quarta-feira, 25 de junho de 2008

O impensável

O impensável

MARIA RITA KEHL



O INIMAGINÁVEL acontece. Supera nossa capacidade de prever o pior. Conduz-nos até a borda do real e nos abandona ali, pasmos, incapazes de representar mentalmente o atroz. O pior pesadelo do escritor Primo Levi, em Auschwitz, era voltar para casa e não encontrar quem acreditasse no horror do que ele tinha a contar.
Acreditar no horror exige imaginá-lo de perto e arriscar alguma identificação com as vítimas, mesmo quando distantes de nós. Penso no assassinato dos cidadãos cariocas David Florêncio da Silva, Wellington Gonzaga Costa e Marcos Paulo da Silva por 11 membros do Exército encarregados de proteger os moradores do morro da Providência. Assassinados por militares, sim, pois não há diferença entre executar os rapazes e entregá-los à sanha dos traficantes do morro rival. A notícia é tão atroz que o leitor talvez tenha se inclinado a deixar o jornal e pensar em outra coisa.
Não por insensibilidade ou indiferença, quero crer, mas pela distância social que nos separa deles, abandonamos mentalmente os meninos mortos à dor de seus parentes. Abandonamos os familiares que denunciaram o crime às possíveis represálias de outros "defensores da honra da instituição". Desistimos de nossa indignação sob o efeito moral das bombas que acolheram o protesto dos moradores do Providência.
Nós, público-alvo do noticiário de jornais e TV, que tanto nos envolvemos com os assassinatos dos "nossos", viramos a página diante da morte sob tortura de mais três rapazes negros, moradores dos morros do Rio de Janeiro. É claro que esperamos que a justiça seja feita. Mas guardamos distância de um caso que jamais aconteceria com um de nós, com nossos filhos, com os filhos dos nossos amigos.
O absurdo é uma das máscaras do mal: tentemos enfrentá-lo. Façamos o exercício de imaginar o absurdo de um crime que parece ter acontecido em outro universo. Como assim, demorar mais do que cinco minutos para esclarecer a confusão entre um celular e uma arma? E por que a prisão por desacato à autoridade? Os rapazes reclamaram, protestaram, exigiram respeito -ou o quê? Não pode ter sido grave, já que o superior do tenente Ghidetti liberou os acusados.
Mas o caso ainda não estava encerrado? O tenente, que não se vexa quando o Exército tem que negociar a "paz" no morro com os traficantes, se sentiu humilhado por ter sido desautorizado diante de três negros, mais pés-de-chinelo que ele? Como assim, obrigá-los a voltar para o camburão -até o morro da Mineira? Entregues nas mãos dos bandidos da ADA em plena luz do dia, como um "presentinho" para eles se divertirem? Era para ser "só uma surra"? Como assim?
Imaginaram o desamparo, o desespero, o terror? Não consigo ir adiante e imaginar a longa cena de tortura que conduziu à morte dos rapazes. Mas imagino a mãe que viu seu filho ensangüentado na delegacia e não teve mais notícias entre sábado e segunda-feira. E que depois reconheceu o corpo desfigurado, encontrado no lixão de Gramacho. Imagino a cena que ela nunca mais conseguirá deixar de imaginar: as últimas horas de vida de seu menino, o desamparo, o pânico, a dor. "Onde o filho chora e a mãe não escuta" era como chamávamos as dependências do Doi-Codi onde tantos morreram nas mãos de torturadores.
Ainda falta imaginar a promiscuidade entre o tenente, seus subordinados e os assassinos do morro da Mineira: o desacato à autoridade é crime sujeito a pena de morte e a tortura de inocentes é objeto de cumplicidade entre traficantes e militares? Claro, os traficantes serão mortos logo pelo trabalho sujo do Bope. Se outros cidadãos morrerem por acidente, azar; são as vicissitudes da vida na favela.
Quando membros corruptos da PM carioca mataram a esmo 30 cidadãos em Queimados, houve um pequeno protesto em Nova Iguaçu. Cem pessoas nas ruas, familiares dos mortos, nada mais. Nenhum grupo pela paz foi até lá. Nenhuma Viva Rio reuniu gente de branco a marchar em Ipanema. Ninguém gritou "basta!" na zona sul. Não é a mesma cidade, o mesmo país. Não nos identificamos com os absurdos que acontecem com eles.
Não haverá um freio espontâneo para a escalada da truculência da Polícia e do tráfico, nem para o franco conluio entre ambos (e, agora, membros do Exército) que vitima, sobretudo, cidadãos inocentes. Não haverá solução enquanto a outra parte da sociedade, a chamada zona sul -do Rio, de São Paulo, de Brasília e do resto do país-, não se posicionar radicalmente contra essa espécie de política de extermínio não oficial, mas consentida, a que assistimos incrédulos, dos negros pobres do Rio.


MARIA RITA KEHL é psicanalista e ensaísta, autora do livro "Sobre Ética e Psicanálise" (Cia. das Letras, 2002).

domingo, 22 de junho de 2008

Eu sou neguinho

Para dialogar com o post abaixo, colocamos novamente o post do texto do Joel Zito Araújo escrito uma semana antes do texto abaixo de Muniz Sodré e publicado na seção Opinião do Jornal O Globo/online de 12/06/2008, http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2008/06/12/eu_sou_neguinho-546775749.asp

Abaixo um TEXTO ABSOLUTAMENTE GENIAL!!!!!!!!

Eu sou neguinho
Publicada em 12/06/2008 às 17h56

Por Joel Zito Araujo

O meu amigo Caetano, que no debate público é um provocador tão genial quanto na arte, também é, sem dúvidas, um atento observador da realidade racial brasileira desde jovem, quando Dona Canô gritava 'meu filho corra, venha ver na TV aquele preto de que você tanto gosta!'. Ou quando se irritou ao ver jovens de esquerda chamando Clementina de Jesus de macaca no Teatro Paramount, em 1968. Ou quando não deixou o país esquecer que o Haiti é também aqui. Mas agora, depois de tão bela história, depois de ter produzido poemas tão poderosos e belos sobre a negritude baiana, ele parece acreditar que o país acompanhou a sua cabeça e seu desejo de viver em uma democracia pós-racial.

' Não é possível ignorar as cotas como um movimento natural e necessário, apesar das imperfeições no processo '

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O Brasil pós-racial é uma meta que compartilho, mas ainda é uma ficção. O dramaturgo Harold Pinter já disse que, na exploração da realidade por meio da arte, 'não há distinções explícitas entre o que é real e o que é irreal, tampouco entre o que é verdadeiro e o que é falso.'. Mas que diferenciar essas condições é fundamental para o exercício da cidadania. É necessário dizer para o querido Caetano que não é coerente ter feito uma obra tão magnífica e assinar um manifesto contra cotas para jovens negros pobres na universidade.

E assim, mesmo agradecido pelo que ele fez, tenho que, atendendo a sua provocação ( ver coluna de Jorge Moreno de 07/06/08), vir aqui dizer que a 'realidade lá fora' continua brutal para aqueles que são 'negros ou quase-negros de tão pobres'. Eles continuam com suas chances de ascensão social condicionadas à cor de suas peles em estruturas seculares que reproduzem o racismo nos bancos escolares, na nossa TV, no sistema de saúde, no mercado de trabalho, na violência policial...

Não é possível ignorar as cotas como um movimento natural e necessário, apesar das imperfeições no processo. Diante da revolta contra sua condição de grupos populacionais excluídos, negros e indíos lutam por uma reparação histórica, lutam por seus direitos. Hoje, por trás da emergência identitária destes grupos está a busca pelo reconhecimento dos direitos de partilha das riquezas materiais do país (partilha do direito à educação, à terra, à liberdade religiosa). Vivemos, finalmente, numa sociedade em que os 'excluídos' lutam autonomamente no campo da democracia pelos seus direitos. São lutas de idéias, de conquista da opinião pública e de leis. E isso é muito bom, e deve ser respeitado e incentivado. E, veja bem, eles não estão esperando o socialismo, ou a vitória do universalismo francês, ou o triunfo do mercado, para ter acesso à educação. Eles querem acelerar processos, cobrar dívidas históricas. Evitar tensões raciais é promover o reconhecimento dos seus direitos , e incentivar a sua luta política nas formas democráticas e republicanas. E tenho certeza de que o nosso querido Caetano sabe que Mangabeira Unger tá certo. Nós precisamos de uma segunda abolição. Mas como realizá-la sem nos defrontarmos com a questão racial?

' Nossas crianças perdem a auto-estima ao aprender a sonhar em ser, mesmo que cirurgicamente, iguais à rainha dos baixinhos '

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E por que acreditar que revalorizar neste momento a criação colonial do mulato é um passo para a sociedade pós-racial? Onde é que o mulato é celebrado como ideal da nação? Nas artes, na telenovela, no cinema, na publicidade? O ideal do país desde os tempos da escravidão foi, e continua profundamente internalizado em todos nós, fazer do negro um mestiço e do mestiço um branco. Nossas crianças perdem a auto-estima ao aprender a sonhar em ser, mesmo que cirurgicamente, iguais à rainha dos baixinhos. Por que todas as apresentadoras dos programas infantis foram inspirados no modelo ariano? Que ideal de raça estava por trás disso? Por que os considerados mais belos das revistas de moda, de TV e até mesmo de esportes são invariavelmente os mais germânicos? Por que somente em 2004 tivemos a Taís Araújo como protagonista de uma telenovela na rede líder de audiência? E quando voltaremos a revê-la assim? Ser mestiço, portanto, é ainda um momento de passagem da condição inferior para a raça superior. O mulato na telenovela ainda é, como regra, representação do estereótipo do bundão, do mau caráter, do bandido ou do ressentido.

É por isso que não sou mulato. Só aceito o mulato como profissão. E é assim que vivem centenas de brasileiras afro-descendentes pobres que viajam pelo mundo vendendo a beleza dos seus corpos e dos seus movimentos em shows tipo Sargentelli.

' Neste momento sou orgulhosamente o meu avô e bisavô, eu sou neguinho. E amanhã posso vir a ser a minha avó, nambiquara ou pataxó '

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Sou brasileiro, com ascendência afro-índígena- portuguesa. Mas neste momento histórico só me interessa afirmar o que fui pressionado a negar. O país ainda precisa de um choque de negritude e de indigeneidade. Para chegar a ser pós-racial precisa antes ser multirracial. Precisamos reconhecer que nossa nação é um mosaico, onde vivem filhos de africanos, de japoneses, de libaneses e de europeus, além dos indígenas. Somente assim podermos, no futuro, realizar o mito que tanto prezamos, e vir a ser um exemplo de democracia racial. Neste momento sou orgulhosamente o meu avô e bisavô, eu sou neguinho. E amanhã posso vir a ser a minha avó, nambiquara ou pataxó.

