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sábado, 13 de março de 2010

Natureza Selvagem

"perturbador, envolvente e impressionante quanto belo". - Joe Morgenstern, The Wall Street Journal.

"encantador e desnorteador" Carlos Eduardo, eu mesmo. Pois é assim que me sinto após assistir o filme Natureza Selvagem. Há muito um filme não me desnorteava tanto, o que inclusive torna bastante dificil escrever sobre. Mas vamos lá.

Começemos chamando a atrenção para trilha sonora, ela mesma uma personagem do filme, e obviamente ela também desnorteadora. Tocante e inesquecível. Um belissimo trabalho de Eddie Verder do Pearl Jam. Que com sua voz cortante e angustiada guia bem o tom do filme.

A direção e o roteiro são outras belas obras, Sean Penn revela-se cada vez mais um grande cineman, seja como ator, produtor, roteirista ou diretor. No caso deste filme seu roteiro e sua direção são primorosos. Trata-se de um verdadeiro filme de estrada pois Penn e seu diretor de fotografia Eric Gautier (também muito bom) optaram por filmar em locações naturais e assim tal qual o personagem principal somos convidados a viajar pelos EUA, desde o Alasca até Dakota, do México a California, de West Virginia ao deserto e assim sucessivamente.

Ainda nesta parte mais técnica o que falar do protagonista Emille Hirsch? Segundo Vilaça "Emile Hirsch oferece uma performance magnífica em seu minimalismo: sem investir em grandes explosões emocionais, ele ilustra a natureza contraditória e amargurada de Christopher McCandless através do olhar e da expressão de encantamento diante do mundo “real” que tanto admira e de sua clara atração pela solidão. Além disso, sua transformação física ao longo da narrativa é chocante, rivalizando com aquelas experimentadas por Christian Bale em O Operário e Tom Hanks em Náufrago". Mas de se notar também é a segura direção de Penn sobre o luxuoso elenco de apoio, com destaque para Kristen Stewart, Hal Holbrook, Vince Vaughn.

Passemos ao roteiro propriamente dito. Trata-se de um filme baseado em um livro que por sua vez conta a história veridica de um jovem viajante. Em 1990, com 22 anos e recém-licenciado, Christopher McCandless ao terminar a faculdade, doa todo o seu dinheiro a uma instituição de caridade, cerca de 24mil dolares, muda de identidade e parte em busca de uma experiência genuína que transcendesse o materialismo do quotidiano. Abandona, assim, a próspera casa paterna sem que ninguém saiba e mete-se à estrada. Viaja por uma boa parte da América (chegando mesmo ao México) à boleia, a pé, de carona, ou até de canoa, arranjando empregos temporários sempre que o dinheiro faltasse pois, Chris opta por abandonar o carro e queimar  o restante do dinheiro que possuia no início de sua jornada. Jornada esta que tem como finalidade a maravilhosa e selvagem natureza do Alasca. Mas enquanto o Alasca não chega Chris viaja por várias partes dos EUA e ainda que desconfiado das relações humanas e influenciado pelas suas leituras, que incluíam Tolstoi e Thoreau, o que lhe acontece durante este percurso transforma a percepção do jovem de forma que já ao fim do filme perceberemos que a relação humana é o que resta para nossa espécie. 
Sean Penn vai intercalando a viagem de McCandless com breves flashbacks do seu passado, narrados em voz off pela irmã de Chris. Assim descubrimos que Chistopher quer fugir de sua  família materialista, hipócrita, cheia de mentiras e mesmo violenta. É exatamente durante a viagem que a camera de Penn, a fotografia de Gautier e a trilha sonora de Eddie Verder dão o tom da persona de Chris. Penn  capta melancolicamente, com vagar e gosto, a paisagem americana (aqui ressalte-se que por detrás das belas imagens da natureza selvagem temos na verdade uma narrativa da natureza humana com seus tipos e modos), e quase nos hipnotiza pelas imagens e som. Penn tem ainda a mestria de não entrar muito pelo lado místico ou de heroismo do rapaz timido, mostrando-nos apenas o lado de Chris extremamente simpático, uma pessoa que faz amigos com facilidade, com uma simpatia espontânea, mas que mesmo assim não se permite doar a este outro, o que incomoda Chris é o demasiado humano de nossa humanidade.  

