs é a interatividade. Abaixo publico alguns comentários interessante; primeiro sobre o texto que escrevi "Um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (periferia) é outra.
Os comentários são dos amigos Daniel e Barbi:

Daniel disse:
O comentário será por partes porque o post traz uma enormidade de temas interessantes.
Não me espanta que esta estaparfúdia declaração do Beltrame tenha sido tão pouco repercutida. Infelizmente, pra nossa mídia existe diferença entre um tiro em Copacabana e na Coréia. Enquanto uma bala perdida que vitima alguém na Barra se torna um incrível cavalo de batalha, dois homens sendo perseguidos por um helicóptero se torna atração de tv. Eram traficantes? Sim. Mas isso não so diminui como seres humanos. Em nenhum momento foi falado nada sobre a cena, triste é verdade, dos dois correndo da morte, sem sucesso diga-se de passagem. Ah, se fosse no Leblon... O Beltrame estaria desempregado hoje... Realmente um tiro na Coréia é diferente de Copacabana.
E tem razão também o ilustre governador. Aquilo é uma fábrica de bandido! Que perigo para a imaculada juventude de classe média! Tantos bandidos por perto! Ainda bem que por enquanto o crime não chegou nessa juventude. Eles ainda se divertem apenas em Lan Houses, na praia ou espancando empregadas domésticas. Ops, prostituta... Achavam que era uma prostituta... Aí sim, podia. Foi erro de alvo. Erro estratégico. Também, quem mandou a empregada parecer prosituta. A culpa no final é dela! Ah, temos de dar um desconto também porque eram jovens de 19, 20 e 21 anos... quase crianças! Sem noção de mundo. Muito diferentes desses pivetes da favela! Esses sim, marginais desde o ventre! E por falar em ventre, quer piada maior que a do ventre livre... Lei assinada à lapis.
Sobre as estatísticas de menos prisões (- 23,6%), menos armas apreendidas (-14,3%) e mais mortos (33,5%). Que beleza! Nessa toada em breve teremos prisões mais vazias! Plano a longo prazo. Choque de gestão. Seja o que for, tem sido bem sucedido. E viva o BOPE como instrumento do controle de natalidade marginal! Ah BOPE, se todos fosse no mundo iguais a você... não sobraria ninguém!
E pra terminar, sobre o ilustre Beltrame. Formado em Direito pela Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, em Administração de Empresas e Administração Pública pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Especializou-se em Inteligência Estratégica na Universidade Salgado de Oliveira e na Escola Superior de Guerra. Fez curso de Inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública e de Análise de Dados de Inteligência Policial, Sistema Guardião. Tanto tempo estudando e não aprendeu nada que preste! O desperdício de vida! (ou vidas)

"Tropa de elite osso duro de roer, pega um pega geral, e também vai pegar você!"

Rafael Barbi disse:
Essa idéia da legalização do aborto como forma de controle da criminalidade vem de alguns estudos feitos nos EUA. Quando li achei chocante, mas a pesquisa que afirmou isso na verdade tinha como fundo o fato de que sofrer maus tratos nos dois primeiros anos é um experiência que costuma a formar propenção à violência - dessa forma filhos rejeitados pelas mães tem mais chances de serem violentos e mãe com direito ao aborto têm o direito de rejeitar os filhos que não querem....

A questão é que a outras pesquisas chegaram à conclusão que fazer um serviço social funcional - ajudando mães em situação de risco a cuidarem dos filhos adequadamento - funciona do mesmo jeito.

Acho que todo mundo com algum bom senso é pró-escolha, mas advogar o aborto como uma prática de controle da criminalidade é falta de noção.

POLÍCIA! GLOBO FORÇA CHOQUE CULTURAL PARA ESTIMULAR RACISMO!

O comparsa Ricardo, me enviou a seguinte mensagem, que ele retirou do site da cedefes. É realmente muito fácil esconder nossos pré-conceitos por trás de piadinhas...
Tenho que ser honesto com Vocês, não consegui passar do minuto 2, da gravação, o PRÉ-CONCEITO É NOJENTO!!!

Companheir@s,
O vídeo da entrevista é totalmente inaceitável. O link direto para assisti-lo é http://br.youtube.com/watch?v=ySWZXekdBkw.
O título é POLÍCIA! GLOBO FORÇA CHOQUE CULTURAL PARA ESTIMULAR RACISMO!
É fundamental reagir a isso!
Tania.


De: HSLiberal [mailto:http://br.f609.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=ek@env3.carteiroxpress.com]


1. Jô Soares exercita seu habitual preconceito amparado na reengenharia neoliberal do conceito de "liberdade de imprensa".
Jô Soares passa dos limites em programa racista e pedófilo. Enviado pelo Movimento de Mulheres Negras do Rio de Janeiro, o link de recente programa do Jô Soares mostra a entrevista um sujeito que atende pelo nome de Rui Moraes e Castro, que relaciona o penteado das mulheres negras de Angola com as suas vaginas. Entre outras coisas o tal mostra um corte de cabelo, que segundo ele foi armado com bosta de boi e fala que aquela mulher quer mostrar que está "mais apertada". Em resumo: "como o negro começa sua relação sexual com seis, sete anos e essa mulher já tem 20, 21 anos ela está velha, acabada, larga".
Então ela fez uma operação no clitóris a sangue frio, com uma faca de sapateiro, e fica mais fechada. "Com esse cabelo ela está dizendo ao homem que voltou a ficar fechada e que vai dar tanto gozo ao homem como uma garota de sete ou oito anos...". Sabe o que o Jô fez? Divertiu-se a beça com a história. E continuou a entrevista com preconceitos e histórias horrorosas assim por mais uns cinco minutos. Os produtores do Jô, e o próprio, conhecem bem as regras do jogo: Não é permitida ao concessionário de sinal televisivo ou de rádio a divulgação de informação ou programação que incentive o preconceito de cor, raça ou credo.
Leia e veja o vídeo preconceituoso na revista Fórum(*).
(*) Clicando em Boletim HSLiberal você terá acesso a todos os links das fontes envolvidas nesta postagem.

Nós o GT Quilombolas Mg, divulgamos

Alguns esclarecimentos a respeito do Debate público na Assembléia Legislativa:
Debate Público: Regularização de Territórios Quilombolas em Minas Gerais

Colegas do NUQ, do Mestrado, do MAD e outros a quem possa interessar:

A organização desse evento, que consideramos importantíssimos na atual conjuntura de ataques massivos contra a questão quilombola, surgiu da iniciativa do Grupo de Trabalho Sobre Regularização de Territórios Quilombolas em Minas Gerais e da Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.

O GT Quilombolas MG, como o apelidamos surgiu da iniciativa de algumas pessoas envolvidas com a temática quilombola em Belo Horizonte, e ainda devido a seu relativo curto tempo de existência (cerca de cinco meses), somos um grupo ainda bastante pequeno hoje (12 pessoas), que atuam com essa temática seja no âmbito profissional, acadêmico ou militante. Na verdades esses âmbitos se confundem e fundem na perspectiva com a qual pensamos o grupo. Por fim o grupo não tem nenhuma vinculação política, religiosa, acadêmica, formal ou profissional com qualquer outras entidades; o grupo é a somatória de indivíduos com interesses em comum e que principalmente acreditam que ainda é possível tornarmos o Estado brasileiro mais justo e democrático e de que as políticas de caráter diferencialistas são o caminho mais efetivo para uma busca de eqüidade (e não de uma igualdade que busca unificar a todos, sempre a partir da concepção do grupo dominante) e justiça social. Posteriormente estaremos divulgando uma carta de princípios, onde nossas posições ficarão mais claras. Essa mensagem é mesmo para reforçar o convite ao evento que acontecerá na Assembléia e esclarecer os "nortes" nos quais o mesmo foi pensado:

Sobre o evento em si, o mesmo tem uma limitação de tempo, ocorrerá em um dia; então não podemos trazer todas as pessoas que imaginávamos e considerávamos importantes nesse processo;

O Debate foi pensado para ser um momento, em que possamos discutir de forma efetiva com as diferentes esferas públicas e permitindo o protagonismo nessa discussão aos próprios quilombolas, os caminhos, ou seria melhor, os descaminhos dessa questão em nosso Estado. Dessa forma, o evento foi pensado para ser, de certa forma, mais "burocrático" . E seu intuito final é discutir questões vitais para as populações quilombolas. Queremos ir direto onde o "bicho pega", ou seja, na questão legal e na delimitação territorial.

O Encontro foi por nós organizado pensando em responder aos seguinte pontos principais:


- apresentar a legislação federal e mostrar o avanço das mesmas e o por que elas devem, se for o caso, ser aprimoradas e não revistas; isso acreditamos irá acontecer nas palestras de abertura com a presença do Professor Alfredo Wagner (nossa maior autoridade acadêmica no assunto) e com a Dra.Deborah Duprat, coordenadora da Câmara de Minorias do MPF;

- depois trazer experiências estaduais positivas, o caso de São Paulo, Pará, Maranhão; afinal a intenção é que pós esse evento, Minas faça o mesmo; a ser mediada por outro grande especialista na questão o Professor José Augusto Laranjeiras (Guga), coordenador do GT sobre Quilombos da Associação Brasileira de Antropologia;

- montamos também uma mesa que funcione como um momento de cobrança. E nesse sentido colocamos técnicos envolvidos com a questão em Minas para que eles ouçam e possam se explicar em relação a essa temática; nessa mesa e aí incluímos os poderes legislativo, judiciário, executivo, Incra e Inter -MG e outros;

- e por fim apresentarmos a idéia de um Projeto de Lei (PL) que estamos elaborando e que será debatido por todos os parceiros interessados e principalmente pelos quilombolas, que são os sujeitos primordiais dessa legislação; acredito que no mais tardar terça-feira que vem tornaremos público a primeira versão desse PL, que será encaminhado para os debates entre as lideranças quilombolas. Esperamos a contribuição crítica dos que tenham interesse na questão. E principalmente a presença de todos para debatermos o tema.

Por fim, quero lembrar que tal evento só foi possível por que recebemos o pronto apoio da Comissão de Direitos Humanos, através do Gabinete do Dep. Durval Ângelo. Dessa forma estamos conseguindo trazer pelo menos 80 quilombolas de todo o estado, e conseguimos junto a Assembléia três ônibus e a garantia de alimentação para cerca de 100 quilombolas e participantes do evento, além de passagens aéreas e hospedagem para pessoas virem do Maranhão, Amazônia, Pará, etc.Sem o auxílio da Assembléia não seria possível organizar um evento com tantos gastos. Ainda que não seja o encontro ideal devido ao curto prazo entre a organização do mesmo e sua execução, ou seja, cerca de 30 dias, esperamos que o mesmo cumpra seu intuito e coloque na ordem do dia para os poderes públicos mineiros a questão quilombola e as sucessivas violações dos direitos pelos quais essas populações vêm passando.




