Em Boa Vista, Roraima, fui à praça central à noite.
No centro da praça central há uma praça de alimentação.
A praça de alimentação é coberta.
Em torno da praça de alimentação há oito aparelhos de televisão ligados na Globo.
As famílias saem de casa para passear, sentam-se na praça de alimentação e comem assistindo à novela.
O som dos aparelhos de TV se sobrepõe ao dos humanos.
A praça, a TV, o asfalto, os carros novos, as roupas de marca, o Bob's - Boa Vista é vitrine da civilização num canto da Amazônia.
No imaginário de Roraima, ela é o moderno.
Tudo o que a nega é o primitivo - os indígenas, por exemplo, que insistem em disputar a terra, em atrasar o estado, em não concordar com nossa idéia de país.
A barbárie travestida de ato civilizatório é o que liga nossa Boa Vista à Twin Peaks dos gringos. É roubar a terra do índio ou matá-lo em nome da modernidade.
Eu estava na praça de Boa Vista quando um personagem da novela Duas Caras, negro, se rendeu à superioridade branca gritando vivas à dona Branca e admitindo que "radicalismo não leva a nada".
Dona Branca era, para quem não viu, branca.
Nas palavras do autor da novela, Aguinaldo Silva, reproduzidas pelo jornal Extra: "Ele (o militante estudantil negro) vai se apaixonar pela burguesinha. E ela vai ensinar que o marxismo é mais embaixo".
No Brasil do Aguinaldo o útero branco livra o pênis preto da infecção marxista.
Ou quem é do contra é mal comido.
A redenção para os negros é o sexo com os brancos.
Cidadania=gozo.
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