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domingo, 20 de dezembro de 2009

Boas notícias da Fed. Quilombola N'golo

Boas notícias a Federação N'golo acaba de receber seu CNPJ e agora existe de forma jurídica, tal obtenção de CNPJ fortalece ainda mais a luta da Federação Quilombola. Parabéns a sua diretoria e apoiadores.

A segunda boa notícia é que em um documento oficial, a Federação foi comunicada de que a SPU -Secretária de Patrimônio da União aceitou a partir de pedidos da Fed. N'golo ceder a mesma um espaço no Centro da nossa capital para que a Federação instale sua sede. Agora caberá a Federação efetivar esta vitória, provavelmente a sede será no histórico Ed. Acaiaca. Lembremos que Minas Gerais é duas Alemanha e bm maior que a França a existência de uma sede com logistica é vital para a Federação. Novamente Parabéns a diretoria da Federação.

A acessoria do Deputado Estadual André Quintão do PT divulgou que o deputado fez várias emendas que chegam no valor próximo de 18 milhões de reais a partir das demandas da própria população na Comissão de Participação Popular da Assembléia Legislativa. O que nos interessa mais de perto é que existem duas emendas para a questão quilombola e indigena. FIQUEMOS ESPERTOS PARA COBRARMOS JÁ QUE SOMENTE ESTAR NO ORÇAMENTO NÃO GARANTE A LIBERAÇÃO DA VERBA.
(abaixo as emendas para a questão quilombola e indigena).
Atenção à saúde das comunidades indígenas e quilombolas R$ 1.000.000
Promoção do Esporte Indígena R$ 100.000

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A questão Quilombola: legislação e orçamento

Na semana passada estivemos, na bela e aprazível cidade do Serro-MG para participarmos do IV Encontro da Fed. Quilombola de Minas Gerais N'golo e também do I Congresso Nacional de Direitos Quilombolas eventos que aconteceram simultâneamente na Pontifícia Universidade Católica daquela cidade. Foi um evento ao mesmo tempo belo e tenso como não poderia deixar de ser uma reunião com esta temática. Mas ficou mais uma vez, a certeza de que os Quilombolas continuam fortes na luta por seus Direitos. Inclusive passamos o dia 20 de novembro neste evento.
No entanto, ao retornar a Belo Horizonte encontrei uma série de e-mails preocupantes a respeito da questão quilombola. De modo resumido dois e-mails me chamaram mais a atenção. O primeiro é um levantamento dos projetos que tramitam no Congresso Nacional tendo como temática a questão territorial quilombola: são seis projetos mais relevantes, cinco têm como efeito dificultar a titulação dos territórios quilombolas, reduzindo acesso aos direitos territoriais. Desnecessário afirmar que para a efetivação de um país mais justo, solidário, republicano e cidadão o acesso ao território para comunidades quilombolas é indispensável que esses cinco projetos de lei não virem lei. Desnecessário também lembrarmos que titulação territorial quilombola é obrigação constitucional em consonância não somente com o art. 68 do ADCT que se refere diretamente a territorialidade quilombola, mas também em consonância com os arts. 215 e 216 do capítulo da Cultura, e os arts. 1° e 5° que fala em dignidade humana entre outros.
Conheça os principais projetos de lei em tramitação:
1) Projeto de Lei 6264/2005 Estatuto da Igualdade Racial ( o unico favorável aos quilombolas)
Autor: Senador Paulo Paim (PT-RS)
Efeitos para a titulação dos territórios: A aprovação do texto na Câmara dos Deputados, tal como veio do Senado, poderia ajudar a consolidar um marco legal mais eficaz sobre a questão territorial quilombola.
2) Projeto de Lei 3654/2008
Autor: Valdir Colatto (PMDB-SC)
Efeitos para a titulação dos territórios: Se aprovado, este projeto irá retirar o direito de auto-identificação da comunidade. Também não prevê a desapropriação para titulação do território e o quilombola só teria direito à área que estivesse efetivamente ocupando e não a área necessária para a sobrevivência da comunidade.
3) Projeto de Decreto Legislativo 326/2007
Autor: Valdir Colatto (PMDB-SC)
Efeitos para a titulação dos territórios: O Ministério da Cultura seria o responsável pela titulação dos territórios quilombolas, sendo que este órgão não dispõe de estrutura, capacidade técnica e experiência de trabalho em questões territoriais.
4) Projeto de Decreto Legislativo 44/2007
Autor: Valdir Colatto (PMDB-SC) e outros
Efeitos para a titulação dos territórios: Caso fosse aprovada a proposta, não haveria mais nenhum marco normativo capaz de orientar o Estado a fazer os processos de titulação dos territórios. Muitos trabalhos que já estão em andamento perderiam a validade e teriam que ser refeitos. A titulação ficaria muito difícil, pois não se saberia quem deveria fazer e nem mesmo qual as regras do processo.
5) Projeto de Emenda à Constituição 161/2007
Autor: Celso Maldaner – PMDB/SC
Efeitos para a titulação dos territórios: O projeto, se aprovado, irá tirar do Poder Executivo a competência para realizar a titulação dos territórios quilombolas.
6) Projeto de Emenda à Constituição 190/2000
Autor: Senado Federal – Lúcio Alcântara (PSDB-CE)
Efeitos para a titulação dos territórios: O projeto prevê uma pequena alteração no texto original. Mas essa alteração, na prática, impede a aplicação do decreto 4887/03, pois obriga o Congresso Nacional a ditar as regras sobre o processo de titulação das comunidades quilombolas invalidando o Decreto 4887/03.
*****
Outro e-mail diz respeito a aplicação, ou melhor, a não aplicação das verbas destinadas as políticas públicas quilombolas, o famoso e inócuo Programa Brasil Quilombola. Segundo esta notícia: "O governo federal pretendia investir mais de R$ 2 bilhões, entre 2008 e 2011, em ações que viabilizassem o acesso à terra, melhoria da saúde, cultura, educação e infraestrutura nas comunidades remanescentes de escravos – os quilombos. As intenções, entretanto, esbarram em obstáculos para o repasse de verbas. O Brasil Quilombola, por exemplo, principal programa voltado a estas comunidades, gastou menos de R$ 13 milhões dos R$ 56,6 milhões previstos no orçamento deste ano. Desde sua implementação, em 2005, o programa já desembolsou R$ 57,6 milhões. Neste mesmo período, no entanto, deixou de aplicar R$ 178,7 milhões"
Ainda segundo a matéria elaborada pelo site Contas Abertas "Desde sua criação, no entanto, o programa (Brasil Quilombola) sofre com a baixa execução. Logo no primeiro ano de sua implementação, 2005, o programa contou com R$ 28,6 milhões previstos, dos quais somente 25% foram efetivamente aplicados. Em 2006, o orçamento aprovado teve um incremento de mais de R$ 23 milhões em relação ao ano anterior, totalizando R$ 52,3 milhões. Apesar disso, menos da metade foi executado – 31%. No ano seguinte o orçamento previsto caiu para R$ 45,4 milhões, dos quais apenas R$ 13,3 milhões foram efetivamente gastos. Foi no ano passado, no entanto, que as comunidades foram menos favorecidas com os recursos do Brasil Quilombola. De um orçamento de R$ 53,4 milhões, somente R$ 8,5 foram desembolsados, batendo o menor índice de execução do programa (16%)."
A baixa execução ainda segundo a matéria atinge aos mais diversos órgãos da adiministração direta e indireta, seja nos ministérios responsáveis por políticas públicas universais, que no entanto, recebem verbas específicas para a questão quilombola como Educação, Saúde, Cidades, etc. No entanto, por incrível que pareça os piores executores são os ministérios que trabalham diretamente com a questão: a SEPPIR (dados mostrados acima) e o MDA. Segundo o site Contas Aberta: "cerca de 76% do previsto no orçamento do programa Brasil Quilombola fica sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que, por meio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), coordena o reconhecimento, demarcação e titulação das áreas remanescentes de quilombos. De R$ 42,7 milhões, foram pagos R$ 6,4 milhões, ou 15%. Com este recurso, o Incra também indeniza os donos de pouco mais de 3% das áreas a que têm direito as comunidade quilombolas. Até o fechamento da matéria, o órgão não esclareceu os motivos para a baixa execução do Brasil Quilombola."
Ou seja, nem mesmo esta baixa verba (em se tratando de desapropriação de terras) é utilizado pelo INCRA, o que em nossa opinião prova que o governo federal esta na prática abandonou a política de titulação territorial quilombola em claro ataque a Constituição Federal Brasileira.
Para finalizar, voltemos a matéria do site Contas Abertas: "Em média, Orçamento Quilombola desembolsa apenas 26%. Faltando pouco mais de um mês para o fim do ano, os quilombolas ainda aguardam R$ 76 milhões previstos no chamado “orçamento quilombola”, um extrato do orçamento da União contendo as ações que afetam diretamente as comunidades remanescentes de quilombos. Estruturado sobre quatro grandes programas - Brasil Quilombola, Cultura Afro-Brasileira, Comunidades Tradicionais e Promoção de Políticas Afirmativas para a Igualdade Racial – o quarteto já desembolsou quase R$ 193 milhões desde 2004. Apesar disso, no mesmo período deixou de aplicar um montante de R$ 405,6 milhões. (...) Ricardo Verdum, assessor de políticas indígena e socioambiental do Inesc, avalia que no programa Brasil Quilombola não se conseguiu gastar, em média, mais do que 26% do orçado entre 2005 e 2008. Para Verdum, as políticas públicas para acs comunidades quilombolas dependem muito do desempenho de terceiros – ONGs, associações locais, secretarias estaduais e municipais. “Quando não há o compromisso político e falta interesse, só procedimento burocrático movendo as pessoas, tudo fica muito mais difícil. Considerando os desafios, é pouco o orçamento e lamentável o gasto efetivamente realizado”, avalia.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Quilombolas IV - Apoio aos funcionários do Setor QUILOMBOLA DO INCRA

Agora uma Carta minha endereçada ao Senhor Presidente do INCRA-Brasil, a respeito da questão Quilombola e em apoio aos funcionários do INCRA que apesar da mávontade política do governo insistem em servir a Coisa Pública e a política Constitucional de Regularização Territorial das Comunidades Quilombolas.
Prezado Sr. Rolf Hackbart,
Não sou funcionário do INCRA, no entanto, na condição de cidadão brasileiro, antropólogo e estudioso da temática quilombola (inclusive já tendo prestado serviço ao INCRA-MG por ocasião dos RTID'S das Comunidades de MUMBUCA E MARQUES) venho através desta mensagem me solidarizar com os funcionários em geral do Setor Quilombola desta Instituição e, em particular, com os colegas antropólogos que iniciam saudável, necessário, ético e republicano processo de mobilização em busca de melhorias na condição de trabalho e um posicionamento efetivo deste órgão em relação a uma política ativa de regularização dos territórios quilombolas. Política esta que além de cidadã, e republicana é um Direito das Comunidades Quilombolas e um dever do Estado, conforme determina o Art. 68 da ADCT da CF/1988.
Senhor Presidente, na quinta-feira próxima passada tive oportunidade de participar de uma mesa de debates a respeito do Programa Brasil Quilombola, em Montes Claros no Norte-Mineiro com a presença de dois ministros de Estado tive a oportunidade, em minha fala, de rememorar a todos presentes que tais políticas além de insuficientes não são dádivas ou não deveriam ser dádivas deste ou daquele governo, pois regularizar os territórios quilombolas e mesmo realizar uma série de políticas públicas de melhorias é questão de Direito e uma Política de Estado. O Art. 68 da ADCT não deixa dúvida ao obrigar o Estado a emitir os títulos às comunidades quilombolas.
Assim sendo o movimento, ora iniciado pelos funcionários desta autarquia nos renovam as esperanças de que o INCRA continue vigilante em sua função e que não fraquejará diante de sua missão precípua ainda que esta desagrade interesses poderosos e reacionários.