Debate Público
Regularização de Territórios Quilombolas em Minas Gerais
Data: 30/11/2007
Proposta de Programação
Horário: 8h30 às 16h30
Manhã
- Abertura
- Exibição do vídeo "Serrote do Gado Brabo", da professora Dra. Vânia Fialho
- Os quilombolas: direitos territoriais e legislação
Coordenador: Deputado Durval Ângelo
Debatedor: Francisco Cordeiro Barbosa – Presidente da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais
Palestrantes:
  • Dr. Alfredo Wagner Berno de Almeida - Professor da Universidade Federal do Amazonas
  • Deborah Macedo Duprat de Brito Pereira – Subprocuradora geral da República e Coordenadora da 6ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal (populações indígenas e minorias étnicas) (a confirmar)
- Intervalo
- Mesa 1: Experiências positivas em outros estados
Coordenador: Deputado Durval Ângelo
  • José Carlos Galiza – Programa Raízes – Pará
  • Carlos Henrique Gomes Instituto de Terras de São Paulo – São Paulo
  • Ivo Fonseca – Assessor para Comunidades Quilombolas Tradicionais da Secretaria Adjunta da Igualdade Racial do Maranhão (a confirmar)
  • Prof. Dr. José Augusto Laranjeiras Sampaio – Universidade do Estado da Bahia/ Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Quilombos da Associação Brasileira de Antropologia
Debates (palestrantes da abertura também responderão as perguntas).
Almoço
Tarde
Mesa 2: Comunidades quilombolas no Estado de Minas Gerais: desafios e perspectivas
Coordenador: Deputado João Leite
  • Gilberto Coelho de Carvalho – Diretor da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais e representante da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
  • Gustavo Gorgozinho – Defensoria Pública de Minas Gerais (a confirmar)
  • Vanessa Costa Cançado – Antropóloga do Incra (a confirmar)
  • Prof. Dr. João Batista de Oliveira Costa – Universidade Estadual de Montes Claros
Debates
Intervalo
Mesa 3: Possibilidades de regulamentação e legislação para o Estado de Minas Gerais
Coordenador: Deputado Luis Tadeu Leite
  • Sandra Maria da Silva – Diretora da Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais e representante da Coordenação Nacional das Comunidades Quilombolas
  • Carlos Eduardo Marques – Grupo de Trabalho sobre Regularização de Territórios Quilombolas em Minas Gerais
  • Luiz Chaves – Diretor do Instituto de Terras de Minas Gerais
  • Marcos Helênio – Superintendente do INCRA-MG
  • Adailton Ramos do Nascimento – Procurador da República (a confirmar)
  • Marcos Paulo de Souza Miranda – Procurador do Estado de Minas Gerais (a confirmar)
  • Profa. Mariza Rios – Faculdades Dom Hélder Câmara
Debates
16h30 – Encerramento
17h - Apresentação da Guarda de Congado da Comunidade dos Arturos, no Hall das Bandeiras. (a confirmar)

terça-feira, 30 de outubro de 2007

A papagaiada de Zurique

A papagaiada de Zurique
Terça-feira, 30 de outubro de 2007


O anúncio da Fifa de que o Brasil será sede da Copa do Mundo de 2014 foi um espetáculo, como já era de se esperar, constrangedor.

Competindo contra ninguém, a CBF levou seu trem da alegria para Zurique - cheio de governadores e cartolas, mas sem representantes da conquista de seu último título mundial.

O patético discurso de Lula, que começou com uma piada desnecessária sobre Romário e terminou com uma provocação fora de lugar à Argentina - que não tinha absolutamente nada a ver com o evento de hoje -, combinou perfeitamente com a papagaiada de Zurique.

Enquanto a imprensa da cobertura oficial abre as portas para um oba-oba desmedido, é possível contar nos dedos quem cumpre o papel de fiscalização que cabe ao jornalista.

Na coletiva de Ricardo Teixeira, os repórteres brasileiros foram a horda de puxa-sacos de sempre. Coube aos estrangeiros o papel de fazer perguntas que colocassem o dirigente em dificuldade.

Leia mais na coluna "Enchendo o Pé", por Cassiano Gobbet:

http://www.trivela.com/index.asp?fuseaction=Blog&id_secao=50&id_codigo=12765

Nossa é o escambau

Da coluna Radar/ Enchendo o pé do site Trivela. O autor do texto que não é assinado falou tudo. Pena que mais uma vez a imprensa, de modo geral, fará o papel de promotora do evento;

Nossa é o escambau
30/outubro/2007

Se em algum dia houve a crônica de uma morte anunciada, além do livro do colombiano Gabriel García Márquez, foi a escolha do Brasil para sediar a Copa de 2014. Hoje veio a confirmação, mas o acordo já tinha sido tecido nos bastidores e com a conivência de quase todos os envolvidos.

O Brasil receberá a Copa e terá um gasto de mais de US$ 10 bilhões. O discurso oficial é o de que a verba sairá da “iniciativa privada”. Não sairá. Não se iluda. Quem pagará a conta da farra do boi de 2014 é você que trabalha e paga seus impostos. Ou você acha que alguma empresa bondosa é que enfiará a mão no bolso para modernizar Maracanã ou Mineirão? E o Morumbi?

O Brasil tem um IDH (índice de desenvolvimento humano, um ranking de qualidade de vida) menor do que o da Malásia, Barbados e Panamá. O Rio de Janeiro tem uma taxa média de assassinatos de 50 pessoas a cada 100 mil habitantes por ano (em algumas áreas, o valor é cinco vezes maior, similar à zonas de guerra no Iraque). São Paulo tem índices similares. E ainda assim, você foi obrigado a ouvir Ricardo Teixeira afirmar que a violência no Brasil é ‘equivalente’ à de qualquer grande cidade, sem nenhum jornalista contestá-lo.

Hoje, em Zurique, a Fifa assinou um cheque em branco e o deu nas mãos da CBF, que certamente saberá fazer bom uso – em benefício próprio, claro – do presente. A corte dos políticos à entidade é um sinal inequívoco de como o torneio será alimentado com a sangria dos cofres públicos.

Seguramente, críticas à realização de uma copa do mundo não fazem amigos. O torcedor quer mais é ter um torneio tão sensacional assim acontecendo ao lado da casa dele. E quem critica é ‘inimigo’. Basta ver que a quantidade de tomadas de posição públicas contra a Copa do Mundo no país. Justamente por isso você tem de ver esse ‘entusiasmo’ com o evento por parte de um jornalista que, na coletiva em Zurique, se preocupou em perguntar se 2014 será a “Copa do Povo”, fazendo corar de vergonha até o puxa-saco mais profissional.

Muita gente que se chama de ‘independente’ ajudou a banda da CBF a passar o projeto da Copa. São as mesmas pessoas que continuarão indo a programas de TV ou a comícios para falar em “democracia” e “honestidade”. É o que o escritor Daniel Goldhagen chamava de ‘os carrascos voluntários de Hitler’: gente que não sujou as mãos nos campos de concentração, mas teve responsabilidade na matança. Grave as carinhas doces das atrizes fofas e dos jornalistas engraçadalhos que encamparam a idéia oficial. Quando, no futuro, alguém abrir o bueiro das contas da Copa, esses aí terão uma boa parcela de culpa.


http://www.trivela.com/index.asp?Fuseaction=Radar&id_secao=34&id_codigo=16339

Para divertimos um pouco

DIFERENTES MANEIRAS DE CONTAR A MESMA HISTÓRIA NA IMPRENSA


Chapeuzinho Vermelho na imprensa


JORNAL NACIONAL
(William Bonner):
'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por lobo na noite de ontem...'.
(Fátima Bernardes):
'... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.

PROGRAMA DA HEBE
(Hebe Camargo):
'... que gracinha gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'

BRASIL URGENTE
(Datena):
'... onde é que a gente vai parar, cadê as
autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da vovozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público!
E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador'.
Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.

ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

AGORA
Sangue e tragédia na casa da vovó

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte)
Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada,eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa'

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte)
Veja o que só o lobo viu.

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador)
Lenhador mostra o machado

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! mito ou verdade ?

DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.



Ataque aos direitos humanos

Minha amiga, Aurea é que tem razão estamos lascados, como essa onda conservadora que vem assolando o país, sob o falso argumento de uma melhoria da segurança pública. Abaixo a mensagem da Aurea.

nós tamo é lascado!



A semana - 29/10/2007 14h09

Segurança vota plebiscito sobre redução da idade penal

A Comissão de Segurança Pública e Combate ao crime Organizado se reúne na quarta-feira (31) e pode votar, entre outras propostas, o Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 129/07, do deputado Manato (PDT-ES), que prevê realização de plebiscito para definir a maioridade penal. Conforme o projeto, os eleitores opinar pela manutenção da idade atual (18 anos) ou reduzi-la para 14, 15 ou 16 anos.

O relator, deputado Marcelo Almeida (PMDB-PR), apresentou substitutivo que altera a data do plebiscito, fixada no projeto para o dia 7 de outubro, que já passou. O relator propõe a realização da consulta junto com a primeira eleição nacional depois da aprovação do projeto.

Escuta telefônica
Também está na pauta o PL 1087/07, do deputado Laerte Bessa (PMDB-DF), que garante acesso de delegados de polícia a dados cadastrais de órgãos públicos e aos sinais de serviços telefônicos para localização de vítimas, mantidas em cativeiro, ou de criminosos. O relator, deputado William Woo (PSDB-SP), apresentou parecer favorável.

Porte de arma
A comissão também pode votar o PL 1214/07, do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que dispensa os integrantes das Forças Armadas, das polícias federais, estaduais e do Distrito Federal e também os militares dos estados e do Distrito Federal de apresentar documento de porte de arma quando munidos da respectiva identidade funcional. O relator, deputado Laerte Bessa (PMDB-DF), apresentou parecer favorável ao projeto, com emenda de sua autoria. Conforme essa emenda, a identidade funcional deve conter a autorização para porte de arma de fogo.

A reunião será realizada às 14 horas, no plenário 6.