Diante da herança colonial que criou um sistema hierárquico de castas raciais, eu sou neguinho. Diante dos articulistas dos jornais que dizem que não somos racistas, mas alertam que se me assumo como negro sou ameaça de guerra civil, eu sou neguinho. Diante do senador que elogia o seu par mulato por estar apurando a raça ao se casar com uma 'linda gaúcha dos olhos azuis', eu sou neguinho. Ou diante da mídia que em suas imagens insiste em reafirmar a branquitude como ideal da nação, eu sou aquele Caetano que tanto admiro, e não aquele inexplicável mulato anticotas. Sou negro preto do Curuzu. Sou beleza pura.

Joel Zito Araujo é cineasta, autor de 'Filhas do Vento' e 'A Negação do Brasil'

QUESTÃO RACIAL: Anotações sobre um gesto pós-racial


Artigo publicado no Observatório da Imprensa,

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=490CID001



QUESTÃO RACIAL
Anotações sobre um gesto pós-racial

Muniz Sodré

Nunca a grande imprensa brasileira falou tanto sobre a questão racial quanto agora. De algum tempo para cá, o tema comparece em editoriais, artigos, crônicas, reportagens, dando ou não seguimento a acontecimentos significativos, como a ida de um grupo de intelectuais ao Supremo Tribunal Federal para entregar um manifesto contra as cotas que favorecem negros nas universidades.

As posições favoráveis e contrárias já são mais ou menos conhecidas (embora não tanto as motivações profundas dos opositores). Mas uma notícia que pode ter passado despercebida é capaz de lançar uma luz nova sobre o assunto: a atriz Marília Pera convidou o ator negro Lázaro Ramos para um dos papéis principais da peça The Vortex, que será encenada no Rio. O personagem a ser vivido por Lázaro é, no texto, branco, de família tradicional inglesa (O Globo, 9/6).

O notável do fato é que, até agora, o universo ficcional brasileiro tem obedecido ao cânone da verossimilhanç a sócio-histórica. Este pode ser exemplificado da seguinte forma: um fictício presidente da República não seria jamais interpretado por um negro (em peça, drama televisivo, cinema, filme etc.) por infringir a regra do verossímil, que apontaria para a evidência (meia-evidência, na verdade...) de que nunca houve um primeiro mandatário negro no Brasil. Ora, se se trata de ficção, por que atender aos requisitos da realidade histórica? A televisão norte-americana tem dado uma resposta singular à questão, ao colocar um negro como presidente da República numa série policial (24 Horas). Agora, é a vez de Marília Pera romper o cânone.

O corner do binarismo

A iniciativa da atriz é de natureza "pós-racial". Primeiro, tem implícito o pressuposto - corretíssimo - de que raça só existe uma: a humana, distribuída numa miríade de cores ou fenótipos, dos claros aos escuros. Depois, a escolha obedece apenas a critérios técnicos de adequação do ator ao personagem, e não à verossimilhanç a fenotípica. Um ser humano de carne e osso vai viver um outro, feito de imaginação e papel, no teatro. Lázaro Ramos já havia sido protagonista do filme O Homem que Copiava, de Jorge Furtado, sem que tenha sido levantada em qualquer passagem do roteiro a questão da cor da pele. Aos olhos do espectador, um homem, simplesmente um homem, relaciona-se com outros em proximidade, desracializado.

Há uma coincidência singular entre o fato referente à peça inglesa e o momento histórico em que o negro-mestiço Barack Obama é indicado como candidato do Partido Democrata à presidência da República dos Estados Unidos. "Negro-mestiç o" para nós, "negro" para o sistema classificatório norte-americano (onde vige a one drop rule, ou seja, uma gota de sangue negro define racialmente o sujeito), Obama merece, assim como Lázaro Ramos, o epíteto de "pós-racial". Isto quer dizer que não racializou a sua campanha, apesar das tentativas dos adversários no ring das primárias, de levá-lo ao corner do binarismo racial.

Análises e soluções diferenciadas

Tudo isso pode soar aos desavisados como base argumentativa contra as cotas no Brasil. Não é bem assim. Um artigo do cantor e compositor Martinho da Vila (O Globo, 10/6) no dia seguinte ao da notícia da peça também traz luz para o assunto. Martinho conta de seu espanto, na primeira viagem aos Estados Unidos, ao ver estampados em cartazes, nas ruas e em lugares de destaque, as imagens de negros socialmente proeminentes. Espantava-o o grau de visibilidade pública de cidadãos uma vez descritos pelo escritor Ralph Ellison como "homens invisíveis". Isto não se dá por acaso, nem por pura e simples graça do poder: os negros, com todas as suas contradições internas, empenharam-se durante gerações na luta por direitos civis igualitários.

Ora, dirão, esse binarismo radical que ensejou a luta por direitos mais civis nos Estados Unidos não é o caso brasileiro. O que é a mais absoluta verdade e contraria a que se apliquem aqui, sem mais nem menos, critérios válidos para a realidade norte-americana, tal como a "regra da gota única de sangue". Mas da mesma maneira não se pode invocar o "pós-racialismo" de Obama para dizer que o Brasil já dispõe há muito da fórmula agora encontrada pelo candidato democrata. São realidades diferentes, que induzem a análises e soluções diferenciadas. A boa saúde mental e cívica recomenda uma pausa nos reflexos especulares do centro do Império.

"Relação social de raça"

Uma pausa dessas pode servir para pensar que possivelmente o gesto pós-racial da atriz Marília Pera tenha sido "sobredeterminado" (uma múltipla determinação, em que o fenômeno Obama pode até ter tido algum peso) pela conjuntura sócio-político- cultural que a temática das cotas suscitou no Brasil.

Desde o Prouni, ganhou foro público a questão da cidadania de segunda classe, de sua exclusão sistemática das oportunidades historicamente concedidas aos que já nascem "cotados" ou "patrimonializados" pela cor socialmente valorizada. Mas as cotas de agora - recurso, para mim, provisório - representam uma estratégia de visibilidade mais forte, esta que os Estados Unidos de algum modo já obtiveram, sem, entretanto, resgatar a maioria negra de seus bolsões de pobreza, nem diminuir esse mal-estar civilizatório que é a discriminação racial. O conceito científico de raça acabou, mas não acabou a "relação social de raça", isto é, o senso comum atravessado pelo imaginário racialista.

Visibilidade valorizada

Os intelectuais que, em jornais ou na academia, formaram um ativo bloco orgânico para pregar contra as cotas, não desconhecem o fato de que a cidadania, conceito eminentemente político, nasce no solo da visibilidade dos membros de uma comunidade: o sujeito visível tem voz pública; o invisível, não. O escravo grego não podia ser cidadão porque não dispunha do "capital" de visibilidade suficiente (naturalidade da língua, da fratria etc.) para falar na ágora.

A decisão sobre quem pode ou não falar, ser visto e ocupar os lugares do privilégio, é de natureza estética, no sentido radical desta palavra. Na raiz, estética e política coincidem. Uma política de cotas não implica que se acredite na existência de raças, e sim que as diferenças estético-fenotí picas têm conseqüências para a igualdade dos cidadãos. Sobre a branquitude da paisagem eurocêntrica projeta-se alguma "colorização" de espaços - fonte do espanto de Martinho da Vila, ponto de partida de uma visibilidade valorizada.

Não se pode realmente acreditar que as cotas venham resgatar a situação socioeconômica dos escuros e desfavorecidos, nem resolver o problema da introjeção histórica dos estereótipos racistas. O exemplo do pós-racialismo é algo de fato desejável, pode ser uma meta. Mas não é algo que esteja aí à disposição dos interessados, como uma espécie de fruto natural gerado pela suposta boa consciência daqueles que dizem temer a "racialização" da sociedade brasileira. Em termos coletivos, será o resultado de lutas e cotas em que venham a envolver-se também empresas e outras instituições pertinentes, além do Estado. A visibilidade valorizada é um começo razoável.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mineirão: a boate de um quase time na festa de um quase bom-moço

Mineirão: a boate de um quase time na festa de um quase bom-moço
Por THIAGO SARKIS*

Chegar ao Mineirão para Brasil e Argentina foi, no mínimo, esquisito. Apesar do congestionamento nas proximidades do estádio e dos cambistas, tudo ocorria em perfeita ordem. Policiais para todos os lados, serviços de emergência apostos, estacionamento para caravanas, placas em inglês, português e espanhol, boa iluminação, fiscais preparados para instruírem o público e evitarem que o mesmo se aproximasse dos detentores dos títulos de VIPs que estariam dentro e fora de campo. Tudo otimizado e cuidado com carinho e atenção especiais que não se observaram no último duelo entre as duas seleções na capital mineira.

Não acredite que o motivo desta expressiva mudança na embalagem tenha sido apenas a Copa de 2014. Afinal, o conteúdo de quem organizou os dois eventos na última eliminatória e nesta é o mesmo... Assim como o conteúdo do Mineirão.

A boate montada pelo playboy que governa as Minas Gerais não deve apagar usuais péssimas condições de higiene, instalações enferrujadas, e os mais de 25 mil pontos cegos do Estádio Governador Magalhães Pinto. Isso mesmo: mais de vinte e cinco mil pessoas pagam ingresso semanalmente para assistirem às partidas sem o mínimo de conforto e, às vezes, até sem campo de visão.

É claro que Luciano Huck, Pelé, Pedro Bial, Ricardo Teixeira, e todos os "célebres" que lá estavam não lhe diriam isso. Porém, perguntem-vos se comparecerão aos próximos jogos de Atlético e Cruzeiro. É claro que não. A boate já estará desmontada. Sem luzes, shows, talvez apenas com os telões ainda mantidos em lugares estapafúrdios, acrescentando cerca de uma centena – ou mais – de pontos cegos ao Mineirão.

Nos assentos de gente comum, encontramos uma torcida que paga bem e caro, seja para as partidas de seus clubes ou para as da Seleção, e que é maltratada em quaisquer das ocasiões. Torcida que preteriu a competição de brasileiros e argentinos para alimentar, de forma saudável, a rivalidade entre alvinegros e celestes.