Acompanho mais de perto a situação da SR de MINAS GERAIS, e tenho presenciado esforço abnegado, no entanto, infrutífero destes funcionários uma vez que sua atividade ainda que respaldada pela Constituição Federal, por decretos e mesmo por uma, ou melhor por várias Instruções Normartivas (diga-se de passagem, o episódio da IN 56, ou melhor, IN 57 exemplifica didaticamente os perigos aos quais os funcionários que ora iniciam este movimento querem e necessitam escapar) não encontram a devida resposta dentro do próprio órgão e deste em relação aos demais órgãos da administração federal. Da minha parte como cidadão espero que o INCRA continue a manter o compromisso com a Coisa Pública e com a legislação como deve ser a um órgão de cunho republicano. Espero, por fim, que tal movimento sensibilize as hostes diretivas do órgão para a necessidade de que se reiniciem a política de regularização territorial que a rigor nos últimos 03 anos praticamente inexiste.

Ps: as opiniões emitidas nesta mensagem são pessoais não refletindo necessariamente o posicionamento dos órgãos aos quais sou vinculado, seja na posição de membro ou funcionário.
Carlos Eduardo Marques - Professor da Faculdade de Ciências Jurídicas da FEVALE/UEMG. Membro do Núcleo de Estudos em Populações Quilombolas e Tradicionais da UFMG (NUQ/UFMG). Sócio da ONG CEDEFES- Centro de Documentação Eloy Ferreira Silva referência na área de pesquisa e documentação da questão quilombola em Minas Gerais.
Belo Horizonte, Terça-feira, 3 de Novembro de 2009.

Quilombolas III

Para contrabalancear um pouco. Uma bela matéria de um outro nosso amigo, Daniel Martins, do sempre aqui citado e ótimo Peramblogando. Trata-se de um a bela exposição nos metros de Sampa. Lá no finalzinho da matéria ele dá uma colher de chá e cita nosso blog. O que significa centenas de potenciais novos leitores. Amigos são para essas coisas.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Quilombolas - Tradições e Cultura da Resistência
Passando ontem pela estação da Sé em São Paulo me deparei com uma exposição intitulada: "Quilombolas - Tradições e Cultura da Resistência". Fotos e textos em vários painéis. Já havia passado inúmeras vezes por ali sem no entanto ter percebido a presença da exposição. Para minha surpresa a mesma está lá desde 10 de outubro e deveria ter sido encerrada no último dia 30. Talvez por conta do feriado os painéis ainda se encontravam por lá... Sorte minha.
A exposição contempla o registro fotográfico realizado por André Cypriano, resultado da pesquisa de campo em 11 comunidades negras remanescentes dos quilombos no Brasil.

A mostra pretende divulgar a realidade das comunidades quilombolas brasileiras e incentivar o diálogo entre as comunidades afro-descendentes de cada região do país por onde passa, dando-lhes visibilidade e enfatizando as questões sociais, culturais, reconhecimento e participação social. A ressemantização do conceito de quilombo também é tratada, de forma simples mas suficiente para apresentar ao público o novo significado do conceito.
Acredito que logo a exposição será desmontada (se já não tiver sido). A boa notícia é que seguirá em São Paulo, dessa vez na estação Paraíso do metrô.

A exposição é composta por 27 fotografias em preto-e-branco, no formato 50 cm x 75 cm; sete fotografias panorâmicas, no formato 40 cm x 110 cm, seis fotografias em preto-e-branco 30 x 40 cm, dois mapas, cinco painéis de textos e legendas. O trabalho já circulou por 15 cidades brasileiras e seis cidades da América Latina - Assunção, Buenos Aires, Montevidéu, La Paz, Lima e Bogotá.

A curadoria da exposição é de Denise Carvalho, produtora cultural e diretora da Aori Produções Culturais, empresa realizadora do projeto. O material original faz parte do livro Quilombolas - Tradições e cultura da resistência, com fotografias de André Cypriano e pesquisa de Rafael Sanzio Araújo dos Anjos.
Exposição Quilombolas - Tradições e Cultura da Resistência Local: Estação Paraíso do Metrô - São Paulo - SP Visitação: 10 a 30 de novembro de 2009 Diariamente, no horário de funcionamento do Metrô.
Para saber mais sobre quilombos, quilombolas e afins a dica é o blog abanjá do amigo Carlos Eduardo Marques, estudioso do assunto e militante da causa.

Quilombolas II

Em consonancia com o post anterior, abaixo um texto, do nosso colega e amigo Alexandre Sampaio (publicado no outro blog do qual sou um dos editores). Estive também como convidado neste evento que ele relata abaixo e, em linhas gerais, assino embaixo de seu texto. Para o Gov. LULA só existe uma política, o desenvolvimentismo a qualquer custo, fora disso não existe vida inteligente e nesta todada, me perdoem o linguajar que se danem o meio ambiente e as populações tradicionais.

O que não é PAC, emPACa
Alexandre Sampaio
Ocorreu em Montes Claros, entre os dias 28 e 30 de outubro, o “Seminário Integrado de Políticas para Comunidades Quilombolas”, realizado pela SEPPIR. Foram convidados para este evento: lideranças das comunidades quilombolas mineiras, gestores públicos municipais e representantes de algumas organizações do 3º. Setor.
O Seminário tem uma proposta interessante que é a de apresentar um conjunto de políticas públicas que podem ser acessadas por comunidades quilombolas. Este evento deve se repetir em outros 4 estados que foram priorizados pela SEPPIR, segundo informações dos realizadores, pelo maior número de comunidades reconhecidas, sendo eles: Maranhão, Bahia, Pernambuco e Pará. A abertura contou com a presença do Ministro Edson Santos, da SEPPIR e de Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social.
Apesar do nome “seminário integrado de políticas”, as políticas apresentadas foram basicamente vinculadas a apenas 3 ministérios, Saúde, Educação e Desenvolvimento Social. Das ausências, uma foi especialmente sentida, a do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Em 3 dias de discussão, nada se falou de prático sobre a regularização fundiária dos territórios quilombolas, apesar das faixas da Federação Quilombola Mineira que exigia a regularização imediata das mais de 100 processos abertos junto ao INCRA-MG. Por parte do governo, os únicos a mencionar a questão, os ministros, em seus discursos de abertura, falaram sobre a importância de tal regularização, indicaram a dificuldade deste processo, inclusive pelo questionamento do decreto 4887 de 2003 junto ao STF, ou seja, “choveram no molhado”. Ao final, tangenciaram o assunto sem indicar possibilidades de solução para a questão. Também fora mencionada a “mítica” reunião de cobrança do presidente Lula pela aceleração da regularização fundiária, tão divulgada pelas nossas listas de e-mails, mas os resultados obtidos continuam os mesmos, a questão continua emPACada.
A impressão que se tem é que o governo não pretende atuar de forma significativa na questão antes da eleição de 2010, ou seja, deve continuar tudo “à banho maria” para o próximo governo. Diante das opções de forças políticas que se apresentam com maiores possibilidades de se elegerem, dificilmente a regularização fundiária de comunidades quilombolas se desenvolverá por boa vontade pública, sem pressão social.
Pelas palavras do Ministro Edson Santos, a questão de regularização fundiária ocorrerá com “muita responsabilidade”. Mas que responsabilidade é esta que pela omissão deixa milhares de famílias em situação precária de subsistência e risco de vida diante do pouco acesso aos bens e políticas públicas e até mesmo expostos a situações de conflito agrário em seus territórios? Em um dos momentos do evento, quando se discutia uma política de acesso a “sementes crioulas”, uma liderança da comunidade da Lapinha perguntou: E nós vamos plantar estas sementes aonde?
Outra questão perceptível é a dificuldade em dar um contorno mais focalizado, no atendimento às comunidades quilombolas, em políticas públicas generalistas. Em um dos casos apresentados, o programa “Minha Casa, Minha Vida”, o fato da comunidade ser quilombola parece criar mais burocracia do que facilidades, pois, além da comprovação de adimplência do beneficiário particular (da família a ser beneficiada), há todo um processo que passa pela associação da comunidade, algo que não existe para os beneficiários não quilombolas.
Outra ausência sentida foi a de representantes do Governo do Estado de Minas Gerais, o que nos deixa uma questão, foi por falta de convite ou por omissão mesmo? Falando em omissão, se formos considerar os 5 estados priorizados por esta atuação da SEPPIR, ou seja, os 5 estados com maior números de comunidades quilombolas reconhecidas, Minas Gerais é um o único que tem se omitido em discutir, de forma propositiva, políticas públicas para as comunidades quilombolas. Segundo o secretário do Instituto de Terras de Minas, Manuel Costa, “por falta de pressão política do movimento”.
Como dissemos antes, consideramos a proposta do seminário interessante por permitir um maior acesso à política pública, mesmo que pelo acesso a informação, destas lideranças quilombolas, além de criar uma agenda pública nos municípios, mas muito tem que se avançar para garantir um acesso mais igualitário dos quilombolas mineiros às políticas públicas, principalmente ao acesso a seu território que deveria ser a política transversal quando se trata de populações tradicionais.

Quilombolas I

Todo nosso apoio aos quilombolas baianos em particular e a todos os quilombolas do Brasil em geral. NESTE MOMENTO DE REFLUXO TÃO GRANDE E PERIGOSO DA QUESTÃO.

Manifesto em Defesa das Comunidades Quilombolas do Estado da Bahia

Nós representantes de diversas entidades do movimento negro organizado vimos explicitar solidariedade às Comunidades Quilombolas da Bahia que estão na luta pela garantia de seus territórios tradicionais. Denunciamos e repudiamos a ação governamental racista do Estado que quer passar pela tradição, diretos conquistados, cultura e autodeterminação deste povo que resiste ao processo escravista a mais de quinhentos anos.