Da Redação/WS

(Reprodução autorizada desde que contenha a assinatura 'Agência Câmara')

Agência Câmara
Tel. (61) 3216.1851/3216. 1852
Fax. (61) 3216.1856
E-mail:http://br.f609.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=agencia@camara.gov.br

Convocação

Olá Companheiros (as),


O Brasil inteiro está se organizando para marchar no 20 de Novembro e fazer ouvir a voz do POVO de Zumbi. Em Salvador realizam-se 4 marchas - Marcha da Conen, dos religiosos,dos blocos e outras, etc, e que este ano serão unificadas e mais de cem mil pessoas vão as ruas. Em São Paulo está sendo realizada a 4ª Marcha e lá é feriado como em mais de 30 cidades importantes de Paulo. No Rio é feriado e o no RS será realizada a marcha também.
E Minas ? Vai se calar ou vai se juntar nos seus diversos segmentos e, unida , somar a sua voz à do resto deste País que muito deve a ZUMBI. Precisamos fazer do 20 de Novembro feriado nacional, dia de todos os brasileiros (as).
Assim, convidamos a todos (as) para reunião dia
31/10/07 (quarta feira) às 17:00 hs na sede da FCRCN - Rua da Bahia 360 - Sala 1102, quando serão tratados os seguintes assuntos :

- Avaliação da segunda Assembléia Nacional do CONNEB realizada em São Paulo
- 20 de Novembro ! MARCHEREMOS ? Qual a programação prevista na cidade ? Sabemos que estão acontecendo várias reuniões na cidade e isso é muito bom, mas precisamos avaliar o que damos conta de realmente fazer neste momento no sentido de visibilizar a agenda política do Movimento Negro.

Atenciosamente,

Marcos Antonio Cardoso - Coordenação Política do Congresso Nacional Negras e Negros do Brasil
Cleide Hilda - Coordenação da CONEN

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Poesia para toda parte

Poesia para toda parte pretende ser uma seção desse blog. Afinal sem poesia somos incompletos.

Hoje mais uma vez nossa poeta favorita, Capitu

Sexta-feira, 19 de Outubro de 2007

não sei o que dizer desses dias tortos
em que eu me perco em encontrar
no quanto mais sinto de mim menos sei
no quanto mais penso mais

mais de não saber
mais de querer
mais de temer
um mais de pânico

esses dias tortos que parecem passar sufocantes
que parecem causar tremores
horrores

esses dias vão passando
os dias
a sanidade passa com os dias
trepido em temores

porque hoje mais sei de manhã e menos sei dos certos
hoje mais quero o jasmim
e o engasgo que vem só pode ser do querer do jasmim

do longe do longe
que espera passar os dias para sentir
no longe que está que não pode tocar
as mãos e os lábios e o cabelo
e tudo e tudo
tão longe logo ali

que tem que esperar
passar os dias
passam
lentos longos quentes
passam trepidantes ensurdecedores
passam chuvas

e o querer do ter
a vontade de estar na presença
o sentir querer

esse sufoco na garganta
dos dias que passam e não passam
porque chega 5 mas não chega 15
porque queria 15 mas não queria 5

e tem que ser

Uma bela matéria do blog comparsa desse, chamado BLOG VERMELHO DO HIP HOP

19 Agosto 2007

Hermano Vianna e o Costa a Costa

O kamarada Hermano Vianna (autor do Mundo Funk Carioca, que foi uma fonte muito importante pro Livro Vermelho do Hip Hop) publicou um artigo interessante no Overmundo, falando sobre as impressões dele em cima da mixtape do Costa a Costa, de Fortaleza. No meio do texto, ele enfiou várias referências pra umas coisas que tem lido sobre o rap do sul dos EUA. Muito bacana. Chega mais e conhece aí também o Overmundo, bela experiência na internet. Até os comentários são ótimos...

posted by BLOG VERMELHO DO HIP HOP 2:19 PM

Algumas considerações sob o post abaixo

Alguns dias mandei para alguns amigos e colegas das ciências sociais, um texto do professor Otávio Velho, que eu dizia ser no mínimo polêmico, pois não é que tinha razão. O posto abaixo revela as reações a fala do Prof. Otavio Velho na ANPOCS, que refletem o texto. Para os não iniciados, a ANPOCS é a Associação Nacional Pós-graduados em Ciências Sociais.

No post abaixo uma entrevista e o relato da ANPOCS feito pelo jornalista Chico Otavio ao Jornal o Globo, o mais interessante pelo relato é a imaturidade dos cientistas sociais brasileiros para o debate. Parece que o nosso mito de universalidade abarca até mesmo o campo do debate. Parece não ser possível a convivência de diferentes formas de pensar. Esse é um dos motivos penso Eu, que levaram os professores Viveiros de Castro e José Jorge a criticar as estruturas dos eventos acadêmicos brasileiros.

De qualquer forma, segundo o jornalista a questão das ações afirmativas e das cotas "dividiu" a antropologia brasileira, não sei por que isso é visto de forma negativa?

Ademais é tão estranho ver cabeças coroadas das ciências sociais brasileiras repetir tantas vezes o senso comum, em respeito as políticas afirmativas, e pior ainda como algumas dessas pessoas desconhecem a força de vários movimentos sociais, traduzindo as ações afirmativas em política de governo, ora se hoje essa é uma política de governo, e tenho minhas dúvidas, foi porque movimentos pró-ações afirmativa se fizeram ouvir a partir da sociedade civil e não o contrário.

Parece-me que o desejo, de um colega da pós, de ter indíos como colegas ainda terá um caminho bastante longo. Os indíos, bem como quilombolas por enquanto, na maioria das vezes, são somente os sujeitos de pesquisa. E olhe que ter os índios como sujeitos de pesquisa já é uma vantagem, pois muitos ainda os tem como objeto de estudo.

'A nação explodiu'

Corpo A Corpo - Otávio Velho
O GLOBO 28/10/2007
'A nação explodiu'

€ Da Ilha de Paquetá, onde mora, o antropólogo Otávio Velho protagoniza o debate sobre a trajetória da antropologia brasileira. Sem medo das reações, ele afirma que a nação explodiu.

O GLOBO: O que está acontecendo com a antropologia brasileira?
OTÁVIO VELHO: A antropologia brasileira é um grande sucesso. Uma das antropologias no mundo que mais avançaram em termos de estudo da sociedade.
Um prestígio fora do comum. Essa fórmula colaborou na construção de certa imagem do que seja o Brasil. Mas o que representou sucesso pode ser uma armadilha: repetir a fórmula que deu certo e não se dar conta de um novo modo de pensar a antropologia. O que sugiro é que essa construção de nação, hoje, se mostra restrita para dar conta de toda a diversidade que está se multiplicando de maneira vertiginosa para além das fronteiras do que imaginávamos ser a nação brasileira. A nação explodiu.

€ Como os antropólogos devem agir agora?
OTÁVIO: Não podemos mais propor uma unidade do que seja Brasil, postulada a priori. Não podemos mais domesticar a realidade. Esta vontade de enxergar o conjunto não pode mais ser confundida com a vontade de aplicar um modelo preconcebido.

€ O que de fato está acontecendo no país?
OTÁVIO: Estou aberto a enxergar tudo o que ocorre sem tachar, de antemão, de estranho e ilegítimo aquilo que não de encaixa na idéia que tínhamos sobre Brasil. Tinha mos, por exemplo, uma idéia de que os índios estavam restritos à Amazônia, como índios isolados, que pouco influenciavam no conjunto da vida nacional. Mas hoje te mos grupos que se consideram indígenas pipocando em todo país, alguns deles inclusive urbanos. índios no Nordeste e índios até no Sul, que era considerada uma região de colonização européia. Os quilombolas também surgem em todo o país. Essas manifestações são surpreendentes, embora vistas como estranhas e falsas.

€ Vistas assim pelos seus próprios colegas...
OTAVIO: É curioso, porque o cientista social sabe que toda realidade social é construída. A pergunta que faço é: por que aceitamos este princípio geral de que a nação é uma construção histórica e, quando nos deparamos com estas construções de identidade indígena ou quilombola, não aceitamos? Não vamos aceitar só porque não cobrem uma visão que tínhamos de Brasil? A idéia que tínhamos de um Brasil mestiço não pode ser utilizada para não enxergarmos fenômenos que escapam desta imagem.

€ O ponto mais crucial do debate interno é mesmo, a política de cotas
raciais?
OTÁVIO: Esse debate tem si do interessante justamente porque dividiu a antropologia brasileira. Mas não é só ela. Fomos obrigados, a meu ver, a fazer uma discussão produtiva a respeito das representações que tínhamos de Brasil, questionando até que ponto este papel da antropologia na construção de certo tipo de imagem de Brasil continua sendo produtivo para o fazer antropológico. Hoje, temos de ser capazes não só de introduzir como objeto de nossos estudos, mas também como interlocutores, novos atores sociais, como, por exemplo, os chamados movimentos sociais, que questionam os limites da nacionalidade. A quebra de consenso entre os antropólogos, embora
dolorosa, no longo prazo pode ser produtiva. (Chico Otavio)

------------ --------- --------- --------- --------- --------- --------- ---------

Idéia de que a nação, tal como foi pensada em 30 anos, acabou provocou
Chico Otavio
Enviado especial

€ CAXAMBU (MG). Na subida da Serra da Mantiqueira, no ônibus que o levava a Caxambu, um grupo de jovens antropólogas brincava de fazer perguntas mútuas.
Somava pontos aquela que conseguisse "construir um consenso". Horas depois, elas chegavam ao 31º Congresso da Associação Nacional de Pós=Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs). E, no debate para valer, tudo aquilo que elas e seus colegas não conseguiram fazer na estação das águas mineira foi construir consensos. No ano em que a Anpocs comemora o 302 aniversário, a antropologia enfrenta uma profunda crise, que opõe duas correntes em torno das novas formas de se pensar a formação da nação.

Logo no primeiro dia do congresso, que reuniu cerca de 1.500 antropólogos, sociólogos e cientistas políticos, um polêmico discurso pôs lenha na fogueira. Professor emérito da UFRJ e vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o antropólogo Otávio Velho anunciou que a nação, tal como fora pensada nos últimos 30 anos, havia acabado. Disse que a antiga fórmula de pensar o país, razão do prestígio que a antropologia brasileira alcançou, tornou-se aos poucos uma armadilha para os cientistas, por não levar em conta "a diversidade que se multiplica de forma vertiginosa pelo país".