A viagem em busca de autenticidade e auto-reconhecimento de Chris expõe não somente o protagonista embora não o admita - simplesmente fugindo de seu passado – e seu propósito não declarado (aliás, inconsciente) é encontrar alguma forma de preencher o vazio interior deixado pela relação conturbada com os pais. Mas existe toda uma pleiade com quem ele mantém relações e assim é possível perceber que existem muito mais "estranhos' aqui no sentido antropológico de alteridade do que imaginamos e assim antropologicamente o filme de Penn se torna grandioso pois coloca em dúvida a idéia das certezas absolutas.  Assim podemos nos perguntar seria Chris um rebelde dos anos 1990 ou mais um filho americano perdido, uma pessoa que tudo arriscava ou uma trágica figura que lutava com o precário balanço entre homem e Natureza e contra o materialismo da sociedade? Talvez a resposta seja mesmo a óbvia ambos. Eis ai outro grande mérito do grande Penn: humanizar nossa humanidade. Assim o héroi e também anti-héroi. é meigo e caridoso, mas também é cruel e egoista. Aliás se pensarmos bem (e a narração em off) tem essa função a reação do jovem é ela própria cruel e egoista. Dito de forma direta por mais defeituosoas que fossem as relações familiares e elas eram. A opção pela fuga é tão ou mais cruel do que os erros cometidos pelos parentes – e deixá-los sem notícias suas idem. Tanto o é que um de seus novos amigos de viagem e mesmo o nosso héroi em certo momento de sua viagem interna descobrem que o perdão é uma dádiva.

O héroi rancoroso que não consegue enxergar virtudes em sua vida acaba deste modo por querer inventar sua próppria humanidade, que nesse caso seria mais próxima da natureza. Eis de novo mais uma antropologizada do filme, pois é sábido que um dos maiores debates desde sempre na antropologia se dá exatamente no par dicotômico natureza-cultura. Chris ao criar sua própria cultura de certo modo inventa também sua natureza, aquela que nega um principio universal de nossa espécie a vida em sociedade. Assim vemos o nosso héroi por várias vezes recusando a humanidade dos que cruzam seu caminho, ao agir assim ele nega não a humanidade do outro mas sim a sua própria humanidade. Afinal a sociedade e formada pelo males como diz o próprio personagem.  Enfim poderia ainda escrever laudas e laudas tamanho a pertubação do filme. Mas termino chamando a atenção novamente para um momento de verdadeira obra prima: o plano final do filme. E humano demasiado humano descobrimos que mesmo na negação de nossa humanidade nos tornamos mais humanos. é ou não peretubador. principalmente quando se estar a ministrar disciplinas que refletem sobre esta questão. Grande Penn que nos conduz a um filme que incita a fugir mas também a ficar, que pode ser um elógio ao nilismo mas também ao seu oposto. Enfim não existe saída fácil e todos os caminhos tem seus prós e contras.

Notável mesmo foi este filme de 2007 ter sido deixado de lado pelo Oscar. Talvez explique inclusive o espirito deste prêmio e essa lenga-lenga de filme comercial e filme não comercial. Tudo balela no Oscar todos são comerciais incluindo os ditos independentes. Os independentes mesmo como este filmaço de Penn ficam de fora. Pois eu digo merecia o prêmio de direção, de fotografia, de roteiro adaptado, de ator principal, de atriz coadjuvante para a excelente Kristen Stewart, o de trilha sonora. Se o Oscar ignorou o filme outros prêmios não e ele se consagrou entre outros no: Sindicato dos Atores, no Globo de Ouro, na associação de criticos de cinema de Chicago, na associação de produtores, na Mostra de São Paulo, de Palm Springs entre vários outros ou mesmo nas listas dos melhores de 2007, feito que pelo menos 15 grandes críticos norte-americano o colocou na lista dos 10 mais e na maioria das vezes entre os 05 mais.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

curtinhas

- "É segredo não conto a ninguém". Parabéns aos moradores do MORRO DO BOREL. VIVA A UNIDOS DA TIJUCA CAMPEÃ DEPOIS DE 74 ANOS. Vitória merecida. Alegorias e fantasias noata 10! Comissão de Frente maravilhosamente nota 10! Harmonia e Evolução 10! Viva Paulo Barros o renovador do carnaval de Escola de Samba. Fiquei a imaginar ele comandando a festa de abertura da olimpiadas. Seir um Show memorável e insequecivel. Grande artista. Prova da genialidade. Como mostra a teoria sociológica sobre as inovações: o novo sempre causa polêmica e é repudiado pelo establishment.  Não foi diferente com a Tijuca e Paulo Barros. Apesar de nos últimos 06 anos a Escola  sair da avenida consagrada e Paulo Barros elogiadissimo, apesar da Escola ter ganho 04 Estandartes de Ouros (prêmio máximo da critica) a Escola sempre era rejeitada pelos jurados. Este ano a originalidade foi premiada. Parabéns Tijuca.