As comunidades quilombolas do Estado da Bahia vem denunciar as ações que o Governo do Estado vem implementando em parceria com grandes empreiteiras, grupos empresariais estrangeiros e grandes grupos econômicos nacionais. Esta parceria faz a opção por um Modelo de desenvolvimento Racista e Concentrador de riqueza que tem como perspectiva a inviabilização do modo de vida, a expulsão dos seus territórios e conseqüentemente o extermínio destas comunidades.

Na Baía de Todos os Santos, lugar de ocupação das comunidades negras rurais que foram abandonadas desde o "final" do processo escravista, parece até que resolveram atacar de todos os lados de uma só vez:

Querem implantar um Pólo Industrial Naval na Reserva Extrativista do Iguape, lugar de maior preservação da Baía de Todos os Santos, que abriga mais de 30 Comunidades Quilombolas, cerca de 20 mil pescadores e marisqueiras, e que tem como modelo de economia, o extrativismo marinho e da floresta, a agricultura familiar, e não o modelo da industrialização... As promessas são de geração de empregos. A pergunta é: para quem?
Com a implantação deste projeto pretendem deslocar uma Comunidade Quilombola inteira, utilizando-se de praticas desrespeitosas, perseguindo lideranças, ameaçando a auto-sustentação das famílias, chantageando e perseguindo lideranças e entidades. Por trás disso estão as grandes empresas ODEBRECH, OAS e UTC.

Querem privativar a Ilha de Cajaíba, que oficialmente localiza-se ao município de São Francisco do Conde, mas que é espaço comum dos pescadores e Quilombolas de Santo Amaro, Saubara, São Francisco do Conde e até dos pescadores de outras áreas como Ilha de Maré, Madre de Deus, Candeias. A Ilhas de Cajaíba é formada 60% por manguezais, de onde esta população tira os caranguejos, ganhamuns, mariscos e possui uma diversidade de recursos como cipós para o artesanato, frutas silvestres como a cajá, o jenipapo, a goiaba, entre outras que são vendidas nas beiras das estradas ao longo do Recôncavo. O uso tradicional da Ilha garante a segurança alimentar e nutricional, bem como a geração de renda.
Tomar para quem?
Para um grupo de empresários Europeus chamado PROPERT LOGIC que quer implantar um grande Resort para o turismo Internacional predatório.

Querem duplicar o Porto de Aratu.
A Comunidade Quilombola, de pescadores e marisqueiras de Ilha de Maré está assustada com esta notícia, pois foi constatado no sangue das crianças, altos índices de Chumbo e Cádmio. Estas comunidades sofrem com as poluições atmosféricas e do mar causada pelo Porto de Aratu, o que tem aumentado o número de mortes por câncer, de crianças com asma e a diminuição do pescado.
Há estudos no Instituto do Meio Ambiente-IMA (antigo CRA) que constataram a alta concentração de poluição na região do entorno do Porto de Aratu, não havendo ainda nem perspectivas de solução. Contraditoriamente pretendem ampliar o Porto de Aratu e fazer uma dragagem dos sedimentos que guardam grandes quantidades de poluição química, inclusive os metais pesados.

A comunidade do São Francisco do Paraguaçu está ameaçada por 13 fazendeiros e grupos poderosos com grandes interesses para tomarem o território Quilombola. Dentre os quais estão Marcos Medrado, a família Santana, Marcelo Guimarães, os Diniz, etc. Os ataques têm se organizado dentro e fora do Congresso Nacional, no judiciário e até no executivo. Esta Comunidade, é hoje um símbolo de resistência aos diversos lobbys que vão desde o questionamento da constitucionalidade do Decreto 4887/03, que regulamentou a demarcação das Terras, até a manutenção e ampliação das políticas.

E, contraditoriamente, as Políticas Públicas para as Comunidades Quilombolas andam a passos de cágado...

No início do Governo LULA foi grande a expectativa de avanços na implementação dos DIREITOS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS. O Decreto 4.887 de 2003 foi saudado como uma sinalização positiva de que o governo iria agilizar o cumprimento do PRECEITO CONSTITUCIONAL. No entanto, os resultados em termos de titulações foram muito limitados: apenas seis Títulos em cinco anos de governo.

Neste ano, o INCRA não tem sequer uma equipe completa para a principal ação do processo de regularização do território das Comunidades Quilombolas, que é a elaboração do Relatório de Identificação e Delimitação/RTID, etapa inicial do processo. O INCRA Bahia tem 1 antropóloga e 297 comunidades, que aguardam o desenvolvimento deste relatório, que pelas exigências da última instrução normativa de número 49, é um verdadeiro tratado antropológico. A desaceleração no ritmo já moroso do INCRA é mais um sinal da posição de recuo do governo frente à massiva campanha contra os Quilombolas. Intensificada a partir de 2007, a campanha envolveu além de materiais difamatórios que circularam na imprensa, iniciativas legislativas de integrantes da base aliada do Governo contra os DIREITOS QUILOMBOLAS.

Conclamamos a toda sociedade baiana e ao povo em geral, para apoiarem as COMUNIDADES QUILOMBOLAS DA BAHIA, repudiando aos grandes projetos que ameaçam diretamente as suas vidas e, mais ainda, a qualidade de vida do povo baiano. Esta luta não é apenas das marisqueiras e pescadores que encontram há centenas de anos o sustento de suas famílias com a pesca de peixes e mariscos. Não é apenas dos Quilombolas, povo nativo que respeita e protege a natureza. Não é apenas do Povo Negro, que enfrenta os diversos tipos de preconceitos.

Diante desta ação de Racismo Institucional e Ambiental, exigimos a efetivação dos direitos territoriais, sociais, econômico, ambientais, culturais e políticos das comunidades quilombolas e exigimos a preservação e integridade física de seus territórios, bem como a qualidade de vida de todos.

Neste momento, que a representação do INCRA visita a Bahia, exigimos:

· O FIM DA CRIMINALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES E SUAS LIDERANÇAS;
· QUE A ILHA DE CAJAÍBA, TERRITÓRIO QUILOMBOLA, NÃO SEJA PRIVATIZADA;
· QUE O RACISMO AMBIENTAL SEJA CONTIDO NA COMUNIDADE DE ILHA DE MARÉ;
· QUE A AMPLIAÇÃO DO PORTO DE ARATU NÃO SE REALIZE COM A VIOLÃÇÃO DOS DIREITOS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS;
· QUE OS GOVERNOS SEJAM MONITORADOS DIANTE DA ATITUDE DO DESCASO COM A CONTAMINAÇÃO POR CHUMBO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DE SANTO AMARO;
· QUE O GOVERNO BAIANO ESTABELEÇA O DIÁLOGO COM AS LIDERNÇAS QUILOMBOLAS, POIS O PÓLO NAVAL AMEAÇA A REPRODUÇÃO FÍSICA E CULTURAL DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO VALE DO IGUAPE;
· O FIM DO ATAQUE AO TERRITÓRIO DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS DO IGUAPE;
· QUE AS COMUNIDADES NÃO SEJAM PUNIDAS COM A FALTA D`ÁGUA, POIS AS LAGOAS ESTÃO SECAS NOS QUILOMBOS DE PARATECA E PAU DARCO, POR CONTA DA CONSTRUÇÃO DE BARAGENS E PROJETOS DE IRRIGAÇÃO DO AGRONEGÓCIO, QUADRO QUE SE AGRAVARÁ COM A TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO;
· O CUMPRIMENTO DA LEI 10639 NAS ESCOLAS DAS COMUNIDADES QUILOMBOLAS;
· POLÍTICAS PÚBLICAS EFETIVAS PARA AS COMUNIDADES QUILOMBOLAS;
PELA TITULAÇÃO URGENTE DOS TERRITÓRIOS QUILOMBOLAS, COM A FORMAÇÃO DE EQUIPES COMPLETAS NO INCRA;


Comitê em Defesa das Comunidades Quilombolas da Bahia

sábado, 8 de agosto de 2009

Latinidad

Essa semana foi auspiciosa (para usar o termo na moda) participei do Evento de fundação do CESAL- Centro de Estudo Social da América Latina, foi um excelente encontro, de altíssimo nível. Com debates interessantíssimos nos campos das teorias pós-coloniais e da sociedade civil. Mas o melhor de um encontro como esse, é a chance de encontrar alguns colegas- neste caso ótimas conversas, ótimos encontros, ótimas trocas acadêmicas com César Baldi e Mirian Chagas- grandes colegas. E encontrar outros amigos aqui de BH. Mas nada se comparou a troca com os camaradas latinos, principalmente os colombianos. Foi ótimo, principalmente porque apresentávamos (eu e mais 3 colegas) um trabalho comparado entre o Brasil e a Colômbia, no que se refere a questão do direito territorial das comunidades negras.
O que já estava bom, fico melhor hoje, quando outra colega que trabalha no Museu Inhotim me convidou para acompanhar algumas pessoas que estão em BH para um evento vinculado a Unesco. E eis que sem saber, asboas energias, me fez acompanhar um grupo maravilhoso vejam bem de novamente colombianos, equatorianos, peruanos e nicaraguense. Todos acadêmicos e/ou lideranças sociais dos movimentos negros e indígenas. Vejam que coincidência maravilhosa: na semana que apresentamos um trabalho comparativo sobre a afro-latinidad inclusive para duas autoridades acadêmicas colombianas. Hoje tenho chance de conhecer o grande Ruben - ele próprio liderança importante do Palenque de San Basilo, ou então com a Profa. Alta Garifunda e reitora da Univ. Autônoma da Nicarágua. Para quem não sabe os Palenques da Colômbia e os Garifunas da Nicaragua são como os quilombolas do Brasil. Tudo isso só serviu para reforçar o sentimento de que já passou da hora do Brasil fingir não fazer parte da Latino-América. Devemos parar de olhar somente para a Europa. Como bem demonstrou o Ruben "a sus hermanos quilombolas de Brumadinho-Mg" tanto na cultura, como na linguagem ambos os povos se aproximam muito. Enfim dias en que yo hablei mucho e si duda logrou en mi uma latinidad que nie imaginaba.
****************
E a Marina Silva? Será que se filia ao PV? eis o assunto político do momento. Assunto espinhoso não pela Marina é claro. Figura humana e política da melhor cerpa, mas por causa do PV. Em quase todo as nações os verdes são partidos de esquerda- em alguns países de extrema esquerda- no Brasil é de direita. Isto é um fato inegável. Participa do governo Serra e Aécio, do governo Kassab, foi apoiado por PSDB e DEM no Rio. O Gabeira, esse eu não compro, pode agradar a orla sul do Rio, aquela que gosta de pousar de moderna mas é tão reacionária quanto a elite paulistana dos Jardins. Haja complicação neste possível novo partido de Marina. Por exemplo, aqui em Minas, o PV é área da direita raivosa com pessoas como Ciro e Carlayle Pedrosa, Mediolli, Romulo Vneroso entre outros de péssima fama e comportamento...seria acreditar m papai noel pensar que estas figuras largaram o osso ou mesmo que seriam expulsas do partido. Este é meu medo a grife Marina ser usado por essas figuras....no entanto, é inegável que sua possível candidatura incomode e, bastante, o príncipe. Afinal muito dos epitetos que poderiam ser usado a favor de Dilma cabem de melhor tom em Marina. É esperar para vermos.

domingo, 21 de junho de 2009

Curso: " OTrabalho do Antropólogo em Situações de Perícia"

O Núcleo de Estudos sobre Populações Quilombolas e Tradicionais (NuQ/UFMG) e o Centro de Documentação Eloy Ferreira Silva

Apresentam:

Curso: "O Trabalho do Antropólogo em Situações de Perícia"

Expositor:
José Augusto Laranjeiras Sampaio
Antropólogo; Professor de Antropologia da Uneb (Universidade do Estado da Bahia); Ex-Coordenador do Grupo de Trabalho sobre Quilombos da ABA; Coordenador Executivo da Anaí e Pesquisador associado do Pineb.