A positividade entre os eternos rivais que riam das brincadeiras um do outro, independentemente dos palavrões proferidos por ambas as partes, não se repetiu nos gritos direcionados a Galvão Bueno. O narrador é considerado 'persona non grata' pelos admiradores das duas potências de Minas, assim como por outras tantas forças país afora, por personificar a emissora que, "inadvertida e ingenuamente", segue aumentando o áudio das torcidas que lhe dão audiência, além de já ter, direta ou indiretamente, arrancado títulos ou oportunidades de títulos dos dois grandes mineiros. José Roberto Wright, atual comentarista de arbitragem da nave-mãe e da filial, que o diga.

Dentre os que estavam em campo, impressiona perceber os pretensos europeus que hoje vestem a amarelinha insistindo em reclamar da torcida, especialmente pelos aplausos a Messi. Parece que o tempo de nossos craques na Europa só lhes serviu de aprendizado no manuseio do Euro. Ou suas memórias não chegam ao dia em que dezenas de milhares aplaudiram Ronaldinho Gaúcho de pé no Santiago Bernabéu?

Aliás, engana-se quem pensa que os aplausos a Messi foram puramente irônicos. O momento da saída do craque argentino, único a realmente brilhar com a bola nos pés – apesar de distante das atuações que o destacaram no Barcelona – foi uma realização para todos que pagaram até 250 reais para verem o Mineirão se transformar na boate do quase jogo de um quase time que fez a festa de um quase bom-moço em sua escalada ao Palácio do Planalto. Foi o momento de sentir que talvez tenha valido a pena estar ali.

Burro, Dunga? Burro foi Collor. Aliança boa não é com PC Farias. É com artistas e "artistas" que invadem a telinha do povão todos os dias. Aécio e seus assessores sabem disso. Já calaram a imprensa mineira e agora calam e envolvem, pouco a pouco, o restante do país com os infindáveis afagos às "celebridades" que os cercam.

* Thiago Sarkis é redator da revista Roadie Crew, crítico musical, e publicou seus artigos em mais de trinta países nos principais periódicos do mundo de Rock, Pop, Blues, Jazz e Progressivo. Fora isso, é psicólogo... E louco por futebol.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mataram três quilombolas

Abaixo uma matéria sobre os três jovens mortos no Rio depois de serem entregues a bandidos pelo exército brasileiro Antes um comentário meu que explica o porque do título do post. Abaixo reproduzo a nota de pé de página número 51 de minha dissertação de mestrado sobre quilombolas, onde falo da região onde aconteceu essa barbaridade como uma área de territorialização quilombola:
"[51] A melhor definição do conceito de Comunitas foi desenvolvida por Vitor Turner, para quem as estruturas representariam aspectos de permanência da autoridade de posição definida, das distinções de status e riquezas, da hierarquia e do conhecimento técnico, etc. Já na comunitas predominariam as relações pessoais, o intuitivo, a ausência de propriedade e de insígnia. Ou seja, a centralidade se encontra na noção de comunhão. Estruturas e comunitas são para o autor mecanismos invariantes, universalmente reconhecidos como essenciais e inseparáveis. Turner acredita que a sociedade vive uma permanente tensão entre o par estrutura/-comunitas. Para ele, a vida social necessita de participar de ambas. Ainda que, de acordo com a organização social, um grupo possa tender mais para uma do que para outra. Desta necessidade deriva a busca pela liminaridade ritual. Assim, os indivíduos que ocupam posições inferiores na estrutura social aspiram a uma superioridade simbólica no ritual, e os que estão em posições superiores podem aspirar à simbólica fraternidade universal da comunitas. Esta, portanto, é a organização social em que as normas éticas e jurídicas da sociedade são colocadas em contato com fortes estímulos emocionais. Dessa maneira pode-se entender o que disse Muniz Sodré a respeito da região da Praça Onze, na Pedra do Sal*, na Gamboa, cidade do Rio de Janeiro. “Saltam aos olhos a semelhanças com o Congo Square, de New Orleans. Por que uma praça? Bem, as esquinas, as praças constituem interseções, suportes relacionais, que concorrem para a singularização do território e de suas forças. Na praça, lugar de encontro e comunicação entre indivíduos diferentes, torna-se visível uma das dimensões do território que é a flexibilidade de suas marcas (em oposição ao rígido sistema diferencial de posições característicos do “espaço” europeu), graças à qual se dá a territorialização, isto é, a particularização da possibilidade de localização de um corpo (MUNIZ SODRÉ, 1988:137).
Dessa forma, a “África em miniatura”, expressão do sambista Heitor dos Prazeres em relação à Praça Onze permitiu catalisar o processo sociabilizante dos negros, sendo o berço do Samba, do partido alto, dos entrudos carnavalescos, das escolas de samba, das reuniões toleradas de candomblé; e por sua característica de liminaridade, recebeu a acolhida de intelectuais e alguns setores da burguesia carioca, contato que permitiu, a princípio, o surgimento do Choro e, posteriormente, da Bossa Nova. Processo parecido ocorreria no sul dos EUA em relação ao Jazz.
Para finalizar, em relação à Praça Onze, Sérgio Cabral (1996) afirma que ela ficava no centro da região ocupada por negros, na cidade do Rio de Janeiro: Morro da Favela, Morro de São Carlos, Rio Comprido, Catumbi, Cidade Nova, Estácio de Sá, Saúde, Gamboa, Santo Cristo. Por fim, outra característica interessante da Praça Onze, segundo Cabral, era a convivência na mesma área física entre negros e judeus (outro grupo bastante importante dessa região), ainda que o autor estranhe a ausência mútua de manifestação entre estes dois grupos, como se ambos fossem invisíveis um para o outro.
* Atualmente os moradores da Pedra do Sal reivindicam através do INCRA a delimitação territorial dessa como Comunidade Remanescente de Quilombo, tendo, aliás, o RTID já se iniciado. A leitura do subcapítulo denominado “Do candomblé ao Samba”, da obra de Muniz Sodré, já é em si mesmo um ótimo argumento a favor desse pleito, pois demonstra que essa foi e é uma área de resistência com presumida ancestralidade negra, o que transparece em sua rica história cultural. "

Saiba quem eram os três jovens do morro da Providência mortos no fim de semana
André Naddeo
A reportagem do UOL conversou com parentes e amigos dos três para saber um pouco mais sobre eles. Leia abaixo:

  • Arquivo pessoal
David Wilson Florêncio da Silva, 24, como a maioria dos moradores da Providência, teve uma infância difícil. Ainda bebê, foi abandonado pela mãe. Como o pai já era falecido, acabou criado pela avó materna, dona Benedita Florêncio. "Ele sempre me levava ao médico, fazia tudo por mim", conta, segurando as lágrimas.

A relação com a avó sempre foi estreita. "Ele levava os doces feitos por ela e vendia na escola quando garoto", lembra a amiga Deyse Lay, 30, que o conheceu na 5ª série do ensino fundamental. "Era um bom rapaz, eu garanto, sempre tive amizade com ele", diz.

Desde cedo, além da avó Benedita, David tinha uma outra paixão: o futebol. Mais especificamente o seu clube de coração, o Flamengo. "Ele era apaixonado, ia sempre que podia ao Maracanã comemorar a vitória do time", conta a avó. Festa, aliás, era com ele mesmo: "Era uma pessoa alegre, divertida. Gostava de reunir os amigos sempre. Ele queria comemorar tudo. Tudo era na base de festa", conta a amiga Deyse.
    Já adulto, usou o todo conhecimento futebolístico adquirido para dar aula de futebol para crianças carentes do morro da Providência. Mas como o trabalho era voluntário e o dinheiro, curto, David teve que interromper os estudos. Em 2005, ele largou o 1º ano do ensino médio para trabalhar.

    Em Gamboa, bairro da região central do Rio, conseguiu emprego em uma obra como auxiliar de pedreiro. Em 2008, porém, o torcedor flamenguista conseguiu voltar à escola. Trabalhava durante o dia e fazia o supletivo à noite. Há cerca de uma semana, conseguiu vaga nas obras de remodelagem de casas do programa Cimento Social, principal motivo da ocupação do Exército na Providência. Começaria na última segunda-feira.

    Dois dias antes, entretanto, David foi assassinado por membros de uma facção rival do morro da Mineira enquanto cumpria o segundo ano do ensino médio, sonhava em fazer faculdade de educação física e planejava o casamento. "Ele não era envolvido com o tráfico, ele iria começar a trabalhar. Isso tudo é um absurdo", conta a noiva Gisele Pereira de Lima, 19.

  • Arquivo pessoal
Wellington Gonzaga Costa, 19, apesar de nunca ter trabalhado no ramo, também iniciaria na última segunda-feira trabalho como pedreiro no programa Cimento Social, razão pela qual os militares ocupam o morro da Providência. "Ele estava bastante ansioso", conta Débora Cristina Gonzaga, 32, prima.

À noite, o jovem trabalhava como entregador de pizza dentro da própria comunidade. Era bastante amigo de David Florêncio, que o apresentou à namorada Tamires. "Ele gostava de sair sempre com ela. Gostavam de shopping e cinema. Ele a tratava muito bem, tinha foto no Orkut [site de relacionamentos da Internet] dele fazendo coração para ela. Era uma pessoa querida", conta Deyse Lay, 30, que também o conheceu por intermédio de David.

Vascaíno de coração, acompanhava o time de perto e rivalizava com o amigo David, flamenguista. "Quando tinha clássico do [Campeonato] Carioca, os dois saiam com suas camisas e ficavam apostando quem iria ganhar", conta a prima Débora.

Wellington, que nunca tinha dado muita atenção aos estudos, estava correndo atrás do tempo perdido. Cursava a 2ª série do ensino fundamental, em processo de alfabetização.

  • Arquivo pessoal
Marcos Paulo Rodrigues Campos, 17, era o mais novo dos jovens assassinados no morro da Mineira. E o que tem a história mais irônica: seu sonho, desde garoto, foi ingressar no Exército. "Ele sonhava em fazer logo 18 anos para poder se alistar, ele queria usar farda e tudo o mais", relembra a mãe, Maria de Fátima Barbosa, 48, agora indignada ao ver que, supostamente, seu filho foi levado justamente por militares e entregue a uma facção criminosa.

Desde cedo, para seu próprio sustento e dos seus outros seis irmãos, ajudava a mãe descarregando caminhões de areia em obras dentro da própria comunidade da Providência. "Ele arrumava um dinheirinho com isso, né. A gente não tinha dinheiro, sempre passamos por bastante dificuldade", conta Maria de Fátima.

O adolescente flamenguista cursava a 7ª série do ensino fundamental. Gostava de namorar. Mas sem compromisso sério. "Ele não gostava de namorar sério, para ele, o que importava era aproveitar a vida", conta a mãe.

O futebol também era motivo de descontração. Reunir os amigos para uma partida na Praça Américo Brum, mesmo local onde foi abordado e levado pelos militares, era algo comum, quase diário.