Na ditadura, idéia era oferecer resistência à militarização

Otávio Velho se referiu ao modelo de nação elaborado pela antropologia
durante a ditadura militar. Na época, a idéia era oferecer resistência à
militarização e, ao mesmo tempo, entender as profundas distâncias sociais na formação nacional. Para pesquisadores como Darcy Ribeiro, as três matizes étnicas (índios, negros e brancos), ao mesmo tempo em que se enfrentavam, se fundiam, fazendo surgir uma nova estrutura social no Brasil. Era, de certa forma, a aposta do mito da universalidade. Segundo Velho, a fórmula agora está restrita demais para dar conta das novas representações sociais, como gays, quilombolas e índios destribalizados, cuja existência "foi além das fronteiras que imaginávamos ser a nação".
A reação não tardou. No dia seguinte, antes de iniciar sua apresentação sobre segurança, a antropóloga Alba Zaluar, da UERJ refutou a provocação:
- Como Otávio pode dizer que a nação acabou e, agora, só restam os
indivíduos, atomizados? Continuo elegendo os meus representantes, pagando as minhas contas e aturando os serviços públicos, como qualquer brasileiro.
Portanto, temos ainda uma nação. A construção da nação não terminou.
A crise começou há dois anos, quando uma corrente liderada pela antropóloga Yvonne Maggie, da UFRJ, lançou manifesto contra a Lei das Cotas Raciais. Em linhas gerais, dizia que o Estado não poderia assumir o papel de definidor da cor da pele, porque a última experiência mundial de diferenciação de pessoas pela cor ocorrera na Alemanha nazista.
Imediatamente, Velho encabeçou outro manifesto para dizer que "a igualdade universal dentro da República não é um princípio vazio, e sim uma meta a ser alcançada".
- Este evento dividiu, de fato, os antropólogos. Numa categoria que se
orgulhava de ter sido a ciência que criticou o conceito de raça na política social, é estranho ver colegas defendendo este projeto - diz Yvonne.
Para evitar o pior, foram excluídos do evento, encerrado quinta-feira,
palestras e seminários que pudessem intensificar a crise ao discutir a
revisão do conceito de nacionalidade. Participantes contaram que a cisão chegou ao ponto de antropólogos virarem a cara para colegas nos corredores do Hotel Glória de Caxambu, sede do evento.
- Não estaria embutida neste projeto de revisão da nacionalidade uma
posição orquestrada por determinado partido político? provocou.
A professora Mirian Grossi, da Universidade Federal de Santa Catarina,
prefere não falar em crise na antropologia. Para ela, o projeto de nação não acabou:
- O que acabou foi a idéia de unidade cultural, durante muito tempo o
pensamento social brasileiro.

Pesquisa: livros didáticos têm erros sobre a África

Mensagem interessante que recebi e compartilho com Vocês

Pesquisa: livros didáticos têm erros sobre a África

Um pesquisa realizada no Departamento de História da Universidade de
Brasília (UnB) com base em livros didáticos sugere que o ensino da
história da África e ainda está longe do ideal. Segundo as conclusões
do estudo, os livros didáticos exercem papel importante na manutenção
de um estereótipo de caos social e econômico predominante na África.

Durante dois anos, o historiador Anderson Oliva analisou capítulos
específicos sobre a história da África anterior ao século XIX em
manuais escolares destinados aos quatro últimos anos do ensino
fundamental (5ª a 8ª séries). Das oito obras, quatro fazem parte da
lista que o Ministério da Educação (MEC) indica para as escolas
públicas e outros quatro são adotados por escolas privadas.

De acordo com Oliva, os principais problemas estão
nas "simplificações e generalizações que recaem em erros". Com isso,
segundo o pesquisador, mantêm-se as idéias e imagens sobre o
continente e suas populações, além de reforçar a crença de que a
África não possui relevância para a história da humanidade.

No levantamento, um dos problemas mais apontados é a divisão do
continente ao sul do Saara em apenas dois grandes conjuntos de
povos. "Séculos de história e centenas de grupos étnicos são
identificados apenas como os bantos e os sudaneses", exemplifica.

A tese afirma que essa divisão erra ao utilizar unicamente o critério
das línguas faladas na região em questão. "É como se tratássemos toda
a América Latina como uma sociedade igual", compara o pesquisador.
Para ele, uma alternativa a tal critério seria evidenciar as
complexidades e diversidades da África Negra, como referências às
centenas de grupos étnicos que podem ser encontrados ao longo dos
séculos.

Visão "Eurocêntrica"

De acordo com o levantamento realizado por Oliva, entre os livros
analisados, o número de páginas destinadas à história da África é
significativamente menor que o de outros assuntos. Os capítulos que
tratam de temas como Europa Medieval, Absolutismo Monárquico,
Renascimento Cultural e Construção do Pensamento Moderno Ocidental
ocupam entre 15 e 20 páginas e vasta bibliografia.

Já a história da África é, quase sempre, abordada em um único
capítulo que varia de 10 a 15 páginas, e com uma literatura de apoio
restrita, alerta Oliva. "Isso mostra que o ensino da disciplina ainda
segue a visão `eurocêntrica` ."

Apesar de todos os livros analisados serem novos - foram editados
entre 1998 e 2000 - a pesquisa identifica um distanciamento entre os
conteúdos dos manuais e a recente produção historiográfica. Para o
estudo, isso demonstra "continuidade dos olhares coloniais".

Oliva destaca ainda um outro problema: o fato de o Brasil ter poucos
cientistas que estudam a história, a arte ou a literatura daquele
continente.

Legislação

Oliva faz ainda ressalvas à funcionalidade da Lei 10.639/03, que
tornou obrigatório o ensino da história da África e dos afro-
brasileiros na educação básica. Segundo ele não foi implantada uma
política específica para preparação de professores.

"Nem todas as universidades oferecem disciplinas sobre o tema em
cursos de graduação para os professores. E algumas das que oferecem,
não o fazem dentro do currículo obrigatório, apenas como disciplina
optativa."

Onde o Brasil acerta

Em meio aos erros, algumas iniciativas foram elogiadas pelo
historiador. Ele afirma que muitos autores de livros didáticos
optaram por não utilizar imagens de negros escravos.

Outros ainda chamam a atenção dos alunos para as representações
feitas dos africanos pelos europeus: a mudança da fisionomia dos
africanos, de seus gestos, roupas e comportamentos, que recebem
feições européias.

Ou ainda destacam aspectos dos padrões artísticos, sociais, políticos
e as visões de mundo de algumas sociedades africanas, permitindo aos
alunos criar uma intimidade maior com o continente.

E o pesquisador vê com otimismo os rumos desse segmento. De acordo
com Oliva, editoras brasileiras têm se esforçado para fazer uma
abordagem maior sobre o assunto. Já foram feitos livros
paradidáticos, uma espécie de complemento aos livros que possuem
falhas no tema. "É uma forma de preencher a lacuna de anos na
educação, mas ainda não é o ideal", reconhece Oliva.

Deu no NYTimes

O Colega, amigo e comparsa nas questões afins desse blog Ricardo, me mandou o seguinte texto.
É verdade "Em Belo Horizonte , o mundo é um bar."


28/10/2007
Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar

De Seth Kugel

Belo Horizonte , a capital de Minas Gerais, conseguiu se tornar a terceira
maior cidade do Brasil e continuar quase totalmente desconhecida para o
mundo exterior. Se os turistas —mais atraídos para os prazeres sensuais do
Rio de Janeiro ou a agitação urbana de São Paulo— a conhecem é porque passam
por ela a caminho de Ouro Preto e Diamantina, vendo-a mais como uma escala
para reabastecimento na rota das pitorescas cidades mineiras da era
colonial.

Lalo de Almeida / The New York Times



A tradicional parede com marcas de cachaça, para a escolha do cliente, em
bares de BH



Seu anonimato internacional se explica pela falta de litoral, e portanto de
praias, de um carnaval famoso e de grandes atrações, exceto alguns edifícios
desenhados por Oscar Niemeyer que empalidecem perto de suas famosas obras de
Brasília.

Mas "Beagá", o apelido da cidade, pode reivindicar fama como capital
brasileira dos bares. Não bares como nos saguões elegantes de hotéis ou em
mercados agitados, mas botecos —lugares informais onde diversas gerações se
encontram, se sentam, bebem cerveja e aguardente e muitas vezes fazem uma
refeição informal. A se acreditar na propaganda local, a cidade tem 12.000
bares, uma quantidade per capita maior que a de qualquer outra cidade do
país. Por quê, ninguém tem certeza absoluta, mas uma teoria se transformou
em ditado popular: "Não tem mares, tem bares".

Embora os guias turísticos raramente os mencionem, eles são uma ótima
maneira de os viajantes mergulharem na vida social de uma cidade cuja área
metropolitana explodiu nas últimas décadas, para mais de 5 milhões de
habitantes. A melhor época de visitá-la é em abril, para a competição
'Comida di Buteco', quando cerca de 40 dos melhores bares disputam prêmios
em categorias como higiene, cerveja mais gelada, serviço e, principalmente,
o melhor tira-gosto. Os vencedores são decididos não apenas por juízes, mas
pelo voto público, dando aos moradores uma boa desculpa para sair todas as
noites durante um mês.

Se você perder o concurso, não se preocupe. Toda noite do ano parece ter uma
clima de festa em Belo Horizonte. Vá até a Mercearia Lili (rua São João
Evangelista, 696, Santo Antônio, 31-3296-1951), um participante habitual da
competição entre bares. É um dos muitos locais em Santo Antônio, um bairro
de alto nível, com ladeiras íngremes que exigem técnicas sobre-humanas de
estacionamento, ou, de preferência, use os táxis da cidade.

O bar é típico de muitas maneiras, a começar pelo mobiliário: mesas e
cadeiras de plástico amarelo com logotipo de cerveja, que se esparramam pela
calçada (garrafas de 600ml de cerveja, a ser compartilhada em pequenos
copos, são as preferidas em toda a cidade). O burburinho da conversa e o
ruído das garrafas -e não um DJ- fornecem a trilha sonora; homens e mulheres
grisalhos e jovens que nos EUA seriam menores de idade compartilham as
mesas.

Não muito longe fica o Via Cristina (rua Cristina, 1203, Santo Antônio,
31-3296-8343). É mais elegante, com mesas cobertas de toalhas xadrez verde e
brancas, garçons uniformizados e uma parede de cachaças —centenas de
garrafas diferentes da aguardente de cana-de-açúcar— que os barmen alcançam
usando uma escada como as de bibliotecas. Sua participação no concurso deste
ano foi o Raulzito, um bolinho frito recheado de carne-seca que custa R$
2,00.