Objetivos e características do Curso:

O curso visa introduzir e familiarizar, panoramicamente, o antropólogo em fase final de formação ou recém-formado - ou ainda os profissionais interessados em expandir seu campo de atuação - com os debates e conhecimentos próprios ao âmbito de produção de perícias antropológicas no Brasil. Tal acervo de conhecimentos deve incluir:

- o mapeamento das reflexões resultantes da produção de perícias antropológicas no Brasil, com suas repercussões técnicas, políticas, éticas, teóricas e metodológicas;
- a discussão dos marcos teóricos de referência para a fundamentação epistemológica e metodológica da perícia em Antropologia;
- o exame preliminar de algumas peças periciais antropológicas (laudos, pareceres, informações técnicas...).
- o contexto legal, político e técnico das situações que, tipicamente, têm demandado perícia antropológica, tais como:
- regularização de territórios de grupos étnicos e outras "comunidades tradicionais", com especial atenção ao campo teórico da compreensão de suas distintas "territorialidades" e "processos de territorialização";
- a caracterização pericial dos sujeitos sociais de direitos específicos; a Convenção 169 da OIT e outros marcos teóricos e legais;
- as perícias antropológicas em estudos de impacto socioambiental, em processos penais, processos patrimoniais (tombamento e conservação) etc.;

Metodologia:
O curso será ministrado em seminários temáticos, apoiado em bibliografia de indispensável leitura prévia pelos cursistas, com exposição e debate, e, eventualmente, apoiado também em material audiovisual (filmes).

Carga Horária:
20 horas, em cinco sessões de quatro horas-aula cada, de segunda a sexta feira.

Período:
22 a 26 de junho de 2009.

Coordenação Executiva:
Alexandre Lima Sampaio – Economista e Mestre em Sociologia pela UFMG, pesquisador do NuQ-UFMG, sócio do Cedefes.
Carlos Eduardo Marques – Cientista Social e Mestre em Antropologia pela UFMG, pesquisador do NuQ-UFMG, sócio do Cedefes. Professor da Faculdade de Ciências Jurídicas da FEVALE/UEMG.
Pablo Camargos – Historiador, assessor técnico e sócio do Cedefes.
Coordenação Geral:
Profa. Dra. Deborah Magalhães – Profa. do Departamento de Sociologia e Antropologia da FAFICH-UFMG, Coordenadora do NuQ-UFMG.

terça-feira, 16 de junho de 2009

SITUAÇÃO ATUAL SOBRE OS DIREITOS QUILOMBOLAS

Nota da Coordenação Nacional de Articulaçõ das Comunidades Negras Rurais Quilombolas.

SITUAÇÃO ATUAL SOBRE OS DIREITOS QUILOMBOLAS
Na história do Brasil, as Comunidades Quilombolas são e sempre foram exemplo de organização social, assim como as comunidades negras em toda diáspora africana. Como evidência dessa importante forma de organização, estimamos existir atualmente cerca de 5.000 comunidades quilombolas em todo território nacional, com histórias que vão desde pouco menos de 100 anos de formação a séculos de existência.

Hoje, essas milhares de comunidades vêm formando grande rede de articulação em vários níveis: organizações locais, municipais, regionais, estaduais e nacional, essa última representada pela CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), hoje com presença em quase todas as Unidades da Federação.

Essa crescente mobilização das Comunidades Quilombolas tem trazido importantes resultados na construção de uma política de Estado que reconheça os direitos desse grupo, que vai desde a criação do Artigo 68 do ADCT (Atos das Disposições Constitucionais Transitórias) e outras citações contidas na Constituição Federal de 1988, passando por decretos, portarias, instruções normativas, tratados internacionais e legislações editadas pelos governos estaduais.
Dessas conquistas, vale destacar o decreto 4.887, assinado pelo Presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, em 20 de novembro de 2003, regulamentando os procedimentos técnicos e administrativos para o reconhecimento, demarcação, delimitação e titulação dos territórios quilombolas, que traz o critério de auto-reconhecimento, como elemento básico para o início do processo de regularização. Ele traz outros avanços no que diz respeito à regularização fundiária e ainda cria o Programa Brasil Quilombola, que destina recurso de vários órgãos do Governo Federal para o desenvolvimento social e econômico das comunidades.

A partir da criação do decreto, o número oficial de comunidades identificadas no país passou de 743 para mais de 3.000, o que gerou grande preocupação no setor fundiário, seguida de forte estratégia na tentativa de anulação dos direitos quilombolas, puxada pela bancada ruralista, empresas do agronegócio e grupos de comunicação.

Além da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3239/04), de autoria dos Democratas, ex-PFL (Partido da Frente Liberal), em tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal), que contesta a constitucionalidade do decreto 4887/03, existem atualmente os seguintes projetos no Congresso Nacional:

PDC 44/07 de autoria do Deputado Federal Valdir Colatto (PMDB-SC) que pede a anulação do decreto 4887;
PL 3654/08 de autoria do mesmo deputado, que ‘regulamenta’ o artigo 68 do ADCT, segundo os interesses da bancada ruralista;
PEC 190/00 de autoria do Senador Lúcio Alcântara (PSDB/CE), que exclui o Artigo 68 e insere novo item (no Capítulo VIII, Título VIII, seria o artigo 232-A), que apresenta outra redação para o texto do Artigo 68, com o problema de sugerir tratar-se de indivíduos e não coletividades e de indicar que a titulação deverá ser feita ”na forma da lei”, sem dizer qual seria essa lei.
PL 6264/05, aprova o Estatuto da Igualdade Racial, havendo uma forte pressão para a retirada do texto que trata dos territórios quilombolas de dentro do Estatuto.

A situação acima apresentada demonstra o quanto as comunidades quilombolas têm incomodado os grileiros e latifundiários em todo país. Para piorar, além desses procedimentos jurídicos e legislativos, acontece atualmente, em todo país, uma série de ações de violência contra famílias quilombolas, negação da identidade étnica do grupo, pedido de reintegração de posse por parte de fazendeiros e criminalização do movimento social quilombola.

Importantes grupos de comunicação fazem uso da concessão pública para se colocarem a serviço dos ruralistas. Órgãos do Estado Brasileiro também tem atuado em favor desses grupos (Polícias Militar, Civil e Federal, órgãos ambientais, etc) e o próprio judiciário, em alguns casos.
ESTRATÉGIA DE DEFESA DOS DIREITOS QUILOMBOLAS
Do ponto de vista político, jurídico e administrativo
A CONAQ tem atuado em várias frentes a fim de reverter esse quadro crítico de direitos ameaçados. Um grupo de organizações sociais de defesa dos direitos humanos tem dialogado diariamente entre si e com o movimento quilombola. Das ações já desenvolvidas, destacam-se:

Diálogo com a 6ª Câmara do Ministério Público Federal (Índios e Minorias), para tratar das estratégias de defesa dos direitos quilombolas;
Diálogo com a assessoria da Senadora Marina Silva para a articulação de um grupo de parlamentares que apóiem a causa quilombola;
Diálogo com o Ministro Edson Santos da SEPPIR, Deputado Federal Carlos Santana – PT/RJ (Presidente da Comissão Especial para análise do Estatuto da Igualdade Racial) e Deputado Federal Antônio Roberto – PV/MG (Relator do Estatuto da Igualdade Racial), para tratar do Estatuto da Igualdade Racial;
Diálogo com Dr. Pedro Abramovay, secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Ministro da Justiça Tarso Genro e Advogado Geral da União Ministro Toffoli, todos para tratar da ADI 3239;
Em curso, elaboração de memorial, com informações para subsidiar o STF na votação da ADI 3239;
Pedido de Audiência Pública ao STF;
Pedido de Audiência com os Ministros do STF para tratar da ADI, sendo que até agora fomos recebidos por Menezes Direito, Carlos Ayres Brito, Ricardo Lewandowsky e Carmem Lúcia Antunes Rocha;
Pressão sob o INCRA, para consolidação de alguns processos de regularização que estejam em estágios mais avançados, como forma de fortalecimento do decreto.
Do ponto de vista da sensibilização da opinião pública
Escrevemos o Manifesto pela Defesa dos Direitos Quilombolas, petição colocada na internet, para colher assinaturas das pessoas sensibilizadas com a questão. Já passamos de 2000 assinaturas. Está sendo utilizada o sitio www.conaq.org.br, página da CONAQ na Internet, pra dar visibilidade às ações que acontecem.

Foi aberto diálogo com um grupo de artistas negros para o desenvolvimento de uma campanha, envolvendo também artistas não negros sensíveis à causa quilombola. Essa campanha incluirá falas públicas dos artistas dizendo que apóiam a causa quilombola; ida dos artistas ao STF, Congresso Nacional e outros espaços estratégicos; e realização de shows desses artistas em apoio aos direitos quilombolas, em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

A CONAQ tem feito diálogo também com movimentos do campo e movimentos ambientalistas. Assim, participou do lançamento da Aliança Camponesa e Ambientalista em Defesa da Reforma Agrária e do Meio Ambiente, no Senado Federal, em 10 de março de 2009. Participou da I Semana pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, em debate sobre a Criminalização das Lutas Populares dos Povos do Campo. E participou da Vigília em Defesa da Amazônia, no Senado Federal, dia 13 de maio de 2009.

A participação da CONAQ na Conferência de Revisão de Durban, realizado em Genebra – Suiça, entre os dias 20 e 24 de abril do corrente, foi fruto de muita disputa entre atores interessados em compor a delegação brasileira. Ela foi importantíssima para a divulgação da questão quilombola em âmbito internacional, resultando na Carta de Genebra em Defesa dos Direitos Quilombolas (disponível no site da CONAQ). Também valeu para se abrir um diálogo na França, com vistas à construção de campanha internacional em defesa dos direitos quilombolas.