"Ele era um adolescente 'crianção'. Lá em casa está um vazio no nosso coração, uma dor imensa, todo mundo calado. Lá em casa era uma alegria", conta Maria de Fátima, não contendo as lágrimas. "Se eu pudesse eu iria junto. Mas eu quero só guardar coisas boas dele, não quero pensar que ele morreu assim brutamente. Prefiro lembrar do sorriso dele."

terça-feira, 17 de junho de 2008

Eu sou neguinho

Abaixo um TEXTO ABSOLUTAMENTE GENIAL!!!!!!!!

Eu sou neguinho
Publicada em 12/06/2008 às 17h56

Por Joel Zito Araujo

O meu amigo Caetano, que no debate público é um provocador tão genial quanto na arte, também é, sem dúvidas, um atento observador da realidade racial brasileira desde jovem, quando Dona Canô gritava 'meu filho corra, venha ver na TV aquele preto de que você tanto gosta!'. Ou quando se irritou ao ver jovens de esquerda chamando Clementina de Jesus de macaca no Teatro Paramount, em 1968. Ou quando não deixou o país esquecer que o Haiti é também aqui. Mas agora, depois de tão bela história, depois de ter produzido poemas tão poderosos e belos sobre a negritude baiana, ele parece acreditar que o país acompanhou a sua cabeça e seu desejo de viver em uma democracia pós-racial.

' Não é possível ignorar as cotas como um movimento natural e necessário, apesar das imperfeições no processo '

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O Brasil pós-racial é uma meta que compartilho, mas ainda é uma ficção. O dramaturgo Harold Pinter já disse que, na exploração da realidade por meio da arte, 'não há distinções explícitas entre o que é real e o que é irreal, tampouco entre o que é verdadeiro e o que é falso.'. Mas que diferenciar essas condições é fundamental para o exercício da cidadania. É necessário dizer para o querido Caetano que não é coerente ter feito uma obra tão magnífica e assinar um manifesto contra cotas para jovens negros pobres na universidade.

E assim, mesmo agradecido pelo que ele fez, tenho que, atendendo a sua provocação ( ver coluna de Jorge Moreno de 07/06/08), vir aqui dizer que a 'realidade lá fora' continua brutal para aqueles que são 'negros ou quase-negros de tão pobres'. Eles continuam com suas chances de ascensão social condicionadas à cor de suas peles em estruturas seculares que reproduzem o racismo nos bancos escolares, na nossa TV, no sistema de saúde, no mercado de trabalho, na violência policial...

Não é possível ignorar as cotas como um movimento natural e necessário, apesar das imperfeições no processo. Diante da revolta contra sua condição de grupos populacionais excluídos, negros e indíos lutam por uma reparação histórica, lutam por seus direitos. Hoje, por trás da emergência identitária destes grupos está a busca pelo reconhecimento dos direitos de partilha das riquezas materiais do país (partilha do direito à educação, à terra, à liberdade religiosa). Vivemos, finalmente, numa sociedade em que os 'excluídos' lutam autonomamente no campo da democracia pelos seus direitos. São lutas de idéias, de conquista da opinião pública e de leis. E isso é muito bom, e deve ser respeitado e incentivado. E, veja bem, eles não estão esperando o socialismo, ou a vitória do universalismo francês, ou o triunfo do mercado, para ter acesso à educação. Eles querem acelerar processos, cobrar dívidas históricas. Evitar tensões raciais é promover o reconhecimento dos seus direitos , e incentivar a sua luta política nas formas democráticas e republicanas. E tenho certeza de que o nosso querido Caetano sabe que Mangabeira Unger tá certo. Nós precisamos de uma segunda abolição. Mas como realizá-la sem nos defrontarmos com a questão racial?

' Nossas crianças perdem a auto-estima ao aprender a sonhar em ser, mesmo que cirurgicamente, iguais à rainha dos baixinhos '

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E por que acreditar que revalorizar neste momento a criação colonial do mulato é um passo para a sociedade pós-racial? Onde é que o mulato é celebrado como ideal da nação? Nas artes, na telenovela, no cinema, na publicidade? O ideal do país desde os tempos da escravidão foi, e continua profundamente internalizado em todos nós, fazer do negro um mestiço e do mestiço um branco. Nossas crianças perdem a auto-estima ao aprender a sonhar em ser, mesmo que cirurgicamente, iguais à rainha dos baixinhos. Por que todas as apresentadoras dos programas infantis foram inspirados no modelo ariano? Que ideal de raça estava por trás disso? Por que os considerados mais belos das revistas de moda, de TV e até mesmo de esportes são invariavelmente os mais germânicos? Por que somente em 2004 tivemos a Taís Araújo como protagonista de uma telenovela na rede líder de audiência? E quando voltaremos a revê-la assim? Ser mestiço, portanto, é ainda um momento de passagem da condição inferior para a raça superior. O mulato na telenovela ainda é, como regra, representação do estereótipo do bundão, do mau caráter, do bandido ou do ressentido.

É por isso que não sou mulato. Só aceito o mulato como profissão. E é assim que vivem centenas de brasileiras afro-descendentes pobres que viajam pelo mundo vendendo a beleza dos seus corpos e dos seus movimentos em shows tipo Sargentelli.

' Neste momento sou orgulhosamente o meu avô e bisavô, eu sou neguinho. E amanhã posso vir a ser a minha avó, nambiquara ou pataxó '

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Sou brasileiro, com ascendência afro-índígena- portuguesa. Mas neste momento histórico só me interessa afirmar o que fui pressionado a negar. O país ainda precisa de um choque de negritude e de indigeneidade. Para chegar a ser pós-racial precisa antes ser multirracial. Precisamos reconhecer que nossa nação é um mosaico, onde vivem filhos de africanos, de japoneses, de libaneses e de europeus, além dos indígenas. Somente assim podermos, no futuro, realizar o mito que tanto prezamos, e vir a ser um exemplo de democracia racial. Neste momento sou orgulhosamente o meu avô e bisavô, eu sou neguinho. E amanhã posso vir a ser a minha avó, nambiquara ou pataxó.

Diante da herança colonial que criou um sistema hierárquico de castas raciais, eu sou neguinho. Diante dos articulistas dos jornais que dizem que não somos racistas, mas alertam que se me assumo como negro sou ameaça de guerra civil, eu sou neguinho. Diante do senador que elogia o seu par mulato por estar apurando a raça ao se casar com uma 'linda gaúcha dos olhos azuis', eu sou neguinho. Ou diante da mídia que em suas imagens insiste em reafirmar a branquitude como ideal da nação, eu sou aquele Caetano que tanto admiro, e não aquele inexplicável mulato anticotas. Sou negro preto do Curuzu. Sou beleza pura.

Joel Zito Araujo é cineasta, autor de 'Filhas do Vento' e 'A Negação do Brasil'

Politicômetro

A revista Veja criou um índice para medir a ideologia, que nomeou de Politicômetro. Assim a Revista define o método:


"O politicômetro é um teste de opinião que o situa no campo das liberdades individuais e da relação entre o estado e a economia. Com a ajuda do sociólogo Alberto Almeida, VEJA preparou um questionário com vinte perguntas. Assim que terminar de respondê-las, você saberá a sua posição política em um quadrante que tem como eixos os extremos esquerda-direita e liberal-antiliberal."

Bom fui lá e fiz o teste (que lógico pode ser manipulado), o mesmo até me pareceu interessante, fica a dica: http://veja.abril.com.br/idade/testes/politicometro/politicometro.html

Esse foi o meu diagnóstico, concordo com ele:
"Você está no extremo do liberalismo de esquerda.Crê no estado como senhor absoluto nas questões de mercado, mas não admite interferência do governo nas liberdades individuais."

domingo, 15 de junho de 2008

A redenção para os negros é o sexo com os brancos.

Ótimo texto do Azenha:

Em Boa Vista, Roraima, fui à praça central à noite.

No centro da praça central há uma praça de alimentação.

A praça de alimentação é coberta.

Em torno da praça de alimentação há oito aparelhos de televisão ligados na Globo.

As famílias saem de casa para passear, sentam-se na praça de alimentação e comem assistindo à novela.

O som dos aparelhos de TV se sobrepõe ao dos humanos.

A praça, a TV, o asfalto, os carros novos, as roupas de marca, o Bob's - Boa Vista é vitrine da civilização num canto da Amazônia.

No imaginário de Roraima, ela é o moderno.

Tudo o que a nega é o primitivo - os indígenas, por exemplo, que insistem em disputar a terra, em atrasar o estado, em não concordar com nossa idéia de país.

A barbárie travestida de ato civilizatório é o que liga nossa Boa Vista à Twin Peaks dos gringos. É roubar a terra do índio ou matá-lo em nome da modernidade.

Eu estava na praça de Boa Vista quando um personagem da novela Duas Caras, negro, se rendeu à superioridade branca gritando vivas à dona Branca e admitindo que "radicalismo não leva a nada".

Dona Branca era, para quem não viu, branca.

Nas palavras do autor da novela, Aguinaldo Silva, reproduzidas pelo jornal Extra: "Ele (o militante estudantil negro) vai se apaixonar pela burguesinha. E ela vai ensinar que o marxismo é mais embaixo".

No Brasil do Aguinaldo o útero branco livra o pênis preto da infecção marxista.

Ou quem é do contra é mal comido.

A redenção para os negros é o sexo com os brancos.

Cidadania=gozo.

Presas entre as liberdades da sociedade européia e as tradições islâmicas

Abaixo uma interessante reportagem do Estado de S. Paulo (jornal que apesar de suas posições ideológicas, em minha opinião é o melhor do país) sobre o tema da sempre complicada relação estado laico X religião.

Muçulmanas recuperam virgindade

Presas entre as liberdades da sociedade européia e as tradições islâmicas, jovens recorrem cada vez mais à cirurgia

Elaine Sciolino e Souad Mekhennet

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A operação na clínica privada em Champs-Elysées, em Paris, envolveu um corte semicircular, dez pontos que se dissolvem e o pagamento de US$ 2.900. Mas, para a estudante francesa de Montpellier, uma descendente de marroquinos de 23 anos, o procedimento que durou 30 minutos será a chave para uma nova vida: a ilusão da virgindade.

Como um número cada vez maior de mulheres muçulmanas na Europa, a estudante submeteu-se a uma himenoplastia, a reconstituição de seu hímen. "No momento, a virgindade é mais importante para mim do que a vida", disse, enquanto aguardava a cirurgia.