Se houvesse um prêmio pelo "Mais Difícil de Chegar", o Freud Bar (sem
endereço, Nova Lima, 31-8833-9098, mapa em freudbar.com) ganharia todos os
anos. O lugar fica escondido no meio de uma mata perto da cidade, e chega-se
lá por uma estrada sinuosa de terra. O bar é construído num morro, aquecido
por lareira e tem algumas mesas sob as árvores. Tem música ao vivo (blues e
rock) e serve um cardápio limitado, mas criativo, como vinho quente ou uma
sopa de abóbora, mussarela e frango (R$ 3,50), uma boa variação da sopa de
feijão com toucinho oferecida em quase todos os botecos.

Lalo de Almeida / The New York Times

Informal, com suas mesas e cadeiras 'diferenciadas', o Bar do Caixote é um
dos muitos botecos de 'Beagá'

Os botecos não são apenas assuntos noturnos, como você descobrirá se for ao
Mercado Central da cidade numa tarde de fim de semana. Claro, há barracas
que vendem frutas, carne, os famosos queijos de Minas, cães e aves vivos
(para mascotes) e galinhas vivas (para jantar). Mas o mercado também é cheio
de bares lotados e barulhentos como o Lumapa, onde as autoridades precisam
cercar com correntes a calçada para que os clientes do mercado possam
circular. Uma opção mais calma é o Casa Cheia (Mercado Central, loja 167,
Centro, 31-3274-9585), um lugar com mesas que serve criações como o
Mexidoido Chapado, uma mistura de arroz, legumes, quatro tipos de carne e
ovos de codorna.

Também vale a pena ir aos bairros mais distantes para ver algumas versões
mais excêntricas de bares. (Com 11.999 concorrentes, faz-se o possível para
se destacar.) O ultra-informal Bar do Caixote (rua Nogueira da Gama, 189,
João Pinheiro , 31-3376-3010) tem mesas e cadeiras feitas de caixotes de
madeira. O vencedor geral do concurso deste ano, o Bar do Véio (rua Itaguaí,
406, Caiçara, 31-3415-8455), fica num bairro distante e o motorista de táxi
pode ter dificuldade para encontrá-lo, mas qualquer pessoa na região poderá
lhe indicar. Seu prato simples de pedaços de carne de porco com bolinhas
douradas de batata frita, servido com molho de abacaxi e hortelã, foi o
tira-gosto vencedor de 2007.

Quando você precisar de um descanso dos bares, faça um passeio à tarde ao
bairro da Pampulha, onde há vários edifícios de Niemeyer, incluindo sua
famosa Igreja de São Francisco de Assis. O bairro também abriga o mais
famoso restaurante de Belo Horizonte , o Xapuri (rua Mandacaru, 260,
Pampulha, 31-3496-6198), o melhor da cidade para experimentar a tradicional
cozinha 'caipira' de Minas Gerais. E no domingo de manhã você pode encontrar
presentes incomuns na 'feira hippie' (ou Feira de Arte e Artesanato da
Afonso Pena), dois longos quarteirões da avenida Afonso Pena cheios de
roupas, jóias, artigos de decoração e artesanato. Quando terminar, pare nas
barracas nas duas extremidades para comer peixe frito ou doces de coco, ou
entre para descansar no maravilhoso Parque Municipal, logo abaixo da feira.
Em qualquer um deles você não estará longe de um vendedor ambulante pronto
para lhe abrir uma lata de cerveja. Em Belo Horizonte , o mundo é um bar.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/

domingo, 28 de outubro de 2007

O oportunismo aborteiro de Sérgio Cabral

Sobre a nota que fiz a respeito das declarações das "autoridades" cariocas. Abaixo reproduzo, uma bela reflexão do Gaspari, a respeito do pensamento dessas "autoridades":

O oportunismo aborteiro de Sérgio Cabral

Quando o governador Sérgio Cabral usou o trabalho do economista Steven Levitt (“Freakonomics”) para defender o aborto como política de segurança pública, dizendo que a Favela da Rocinha “é uma fábrica de produzir marginal”, juntou, num só “bonde”, oportunismo, impostura e ignorância.



Cabral é oportunista porque, em setembro de 1996, quando era candidato a prefeito do Rio, descascou seu adversário, Luiz Paulo Conde, por defender o aborto. Nas suas palavras: “Conde foi leviano. O que o Rio precisa é melhorar o atendimento na saúde”. Continua oportunista ao tentar reescrever o que disse ao repórter Aluizio Freire, do portal G1, onde sua entrevista está conservada na íntegra.


Cabral praticou uma impostura quando embaralhou uma questão de direito — a decisão da Corte Suprema que, em 1973, legalizou o aborto nos Estados Unidos — com as estatísticas do crime nos anos 90. A Corte decidiu uma dúvida constitucional: o direito da mulher de interromper a gravidez. Esse é o verdadeiro e único debate do aborto. Nada a ver com o propósito de fechar (ou abrir) “fábrica de produzir marginal”.


Levitt, por sua vez, indicou que o aborto foi responsável por uma queda de até 50% na criminalidade americana. Em momento algum apresentou-o como alternativa de controle da natalidade. Pelo contrário, qualificou-o como “um tipo de seguro rudimentar e drástico”. Cabral submeteu-se a uma vasectomia e não terá mais filhos (teve cinco).


Tanto Levitt como a Corte Suprema não atravessaram a linha que o doutor transpôs, vendo no aborto uma modalidade de política pública capaz de produzir segurança. Uma coisa é dizer que houve uma relação de causa e efeito entre a liberação do aborto e a queda da criminalidade. Bem outra é associar o aborto às políticas de segurança pública.


A teoria de Cabral sustentou-se na ignorância. Ele disse que a Rocinha tem taxas de fertilidade africanas. Besteira, elas equivalem à metade.


Em 2000, o número médio de filhos nas favelas cariocas (2,6) era superior aos dos outros bairros do Rio (1,7), mas ficava próximo da estatística nacional (2,1). Quem acha que o problema da segurança está na barriga das faveladas deve pensar em mudar de planeta. A taxa dos morros do Rio é a mesma do mundo.


Nos anos 70, muitos sábios sustentavam que o Brasil precisava baixar sua taxa de fertilidade (5,8) para distribuir melhor a riqueza.


Passou-se uma geração, a fertilidade caiu a um terço (1,9) e o índice de Gini, que mede as desigualdades de renda, passou de 0,56 para 0,57, chegando ao padrão paraguaio. Nasceram menos brasileiros, mas não se reduziu o fosso social.


A tropa de elite pode acreditar que se aprimora a segurança pública com o capitão Nascimento cuidando dos morros e o governador Cabral, dos ventres. As contas de Levitt são honestas, suas conclusões são rigorosas e “Freakonomics” é um ótimo livro. Aplicando-se a outros números de Pindorama o mesmo tipo de tortura cerebrina a que Cabral submeteu as conclusões do economista americano, seria possível dizer que a queda de 67% na taxa de fertilidade nacional provocou um aumento de 300% nos homicídios no Rio de Janeiro.


O artigo “The impact of legalized abortion on crime”, de Steven Levitt e John Donohue III, está na internet, infelizmente em inglês. É melhor do que o resumo publicado em “Freakonomics”.




Elio Gaspari é jornalista. Artigo transcrito de O Globo de 28/10/2007

Carta à Reitoria - Pela implementação de uma política de ações afirmativas na UFMG

Publico, abaixo a Carta elaborado por vários docentes, discentes e funcionários da UFMG. Reproduzido do Blog MAD- Movimento Afirmando Direitos

Carta à Reitoria - Pela implementação de uma política de ações afirmativas na UFMG


Belo Horizonte, 13 de agosto de 2007.