Em diálogo com a AMAR, organização não-governamental francesa, ficou estabelecido que: serão recolhidas assinaturas na França para apresentar ao Estado brasileiro; a CONAQ fica convidada à participar da Semana da Solidariedade no mês de novembro na França; e a Organização Povos Solidários promoverá uma Campanha na Europa em defesa dos direitos quilombolas no Brasil.

Estamos propondo às organizações representativas do movimento quilombola nas esferas estaduais e locais, que sejam realizados manifestos, audiências públicas nas Assembléias Legislativas, mobilização de atores políticos nos estados, etc, para que o movimento em defesa dos direitos quilombolas ganhe força nas também nas bases, não ficando restrito ao espaço de Brasília.

Estamos propondo a realização da Mobilização Nacional pela Defesa dos Direitos Quilombolas, em Brasília, durante a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial – II CONAPIR, entre os dias 25 e 28 de junho, com os quilombolas delegados da CONAPIR mais outros que conseguirem mobilizar ônibus dos estados para o ato, além dos movimentos parceiros.

Foi aberto diálogo com a direção nacional do Movimento Sem-Terra – MST, no sentido de tentar aproximar as lutas quilombola e da reforma agrária. Sugestão de acompanhamento, pelas entidades quilombolas estaduais, da ação política que o MST está organizando, dias 08 e 09 de junho, pela defesa do PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), com ocupação nos INCRAS dos Estados. Em negociação, apoio dos assentamentos do DF e entorno na mobilização nacional pela defesa dos direitos quilombolas.
Coordenação Executiva

sábado, 2 de maio de 2009

Covite para visita um Blog irmão

Aos amigos que frequentam esse blog, sugerimos visitar o blog Quilombos http://quilombos.wordpress.com/, da qual somos um dos redatores e administradores.Lá como cá a importante manifestação da Igreja Reformada Anglicana a favor dos Quilombolas:
Carta da IEAB Sobre o Estado das Comunidades Quilombolas Urgente!
À Sua Excelência Ministro Relator Cezar Peluzo
Ao Povo da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil
A Sociedade Brasileira

É inspirados nesse desejo e advertência do profeta Amós e nas palavras do Arcebispo William Temple, que dirigimos esta carta aos membros da nossa Igreja, ao Sr Ministro Cezar Peluzo, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Relator do Processo (ADI) Nº 3.239 e a todas as pessoas de boa vontade.As comunidades negras rurais e quilombolas de todo o país vivem um momento delicado e tenso devido à iminência de votação da Ação de Inconstitucionalidade (ADI) Nº 3.239 pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ADI tem por objetivo anular o Decreto 4887/03, da Presidência da República, que estabeleceu os critérios e procedimentos para a regularização dos territórios quilombolas.
É importante notar que esse decreto é coerente com a Constituição Brasileira e com as convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil, especialmente a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT, Genebra, 27 de junho de 1989) quanto ao conceito de território e auto-definição dos povos.O Decreto 4887/03 foi uma importante conquista dos remanescentes de quilombo em todo o país e a sua revogação traria sérios prejuízos aos direitos quilombolas, ao impossibilitar abertura de novos processos para regularização de suas terras, paralisar aqueles em andamento e anular as conquistas já alcançadas.Todos estamos conscientes da grande dívida que a sociedade brasileira tem para com aqueles que foram trazidos à força da África para serem escravizados em nosso pais. Os quilombos foram uma das formas que os escravos encontraram para resistir ao sistema escravagista. Após a abolição, a permanência em seus territórios foi e continua a ser um dos fatores principais para a sua sobrevivência e reprodução como comunidades, tanto no nível material quanto cultural. No cumprimento da nossa responsabilidade como bispos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, chamados à fidelidade aos valores do Evangelho e conscientes de que, como Igreja, devemos buscar a justiça e contribuir para a superação das enormes distâncias sociais, culturais e econômicas que afetam as comunidades remanescentes quilombolas, não podemos nos omitir diante da possibilidade “ que queremos supor improvável - de o Supremo Tribunal Federal vir a revogar um procedimento legal que claramente tem permitido a agilização dos processos de garantia dos direitos territoriais e culturais das comunidades quilombolas e, assim, restaurado a justiça em seu favor.Assim, conclamamos a Igreja Episcopal Anglicana no Brasil:
1. Interceder para que o Deus de Amor no qual cremos continue a dar aos nossos irmãos e irmãs quilombolas a coragem necessária para continuar a sua luta por seus direitos;
2. Mobilizar-se em defesa dos direitos quilombolas, manifestando esta posição junto aos poderes constituídos, principalmente junto ao Supremo Tribunal Federal. Ao Supremo Tribunal Federal, na pessoa do Ministro Cezar Peluzo, Relator da ADI No. 3.239, solicitamos que seja convocada uma audiência pública sobre o assunto para que a mais alta Corte brasileira possa ouvir os representantes das comunidades quilombolas bem como especialistas no assunto antes de julgar a Ação de Inconstitucionalidade.A ADI Nº 3.239, apresentada pelo DEM (ex-PFL) é mais uma das investidas da bancada ruralista, do setor do agro-negócio e da grande mà­dia contra os direitos quilombolas garantidos na Constituição de 1988. Há cerca de 5.000 Comunidades Quilombolas no Brasil, sendo que dessas, aproximadamente 1.300 estão com processo de regularização fundiária em curso no Instituto de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) nos termos do Decreto 4887/03.O Decreto 4887/03 foi uma importante conquista dos remanescentes de quilombo em todo o país. Em seu §1 do Artigo 2º o Decreto 4887/03 prescreve: A caracterização dos remanescentes das comunidades dos quilombos será atestada mediante auto-definição da própria comunidade. No §2 o Decreto estabelece como terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural, assumindo as definições atuais da Antropologia e Ciências Sociais quanto ao conceito de território para a demarcação das terras quilombolas: serão levados em consideração critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as peças técnicas para a instrução procedimental. Com isto o Decreto 4887/03 esta em harmonia com as convenções Internacionais ratificadas pelo Brasil, das quais merece destaque a Convenção 169 da Organizaçà£o Internacional do Trabalho (OIT, Genebra, 27 de junho de 1989) quanto ao conceito de território e auto-definição dos povos. A derrubada do Decreto 4887/03 traria sérios prejuízos aos direitos quilombolas ao impossibilitar abertura de novos processos para regularização de suas terras, paralisar aqueles em andamento e anular as conquistas históricas.
Confiamos na imparcialidade desse Supremo Tribunal em ponderar e discernir entre o que seja diletantismo racional e encarnação da Justiça. Em Cristo que Ressuscitou nossa Esperança e fundamento da solidariedade com a causa da Justiça.

Dom Mauricio José Araújo de Andrade, Bispo Primaz, Brasilia, DF
Dom Almir dos Santos, Oeste
Dom Jubal Pereira Neves, Santa Maria, RS
Dom Orlando Santos de Oliveira, Porto Alegre, RS
Dom Naudal Alves Gomes, Curitiba, PR
Dom Sebastião Armando Soares Gameleira, Recife, PE
Dom Filadelfo Oliveira Neto, Rio de Janeiro, RJ
Dom Saulo Mauricio de Barros, Belém, PA
Dom Renato da Cruz Raatz, Pelotas, RS
Dom Roger Bird, São Paulo, SP
Dom Clovis Erly Rodrigues, Emérito
Dom Luiz Osório Pires Prado, Emérito
Dom Glauco Soares de Lima, Emérito
Brasília, 21 de abril de 2009.
Anselmo de Cantuária. Antes, corra o juízo como às águas; e a justiça, como ribeiro perene.(Amos 5:24)
A Igreja constitui a única sociedade do mundo que existe por causa daquelas pessoas que não são membros dela. Arcebispo William Temple, 1942.

sábado, 18 de abril de 2009

As Ações Afirmativas em Xeque

Esta semana tem sido de muitos debates e muitas lutas para aqueles que defende uma país mais justo do ponto de vista étnico-racial. A cada dia, mais e mais ataques as questões quilombolas e as cotas raciais, duas das muitas modalidades de ações afirmativas.
1- A Luta Quilombola continua forte e firme apesar dos contrários. Para fortalecer aos apoiadores reproduzo abaixo, artigo publicado pelo renomado e respeitado jurista e professor Dalmo Dalari. Em linhas gerais ele reafirma a posição de vários outros grandes juristas e antropólogos, inclusive este que vos fala, que disse algo na mesma direção em dissertação de mestrado:
Direitos constitucionais dos quilombos
Dalmo Dalari
Os constituintes brasileiros de 1988, inspirados nos princípios proclamados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, deram ao Brasil uma nova Constituição, tendo como um de seus objetivos fundamentais, claramente fixados no Preâmbulo, 'assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais'. Nessa linha, foi inserida no corpo da Constituição a definição dos direitos humanos como normas constitucionais, incluindo os direitos individuais e os direitos econômicos, sociais e culturais. Para garantia do efetivo exercício desses direitos, ficou estabelecido, no artigo 5, parágrafo 1, que 'as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata'. Essa disposição constitucional afirma com clareza, sem qualquer possibilidade de subterfúgios sob pretexto de interpretação, a auto-aplicabilidade das normas relativas a todos os direitos humanos. É importante lembrar que os constituintes aprovaram esse dispositivo para impedir que se reproduzisse, também quanto à nova Constituição, a maliciosa colocação de obstáculos falsamente jurídicos à efetivação dos direitos fundamentais solenemente afirmados no texto constitucional.

Essa manobra jurídica, verdadeira chicana, consistia na afirmação da necessidade de regras inferiores regulamentadoras para que as normas constitucionais pudessem ser aplicadas. Isso foi usado para impedir a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas, direito assegurado pela Constituição de 1946. Alegou-se a necessidade de uma lei regulamentadora e, graças à enorme influência do poder econômico no Legislativo, impediu-se que fosse aprovada qualquer lei regulamentando as normas constitucionais sobre aquele direito. E o Executivo, sob a mesma influência, ficou omisso, como se não tivesse poder regulamentar. E assim a Constituição foi usada como fachada ilusória, destinada a calar reivindicações porque os direitos já estavam proclamados.

Hoje não é mais possível usar de subterfúgios semelhantes para impedir, entre outras coisas, a aplicação do artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, segundo o qual 'aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos'. Essa norma, que define e garante direitos fundamentais, é auto-aplicável, por força do que dispõe o parágrafo 1 do artigo 5 da Constituição. E o referido artigo 68 não exige lei regulamentadora, sendo juridicamente perfeita a edição de decreto federal, estabelecendo regras administrativas visando dar àquela norma constitucional efetividade prática, possibilitando o gozo dos direitos. Além dessa base legal para o decreto regulamentador, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que integra a legislação brasileira desde 1992, determina que os Estados signatários, entre os quais o Brasil, adotem todas as providências necessárias para a eficácia daqueles direitos. Soma-se a isso a adesão do Brasil à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que também integra a ordem jurídica positiva brasileira e determina que sejam garantidos os direitos dos povos 'cujas condições sociais, culturais e econômicas os distingam de outros setores da coletividade nacional', como é o caso dos quilombos.