- CURTAS DE CINEMA
- Quero aqui dividir com Vocês as impressões que tive de três filmes que assisti em DVD. Acho que essa vontade vem fdo fato de que a meses não conseguia parar para assisitir um filme em casa a minha própria escolha.Pois bem vamos lá:
Primeiro assisitr um filme chamado Os Piratas do Rock, pensei comigo um filme sobre música. Melhor ainda sobre rock e ainda com Philip Seymour Hoffman só pode se bom e se não for, ruim também não pdoe ser. Ledo engano, a muito tempo não via um filme tão ruim. Quero assistir esse filme novamente, pois as vezes foi o meu olhar que estava desfocado. Mas realmente achei muito, muito ruim. É o famoso caso de uma idéia boa que não é bemrealiada.

Outro filme chma-se A Vida dos Outros ganhador do oscar de melhor filme estrangeiro de 2006. Trata-se de um grande filme. Grande roteiro, grande atuação dos atores (destaque para Ulrich Mühe) e uma excelente reflexão sobre os últimos momentos da Alemanha Oriental. O notável neste filme é sua fulga das soluções simplistas e rasteiras. Aqui as mazelas e crueldades do sitema oriental são mostrados e denunciados, no entanto tais mazelas não são mostradas de forma maniqueista e sim através de um olhar humanizado e por isso mesmo ambíguo na melhor tradição hitchicoquiana. Lógico não se trata de uma obra prima mas volto a repetir um bom e surpreendente filme. Ainda que o mesmo se perca, as vezes na minha opinião da metade para o fim. 

O terceiro filme que assisto é Se beber não Case. Bom tinha ouvido e lido sobre este filme. Os comentários sempre em tom ufanistas. Grande comédia. Das melhores comédias dos últimos tempos. Exemplo de vida inteligente na comédia e assim vai. Nestes casos sempre desconfio. E foi desconfiado que começei a assisitr este filme. Em uma palavra: MARAVILHOSO. Tudo que foi dito acima é verdade. O filme  é divertidissimo. Daqueles do cinema vir abaixo (li isto em uma critica, o que me acalmou já que como vi em casa tive vários ataques de risos. Vejo que não exagero) A cada mistério revelado, enfileram-se novos personagens bizarros e situações surrealistas. A estrutura de sketches é divertidíssima, mas é o humor politamente incorreto o grande diferencial da comédia. Ainda que na edição brasileira tenha sido usurpada grande parte do politicamwnte incorreto (por causa da censura. Sumiu-se assim várias cenas ou falas sobre sexo, piadas e etc). Melhor ainda é quando essas piadas são disparadas por Zach Galifianakis, o cara é show e tem um tempo de comédia brilhante e uma expressão que mistura intensidade e inocência. Fora que os extras são outro filme a parte. Ah e ainda tem participação do Mike Tyson e etc. Bom desnecessário dizer que trata-se de um filme que usa o non sense. Mas até este é muito bom, por exemplo, o roubo do tigre de Tyson...ASSISTAM.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Curtinha do Spider Man

Se Você é fã da série de filmes do Homem Aranha, a Marvel e a Columbia Pictures, responsáveis pela franquia anunciaram que já estão trabalhando no quarto filme da série, que no entanto, não contará com o ator Tobey Maguire e com o diretor Sami Reimi, dupla que na minha opinião são os maiores responsáveis pelo sucesso da franquia. Segundo dados os três filmes anteriores renderam cerca de incríveis 2,5 bilhões de dolares.
Estou asnsioso por esse novo filme sem a dupla. A responsabilidade vai ser grande e a cobrança também, segundo os esecutivos das produtoras tal mudança foi bastante doida mas necessário para oxigenar a série e para que se tenha um novo olhar sobre a trama. A idéia é que se valorize mais as raízes de Peter Parker....sei não mas isso parece a velha forma de copiar o que deu certo com Batman.

