sexta-feira, 20 de junho de 2008

Mineirão: a boate de um quase time na festa de um quase bom-moço

Mineirão: a boate de um quase time na festa de um quase bom-moço
Por THIAGO SARKIS*

Chegar ao Mineirão para Brasil e Argentina foi, no mínimo, esquisito. Apesar do congestionamento nas proximidades do estádio e dos cambistas, tudo ocorria em perfeita ordem. Policiais para todos os lados, serviços de emergência apostos, estacionamento para caravanas, placas em inglês, português e espanhol, boa iluminação, fiscais preparados para instruírem o público e evitarem que o mesmo se aproximasse dos detentores dos títulos de VIPs que estariam dentro e fora de campo. Tudo otimizado e cuidado com carinho e atenção especiais que não se observaram no último duelo entre as duas seleções na capital mineira.

Não acredite que o motivo desta expressiva mudança na embalagem tenha sido apenas a Copa de 2014. Afinal, o conteúdo de quem organizou os dois eventos na última eliminatória e nesta é o mesmo... Assim como o conteúdo do Mineirão.

A boate montada pelo playboy que governa as Minas Gerais não deve apagar usuais péssimas condições de higiene, instalações enferrujadas, e os mais de 25 mil pontos cegos do Estádio Governador Magalhães Pinto. Isso mesmo: mais de vinte e cinco mil pessoas pagam ingresso semanalmente para assistirem às partidas sem o mínimo de conforto e, às vezes, até sem campo de visão.

É claro que Luciano Huck, Pelé, Pedro Bial, Ricardo Teixeira, e todos os "célebres" que lá estavam não lhe diriam isso. Porém, perguntem-vos se comparecerão aos próximos jogos de Atlético e Cruzeiro. É claro que não. A boate já estará desmontada. Sem luzes, shows, talvez apenas com os telões ainda mantidos em lugares estapafúrdios, acrescentando cerca de uma centena – ou mais – de pontos cegos ao Mineirão.

Nos assentos de gente comum, encontramos uma torcida que paga bem e caro, seja para as partidas de seus clubes ou para as da Seleção, e que é maltratada em quaisquer das ocasiões. Torcida que preteriu a competição de brasileiros e argentinos para alimentar, de forma saudável, a rivalidade entre alvinegros e celestes.

A positividade entre os eternos rivais que riam das brincadeiras um do outro, independentemente dos palavrões proferidos por ambas as partes, não se repetiu nos gritos direcionados a Galvão Bueno. O narrador é considerado 'persona non grata' pelos admiradores das duas potências de Minas, assim como por outras tantas forças país afora, por personificar a emissora que, "inadvertida e ingenuamente", segue aumentando o áudio das torcidas que lhe dão audiência, além de já ter, direta ou indiretamente, arrancado títulos ou oportunidades de títulos dos dois grandes mineiros. José Roberto Wright, atual comentarista de arbitragem da nave-mãe e da filial, que o diga.

Dentre os que estavam em campo, impressiona perceber os pretensos europeus que hoje vestem a amarelinha insistindo em reclamar da torcida, especialmente pelos aplausos a Messi. Parece que o tempo de nossos craques na Europa só lhes serviu de aprendizado no manuseio do Euro. Ou suas memórias não chegam ao dia em que dezenas de milhares aplaudiram Ronaldinho Gaúcho de pé no Santiago Bernabéu?

Aliás, engana-se quem pensa que os aplausos a Messi foram puramente irônicos. O momento da saída do craque argentino, único a realmente brilhar com a bola nos pés – apesar de distante das atuações que o destacaram no Barcelona – foi uma realização para todos que pagaram até 250 reais para verem o Mineirão se transformar na boate do quase jogo de um quase time que fez a festa de um quase bom-moço em sua escalada ao Palácio do Planalto. Foi o momento de sentir que talvez tenha valido a pena estar ali.

Burro, Dunga? Burro foi Collor. Aliança boa não é com PC Farias. É com artistas e "artistas" que invadem a telinha do povão todos os dias. Aécio e seus assessores sabem disso. Já calaram a imprensa mineira e agora calam e envolvem, pouco a pouco, o restante do país com os infindáveis afagos às "celebridades" que os cercam.

* Thiago Sarkis é redator da revista Roadie Crew, crítico musical, e publicou seus artigos em mais de trinta países nos principais periódicos do mundo de Rock, Pop, Blues, Jazz e Progressivo. Fora isso, é psicólogo... E louco por futebol.

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