Magnífico Reitor
Prof. Dr. Ronaldo Tadeu Pena

Prezado Senhor,

Vivemos, no terceiro milênio, uma conjuntura internacional e nacional de aumento das desigualdades e de acirramento da exclusão social que afetam os diversos setores da sociedade. Nesse processo, a articulação entre as desigualdades de classe, raça e gênero se torna mais complexa, revelando um novo quadro de desigualdades amplamente atestado pelas pesquisas oficiais do IPEA, pelos dados do IBGE e pela produção científica, sobretudo, na área das Ciências Sociais e Humanas.
A UFMG se destaca no cenário nacional pela sua contribuição acadêmica e pela análise crítica dessa situação, produzida pelos seus quadros intelectuais. Muitos dos nossos profissionais, de renome nacional e internacional, contribuem para a análise e compreensão das novas desigualdades, não só no plano da pesquisa, mas também por meio de projetos de intervenção social e da formulação e avaliação de políticas públicas.
É nesse contexto que a demanda pela implementação de políticas de acesso e permanência configura-se como uma nova realidade no Brasil. É também nesse contexto que as políticas de ações afirmativas voltadas para a população negra se fazem urgentes. Não podemos mais fugir do alarmante quadro de desigualdade racial que afeta a juventude negra. Segundo o IPEA, em 1999, somente 2% de jovens negros conseguiam ter acesso ao ensino superior (IPEA, 1999). Diante desse quadro, várias universidades, públicas e privadas, têm apresentado soluções mesmo entendendo que não é papel da universidade formular políticas públicas ou assumir o papel dos movimentos sociais, mas, sim, saber ouvir as principais demandas da sociedade no que se refere ao Ensino Superior, sobretudo, quando vêm de uma parcela da população historicamente excluída desse nível de ensino. Exclusão que revela a reprodução e a expressão da desigualdade social, racial e de gênero, bem como sua imbricação com o Ensino Superior. Entendemos que uma das formas de se posicionar contra essas desigualdades é compreender o acesso à universidade como um direito dessa parcela da população e promover formas de democratizá-la por fora e por dentro.
A seriedade desse momento tem produzido debates e iniciativas entre as diversas instituições públicas de Ensino Superior no País. Algumas já se posicionaram e apresentaram para a sociedade e para o governo federal propostas de inclusão na perspectiva das ações afirmativas. Nesse contexto, assistimos também a medidas oriundas do próprio Ministério da Educação como, por exemplo, o projeto de Expansão do Ensino Superior Presencial nas IFES. A partir de agora, as universidades públicas estão convocadas a elaborar e apresentar projetos de expansão. Entendemos que qualquer projeto de expansão a ser apresentado pela UFMG e pelas outras IFES não pode desconsiderar o debate mais amplo sobre os processos de desigualdade que afetam mais diretamente determinados grupos sociais e étnico-raciais do nosso País. Nesse caso, ao elaborar o seu projeto de expansão, a UFMG deverá incorporar formas de acesso e permanência que contemplem a inclusão racial. Esperamos que a UFMG não se omita diante desse debate e apresente uma proposta coerente e justa, que promova a entrada e garanta a permanência bem-sucedida para alunos(as) negros(as) e alunos(as) oriundos dos setores populares.
É importante relembrar que, no ano de 2006, a UFMG realizou um seminário que teve como objetivo mapear as várias experiências de inclusão promovidas por algumas instituições de ensino superior públicas brasileiras. Tal iniciativa demonstrou uma postura de que é preciso conhecer, analisar e trocar experiências com aqueles que, prontamente, entenderam que uma das funções da universidade é estar atenta para as demandas sociais, principalmente, aquelas que dizem respeito à democratização do acesso ao conhecimento. A expectativa de parte da comunidade universitária, sobretudo aquela que acredita que a democratização do acesso e a permanência bem-sucedida representam uma das funções mais sérias da universidade do terceiro milênio, era de que a reitoria abriria um debate com a comunidade acadêmica e os movimentos sociais, indo além da realização do referido seminário, apresentando uma proposta. Após o seminário, esperava-se também que o Programa de Ensino, Pesquisa e Extensão Ações Afirmativas na UFMG, que vem realizando, desde o ano de 2002, várias ações e projetos de permanência voltados para jovens negros(as) desta instituição, sobretudo os de baixa renda, fosse considerado como um interlocutor privilegiado nesse processo. Essa interlocução desejada e necessária não se limita a esse Programa. Outros profissionais, grupos e núcleos na UFMG - alguns dos quais assinam a presente carta - que possuem competência, conhecimento e trabalhos voltados para os processos que visam à luta pela democracia e à problematização das desigualdades também não foram considerados como interlocutores e parceiros para a construção do debate.
A UFMG segue silenciosa em um momento em que a universidade pública e os processos de democratização do acesso têm sido colocados à prova pelos dados oficiais das desigualdades raciais e sociais e pelas demandas dos movimentos sociais. Em vários fóruns, dentro e fora de Minas Gerais, essa posição tem sido questionada. Afinal, a UFMG, nos seus 80 anos de existência, sempre foi reconhecida como vanguarda no cenário acadêmico e político nacional, mantendo posicionamentos que marcaram a história do ensino superior público do País, tais como: resistência à ditadura militar, reorganização da UNE, acolhimento de alunos refugiados africanos, entre outros.
O contexto atual de democratização do acesso e da permanência de alunos(as) negros(as) e alunos(as) oriundos(as) de escola pública ao Ensino Superior é também um momento político, social e acadêmico importante. Esperamos que, nesse momento, a UFMG não abdique da sua posição de vanguarda e apresente para a comunidade acadêmica e para a sociedade uma resposta condizente com o histórico de seriedade e de compromisso político e social sempre assumidos. E mais, que essa resposta seja publicamente debatida com a comunidade acadêmica e com a sociedade em geral, e não simplesmente formulada por uma equipe de gabinete.
Na gestão anterior do reitorado essa discussão ficou aquém do esperado. Reuniões e conversas com a reitoria foram realizadas, seminários foram promovidos pelo Programa Ações Afirmativas na UFMG, o Boletim da UFMG fez cobertura da temática, no entanto, nenhuma iniciativa concreta foi implementada. Esperávamos que a atual gestão da reitoria apresentasse uma proposta efetiva para a comunidade acadêmica. Todavia, tal iniciativa não foi tomada.
Enquanto a UFMG se mantém silenciosa várias universidades públicas brasileiras já se manifestaram e apresentaram propostas e práticas efetivas de ações afirmativas. A maioria delas desenvolve a modalidade de cotas voltadas para negros, indígenas, portadores de necessidades especiais e/ou alunos oriundos de escola pública. São universidades federais e estaduais, cujas políticas de cotas foram definidas através da decisão de seus conselhos universitários ou de leis estaduais, como é o caso da UERJ, UENF e UEMG. Algumas dessas propostas resultaram de intensos debates e ações conjuntas realizados pela universidade e os movimentos sociais. Dentre as instituições que assim procederam citamos: Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB), Universidade Federal do ABC (UFABC), Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Universidade Federal de São Paulo/Escola Paulista de Medicina (UNIFESP/EPM), Universidade Federal de Tocantins (UFT), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), Universidade Estadual do Oeste Paraná (UNIOESTE), Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Universidade do Estado do Amazonas (UEA), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), entre outras. A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) está com uma proposta em curso. Há, ainda, o caso da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), que não reserva vagas, mas atribui pontuação adicional aos estudantes egressos de escolas públicas e para negros em seu vestibular.
A implementação da política de cotas, nas diversas universidades públicas e privadas brasileiras, tem sido acompanhada de processos de avaliação constante e alguns resultados já começam a vir a público. Eles revelam que o desempenho escolar dos alunos oriundos da política de cotas é igual ou superior ao dos alunos que entram pelo vestibular dito universal. Dados da UNB, da UERJ, da UNEB, da UFBA e, inclusive, do PROUNI (outra modalidade de ação afirmativa voltada para a iniciativa privada) comprovam tal situação. Esses resultados e outros que começam a ser tabulados e divulgados contradizem o discurso meritocrático formulado nos meios acadêmicos. Eles revelam que há, no ensino superior brasileiro, desigualdade social e racial, a qual resulta em uma situação de desvantagem para os(as) alunos(as) oriundos(as) de diferentes grupos sociais e étnico-raciais.
Diante desse fato, gostaríamos de registrar que o Programa Ações Afirmativas na UFMG, os professores da UFMG e demais núcleos e grupos que assinam esta carta têm sugestões e propostas para essa reitoria. É nossa intenção ver, na prática, a efetivação de uma intervenção democrática e concreta da UFMG no que se refere ao acesso e à permanência de grupos historicamente excluídos da universidade. Acreditamos que é possível uma medida institucional baseada no diálogo entre a universidade, o Estado e os movimentos sociais que vise à democratização do acesso e à implementação de uma política de permanência bem-sucedida na perspectiva das ações afirmativas.
É com esse objetivo que propomos:
- que o critério racial e social seja incorporado na formulação e implementação de uma política de acesso e permanência na UFMG a partir do ano de 2008;
- que o Conselho Universitário da UFMG discuta, no início do segundo semestre de 2007, uma proposta efetiva de implementação de uma política de ação afirmativa visando o acesso e a permanência de alunos(as) negros(as) e alunos(as) oriundos(as) de escola pública na UFMG;
- que seja instituída no Conselho Universitário uma comissão composta pelos seus membros e por outros profissionais da comunidade acadêmica com condições de dar contribuições efetivas nessa temática para elaborar e apresentar a proposta de cotas raciais e para alunos oriundos de escola pública à comunidade acadêmica da UFMG;
- que a proposta a ser elaborada pelo Conselho Universitário inclua uma política de permanência dos alunos que serão atendidos pelas cotas;
- que a UFMG realize um censo étnico-racial, com recursos do fundo FUNDEP, para que tenhamos dados precisos da realidade étnico-racial e social da UFMG, até o final de 2007;
- que os dados desse censo sejam divulgados em um seminário aberto à comunidade acadêmica e público em geral e sejam disponibilizados na página da UFMG;
- que a UFMG adote o quesito cor/raça, de acordo com as categorias de cor do IBGE (preto, pardo, branco, amarelo e indígena), nos formulários de matrícula de todos os cursos de graduação e pós-graduação, a partir de 2008;
- que, a partir de 2008, a implementação e acompanhamento da política de acesso e permanência da UFMG tenha um lugar institucional na estrutura organizacional e no orçamento da reitoria, que lhe possibilite avaliações periódicas, recursos para bolsas, abertura de editais, na perspectiva das ações afirmativas;
- que parte dos recursos destinados à FUMP e recolhidos no concurso vestibular sejam investidos na permanência de alunos e alunas atendidos(as) pelas cotas, a partir do ano de 2008;
- que a iniciativa acima citada não reduza as ações afirmativas à assistência estudantil, mas seja entendida como um desdobramento político e social do caráter dessa Fundação.
Acreditamos que, somente assim, a UFMG poderá apresentar uma proposta para a comunidade acadêmica e para a sociedade em que se mostre coerente com o momento atual de luta pela igualdade social e racial que estamos vivendo. A UFMG, pela sua seriedade e compromisso com o público, não pode se furtar a uma resposta social e acadêmica de relevância em um momento tão importante para a sociedade. Acreditamos que essa instituição possui condições de apresentar essa resposta, a qual deverá ser fruto de um debate democrático entre universidade, sociedade e movimentos sociais.

O sentimento quilombista

Devido ao fato de ser um pouco o marco desse blog, resolvi republicar o texto abaixo, e no próximo post, republicar o Manifesto feito por alguns docentes da UFMG, a favor de uma política afirmativa nessa Universidade:

Abdias Nascimento cunhou um conceito/categoria clássico, o Quilombismo. No livro denominado Quilombismo (1980), no capítulo chamado “Documento n° 7: Quilombismo: um conceito científico emergente do processo histórico-cultural das massas afro-brasileiras” (pp.245-281), o autor através de uma re-significação do termo quilombo em uma nova categoria simbólica, o quilombismo, busca um projeto de organização sócio-político, a partir de uma resposta teórica para os problemas étnico-raciais do país.


Esse sentimento para Nascimento, é a resultante do longo processo de discriminação e pré-conceito contra o negro no Brasil e ficaria claro na relação do Estado com os afro-brasileiros, principalmente quando se compara os privilégios recebidos pelos migrantes europeus.