À medida que a população islâmica na Europa aumenta, muitas jovens muçulmanas se vêem presas entre as liberdades permitidas pela sociedade européia e as tradições de seus pais e avós. Segundo alguns ginecologistas, nos últimos anos cada vez mais muçulmanas vêm precisando fornecer certidões provando sua virgindade. Foi isso que criou a demanda, entre os cirurgiões plásticos, para as operações para a reconstituição do hímen.

Quando o procedimento é realizado corretamente, na noite de núpcias produz-se o sangramento vaginal que faz o marido acreditar que a noiva é virgem. O serviço é amplamente anunciado na internet. "Se você é muçulmana, mas cresce nas sociedades abertas da Europa, pode acabar fazendo sexo antes do casamento", diz Hicham Mouallem, médico que faz essa operação em Londres. "Se pretende se casar com um muçulmano sem ter problemas, tentará recuperar sua virgindade."

Não há estatísticas confiáveis sobre a himenoplastia, porque o procedimento geralmente é realizado em clínicas particulares e não é coberto por planos de saúde. Mas vem se falando tanto sobre tal cirurgia que ela foi tema de um filme lançado na Itália esta semana. A comédia Os Corações das Mulheres (na tradução livre) narra a história de uma marroquina que vive na Itália e viaja até Casablanca para fazer a operação.

"O que muitos pensam ser uma prática esporádica, na verdade, é muito comum", diz o diretor do filme, Davide Sordella. "Essas mulheres podem adotar nossa mentalidade e usar jeans. Mas, em momentos importantes, nem sempre conseguem contrariar sua cultura."

O assunto provoca polêmica também na França, onde o debate começou com a revelação, há duas semanas, de que um tribunal em Lille tinha anulado o casamento de dois jovens muçulmanos franceses, em 2006, porque o noivo descobrira que a noiva não era a virgem, como afirmava ser.

O drama doméstico tomou conta do país. O noivo, um engenheiro de 30 anos, abandonou o leito nupcial e anunciou aos convidados, que ainda festejavam, que a noiva tinha mentido sobre o seu passado. Na mesma noite, ela foi deixada na porta da casa dos pais. O engenheiro procurou um advogado para anular o casamento. A noiva, uma estudante de enfermagem de 20 anos, confessou ter mentido sobre sua virgindade no tribunal e concordou com a anulação.

Em sua decisão, a corte não fez menção a questões religiosas. Pelo contrário, alegou violação de contrato, já que o engenheiro tinha se casado com a jovem depois "que ela se apresentou a ele como solteira e casta". Na França republicana e secular, o caso toca em vários temas delicados: a intromissão da religião na vida cotidiana, as causas para a dissolução de um casamento e a igualdade dos sexos.

Apelos foram feitos ao Parlamento, pedindo a renúncia da ministra francesa da Justiça, Rachida Dati, depois de ela ter, inicialmente, defendido a decisão. Dati, que é muçulmana, voltou atrás. Para algumas feministas, advogados e médicos, o fato de o tribunal ter aceitado que a virgindade possa ser essencial para o casamento pode encorajar mulheres de origem árabe e africana a procurarem reconstituir seu hímen. O grande debate é se o procedimento é um ato de libertação ou de repressão.

"O julgamento foi uma traição às muçulmanas da França", diz Elisabeth Badinter, escritora feminista. "Ele envia para essas mulheres uma mensagem de desespero ao afirmar que a virgindade é importante aos olhos da lei. Mais mulheres vão dizer: ?meu Deus, não vou assumir o risco. Vou restaurar minha virgindade?."

A Associação Nacional de Ginecologistas e Obstetras Franceses é contrária ao procedimento por razões morais, culturais e de saúde.

"Tivemos uma revolução na França para conquistar a igualdade; tivemos uma revolução sexual em 1968, quando as mulheres lutaram pela contracepção e o aborto", diz Charles Lansac, presidente da Associação. "Dar tanta importância ao hímen é uma submissão à intolerância do passado".

sábado, 14 de junho de 2008

Morre o baluarte da Mangueira, Jamelão

Jamelão
''rir de que?"
Ele atribuía os reveses ao fato de ter nascido pobre e, principalmente, negro.
Dizia que muitas vezes foi passado para trás por causa da cor.

Jamelão nasceu em 12 de maio de 1913 no bairro carioca de São Cristóvão, e ainda mantinha o vozeirão em plena forma, o que atribuía a um dom de Deus. O criador foi pródigo em lhe conceder um talento que o colocou entre os grandes da Música Popular Brasileira, embora tanto reconhecimento não tenha lhe valido uma tranqüilidade financeira. Homenageado a torto e a direito, Jamelão ainda tinha que fazer shows para pagar aquelas continhas que perturbam nossa vida todo mês.

Ele atribuía os reveses ao fato de ter nascido pobre e, principalmente, negro. Dizia que muitas vezes foi passado para trás por causa da cor, que lhe valeu o nome artístico dado pelo apresentador de uma gafieira onde pediu para cantar na cara dura e o locutor, sem saber-lhe nome, apresentou-o como Jamelão. Há outras versões para o apelido, citadas por ele mesmo em entrevistas, e não adiantava perguntar qual era a verdadeira porque respondia com o mau humor característico que não tinha caderno para anotar tudo que fazia (uma vez lhe perguntaram porque era sempre tão sério, ele fuzilou: ''rir de que?")

O puxador da Mangueira Jamelão - Arquivo O Globo A atitude era compreensível. Devia ser mesmo frustrante não ver a conta bancária acompanhar a consagração que recebia por suas interpretações, mas ele teve o auge de sua carreira numa época em que os direitos dos artistas eram completamente desrespeitados. Antes de descobrir seu caminho, Jamelão seguiu a sina dos garotos pobres, trabalhando como engraxate e vendedor de jornais, interessando-se no paralelo pelo samba, batendo uma percussão e freqüentando rodinhas de samba até que, já com algum nome no meio, com apenas 15 anos, foi levado à Mangueira pelo sambista Lauro Gradim Santos, onde começou como ritmista.

Nas rodas de samba ele cantava e também conseguia se apresentar nos cabarés que proliferaram depois do fechamento dos cassinos em 1946. Na época ele venceu um concurso de calouros e foi contratado pela rádio Continental e, depois, pela rádio Tupi. No começo dos anos 50, trabalhou como crooner da Orquestra Tabajara de Severino Araújo e se apresentou até na França. Fez sucesso no disco em gravações pela Continental de Folha Morta (Ary Barroso), Exaltação à Mangueira" (Enéias Brito e Aluísio Augusto da Costa) e "Ela disse-me assim", de Lupicínio Rodrigues. Jamelão viria a ser considerado o maior intérprete de Lupicínio, especializando-se no samba canção com suas profundas fossas amorosas. Ele gravou dois LPs dedicados à obra do compositor gaúcho, "Jamelão interpreta Lupicínio Rodrigues'' (1972) e "Recantando mágoas - A dor e eu" (1987).

Jamelão foi gradualmente se convertendo na voz da Mangueira, desde que começou a cantar os sambas enredo nos desfiles a partir da década de 50. Ele nunca aceitou ser chamado de "puxador de samba", reagia como se tivessem lhe xingado a mãe, dizendo que puxador era quem fumava maconha ou roubava carros. Ele era intérprete. E disso ninguém tinha dúvida. Muito menos ele, que batizou seu último disco de Cada vez melhor, reunindo regravações como Folha morta, ''Falsa baiana'' (Dorival Caymmi) e ''Ela disse-me assim'' Lupicinio), além de um pout-porri de sambas. O disco de um intérprete para ninguém botar defeito.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Para se pensar

Como não sou poeta, segue a fala do Dr. House, do seriado de mesmo nome. Dúvidas, dúvidas e dúvidas ou um tantão de nilismo

- Você realmente é bom como todos pensam?
- Você realmente é infeliz como todos dizem que é?
- Só queria fazer algo que importasse.
- Nada importa. Somos apenas preconceituosos. Feras selvagens morrendo à beira do rio. Nada que fazemos tem o menor significado.
- E você acha que sou infeliz?
- Se não está feliz no avião, pule.
- Eu quero, mas não posso.
- Uhmm... Esse é o problema das metáforas. Elas precisam ser explicadas. Pular do avião é idiotice.
- Mas e se eu não estiver no avião e sim em um lugar que eu não queira?
- Esse é outro problema das metáforas. E se estiver em um caminhão de sorvetes e lá fora houver doces, flores e virgens? Você está em um avião! Todos estamos! - A vida é perigosa, complicada e tem um longo caminho pela frente.
- Você tem medo de mudar?
- Não.
- Você tem medo de mudar. Você prefere ter medo de escapar ao invés de tentar de fato. Pois se falhar não terá nada. Então você desiste de algo real para não perder a esperança. O problema é que esperança é para menininhas.

- Quando sair daqui não terei mais medo de mudar. Quantos caras tem uma segunda chance?
- Muitos. Metade das pessoas que salvei não merecia uma segunda chance.

Extraído de um episódio da quarta temporada da série House M.D.
Diálogo do Dr. House com um paciente.

terça-feira, 10 de junho de 2008

OBAMA É O CANDIDATO DEMOCRATA V

Mais um bom texto do Pedro Dória, publicado no Estado de S. Paulo no último domingo:

Obama, um inventor de si mesmo

Seus pais e avós fugiram de qualquer identidade cultural. Então o candidato democrata teve de criar a sua própria

Pedro Doria

Em março, quando os primeiros sermões raivosos do homem que foi seu pastor por tantos anos começaram a aparecer na televisão, Barack Obama se pôs perante as câmeras para fazer aquele que é hoje considerado o discurso mais importante desta campanha. O discurso sobre raça foi proferido com veemência e elegância durante quase 40 minutos. Obama é o candidato dos discursos, das palavras bem colocadas, entonação perfeita e carisma ímpar. Conseguiu transformar um discurso político de 40 minutos no campeão de audiência do YouTube por uma semana.

Para alguns analistas, aí está a marca do demagogo: palavras bonitas que conquistam o eleitorado pelo coração. Mas quem presta atenção nas palavras percebe que o estilo não é o de falar aquilo que o público quer ouvir. “Quando brancos sabem que um afro-americano conseguiu uma vaga na universidade por causa de uma injustiça cometida em gerações passadas, quando brancos são acusados de racismo por conta de seus medos concretos da criminalidade urbana, é natural que surja ressentimento”, disse a seus eleitores negros naquele discurso. Para falar das feridas criadas pela questão racial nos EUA, não desculpou ninguém. Esse tipo de desafio a quem o ouve é comum em Obama.