E foi justamente para a garantia efetiva dos direitos individuais e sociais dos quilombolas que o governo federal editou o decreto n 4887, de 2003, que deve ter aplicação imediata, garantindo-se a supremacia e a eficácia da Constituição.

2- As Ações Afirmativas e mais precisamente as cotas raciais
Esta para ser votado a qualquer momento em caráter terminativo na Comissão de Constituição e Justiça do Senado o Projeto que institui o Programa de Ações Afirmativas nas Universidades públicas federais brasileiras com viés tanto social quanto étnico-racial. Como sempre, os não racistas - o que por inferência lógica coloca-nos todos os que pensam diferentes na categoria de racistas - de novo fazem sua chicana e utilizam de todos os meios para convencer da desnecessidade da adoção de cotas com caracteres étnicos-raciais. De novo foi uma semana daquelas na Globo com direito a matérias diárias no jornal Nacional mostrando a perversidade deste instrumento e dos riscos que a cordial e democrática sociedade brasileira passará a correr.Interessante nenhuma palavra a respeito dos casos bem sucedidos, maioria absoluto nas mais de 50 !!! universidades que já adotaram esse programa.
Nada a se estranhar pois um dos principais diretores da Globo, que atende pelo nome de Ali Kamel é dos mais ferenhos críticos da política de cotas em sua modalidade étnico-racial (aliás, além de criticar as cotas raciais o Sr. Ali "NÃO SOMOS RACISTAS" Kamel - como ficou conehcido após publicar sua importante obra literária - é também bastantre conhecido, no meio jornalístico pela arte de agradar os chefes e defenestrar qualquer espírito independente do jornalismo global). A respeito desta figura nefasta façamos um parêntese e recorramos ao ótimo Alex Castro:
"Na mesma linha de Senhor dos Anéis e Crônicas de Nárnia, o romance de fantasia Não Somos Racistas, de Ali Kamel, se passa em uma terra mítica e utópica, onde não existe racismo e impera a mais estrita meritocracia.
O livro é polivalente: pode ser lido tanto como humor ("rárá! não acredito que esse cara falou mesmo isso!") ou terror ("e pensar que esse homem é o diretor de jornalismo da Globo!", mas é diversão sempre garantida.
* * *
Dois trechos representativos:
Humor
... num país em que acessos a empregos públicos e vagas em instituições de ensino público são assegurados apenas pelo mérito.... (40)
Terror
A grande tragédia que as políticas de preferências e de cotas acarretam é o ódio racial. O sentimento de que o mérito não importa esgarça o tecido social. Na Índia, os registros de atrocidades contra os intocáveis eram de 13 mil nos anos 80; pularam para mais de 20 mil nos anos 90 (o número de mortos era quatro vezes maior nos 90 do que nos 80). Na Nigéria, a adoção de políticas de preferência racial levou a uma guerra civil, provocando o cisma que criou Biafra (mais tarde reincorporada), sinônimo de fome e miséria. Sri Lanka, quando da independência, era uma nação em que duas etnias, com língua e religião diferentes, conviviam harmoniosamente. Com a adoção de políticas de preferência racial, o que se viu foi uma das mais sangrentas guerras civis. Nos EUA, o número de conflitos raciais foi crescente a partir da década de 70, ano de adoção das cotas. (92)
* * *
Sinceramente, se você olha pro Brasil de hoje e vê uma meritocracia, então, sério, eu não sei nem por onde começar um diálogo. Melhor nem tentar.
Na novela das oito Duas Caras, da Rede Globo, a personagem Gislene, interpretada por Juliana Alves (atriz negra), "uma jovem politicamente engajada e contrária a qualquer forma de preconceito", apareceu durante vários capítulos lendo o livro Não Somos Racistas , de Ali Kamel, diretor-executivo de jornalismo da (isso mesmo!) Rede Globo. Como bem disse a apostila Cultura e Cidadania 2008 do Educafro, às vezes fica difícil de saber onde termina o Jornal Nacional e começa a novela.
Para excelentes notícias e artigos como esses recomendo enormemente o link abaixo, do blog-site de Alex Castro, que direto dos EUA onde é professor tem sido um dos mais destacados defensores das Ações Afirmativas no Brasil. Para ver mais: http://www.interney.net/blogs/lll?cat=2280
Ainda a esse respeito Luiz Carlos Azenha (mais um que pediu o boné na Globo por não aceitar os métodos Kamelisticos):
"Pessoalmente acho que as cotas não devem ser impostas de cima para baixo, pelo governo federal, como se fossem a cura para todos os males. Acredito em ações afirmativas de baixo para cima, adotadas por instituições públicas e privadas, no feitio do que já fazem diversas universidades brasileiras.Elas enfrentam um combate duro patrocinado pelos neocons brasileiros, que se reúnem em torno da revista Veja e da TV Globo -- de Ali Kamel a Reinaldo Azevedo, de Demétrio Magnoli a Diogo Mainardi. É um país curioso, o Brasil. Na matriz, os neocons são um fenômeno dos anos 80. Mas aqui, na filial, só ganharam algum status já no século 21. É mais uma demonstração do atraso de nossa elite. Aliás, não é de hoje que os intelectuais prestam serviço a causas pouco nobres, fornecendo os argumentos para a manutenção de injustiças sociais como a escravidão." ver mais http://www.viomundo.com.br/opiniao/o-falso-argumento-na-questao-das-cotas/
Poderia aqui citar vários e vários links que "confirmam" a tese de Kamel (http://marjorierodrigues.wordpress.com/2009/04/04/o-apartheid-do-elevador/), mas seria enfadonho e desnecessário, pois qualquer brasileiro em sã consciência já viu, foi vitima ou praticou pré-conceitos e racismos. Aliás é o próprio brasileiro que assume isso perante a diversas pesquisas. Mas como nós os brasileiro somos mais cordiais e aprendemos que não somos racistas, não assumimos praticar tais atos, mas sim ter presenciado tais atos. O que levou um astuto (e nem precisava ser) pesquisador estrangeiro em nosso país a exclamar: o brasileiro não é racista e nem preconceituoso mas todos os seus amigos, parentes e vizinhos o são. Seria engraçado senão fosse trágico e um retrato de propaganda como as feitas pelo Sr. Kamel e companhia ilimitada.
Mas como nem todos podemos comungar da ilha de fantasia e dos romances kamelisticos. Vale a pena algumas palavras a respeito do conceito de raça e de seus usos, bem como da ideia de Democracia Racial (e não mito - por favor não fiquem por ai repetindo que no Brasil existe um Mito da Democracia Racial. O que existe no Brasil é uma falácia de Democracia Racial e não mito, pois ao contrário do que faz crer o senso comum, mito não é algo mentiroso ou fantasioso. E nossa Democracia Racial é fantasiosa e mentirosa).
Vejamos então um pouco (a seguir trechos da minha dissertação, onde discuto este tema):
A palavra étnico-racial, e sua efetividade enquanto bandeira de luta do Movimento Negro, é pertinente do ponto de vista da luta político-social para a efetivação da eqüidade entre os diferentes grupos étnicos, formadores da nacionalidade brasileira. Diante da centralidade dessa definição, será feita uma digressão a respeito da idéia de raça no contexto brasileiro e da aplicação de políticas de caráter afirmativo.
Oracy Nogueira (1998) considera o preconceito brasileiro um preconceito de marca (cor) e não de origem (raça), diferente do preconceito racial norte-americano. E neste sentido teria conseqüências menos graves no que se refere às oportunidades para pretos e mulatos, se comparado ao preconceito norte-americano. O preconceito de cor no Brasil se exerce em relação à aparência, suas manifestações são definidas pelos traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, os sotaques e pode então ser classificado como um preconceito de marca. Oracy Nogueira, ao reconhecer que existe um preconceito de cor no Brasil, ainda que diferente do preconceito de raça norte-americano, avança em relação à visão de que não existiria preconceito ou discriminação em nosso país, seja racial ou de marca, visão difundida por D. Pierson ou a visão mais habitual nas Ciências Sociais brasileiras, de que o nosso problema é apenas de classe social, na visão de M. Harris.
Dos estudos destes dois autores, além de outros, segundo Antonio Sérgio Guimarães (1999:108-109), restaram cinco mal-entendidos: 1- no Brasil não existiria raça e sim cores “como se a idéia de raça não estivesse subjacente à de cor e não pudesse ser, a qualquer momento, acionada para realimentar identidades sociais”; 2- o consenso de que aparência física, e não a origem, é que determina a cor, “como se houvesse algum meio preciso de definir biologicamente as raças, e todas as formas de aparências, não fossem, elas mesmas, convenções”; 3- a impressão falsa de que, no Brasil, não se discrimina alguém com base em sua raça ou cor, “posto que não haveria critérios inequívocos de classificação de cor”; 4- a idéia da assimilação à “idéia de que os mulatos e os negros mais claros e educados fossem sempre economicamente absorvidos, integrados cultural e socialmente”, bem como “cooptados politicamente pelo establishment branco”; 5- o consenso, segundo o qual “a ordem hierárquica racial, ainda visível no País, fosse apenas um vestígio da ordem escravocrata em extinção”.
A crítica que deve ser feita a esses autores deriva da não-percepção de que raça tal como cor é um construto social e não um priori biológico. A cor, raça ou fenotipia enquanto uma construção e não um fenômeno natural é um dos mecanismos de reprodução de desigualdades sociais, ou seja, o status estamental surgido na escravidão persiste nos dias atuais. No Brasil o status de atribuição, a cor ou a origem da família, por exemplo, sobrepõe-se ao status adquirido. Portanto, como Nogueira mesmo reconhece, o preconceito brasileiro é de dupla ordem, e nesse sentido podemos contestar sua afirmação de que ele é menos grave do que o norte-americano.
Para Nogueira, por sua característica de marca, o preconceito e a discriminação em nosso país se disfarçariam em preconceito ou discriminação de classe e se confundiria com este. O autor é tributário a Tales de Azevedo, para quem as desigualdades sociais são também desigualdades de cor. Para Azevedo, a estrutura social brasileira é duplamente hierárquica: dividida em classes sociais e em status e prestígio. A hierarquia de classe seguiria os preceitos de mercado, no entanto, a de status e prestígio seria demarcada através da adscrição, em elementos como cor e origem familiar. Segundo Guimarães (1999:120),
"De modo original, Azevedo dotou as designações raciais brasileiras de um fundamento estrutural, tratando-as não mais com denominações biológicas, mas como nomes de grupo de prestígio. Explicitava, assim, o significado sociológico do velho ditado, também típico-ideal, de que “branco pobre é preto e preto rico é branco”.
Azevedo confirma assim o danoso processo de embranquecimento, não mais biológico, mas social, a que está submetido o negro brasileiro. No Brasil convivem harmoniosamente dois tipos de preconceito: o de classe e o da cor (de marca), e assim, a população marcadamente através da cor, do fenótipo ou estereótipo negro (aqui entende-se que os negros são a soma dos pardos e pretos) sofre as conseqüências duplamente. Neste sentido até mesmo Azevedo estava errado quando preconizava o fim eminente da hierarquia de status e prestígio, pelo processo de industrialização. O que ele não atentou foi que a marca (cor) no Brasil, ao englobar elementos como as características físicas, a cor de pele, o cabelo, o formato do nariz e lábios, ou seja, características propriamente fenotípicas, não é uma variável dependente do processo de desenvolvimento social. Disto decorre que, mesmo com a industrialização, o preconceito e a discriminação não foram extintos, e a maioria esmagadora dos negros continua nas camadas mais baixas da população.
Essa relação é explícita no texto de Neusa Gusmão (1995:18-19):
A historicidade concreta, enquanto ataduras das relações sociais, revela a unidade do diverso, ou seja, a etnicidade, a classe, e a raça como partes integrantes de um mesmo processo, não redutoras uma das outras. Tais categorias, ainda que específicas, são, a um só tempo, complementares e opostas entre si. Nesse sentido a integração do negro a uma sociedade multirracial e pluriétnica como a brasileira pressupõe relações vividas em termos de raça e de classe, pressupõe a identidade construída enquanto etnicidade. Na condição duplamente subalterna, o segmento negro se põe diante de si mesmo e do branco e é a partir desta condição que estabelece sua luta.
(...)
No entanto, a questão da diferença e da alteridade toma por base aspectos raciais, traços fenotípicos e aspectos culturais, inserindo-os num sistema de relações sociais e simbólicas, em que, como grupo étnico, minoria social, classe subalterna se confrontam. Nessa medida, o cotidiano revela-se como determinante do conflito e da resistência tomando por base a identidade construída na relação com a terra particular, a terra-território e, portanto, não definida pelo sistema.
Antônio Sérgio Guimarães (1999:9) define a idéia de raça na realidade brasileira ao afirmar que
‘raça’ é um conceito que não corresponde a nenhuma realidade natural. Trata-se, ao contrário, de um conceito que denota tão-somente uma forma de classificação social, baseada numa atitude negativa frente a certos grupos sociais, e informada por uma noção específica de natureza, como algo endodeterminado. A realidade das raças limita-se, portanto, ao mundo social. Mas, por mais que nos repugne a empulhação que o conceito de ‘raça’ permite - ou seja, fazer passar por realidade natural preconceitos, interesses e valores sociais negativos e nefastos -, tal conceito tem uma realidade social plena, e o combate ao comportamento social que ele enseja é impossível de ser travado sem que se lhe reconheça a realidade social que só o ato de nomear permite.
Ou seja, ainda que se trate de um erro biológico falar em raças (a genética cada vez mais nos traz resultados auspiciosos a este respeito), o conceito de raça não pode ser destituído de seu verdadeiro espírito e ideologia: a princípio de preconceito e discriminação negativa. A biologia desvendou a falácia da idéia de raça, enquanto diferenças naturalizadoras, no entanto, enquanto construção social (e é isso que importa a um cientista social) e marcador diacrítico (através de traços fenotípicos), ela perdura, quer de forma negativa quer atualmente de forma positiva, como se verá abaixo. Como bem explanado por Arruti (1997:10), “Marcado e desvalorizado como aparência, na sua relação com a ‘sociedade brasileira’ o negro é agente de contaminação, fazendo com que a alteridade sirva, no seu caso, à construção de um juízo de valor político.”
Diante desta realidade, como afirma o professor Antônio S. Guimarães, somente a nomeação e a denúncia poderão contribuir para a não-naturalização desta chaga na vida social. No entanto, deve-se perceber que o preconceito e a discriminação se desenvolvem diferentemente para cada realidade e só podem ser entendidos a partir de sua própria história, daí poder se falar em um racismo à brasileira: assimilacionista e universal. Nele existe uma homologia entre hierarquia de status e raça/cor (entendida mais como um fenótipo). Segundo Guimarães, essa homologia permite que sejamos igualitaristas no plano doutrinário e hierarquizadores no plano cotidiano. O senso comum expressa no cotidiano, através do fenótipo (as percepções cromáticas e físicas), a ideologia de que cada um deve saber qual o seu lugar, como tão representado na locução “Você sabe com quem está falando?”.
Se o racismo, no Brasil, impõe uma dupla hierarquização e historicamente uma marca negativa, devemos reconhecer que atualmente, através de um processo de positivação e valoração, o orgulho de ser negro torna-se um sinal de afirmação política, bem expressa na letra de James Brown “I'M BLACK and I'M PROUD. I Feel Good” (que pode ser traduzido por: Eu sou PRETO e Eu sou ORGULHOSO. Eu sinto bem). Neste processo em que raça é entendida como construto social, cada vez mais tende haver uma discrepância entre a auto-classificação e a classificação fenotípica imposta por terceiros. A classificação emica tenderá a expressar o prestígio social. Para alguns que se classificam negros, a expressão é do sentimento de orgulho, e para outros que se classificam brancos, ou morenos (a cor-escape na realidade sócio-racial brasileira), é a forma de se incluírem na hierarquia de status e prestígio.
Nas nações multiétnicas, como no Brasil, a crítica à igualdade formal de direitos perante a lei tem-se organizado em torno do diagnóstico de que nestas nações, que durante algum tempo mantiveram grupos de pessoas subjugadas legalmente, a existência de dispositivos constitucionais e legais de combate à discriminação e ao status de inferioridade é insuficiente.
Esta conclusão permite afirmar, de acordo com o jurista Joaquim Barbosa Gomes (2001:37), que, diga-se de passagem, é o primeiro negro a ser indicado para ocupar uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal, que,
1o – as proclamações jurídicas por si sós (...) não são suficientes para reverter um quadro social que finca âncoras na tradição cultural de cada país, e no imaginário coletivo (...);
2o – que a reversão de tal quadro só será viável com a renúncia do Estado à sua neutralidade em questões sociais, devendo assumir, ao contrário, uma posição ativa, e até mesmo radical se vista à luz dos princípios norteadores da sociedade liberal clássica.
Assim sendo, a crítica à igualdade formal de direitos perante a lei tem se organizado diante da conclusão de que a desigualdade, neste caso em particular a de raça/cor, se alimenta de um poderoso e dissimulado fenômeno de discriminação que impede os negros de usufruírem das mesmas oportunidades oferecidas aos brancos. Em razão dessa assimetria, somente uma ação focada poderá promover a igualdade de acesso a todos os cidadãos; é deste imperativo que surge a defesa das ações afirmativas, entendidas como uma política que permite tratar os desiguais de maneira desigual. Esta premissa faz parte do princípio da hermenêutica diatópica, desenvolvida pelo sociólogo português Boaventura Sousa Santos (2001), segundo a qual a luta pela igualdade passa pelo reconhecimento e pelo respeito às diferenças, portanto, a busca por cidadania pressupõe o combate às desigualdades e não às identidades, pois, de outra forma, não se pode falar em cidadania e sim em tirania, uma sociedade injusta e de homens não livres, que definitivamente negam a cidadania em seus princípios basilares. Esta premissa, oriunda da filosofia aristotélica, foi definida pelo filósofo e cientista político italiano Bobbio como “regra da justiça”.
Para ler mais recomendo os links abaixo, uma mostra dos mais de 70 posts sobre esta temática, publicado aqui no Blog.