O autor assim define o Quilombo e suas continuidades nos dias atuais:

Os quilombos resultaram dessa exigência vital dos africanos escravizados, no esforço de resgatar sua liberdade e dignidade através da fuga ao cativeiro e da organização de uma sociedade livre. A multiplicação dos quilombos fez deles um autêntico movimento amplo e permanente. Aparentemente um acidente esporádico no começo, rapidamente se transformou de uma improvisação de emergência em metódica e constante vivência das massas africanas que se recusavam à submissão, à exploração e à violência do sistema escravista. O quilombismo se estruturava em formas associativas que tanto podiam estar localizadas no seio das florestas de difícil acesso que facilitava sua defesa e sua organização econômico-social própria, como também assumiram modelos de organização permitidas ou toleradas, frequentemente com ostensivas finalidades religiosas (católicas), recreativas, beneficentes, esportivas, culturais ou de auxílio mútuo. Não importam as aparências e os objetivos declarados: fundamentalmente todas elas preencheram uma importante função social para a comunidade negra, desempenhando um papel relevante na sustentação da continuidade africana. Genuínos focos de resistência física e cultural. Objetivamente, essa rede de associações, irmandades, confrarias, clubes, grêmios, terreiros, centros, tendas, afochés, escolas de samba, gafieiras foram e são os quilombos legalizados pela sociedade dominante; do outro lado da lei se erguem os quilombos revelados que conhecemos. Porém tanto os permitidos quanto os “ilegais” foram uma unidade, uma única afirmação humana, étnica e cultural, a um tempo integrando uma prática de libertação e assumindo o comando da própria história. A este complexo de significações, a esta práxis afro-brasileira, eu denomino de quilombismo. (NASCIMENTO, 1980: l.255)

O quilombismo significa um valor dinâmico na estratégia e na tática de sobrevivência das comunidades de origem africana. E desta forma que ele deve ser entendido, enquanto uma consciência de luta político e social.

Abdias Nascimento é uma figura impar na militância negra. Intelectual (autor de diversos livros onde busca aproximar o marxismo da temática étnico-racial), político (foi Senador pelo Rio de Janeiro), professor universitário (de diversas Universidades norte-americanas, como Yale, Havard, Columbia, UCLA, chegando a professor titular da Universidade de Nova York Buffalo), artista plástico (sendo fundador ou curador de diversos Museus voltados para a temática negra como o Museu de Arte Negra no Rio de Janeiro, Ile Ife Museum, African Art Gallery, entre outros), ativista negro (tendo sido um dos fundadores da Frente Negra Brasileira nos anos 30 e do Teatro Experimental do Negro - TEN em 1944, grupo este que editava uma revista denominada Quilombo).

Um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (periferia) é outra.

Um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (periferia) é outra.
O secretário de (des) segurança pública do Rio, nos brindou essa semana, como uma daquelas declarações didáticas a respeito de como pensa parte da classe média brasileira, de seus medos, de suas angustias e de seus preconceitos. O secretário Beltrame disse na última terça-feira que os traficantes estão adotando a estratégia de migrar armas e pessoas para favelas da Zona Sul para tentar inibir a atuação da polícia. Segundo o secretário, ações policiais na Zona Sul, onde moram famílias de classes média e alta, são mais complicadas do que em comunidades carentes das zonas norte e oeste.

"Um tiro em Copacabana é uma coisa. Um tiro na Coréia (periferia) é outra. À medida que se discute essa questão do enfrentamento, isso beneficia a ação do tráfico de drogas ". O secretário em sua explanação, nos ajudou um pouco mais a entender essa questão geográfica: "um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra”. Ainda segundo o secretário Beltrame , a razão por uma maior repercussão das ações na Zona Sul do Rio se deve a proximidade entre os prédios de moradores da classe média e as favelas.

Parece que a explicação geográfica da ação criminosa, nos circuitos da segurança pública fez o maior sucesso, tanto que, no dia seguinte ao episódio, o Ministro da Defesa, saiu em defesa do secretário de segurança pública do Rio, segundo Jobim, um tiroteio na zona sul da cidade é diferente de um tiroteio na periferia. “Tem um efeito completamente distinto. Vocês mesmos da imprensa valorizam nesse sentido”.

O mais estranho é que tais, declarações não alcançaram a repercussão na mídia. Por que será? não vimos a classe média cansada sair as ruas em protesto; não vimos, essa nova forma de se fazer política, os narizes de palhaços saírem as ruas; não vimos o deputado Gabeira, vim a público e condenar de forma veemente tais declarações; mais estranho ainda, é o silêncio complacente e cúmplice da ex-governadora e agora também secretária de Estado, Benedita Da Silva, que aliás pelo seu silêncio demonstrar concordar com a nova teoria geográfica do crime, proposta por Beltrame, uma pena visto que Benedita surgiu para vida pública, como liderança da Mangueira, uma comunidade que não se localiza na zona sul carioca.

Como nem tudo são flores, na quarta-feira o governador do Rio de Janeiro, nos brindou com mais uma teoria ortodoxa, ou seria melhor dizer heterodoxo de combate a violência, segundo o mandatário carioca, a interrupção da gravidez "tem tudo a ver com a violência pública". "Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal". O que propõe o governador do Rio é absurdo. O que o douto governante carioca quer é um novo malthusianismo, agora com características eugênicas. Eis o Racismo de Estado em sua forma nua e crua!!!!

De novo atônitos assistimos o silêncio da classe média e mais importante de grande parte da mídia e dos formadores de opinião. Mas pelo menos uma luz no fim do túnel diante de tamanha demonstração preconceituosa. A Ordem dos Advogados do Brasil - secção Rio de Janeiro (OAB-RJ) reagiu às declarações do secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. Em nota, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da entidade, Margarida Pressburger, disse que Beltrame “assumiu publicamente que, para o governo, o morador de classe média da Zona Sul recebe tratamento diferente e tem direitos de cidadania que o trabalhador que mora na favela não tem. Quando é obrigado a ficar no fogo cruzado dos policiais com os traficantes, tem sua casa invadida por uns e por outros e não tem onde se abrigar”. Ainda segundo Margarida, “realmente fica difícil imaginar uma operação policial, nos moldes mostrados pela TV, num condomínio de classe média ou alta”. E completou: “Será que a polícia atiraria em quem corresse? Será que as pessoas que hoje criticam a defesa dos direitos humanos – para qualquer cidadão – apoiariam essas operações de guerra? Por fim, a presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ lembrou que“ a OAB defende é igualdade na aplicação dos direitos de cidadania, para pobres ou ricos, de qualquer parte do Rio. O que a OAB repudia é a política de confronto que mata inocentes.” Ela lembrou os resultados registrados pelo próprio governo: “menos prisões (- 23,6%), menos armas apreendidas (-14,3%) e mais mortos (33,5%)” na comparação dos primeiros seis meses de 2007 e de 2006. Em compensação aumento no número de mortes em confronto coma polícia.

Além da OAB-RJ alguns pesquisadores vieram a público questionar as declarações tanto do governador quanto do secretário: “Essa manifestação do secretário confirma uma situação histórica, de uma política preconceituosa que está se perpetuando. Mas ele faz parte do governo. Portanto, tem a obrigação de mudar essa realidade, e não aceitar que isso permaneça como está. É evidente que não há planejamentos homogêneos para as ações das polícias na Zona Sul e nas favelas. Todo mundo sabe disso. Mas o governo só evolui quando consegue mudar isso”, analisou o sociólogo Ignácio Cano.

Para Luiz Eduardo Soares, o secretário fez um exercício de análise sociológica e constatou que a população da favela recebe uma proteção menor do que as pessoas das camadas médias da Zona Sul. “É um quadro de desigualdades, de tratamento diferenciado. É possível verificar isso nas 4.329 mortes provocadas por ações policiais no período de 2003 a 2006. A imensa maioria foi registrada em áreas pobres da cidade”, disse o antropólogo.

O mais grave nessas declarações foi a não reação da sociedade, que dessa forma chancela as atitudes preconceituosas do governo carioca. Isso nos leva a pensar em um texto recentemente publicado, de autoria de L. F Verissimo, denominado Terceirização. Nesse texto Verissimo lembra que: "Quem diz que nunca houve matança sistematizada de judeus, ciganos e incapazes na Alemanha tem razão: Auschwitz, Treblinka, Sobibor e os outros campos de extermínio nazistas ficavam na Polônia. A Polônia anexada pelo Reich era uma extensão do solo alemão e os campos eram construídos e geridos por alemães, mas isto é detalhe para quem pretende a inocência pelo distanciamento formal. Os americanos que hoje levam suspeitos de terrorismo para serem interrogados em países onde a tortura é comum, longe dos Estados Unidos, também pretendem a absolvição pela geografia." Mais a frente em seu texto Verissimo, relata um caso sui generis desse fenômeno da terceirização: "Do Iraque chega a notícia de outro exemplo de distanciamento remissor.Neste caso, uma novidade — a terceirização da guerra. A ocupação do país está sendo um grande negócio não só para a Halliburton e outras empreiteiras superfaturadoras mas para empresas paramilitares, exércitos privados que substituem a tropa normal em certas tarefas e que já têm quase tanta gente no Iraque quanto o exército regular, com contratos milionários.Há dias uma dessas empresas, a Blackwater, que pertence a um conhecido financiador das campanhas do Bush e do Cheney, se viu envolvida na morte de civis iraquianos.A Blackwater não está sujeita nem às leis do Iraque, nem às leis dos Estados Unidos e nem aos estatutos militares americanos. Só precisou pedir desculpas.".
Quem sabe não seja essa a solução para o problema dos pobres e favelados, podemos então começar com um projeto piloto nas favelas suburbanas cariocas e a partir daí exportarmos para o resto do país, quiçá até mesmo para o exterior, essa nova metodologia de combate ao crime. Afinal como lembrou o secretário Beltrame, um dia desses em um programa de televisão: o BOPE é um exemplo de polícia.


Poesia para toda parte

Poesia para toda parte pretende ser uma seção desse blog. Afinal sem poesia somos incompletos.

Um poema de Manuel Bandeira

ESTRADA


Esta estrada onde moro, entre duas voltas do caminho,
Interessa mais que uma avenida urbana.
Nas cidades todas as pessoas se parecem.
Todo o mundo é igual. todo o mundo é toda a gente.
Aqui, não: sente-se bem que cada um traz a sua alma.
Cada criatura é única.
Até os cães.
Estes cães da roça parecem homens de negócios:
Andam sempre preocupados.
E quanta gente vem e vai!
E tudo tem aquele caráter impressivo que faz meditar:
Enterro a pé ou a carrocinha de leite puxada por um bodezinho
manhoso.
Nem falta o murmúrio da água, para sugerir, pela voz dos símbolos,
Que a vida passa! que a vida passa!
E que a mocidade vai acabar.

sábado, 27 de outubro de 2007

Se o Cruzeiro vai jogar- II

Dê uma olhada nos links abaixo

http://www.youtube.com/watch?v=n6P7ffn1BxM

http://www.youtube.com/watch?v=Fg6MAyg8I60

http://www.youtube.com/watch?v=KoZjoRDpVZ4

Se o Cruzeiro vai jogar

Se o Cruzeiro vai jogar eu vou
Se o Cruzeiro vai jogar eu Vou

Daqui a pouco vou para o Mineirão, definitivamente uma das melhores coisas para se fazer.