Para um grupo de exilados cubanos em Miami, no último dia 23, Obama relatou que planejava reativar os canais de diplomacia com o governo de Raúl Castro, cogitando até o fim do embargo em troca da liberação de prisioneiros políticos. “Sei que não é o que vocês querem ouvir.” A um grupo de plantadores de milho no interior de seu Estado, disse que como senador poderia até lutar pelo subsídio que os protege, mas isso não adiantaria por muito tempo. “O problema é que o etanol brasileiro é muito mais barato que o nosso”, explicou. “Vocês terão que encontrar opções mais eficientes.”

No mundo que Barack Obama vê e descreve há desafios para todos. Essa sua visão nasce de sua história pessoal - uma história que começa com fugas.

Seu avô paterno foi criado no interior do Quênia durante o Império Britânico. Viveu entre a estrutura tribal de sua pequena comunidade e o desejo de ser ocidental, descreve Obama em seu primeiro livro, A Origem dos meus Sonhos. Abandonou as roupas coloridas da tradição e vestiu a dos europeus. Serviu como cozinheiro em um navio da Marinha britânica durante a 2ª Guerra. Seu filho Barack Hussein Obama Sr, pai do candidato, foi mais longe: descobriu-se ateu, abandonou o islamismo de seu clã e mudou-se para o Havaí, onde conheceu uma moça branca com quem casou. Formou-se em economia por Harvard. Divorciou-se. De volta a seu país, serviu na alta hierarquia do governo sem jamais conseguir modernizar a estrutura social do Quênia como queria. Alcoólatra, sofreu de problemas de circulação que lhe custaram uma das pernas antes de sua morte prematura, em 1982, aos 46 anos.

Também o avô materno de Obama buscava algum tipo de transformação íntima. Natural do Kansas, seguiu o sonho americano de uma nova vida em direção ao Oeste. Veterano da 2ª Guerra, pingou de emprego em emprego com mulher e filha, primeiro no Texas, depois Califórnia, Estado de Washington e, finalmente, Havaí. Sua filha, Ann Dunham, manteve essa busca por uma reinvenção pessoal. O primeiro marido foi um queniano, pai de Obama, que a abandonou. O segundo era da Indonésia, para onde Ann se mudou com o filho Barack muito menino. Separada novamente, Ann morreu de câncer, aos 52 anos.

Criança, Obama viveu com a mãe na Indonésia, estudando numa escola internacional católica, depois numa islâmica. Ann não ligava para religião. Mas aí, com 13 anos, Obama quis estabilidade: adolescente, foi morar com os avós no Havaí. Para os colegas americanos, era, como se descreveria anos depois, “um menino magrelo com o nome engraçado”. Em seu livro, descreveu um envolvimento autodestrutivo com drogas - maconha, depois cocaína. À imprensa, os amigos do tempo disseram que Obama fumou, cheirou, mas não foi nada sério. Bom aluno, ganhou uma bolsa para a Universidade Colúmbia, em Nova York, onde estudou ciência política e relações internacionais. E, quando foi procurar emprego, escolheu um de assistente social em Chicago, no lado sul da cidade, conhecido pela influente comunidade negra.

Aos 22 anos, Barack Hussein Obama sentia-se um fruto de famílias em fuga que rejeitavam o passado. A seus olhos, nem os pais nem os avós foram felizes. E lá estava ele, um rapaz negro criado por brancos, chegando a um lugar novo. De volta ao Meio Oeste que seu avô abandonara, ele buscaria uma raiz, uma tradição. E duas pessoas o apresentaram a ela.

O primeiro foi Jeremiah Wright, pastor da Trinity United Church of Christ. Wright o ensinou sobre ser negro nos EUA, ofereceu uma base religiosa, apresentou Obama à comunidade e o influenciou na maneira de falar em público. A segunda pessoa foi sua mulher, Michelle. Com ela e os sogros, ele conheceu a vida de uma típica família estável da classe média negra. Já era este seu mundo quando se formou em direito, em 91, pela Universidade Harvard, considerada a melhor do mundo.

Quando, anos mais tarde, condenou a Guerra do Iraque, ele argumentaria com base nas conclusões que tirou da vida. Seus pais tentaram se reinventar abandonando as tradições e, no processo, perderam a própria identidade. A tradição é o que dá liga à sociedade. Perante a mudança, a tradição sempre resiste. Mudança, na história, vem a passos lentos. Para ele, há ingenuidade no ideal do sonho americano de que idéias, por si, causam grandes mudanças. Idéias não bastam. Barack Obama, como o descreveu Larissa MacFarquhar num perfil para a revista The New Yorker, “é profundamente conservador”. Democracia não seria simplesmente imposta num país onde ela jamais existira.

Obama é conservador na maneira de ver o mundo e a sociedade, mas um político que segue fielmente a tradição social da esquerda americana. Eleito em 1996 para o Senado Estadual de Illinois, propôs 233 leis sobre saúde pública (incluindo a tentativa de implantar um sistema universal, que foi rejeitado), 125 dedicando recursos para assistência social e 112 tratando de criminalidade, como programas de reintegração à sociedade, o alívio de penas para certos crimes e maior controle na venda de armas. Nas 823 leis que apresentou, mais da metade se inclui nesses três grupos.

No Senado dos EUA, onde atua desde 2005, se mostrou protecionista - vem de um Estado agrícola - e favorável a facilitar a vida dos imigrantes, mesmo os ilegais. É a favor do aborto, mas não rejeita de todo a pena de morte, que considera justa para os casos mais brutais, que choquem a sociedade. Votou a favor de planos de educação sexual e distribuição de contraceptivos para adolescentes, quer um projeto agressivo para cortar a emissão de carbono e deseja retirar as forças americanas do Iraque para investir na luta contra a Al-Qaeda no Afeganistão e Paquistão.

A campanha presidencial apenas começou. Não foi sem dor que ele renegou seu pastor, quase uma figura paterna, há um mês. Seu adversário republicano, John McCain, o atacará em sua disposição de negociar com ditadores, explorará sua pouca experiência em política exterior e tentará mostrar que, hábil com as palavras, Obama seduz sem substância. Também deve apresentá-lo como um radical da política negra. A proximidade com o pastor Wright torna a insinuação crível. A amizade com o casal Bernardine Dohrn e William Ayers, terroristas de esquerda nos anos 60, reforça a tese. Não bastasse, ainda há o fantasma de Tony Rezko, um de seus primeiros financiadores políticos, condenado em maio por corrupção.

A campanha presidencial de Obama é conduzida por um ex-repórter da editoria de política do jornal The Chicago Tribune, David Axelrod. Ele pretende driblar a discussão contando e recontando a história pessoal do candidato. Ao New York Times, explicou que “a história de Barack é a personificação de sua mensagem para o país, a de que com tenacidade podemos vencer as barreiras que nos dividem”. A candidatura, segundo Axelrod, é essencialmente uma aposta de que, mesmo lentamente, a história caminha para a frente e os EUA são, sim, capazes de eleger um presidente negro.

É só com sutileza que Obama trará a questão racial para a campanha. Tão logo ficou claro que seria o candidato, McCain o convidou para uma série de debates informais, ao vivo, perante grupos de eleitores em todo o país, como haviam combinado de fazer, em 1963, John Kennedy e Barry Goldwater. Obama disse que gostou da idéia, mas sugeriu que seguissem o modelo estabelecido, antes da Guerra Civil, por Abraham Lincoln e Stephen Douglas. Na verdade, são modelos iguais. Mas Lincoln foi o libertador dos escravos nos EUA. E um político de Illinois. Obama sublinha a idéia de ser sucessor natural do velho presidente.

Wilson Simonal canta Tributo a Martin Luther King

Bala canção e homenagem do injustiçado Simonal a causa dos negros. Bacana ver a fala dele no início da música, onde afirma que apesar de ser Wilson Simonal ainda enfrenta vários problemas por causa de sua cor.

Poesia para toda parte


A letra da música cantada com tanta emoção acima por Wilson Simonal

Tributo a Martin Luther King

Wilson Simonal e Nonato Buzar

Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!

Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...

Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!

Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais
(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!

Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Ah! Ah! Ah! Ah!

Sim, sou um negro de cor
Meu irmão de minha cor
O que te peço é luta sim
Luta mais!
Que a luta está no fim...

Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Oh! Oh! Oh! Oh!

Cada negro que for
Mais um negro virá
Para lutar
Com sangue ou não
Com uma canção
Também se luta irmão
Ouvir minha voz
Oh Yes!
Lutar por nós...

Luta negra demais
(Luta negra demais!)
É lutar pela paz
(É Lutar pela paz!)
Luta negra demais
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Para sermos iguais
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!

Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Lá Lá Lá Lá Lá Lá Lá!
Ah! Ah! Ah! Ah! Ah!
Oh! Oh! Oh! Oh!

sexta-feira, 6 de junho de 2008

OBAMA É O CANDIDATO DEMOCRATA IV

Texto do Sérgio Dávila:

Como "Obambi" bateu "Hillzilla"

Se Barack Obama e Hillary Clinton se acertarem mesmo para uma chapa conjunta liderada pelo senador, será a mãe de todas as ironias históricas. Quando chegou ao Congresso em 2005, como o representante júnior do Estado de Illinois, o político de então 43 anos tinha um desejo: acordar no dia de hoje com delegados e votos suficientes para poder peitar os Clinton e exigir do partido a vaga de candidato a vice.

Era o que tinham programado ele e seu Grupo de Chicago, comandado pelo estrategista David Axelrod, segundo contou o biógrafo David Mendell, autor de "From Promise to Power" (da promessa ao poder), um relato independente da vida de Obama. Pelos cálculos do grupo, ele ficaria oito anos no cargo e, em 2016, aos 55, se lançaria à sucessão.

Essa seria a primeira parte do "Plano Estratégico", como é chamado internamente o conjunto de ações que norteou a vida política de Barack Obama desde que ele começou a aparecer no radar político nacional, ainda como candidato ao Senado, ao discursar na convenção do Partido Democrata, em 2004. No meio do caminho, o plano deu certo demais.

Ao ganhar por mais do que previa sua própria campanha a Superterça, no dia 5 de fevereiro, quando 22 Estados norte-americanos realizaram suas prévias e deram 847 delegados ao senador, ante 834 para Hillary, o político viu as regras do jogo terem os sinais trocados. A "jovem promessa" virou o favorito. O orador eloqüente de discurso vago se revelou um grande estrategista político.

Foi quando "Obambi" -apelido dado pela jornalista Maureen Dowd, do "New York Times", uma contração do personagem Bambi com o nome do candidato, para definir o jovem idealista indefeso- passou a vencer "Hillzilla" -idem, contração de Hillary com o monstro aterrorizante Godzilla.