sábado, 14 de março de 2009

Terras Quilombolas: o balanço 2008

Apesar de um probleminha aqui e outro acolá. O texto abaixo, trata-se na minha opinião de um dos melhores já publicados na grande mídia a respeito da questão quilombola. Digo isso, pois é sabido por quem milita nesta área seja academicamente, profissionalmente ou politicamente que a mídia brasileira de forma geral optou por desconhecer essa questão. E desta forma, se sente mais livre para poder escrever suas pré-concepções (preconceitos) sobre a temática e sua cantilena pró-agrobussines e desenvolvimento a qualquer e todo custo. Portanto, não deixa de ser uma saudável surpresa este texto da Terra Magazine (ainda que contenha algumas pequenas imprecisões como já disse, a começar pelo título apelativo):
Quilombolas têm quase um milhão de hectares no Brasil
O levantamento Terras Quilombolas:Balanço 2008, divulgado recentemente pela Comissão Pró-Índio de São Paulo, revela que os territórios quilombolas regularizados no Brasil estão chegando à marca de um milhão de hectares. Essa área - mais precisamente, 980 mil hectares - está distribuída em 96 territórios quilombolas e 185 comunidades. Se considerarmos todos os títulos já concedidos (incluindo os não regularizados, cujo valor legal ainda pode ser questionado) , a conta passa de um milhão de hectares (1.171.213 até setembro de 2008). Embora os números pareçam significativos, a própria Comissão Pró-Índio ainda os considera pequenos em relação à quantidade de comunidades quilombolas existentes no país, estimada em três mil. A luta pela titulação das terras dos remanescentes de quilombos no Brasil é antiga e ganhou força a partir da Constituição Federal de 1988, que garantiu às comunidades o direito a suas terras. "Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os respectivos títulos" (Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - Constituição Federal de 1988)Em 2008, o movimento pela titulação e regularização das terras quilombolas sofreu um grande revés, quando foi publicada a Instrução Normativa no. 49, que vincula a abertura de processo para titulação das terras a uma certidão emitida pela Fundação Cultural Palmares.Na prática, segundo a Comissão Pró-Índio, a nova regra desrespeitaria o direito à auto identificação, garantido pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e no Decreto 4887/2003. Entenda o longo processo para titulação de terras quilombolas. O documento divulgado pela Comissão Pró-Índio também alerta para a queda da titulação das terras quilombolas pelo governo federal. Nenhum território foi titulado em 2008 e apenas dois em 2007.No ano passado, as titulações foram decorrentes de processos estaduais, emitidos pelos governos do Pará, Piauí, e Maranhão. No total, foram beneficiadas 1225 famílias em 23 comunidades e 16 territórios quilombolas. A área titulada passou de 36 mil hectares, sendo 25 mil apenas no Pará. Segundo o relatório, um dos entraves à concessão mais ágil dos títulos é a pouca capacidade do Incra em atender à demanda. "Dados de dezembro de 2008 indicam que dos mais de 600 processos abertos pelo Incra somente 220 tiveram algum andamento. O restante apenas recebeu um número de protocolo", indica o texto.O documento também faz um apanhado das disputas judiciais envolvendo os territórios quilombolas, no qual observa que as ações tentando paralisar os processos atingem apenas 14 terras quilombolas, pouco se considerarmos os 600 processos em curso. A primeira comunidade a receber o título de terra na condição de remanescente dequilombola no Brasil foi a comunidade de Boa Vista, no município de Oriximina (PA), concedido pelo Incra em 1995. Na ocasião, 112famílias receberam 1.125 hectares de terra. Geralmente associados no imaginário popular a núcleos de resistência de negros fugidos contra a escravatura, estudos recentes as comunidades de quilombo se constituíram a partir de uma grande diversidade de processos. Esses processos incluiriam as fugas com ocupação de terras livres e geralmente isoladas, mas também as heranças, doações, recebimentos de terras como pagamento de serviços prestados ao Estado, simples permanência nas terras que ocupavam e cultivavam no interior de grandes propriedades, bem como a compra de terras, tanto durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição. "O que define o quilombo é o movimento de transição da condição de escravo para a de camponês livre" (texto da Comissão Pró-Índio de São Paulo)O que caracterizava o quilombo, portanto, não era o isolamento e a fuga, mas a resistência e a autonomia. Ou seja, para além de um passado de rebelião e isolamento, a classificação de comunidade como quilombola dependeria de como aquele grupo se compreende e se define - daí a importância da auto-identificação, na perspectiva da Comissão Pró-Índio. Para a Comissão, entretanto, a principal motivação da Instrução Normativa nº 49/2008 não é conceitual e, sim, um mecanismo de impor "novos empecilhos burocráticos ao processo destinado a identificar e titular as terras quilombolas" . Em texto publicado no seu site, a entidade se posiciona claramente:- O recuo é uma clara tentativa de contemporizar com os interesses contrários de grupos econômicos e de parlamentares da base aliada do governo que vêem questionando na imprensa e no legislativo a legitimidade dos direitos quilombolas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Altino foi pescar estrelas