De fato, conheço poucas coisas tão legal quanto ir ao Mineirão, mas ir de arquibancada, ficar no meio da Máfia Azul, pular, cantar o tempo todo. De fato é um barato, quem já foi sabe do que estou falando.

Aliás até pensei em fazer um projeto de dissertação, que seria uma etnografia das torcida organizada Máfia Azul, mas ai percebi, dois fatores:
1- não existe nenhum tipo de distancimento entre Eu e as coisas do Cruzeiro e;
2- a gloriosa policia militar de Minas Gerais, por sua total incompetência resolveu punir as torcidas organizadas mineiras, assim sumiram as Bandeiras, coisa linda de se vê... vide os jogos no Maraca. De forma que hoje só mesmo no gogó e na batera. Porque até mesmo o bandeirão da Máfia diga-se de passagem , a maior bandeira do mundo) de vez em quando é proibido de ser estendido, por razões de segurança... dessa forma, grande parte deum estudo visual ficou perdido, no entanto ainda esta ai, um belo sujeito de pesquisa. Afinal envolveria noções de antropologia urbana, uma antropologia da juventude, a questão do comportamento em grupos, sociabilidades, etc. Afinal, um verdadeiro membro de torcida organizada, coisa que não sou de fato, sou um verdadeiro frequentador do Mineirão, molda sua visão de mundo a partir de sua paixão clubistca e sua devoção à organizada. Se Você, não acredita, acompanhe alguns desses torcedores. Se queremos entender essas torcidas, devemos sair do senso comum de acusá-las de violentas e percebemos sua verdadeira essência, entender ela a partir dela mesma, etc, etc. Só nos resta fazermos uma etnografia das torcidas organizadas.

Assim mesmo nada nos para, somos muro de concreto, ruim de derrubar . Vamos com tudo para cima do Atlético Paranaense.

Libertadores 2008, eu quero!

Cruzeirooooo...
Quem conhece sua história!
De conquistas e vitórias!
Nunca mais te esquecerá!
Cruzeirooooo...
Sua história é tão bonita!
Já faz parte da minha vida!
Para os meus filhos vou contar!
Cruzeirooooo...
O guerreiro dos gramados!
Sou cruzeirense apaixonado!
E para sempre vou te amar!
- Clique aqui para ver essa música no You Tube.


Vamos! Vamos CruzeirÔ!
Vamos! Vamos pra ganhar!
Vou aonde você for!
Só pra te ver jogar!
Meu coração! Com muito amor...
É o meu Cruzeiro mais querido do Brasil!
Vamos! Vamos CruzeirÔ!
Vamos! Vamos pra ganhar!
Vou aonde você for!
Só pra te ver jogar!
- Clique aqui para ver essa música no You Tube.


Hoje eu vou torcer e cantar !!!
É com raça que nos vamos jogar !!!
É o time do coração !!!
É o meu CRUZEIRO !!!
É o meu CRUZEIRO !!!
Da-le da-le CRUZEIRO !!!
Da-le da-le CRUZEIRO !!!
Da-le da-le CRUZEIRO !!!
Da-le da-le eo !!!
Da-le CRUZEIRO !!!
- Clique aqui para ver essa música no You Tube.


Cruzeiro !!!
Clube querido !!!
Mais um torneio e a torcida aqui contigo !!!
Te apoiaremos de coração, com essa torcida tu serás o campeão !!!
Não importa o que digam !!!
O que digam seus rivais !!!
Vou contigo a toda parte !!!
Cada vez te amo mais !!!
- Clique aqui para ver essa música no You Tube.


Sobre o disco MPB

A notícia que reproduzo abaixo, já tem dois anos é da época do lançamento do disco de que comentaremos. Mas é que somente esses dias pode ouvir o disco todo, a que ela se refere... sei não, mas adorei, sabe aqueles discos que adoramos e pronto. Portanto, se Você gosta ou se interessa por essa tal de MPB- Música Preta Brasileira, reproduzo a notícia e a idéia de ouvir o disco, caso ainda não tenha ouvido. Aliás senão ouviu... que pena, só posso lamentar e recomendar a audição do mesmo.
O bacana desse disco é que a atmosfera é verdadeiramente soul, esse é o grande lance do disco. A tentativa de reprodução da atmosfera daquela época. E em minha modesta opinião, tal feito foi
exitoso. Tem-se até a impressão que foi usado aparelhos daquela época em determinados trechos de música...mas na verdade, os méritos são todos de Sandra, que através da voz modula o ritmo, e efetivamente permite a expressão de seus sentimentos. O disco, por fim funciona também como o rememoramento de uma época, em que o futuro parecia mais interessante do que essa época que vivemos. Por fim apesar de ter como modelo o soul norte-americano, aliás do disco conta com algumas versões e uma canção em inglês o que fica mesmo é uma brasilidade, nos ritmos e até mesmo uma aproximação com os ritmos nordestinos tradicionais. De forma, que ao fim do disco nos sentimos com a alma lavada e renovados com uma música brasileira que já não ouvimos mais.

Abaixo a matéria do site clique music



Sandra de Sá e a música preta brasileira

Cantora descobre novo significado para a sigla MPB em seu disco ao vivo, no qual revê seus 24 anos de carreira




01/03/2004
Marco Antonio Barbosa


Sandra de Sá
Sandra de Sá


Consolidando de vez a retomada em alto estilo de sua carreira, iniciada em 2002 com o álbum Pare, Olhe, Escute - no qual revisitava sucessos da soul music americana vertidos para o português - e que continuou com uma temporada de shows vitoriosa e cheia de convidados, Sandra de Sá não se cansa de defender que a verdadeira MPB não é a Música Popular Brasileira, e sim a Brazilian Black Music. "Há mais de dez anos falo de Música Preta Brasileira. No começo eu até brincava, dizendo que MPB é Música Preta Brasileira", confirma Sandra, que agora lança um disco ao vivo (pela Universal Music) que procura capturar seu bom momento atual.

O nome do álbum não poderia ser diferente: Música Preta Brasileira, registrado em dois shows (apenas para convidados) nas dependências da própria gravadora Universal, na Barra da Tijuca (RJ). No disco, Sandra não apenas procura sintetizar suas idéias sobre a música negra brasileira, mas também revê os principais pontos de sua carreira. Na verdade, uma intenção acaba se confundido com a outra, já que a cantora é legítima herdeira de Tim Maia e "afilhada" de figuras como Cassiano e Hyldon na seara black brazuca. "Há mais de 15 anos que eu luto para tentar gravar um disco assim, que fizesse não apenas uma revisão de minha história mas também lembrasse os grandes momentos de nossa música preta", diz Sandra.

Sandra elabora mais sobre a (sua) MPB: "Nossa música é altamente preta, como lá nos EUA eles têm a black music, nós também fazemos uma série de outros gêneros e estilos, só que com muito suingue. Aqui é o país do suingue, essa é uma bandeira que eu levantei há muito tempo e não canso de lutar por ela." Sobre a revisão de carreira - são 24 anos de estrada profissional - Sandra de Sá diz que o disco ao vivo é a maneira ideal de celebrar sua trajetória. "Quando assinei com a Universal em 2002, num contrato para dois discos, fiz questão de garantir que um deles fosse gravado ao vivo. Eu sempre quis gravar um CD assim. A todas as gravadoras pelas quais passei, sugeri fazer um disco ao vivo como este, mas nunca toparam e eu até já me indispus por causa disso", fala a cantora.

Todos os sucessos de Sandra estão no álbum. Desde a precursora Demônio Colorido, defendida pela cantora no festival MPB-80 (em 1980), seu primeiro sucesso, chegando às músicas gravadas em Pare, Olhe, Escute - versões como Nada Mais (Lately, de Stevie Wonder) e Qual É (What's Going On, Marvin Gaye). No meio, hits como Bye-bye Tristeza, Retratos e Canções, Olhos Coloridos e Sozinha (versão pessoal para o sucesso Sozinho, de Peninha). "O disco é um resumo do show que estamos fazendo desde o ano passado. Acho que todo a gravação deveria ser assim: entrar em estúdio para os grandes momentos que já foram apresentados ao vivo. A espontaneidade é tudo", conta Sandra, falando que gosta de simular o calor do palco:"Peço para desligarem o ar-condicionado, visto casacos e cachecóis para suar bastante e criar a sensação de que estou no palco junto à vibração do público".

Assim como nos shows, o disco Música Preta Brasileira tem a participação de vários convidados especiais: Gabriel o Pensador (que co-assina Boralá com Sandra), Toni Garrido, Luciana Mello e Alcione. "Não passa de uma grande confraternização entre amigos. Esse ditado de que no trabalho temos que separar as coisas não funciona comigo. Só trabalho com quem me identifico", fala a cantora. "Já cansei de cantar com todos eles em shows, o Gabriel gravou comigo, a Alcione é minha amiga há mais de vinte anos..." Sandra de Sá também presta sua homenagem à nata da música negra nacional regravando Tim Maia (Vale Tudo), Hyldon (As Dores do Mundo) e o clássico da negritude Black Is Beautiful (esta junto a Luciana e Alcione). "Esses caras todos mereciam uma estátua em praça pública. E o pior é que eles acabam sumindo. Ninguém ouve mais falar de Cassiano, Hyldon, Simonal. É uma discriminação, um crime", protesta Sandra.

O álbum, que também ganhará versão em DVD, inaugura a parceria da Universal com o canal de TV paga Multishow. O projeto ganha lançamento de gala no dia 24 de março, quando o canal exibe a versão integral do espetáculo (com 22 músicas, o mesmo conteúdo do DVD), além do making-of da coisa toda. O especial leva a direção de Belisário Franca e Jorge Espírito Santo. Em abril, quando o DVD chegar às lojas, Sandra sai em excursão. No que depender da cantora, os shows também trarão os convidados presentes no CD. "A dificuldade é conciliar as agendas, às vezes fica inviável. Mas quando não dá para trazer todo mundo, a solução é convidar algum outro artista com que também me identifico", diz. Zélia Duncan e Wilson Simoninha são exemplos de artistas que já subiram ao palco neste projeto ao lado de Sandra.
* Colaborou Mônica Loureiro

http://cliquemusic.uol.com.br/br/Acontecendo/Acontecendo.asp?Nu_Materia=4187