Desde a Superterça, Obama perdeu primárias importantes e não ganhou mais votos populares do que sua concorrente. Mas angariou mais delegados e arrecadou mais dinheiro, o que fez com que os superdelegados começassem o êxodo em direção à sua candidatura. Desde então, ele os conquistou numa proporção de três para cada um de Hillary. E foram esses integrantes especiais do partido, não o eleitor, que decidiram a eleição ontem.

De certa maneira, a candidatura da ex-primeira-dama -e o tipo de campanha que os Clinton consagraram em seu partido desde que chegaram à Casa Branca, em 1992, baseada em lealdade política, troca de favores e grandes arrecadadores- começou a morrer na Superterça. Na mesma data, um novo modelo passou a ser adotado pelo partido da oposição. É o modelo Obama.

É aí -e não só nos discursos em que todos terminam gritando "sim, nós podemos"- que mora a verdadeira mudança divulgada no slogan do candidato. Vem amparada por um tripé composto de arrecadações pulverizadas, planejamento a longo prazo e voluntariado jovem. As duas primeiras deram fôlego a uma campanha que surpreendeu a todos ao durar 15 meses; a última lhe deu visibilidade.

No último quesito, ajudou o fato de Obama ter percebido como ninguém "o zeitgeist", o espírito da época, segundo o qual a política americana parece viver uma troca de guarda, empurrada pela chamada Geração do Milênio. Essas pessoas nascidas entre 1980 e 1995 respondem por 80 milhões, quase um terço da população dos EUA, dos quais dois terços podem votar, segundo Morley Winograd, autor do recém-lançado "Millennial Makeover -MySpace, YouTube, and the Future of American Politics".

"Para esse contingente, não existe mais a figura do norte-americano típico, e a questão racial é secundária", descreve Winograd. Ontem, esse contingente ficou mais perto de ser governado a partir de 2009 por um havaiano negro, filho de uma branca do Meio-Oeste do país com um queniano relapso de família muçulmana, batizado já adulto por um pastor radical. Um menino criado na Indonésia que estudou na Califórnia e em Nova York, e que um dia resolveu tentar a vida política em Chicago.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

OBAMA É O CANDIDATO DEMOCRATA III

Série de Pequenas notas do Blog do Sérgio Dávila

Condi "comemora" escolha de Obama
O.k., comemora não é exatamente o caso, mas a secretária de Estado de Bush chegou perto, ao elogiar o marco racial da escolha de ontem. "Acho que estamos começando a ver uma extraordiária expressão do fato de que 'Nós, o povo' está começando a querer dizer todos nós", disse, referindo-se à primeira linha da Constituição dos EUA. Condoleezza Rice chegou a ser cotada como uma das candidatas à vice-presidência na chapa de John McCain, mas nega sistematicamente que vá continuar na política depois de 2008.

Mundo "prefere" Obama - Brasil incluído
Pesquisa realizada pela Ipsos para a versão em inglês da Al Jazeera junto a "elite e formadores de opinião" em 22 países diz que a maioria acompanha com atenção as eleições norte-americanas e que, entre essa maioria, Barack Obama é o candidato preferido. É o que respondem 55%, ante 31% para Hillary Clinton e apenas 14% para o republicano John McCain.

No Brasil, 59% dos que acompanham a eleição preferem Obama, ante 26% que optam por Hillary e 15% para McCain --ou seja, a voz da maioria destoa da do governo, que não-declaradamente torceria por uma vitória do republicano, que apenas em tese seria menos protecionista em assuntos de comércio exterior.

Quênia comemora escolha de Obama

No país-natal do pai de Barack Obama, fãs de Obama, copo de cerveja com o nome do candidato na mão, celebram a escolha do mais famoso parente; "Vai ser bom se ele for eleito presidente", diz Mamma Sarah, uma de suas "avós" (na verdade, uma das mulheres de seu avô paterno). Repare que o cartaz que ela segura com o autógrafo ainda é da campanha do político ao Senado, de 2004. Desde que anunciou sua candidatura à presidência, em 2007, Obama não voltou a visitar a família queniana. Da última vez, conforme relata Obama em uma de suas biografias, Mamma Sarah pediu dinheiro..

OBAMA É O CANDIDATO DEMOCRATA II

Ao entrar, Obama não consegue falar tamanhos os aplausos.

‘Que recepção maravilhosa, Saint Paul!’ Agradece à mulher, às filhas, à equipe, aos voluntários. ‘Obrigado à minha avó que ajudou a me criar e está no Hawaii porque não pode viajar.’

Porque vocês decidiram que mudanças devem ocorrer em Washington, porque vocês escolheram que não deveriam prestar atenção em seus medos e sim investir em suas esperanças, hoje posso dizer que serei o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos da América. (O público não o deixa falar.)

Devemos nos orgulhar do fato de que nosso partido colocou a melhor equipe de candidatos que jamais concorreram a este cargo. Estes são líderes que valerão para sempre. Aí fala de Hillary, no trecho citado abaixo. O público aplaude com veemência o nome de Hillary.

Nosso partido é um partido melhor por causa de Hillary. E eu sou um candidato melhor por ter concorrido com ela. Alguns sugerem que estas primárias nos deixaram mais fracos. Não. Por causa destas primárias, muitos americanos votaram pela primeira vez. É algo que democratas, republicanos e independentes entendem.

Vocês sabem que, neste momento que definirá uma geração, nós devemos parar de fazer tudo o que temos feito. (Incrivelmente aplaudido. Yes we can!, seu bordão, é clamado pelo público.)

Honro o histórico de John McCain e honro suas conquistas mesmo quando ele escolhe negar as minhas. Mesmo que ele possa dizer que teve seus momentos de independência em relação ao seu partido, esta não é a marca de sua atenção. Não é mudança quando diz que manterá a política econômica. Não é mudança quando diz que permanecerá no Iraque. Há muitas maneiras que ele pode descrever sua atuação. Mas dizer que defende mudança não é uma delas. Mudança não é começar e terminar o governo com uma guerra que sequer deveria ter sido autorizada. Não finjo que as alternativas sejam fáceis. Precisamos ter o cuidado ao sair do Iraque que não tivemos ao entrar. Mas temos de sair. É hora de os iraquianos assumirem seu país. E é hora de os militares terem o tipo de benefício, em sua volta, que o atual governo não lhes concedeu. Precisamos voltar o foco para a liderança da al-Qaeda no Paquistão. Devemos nos preocupar com os genocídios no mundo, armas nucleares e aquecimento global. Precisamos voltar a ter a sabedoria de quem merece liderar o mundo livre, a herança de Roosevelt, Truman e Kennedy.

Mudança é entender que não se resolve o problema dos trabalhadores cortando os impostos das grandes corporações. Precisamos renovar nossos investimentos em educação, em ciência, em inovação. Devemos compreender que responsabilidade fiscal e programas sociais andam de mãos dadas, como aconteceu no governo Bill Clinton. John McCain fala muito de ter ido ao Iraque. Pois devia viajar mais pelos Estados Unidos para compreender seus problemas. Não podemos mais agüentar este vício em petróleo estrangeiro e precisamos obrigar as grandes empresas petroleiras a investir seus lucros recordes para descobrir como resolver o problema ambiental que criaram.

Esta é a mudança que precisamos na América e é por isto que estou concorrendo à presidência dos Estados Unidos.

Não queremos mais de um governo que use a religião, que use o patriotismo, que vê o partido oposto não como alguém com quem debater mas como um inimigo com o qual polarizar, porque podemos nos definir como democratas e republicanos mas, antes de tudo, somos americanos. Nós americanos somos generosos. Precisamos trazer isto que está em nós de volta à tona.

Americanos esta é nossa hora de virar a página, de traçar uma nova direção. Falo com humildade, reconhecendo todas minhas limitações, mas se lutarmos poderemos dizer para as gerações futuras que este foi o momento em que providenciamos saúde para todos, que terminamos a guerra, que começamos a curar nosso planeta.


terça-feira, 3 de junho de 2008

OBAMA É O CANDIDATO DEMOCRATA

Esse Blog, principalmente no começo desse ano quando tivemos mais tempo dedicamos vários post para analisar as eleições americanas, sempre tentando fazer análise das reais chances de um candidato negro a Casa Branca. DESDE SEMPRE DISSEMOS QUE A IMPORTÂNCIA DA CANDIDATURA DE OBAMA E EM CASO DE UMA VITÓRIA É SIMBÓLICA. POUCO MUDARÁ NA PRÁTICA EFETIVA DAY-AFTER-DAY DO IMPÉRIO, AO CONTRÁRIO DO QUE AFIRMA O PRÓPRIO OBAMA ELE É UM POLÍTICO IN, TANTO QUE VAI SER INDICADO PELO PARTIDO. NA VERDADE SUA COR E SUAS ORIGENS É QUE SÃO OFF E DAÍ SER IMPORTANTÍSSIMA A SUA INDICAÇÃO QUE DEVERÁ OCORRER NAS PRÓXIMAS HORAS. COM TUDO ISSO QUEREMOS AFIRMAR, AINDA QUE DO PONTO DE VISTA PRÁTICO UM FUTURO GOVERNO DE OBAMA SERÁ MAIS DO MESMO ESTAMOS FELIZES COM ESSE MOMENTO, A HISTÓRIA ESTA SENDO FEITA.

Pode afirmar por ai Obama é o candidato democrata. Para tanto reproduzimos uma bela análise sobre as chances de vitória de cada um dos candidatos pelos 50 estados norte-americanos feita por Nuno Gouveia um português, que é especialista em eleições americanas:


A seguir apresento uma análise aos cinquenta estados da União, realizada por Robert Novak e Timothy Carney, sobre as possibilidades de vitória de cada candidato. Dá para ver quais os estados que vão estar em jogo em Novembro. À frente dos estados surge o número de votos no Colégio Eleitoral. Tenho lido várias análises ao colégio eleitoral e quase todas coincidem. Talvez daqui a uns meses possamos fazer uma reavaliação destes mesmos estados. Provavelmente alguns deixarão de ser competitivos, centrando-se a discussão em menos estados. Mas neste momento, a corrida é caracterizada desta forma.

A bold surgem os estados que serão competitivos, tal como o nome do vencedor. Estes comentadores, segundo as suas previsões, prevêem uma vitória de Mccain por dois votos eleitorais. Nesse aspecto coloco muitas reservas. Em relação aos estados decisivos, concordo em absoluto.

Alabama (9) – O sul continuará republicano. Mccain deverá vencer facilmente.