Belo texto da colega antropologa Camila Dutervil em homenagem ao líder quilombola Seu Altino, morto recentemente nesse processo de violência contra lideranças quilombolas.

Eu já fui expulso de muitas roças, até que resolvi não sair mais.
Altino da Cruz

Manhã de Dezembro. O coração de um grande homem pára. Coração engrandecido de coragem era o do companheiro Altino. Não agüentou a pressão. O homem corajoso tombou na mesma terra que defendeu com todas suas forças. Já não pôde resistir às sucessivas ameaças de ser expulso dali.
Noutra manhã, há exatamente um ano, Altino viu o relampejar de uma fulgaz alegria. Sua comunidade, São Francisco do Paraguaçu, recebia a noticia que o Relatório de Identificação e Delimitação do Território Quilombola havia sido publicado no Diário Oficial da União.
Poucos dias depois de uma batalha vencida, o guerreiro sofreu o golpe fatal de uma ação judicial que suspenderia o processo de titulação de suas terras até o dia de sua morte. Diversas ações de reintegração de posse, e agressões foram direcionadas ao Sr. Altino da Cruz, liderança da comunidade. Policiais armados chegaram até mesmo a invadir e cercar sua casa. E por que seu Atino era tratado como um marginal? Por que lutava pelo direito de plantar para alimentar seus filhos.
Quem conheceu seu sotaque inconfundível, que mais parecia um dialeto africano, teve oportunidade de escutar um mestre na arte de viver, mais sábio que muito doutor, Altino definiu brilhantemente o que é ser quilombola:

'Porque eu sou quilombola? Será quem nasceu na roça? Não. Será quem nasceu no mato? Não. Será minha cor? Não. Será que é o meu trabalhar? Deve ser meu trabalhar, a minha vida, a minha luta! Então eu sou quilombola mesmo!'

Filho da terra, pescador, Altino aprendeu desde menino com a Mata Atlântica e com o Rio Paraguaçu a preservar a natureza. Lutou até seu ultimo suspiro para defender o direito de seus irmãos a permanecer e cuidar de seu território tradicional.
Altino, seu exemplo permanecerá vivo para sempre na memória dos filhos e netos de quilombolas, também para os que estão nascendo e que vão nascer! Seu desejo de liberdade ecoará pelas fronteiras do tempo e espaço. Os jovens renovarão a liderança para reverenciar sua memória. Nada os fará desanimar da luta, pois escutavam do velho contador de histórias, que o mais escuro da noite é antes do alvorecer. Altino agora é mais uma estrela refletida no Paraguaçu, a guiar os caminhos:
... para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam, para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem, para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem e nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal...
[1]
[1] Trecho do ponto de Oxossi. Domínio Público.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Quilombolas no Tocantins

Um dos posts referente a questão quilombola, recebeu um comentário bastante interessante de uma pessoa chamada Renata. A partir desse comentário eu e Renata estamos a trocar uma série de e-mails com conversas frutíferas a respeito das questões quilombolas. Renata que é uma nutricionista e pesquisadora Tocantinense tem desenvolvido trabalhos na área quilombola. Pois bem, Renata é também editora do Blog Revista Intolerante, que recomendo. Pois bem lá ela publicou um artigo bastante polêmico a respeito da questão quilombola. Abaixo, trecho do artigo (para ver completo dê uma passada em http://revistaintolerante.blogspot.com/2009/01/questes-quilombolas.html)
FUREM AS MINHAS ORELHAS
No dia 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou o documento que dava direito a liberdade aos escravos. Era o dia da LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS. Só que, a partir daí surgiram dois questionamentos: LIBERTOS DO QUÊ, e também, FAZER O QUE COM ESTA LIBERDADE.
Tanto tempo sem direitos, sem propriedades, fixadas as solas dos pés no chão do Senhor das terras; dependendo, ainda que mirradamente, do pouco, o que fazer com a tal liberdade dada a eles?
A liberdade era o termo traduzido por SOLTURA. Ou seja, é mais ou menos como os casos da libertação de empregados que trabalham em condições sub – humanas em fazendas nas entradas do Norte e Nordeste: a força de policia vai lá, solta os empregados e os devolvem a sua cidade e o que o empregado vai fazer com o tanto de filhos que tem, sem condições de integrar uma sociedade empregadiça tão exigente? Volta a ser escravo, não das fazendas, mas das construções e outros serviços que demandam apenas a força bruta. (...)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Justiça reconhece quilombo em São Paulo

Excelente notícia.
Justiça reconhece quilombo em São Paulo
Após 14 anos de tramitação na Justiça, a área Ivaporunduva, em Eldorado, noVale do Ribeira (SP), foi reconhecida como remanescente de quilombo. Deacordo com o Ministério Público Federal (MPF), o Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária (Incra) tem agora prazo de 30 dias para fazero registro imobiliário das terras. Segundo o MPF, a comunidade de Ivaporunduva é a mais antiga do Vale doRibeira e teria surgido no século 17 por causa da mineração. Boa parte da área é formada por terras devolutas do estado de São Paulo. A decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região só pôde ser confirmadadevido a um acordo entre a União e o governo de São Paulo de não recorrer dadeterminação judicial.
O relator do acórdão, juiz federal convocado Hélio Nogueira, afirmou em seu voto que as evidências históricas e antropológicas, somadas aos costumes revelados pelas fotografias anexadas aos autos, além da aparência das pessoas que constituem a comunidade, comprovam "satisfatoriamente" o marco histórico da propriedade da área pelos quilombolas. (Fonte: Agência Brasil)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

LAMENTÁVEL, mais uma morte de um quilombola

Lamentável e os canalhas continuam por ai rindo da nossa cara.
TOMBOU HOJE A PRINCIPAL LIDERANÇA QUILOMBOLA DO RECÔNCAVO BAIANO
Sr. Altino da Cruz faleceu hoje pela manhã, aos 60 anos de idade,enquanto trabalhava na sua roça. Ele não resistiu à notícia de que ojuiz Fábio Rogério França, da 11ª vara da justiça federal, concedeu umaliminar de reintegração de posse solicitada pela fazendeira Rita deCassia Salgado de Santana exigindo que este retire a roça que cultiva amais de 40 anos e foi herdada de seus pais. Utilizando-se de má fé, afazendeira levou o juiz a concluir que trata-se de uma ocupação recentequando é notória pela comunidade e pelos dados apresentados nos autosque trata-se de uma comunidade tradicional.Na Segunda e terça feira desta semana, o Sr. Altino da Cruz, acompanhadode outros membros da comunidade quilombola, esteve fazendo uma romariapor diversos órgãos públicos denunciando a situação e exigindoprovidências. Na segunda feira os representantes da comunidade estiveramno INCRA, na SEPROMI e no IBAMA. Na terça, voltaram ao INCRA eestiveram na Polícia Federal, entidade encarregada de cumprir areintegração de posse. Na quarta feira Altino voltou pra casavisivelmente abatido e inconformado com a ameaça de sair da roça queherdou dos pais e na qual trabalha por mais de 40 anos.Hoje pela manhã, enquanto trabalhava em sua roça, Sr. Altino da Cruz deuum forte grito e tombou no chão. Foi Levado em um carro de mão por seuscompanheiros até o posto de saúde da vila de São Francisco do Paraguaçue já chegou morto.QUEM MATOU ALTINO DA CRUZ?A comunidade de São Francisco do Paraguaçu é um grande sà­mbolo daresistência do povo quilombola no Brasil. Historicamente explorada porgrandes fazendeiros do Recôncavo Baiano, especialmente pela famíliaSantana, tem sido vítima dos mais violentos ataques desde que foireconhecida como comunidade remanescente de quilombo.As agressões são originadas também pela família Diniz que recentementeimplantou uma RPPN dentro do território da comunidade Remanescente deQuilombo. Esta família tem usado a RPPN para captar recursos de órgãosestaduais e federais e tem sido alvo de investigação sobreirregularidades, o que levou a suspensão de projetos em andamento eimpediu a liberação de mais recursos.Assim, as agressões e ataques foram concentrados sobre Sr. Altino daCruz, a principal liderança da comunidade remanescente de quilombo. Acomunidade foi vítima de várias ações de pistolagem e violênciapolicial como constatado em relatório oficial do Polà­cia Federal.Policiais armados invadiram a casa de Sr Altino da Cruz causandoconstrangimento e indignação a toda comunidade. A alianà§a entre osSantana e os Diniz, em conjunto com interesses ruralistas nacionais,articulou uma reportagem produzida pela rede globo de televisão que foiprovada ser fraudulenta através de sindicâncias de à³rgãos oficiais comoIBAMA, INCRA e Fundação Cultura Palmares. Desde então, a luta dacomunidade Remanescente de Quilombo Sà£o Francisco do Paraguaçuevidenciou-se como um símbolo da luta quilombola no Brasil e acomunidade tem sido alvo de freqüentes processos judiciais. A atualestratégia adotada pelos fazendeiros é impetrar sucessivas ações individuais de reintegração de posse para confundir o judiciário.O que o Movimento dos Pescadores e Quilombolas do Recôncavo tem a dizerpara Elba Diniz, Lu Cachoeira e sua família Santana que a morte de Sr.Altino da Cruz não trará desânimo para a luta do povo quilombola. Pelocontrário, fecundará a terra onde nascerão muitas flores para embelezara grande mesa no dia da festa da titulaçà£o no nosso território.