Alaska (3) – Este pequeno estado vota sempre republicano. Mccain.

Arizona (10) – Estado de Mccain.

Arkansas (6) – Se Hillary Clinton fosse a nomeada democrata, este estado poderia cair para os democratas. Sendo Obama, cairá facilmente para Mccain.

Califórnia (55) – Apesar das dúvidas todas, este estado vai ser de Obama. Não deverá ser um Battleground State.

Carolina do Norte (15) – A força de Obama nas primárias nos estados do Sul não deverá significar muito nas eleições gerais. Vai ter o apoio dos negros, dos liberais ricos e universitários, mas são uma minoria neste estado. Mccain deverá vencer com relativa facilidade.

Carolina do Sul ( 8 ) – Este estado conservador do sul não deverá fugir a Mccain.

Colorado (9) – Será um dos estados mais competitivos. Bush venceu em 2004 por apenas 100 mil votos. Nas últimas eleições de 2006, os democratas ganharam um lugar no senado, outro na Câmara dos Representantes e ainda o Governo estadual. A aposta destes comentadores é que cairá para Obama.

Connecticut (7) – Este é um dos estados mais liberais da União. Apesar do apoio do popular Joe Liberman a John Mccain, este estado deverá continuar sob alçada dos democratas. Obama deverá vencer facilmente. Claro que um Joe Liberman a VP poderia mudar o cenário. Mas não é provável.

Dakota do Norte (3) – Território republicano. Mccain vai ganhar.

Dakota do Sul (3) – Outro que não oferece dúvidas: Mccain vence.

Delaware (3) – Este pequeno estado da costa leste deverá votar Obama. Mas recentemente os democratas têm tido algumas dificuldades em vencer as eleições aqui. Novak e Carney dizem que é possível que esteja em jogo a vitória no Delaware.

Districti of Columbia (3) – Aqui não há dúvidas. Obama vencerá com mais de 75%.

Florida (27) – Este será um dos estados mais importantes nestas eleições. As complicações do Partido Democrata no sunshine state poderão tornar as coisas mais fáceis para os republicanos. Este é um estado de idosos, o que favorece Mccain. Pelo racismo inerente aos mais velhos e pelo facto de haver muitos veteranos de guerra. Obama tem sugerido uma política contrária aos interesses dos cubanos da Florida, o que poderá lhe dificultar ainda mais a tarefa na Florida. Por fim, os problemas com judeus de Obama serão outra das suas dificuldades. Com o apoio do popular governador republicano Charlie Crist, Mccain deverá vencer. Mas atendendo às recentes eleições presidenciais, a Florida será sempre um Battleground State.

Geórgia (15) – O sul deverá continuar a ser republicano. Apesar da forte comunidade afro-americana deste estado, Mccain deverá vencer aqui com facilidade.

Havaii (4) – Tem votado constantemente democrata. Sendo Barack Obama nativo deste estado, vai vencer por larga vantagem.

Idaho (4) – Apesar de Obama ter vencido facilmente aqui, este é um estado completamente republicano. Bush venceu por 2-1 nas duas vezes. Mccain vai repetir a vitória.

Illinois (21) – Os importantes 21 votos do colégio eleitoral são de Obama. Disso não há dúvidas.

Indiana (11) – Os republicanos têm vencido facilmente as presidenciais neste estado. Bush venceu com mais de 15% nas duas eleições. Barack Obama tem hipóteses neste estado, pelo condado que faz fronteira com o Illinois, o segundo maior do estado, que é fortemente liberal, e ainda pela população afro-americana de Indianápolis, que votará em nele. Este é um estado que os analistas apontam para uma vitória para Mccain. Mas não será um estado que Obama vá desistir.

Iowa (7) – Em 2004, George W Bush venceu este estado rural e conservador, mas em 2006, os democratas ganharam três lugares na Câmara dos Representantes. Obama começou aqui a caminhada para a nomeação, com uma surpreendente vitória sobre Hillary Clinton. Mccain não foi além do terceiro lugar, atrás de Romney e Huckabee. A aposta é de uma vitória de Obama.

Kansas (6) – Os democratas ganharam o governo estadual com Kathleen Sebelius. Mas este é um estado solidamente conservador, que deverá votar maioritariamente em Mccain.

Kentucky ( 8 ) – Mais um estado que Mccain deverá vencer facilmente. Obama não consegue penetrar bem no eleitorado rural e conservador, como se viu nestas primárias.

Lousiana (9) – Novak e Carney colocam Mccain a vencer aqui, mas colocam algumas possibilidades de Obama neste estado do sul, um dos que tem mais afro-americanos. Mas o popular governador Bobby Jindal, já referenciado para VP de Mccain, deverá ser uma ajuda preciosa para manter este estado do Sul no campo republicano.

Maine (4)Obama é o claro favorito neste estado democrata. Poderá haver uma surpresa neste estado, pela população branca e idosa, que tenderá a votar Mccain.

Maryland (10) – Este é um daqueles estados da costa leste que não deixa dúvidas. Obama vai vencer aqui, com a ajuda dos brancos ricos e dos negros.

Massachussetts (12) – Um dos estados mais liberais da América votará certamente em Obama. Apesar dos democratas do Bay State terem demonstrado que preferiam ver Hillary no ticket, este não fugirá a Obama.

Michigan (17) – Tal como a Florida, este estado poderá transformar-se no calcanhar de Aquiles dos democratas. Gore e Kerry bateram Bush nas últimas presidenciais, mas Mccain terá uma hipótese. O vencedor mais provável, apesar de tudo, ainda é Obama.

Minnesota (10) – Este é o estado que há mais tempo vota democrata. Mas nas últimas presidenciais, Kerry apenas venceu por 100 mil votos. O governador Tim Pawlenty, republicano, poderá tentar ajudar Mccain. Mas a aposta de Novak e Carney é para uma vitória de Obama.

Mississippi (6) – Mais um estado do sul profundo e mais uma vitória de Mccain.

Missouri (11) – Este é um estado em que Barack Obama vai tentar roubar aos republicanos. George W. Bush venceu em 2000 e 2004, mas os republicanos perderam recentemente um lugar no senado e o lugar de governador. Obama venceu nas primárias nas áreas urbanas de St. Louis e Kansas City, mas perdeu de forma esmagadora nas áreas rurais. Mas por enquanto, as sondagens dão uma ligeira vantagem a Mccain.

Montana (3) – Território republicano. Mccain vai ganhar.

Nebraska (5) – O Nebraska elege um eleitor por distrito congressional, mais dois para o vencedor estadual. Mccain deve ficar com todos.

Nevada (5) – Bush venceu as duas eleições, mas apenas com 50%. O resultado final neste estado é completamente imprevisível. Mccain poderá ganhar se conseguir o apoio dos hispânicos, que representam 20% da população.

New Hamphire (4) – Este pequeno estado da União é extremamente volátil no seu sentido de voto. Bush venceu em 2000, mas Kerry conseguiu bater o presidente. Mccain tem aqui o seu estado ‘fetiche’, com vitórias nas primárias de 2000 e 2008. No momento, a aposta vai para uma vitória de Obama.

New Jersey (15) – Apesar dos republicanos almejarem uma vitória aqui, Obama deverá ganhar com alguma folga o Garden State.

New México (5) – Em 2004, Bush venceu por 6 mil votos, e em 2000 tinha perdido por 365 votos. Já se vê que este será um dos mais competitivos deste ano. Este estado tem mais de 40% de hispânicos, o que poderá favorecer Mccain, dado a fraca prestação de Obama neste grupo eleitoral. Mccain tem ainda a vantagem deste estado fazer fronteira com o Arizona. Se Bill Richardson não conseguir inverter esta tendência, Mccain deverá ganhar aqui.

Nova Iorque (31) – Obama vai ganhar.

Ohio (20) – O Batteground State de 2004 deverá repetir a sua importância em 2008. Nenhum dos candidatos se apresenta particularmente forte neste estado. Mccain poderá ter dificuldade de angariar os votos conservadores que deram as duas vitórias a Bush, e Obama tem problemas com os tradicionais Blue Collar Workers, os religiosos e grupos pró armas, que lhe deram uma derrota considerável nas primárias democratas de Março. Mccain poderá ganhar, se conseguir ultrapassar os seus problemas com os conservadores, e convencer os democratas moderados a apoiá-lo. Mas está tudo em aberto.

Oklahoma (7) – Mais um estado que vai cair facilmente para Mccain.

Oregon (7) – Este estado tem votado constantemente democrata. Obama ganhará aqui, se não acontecer nada de anormal. Mas é um dos estados que Mccain vai tentar reverter a seu favor.

Pennsylvania (21) – Gore e Kerry venceram este estado. A escolha de Obama poderá oferecer uma possibilidade a Mccain de conquistar aqui uma importante vitória. Obama tem dificuldades na base tradicional democrata, muito forte na Pennsylvania. Obama é o favorito à vitória, mas as coisas poderão ser mais divididas do que nas últimas presidenciais.

Rhode Island (4) – Mais um estado da costa leste que Obama vai ganhar.

Tennessee (11) – Se Al Gore tivesse ganho o seu estado natal, teria sido eleito presidente. Este é mais um estado do Sul que Mccain deverá arrebatar.

Texas (34) – Mccain poderá não obter uma grande vitória neste estado, mas deverá vencer com relativa facilidade. É o big prize dos republicanos.

Utah (5) – Um dos estados mais republicanos. Mccain vai esmagar aqui.

Virgínia (13) – Os democratas têm conseguido vitórias importantes nos últimos anos, muito devido ao norte do estado, que faz fronteira com DC e tem uma população tendencialmente liberal. Nos subúrbios de Richmond e em Virgínia Beach há fortes comunidades de afro-americanos. A moderação de Mccain poderá dar-lhe alguma vantagem nos republicanos que viraram as costas a Bush, e dar-lhe a vitória. Mas vai precisar de uma enorme afluência dos conservadores deste histórico estado do Sul.

Vermont (3) – O estado mais liberal da União. Obama irá ter vitória esmagadora.

Washington (11) – Os liberais de Seattle não deixam margem para dúvidas. Apesar de Mccain acalentar algumas esperanças, Obama deverá manter este estado sob alçada dos democratas.

West Virgínia (5) – Obama deverá ter poucas hipóteses, como se viu nas recentes primárias democratas. Mccain tem uma boa oportunidade para conquistar este estado facilmente.

Wisconsin (10) – Este estado tem votado democrata. Aqui as vitórias nunca são confortáveis, por isso será um estado competitivo. Mas o favorito é Obama.

Wyoming (3) – Mais uma vitória para Mccain.