sábado, 2 de janeiro de 2010

A década se foi

Hoje são 02 de Janeiro de 2010, portanto, a primeira década do século XXI se foi.Pensei muito em fazer uma série de listas, como tem pipocado em vários sites, blogs e mesmo na mídia convencional. Mas ai esbarrei em um problema que faz toda a diferença. Não tenho boa memória para nomes e datas, ou seja, considero que tenho até uma memória privilegiada quando trata-se dos temas com os quais lido profissionalmente, com informações em geral mas não me peçam para decorar. Essa não é minha praia. Eu sou aquele tipo de pessoa que é capaz de descrever em detalhes um filme mas não se lembrar do nome do mesmo, ou de seu diretor, ator/atriz principal. Portanto, como fazer uma lista de filmes marcantes, por exemplo, se não lembrarei os nomes e assim sucessivamente.
Optei então ao invés de lista. Comentar fatos que me foi retornando a memória. Talvez estes fatos por terem retornado a minha memória sejam mesmo os mais marcantes para mim nesta década. Ah outra coisa não se trata de classificação em ordem, ou seja, não utilizei critério nenhum para descrever os fatos abaixo, somente como dito a memória.
Notícias Marcantes
- 11 de Setembro de 2001, o ataque que mudou a década, a geo-política, a economia e as relações diplomáticas.
- Tsunami do Natal de 2004, tragédia impressionante que vitimou mais de 285 mil pessoas. Talvez pela nossa distância, talvez pela insensibilidade dos nossos dias, talvez pela mediocridade de nossa imprensa. Mas o fato é que até hoje penso que tal tragédia não foi retratada em toda sua dramaticidade. Volto a repetir os mortos passaram de 285 mil, mas se falam em mais de 500 mil, ou seja meio milhão de pessoas, já que em determinado momento as contagens foram suspensas.
- Eleição do Lula, acho que não vou comentar. Pois tal fato necessitaria do meu ponto de vista de milhares de páginas. Portanto, sendo o mais sucinto que posso: foi um prazer eleger o Lula em 2002, foi uma felicidade que nem eles (os Ptecos serão capaz de me retirar) participar da posse de Lula, junto a milhares de outros brasileiros que deixaram os confortos de seus lares e das festas para viajar até Brasília. Foi um desprazer ter votado em Lula em 2002, sem termos já naquele momento cobrado do candidato e de seu partido maiores coerências. Afinal sabíamos e fingimos não saber da Carta aos Brasileiros e dos acordos espúrios. Acima de tudo não votei no Lula em 2006, e continuo - A FAZER OPOSIÇÃO E CRITICAS À ESQUERDA, REPITO À ESQUERDA, PORTANTO, NÃO CONTÉM COMIGO PARA ESSAS IDIOTICES DA DIREITA MIDIATICA. OU SEJA, APESAR DE FAZER UMA OPOSIÇÃO, QUE A MAIORIA CONSIDERA RADICAL AO GOVERNO E AO EX-PARTIDO DOS TRABALHADORES, DISCORDO E DEFENDO O GOVERNO EM PRATICAMENTE TODOS OS EMBATES COM ESSA MÍDIA PODRE. POIS REAFIRMO SOU OPOSIÇÃO A ESQUERDA E NÃO A DIREITA. Para finalizar, podem (AS ELITES CARCOMIDAS) Brasileiras espernearem a vontade, pois apesar das minhas criticas virulentas -repito de esquerda e socialistas- este governo é muito melhor, infinitamente melhor do que os anteriores. Que digam os estrangeiros que percebem claramente tal fato.
- Eleição do Barack Obama, desde só podemos dizer que feito, que dream (para usar a palavra mágica de Luther King Jr) um presidente negro na maior (e por isso na pior) potência do mundo. Tirante isto já sabíamos que no império, tudo muda para permanecer no mesmo lugar. Aliás uma análise do governo Obama se aproxima muito da análise acima do governo Lula, poderia e pode fazer muito ainda pela agenda da esquerda liberal norte-americana, mas lembremos sua principal plataforma (mesmo que transformada para pior pelos conservadores do Partido Republicano e também do Democrata) a criação de um sistema público de saúde acaba de ser aprovado. Isto mesmo, a maior potência do mundo, não tinha um plano público de saúde. Aliás tão bem retratado em filmes e documentários como os do Moore. Alguns já dizem (entre eles ganhadores do prêmio Nobel) que esta (o plano público de saúde) vai ser a maior revolução dos últimos 50 anos. Mico mesmo só o prêmio Nobel da Paz que além de descabido foi indevido.
ps: este blog modéstia a parte cobriu todo o período pré-eleitoral (prévias), as eleições e a apuração do pleito norte-americano. Algo que muito nos orgulha (quem quiser pode rever através das Tags ai ao lado). Nosso modéstia, ainda que aparte, não nos permite esconder que demos várias informações antes da grande mídia brasileira. Pois tínhamos todo uma série de outros blogs em rede.
-Cruzeiro Campeão Brasileiro de Futebol. Que feito, que ano sensacional aquele de 2003. Um feito que ainda não consigo traduzir em palavras.
-César Cielo, maior a parte (e não podemos desconhecer que cientificamente tais maior(es) são um avanço formidável tanto o são que foram proibidos das competições - mas lembremos que desde as Olimpíadas a Federação Internacional de Natação resolvera ela mesma distribuir aos atletas com menores condições financeiras modelos de maior(es) - assim a tecnologia em tese estava a disposição de todos) a César o que é de César. E em plena Roma dos Césares, o César Brasileiro com sobrenome de Céu em Italiano foi coroado Rei. Ave César, Ave. O que César Cielo faz pelo nosso esporte é comparável aos feitos de Maria Esther Bueno, Guga, Pelé, Fitipaldi.
- Tecnologia. Esta foi sem dúvida a década da tecnologia, da massificação da Internet, da alta velocidade, das mídias sociais (Facebook, Orkut, Myspace, Twiter), da explosão dos Blogs que queiram ou não mudaram os rumos da imprensa convencional e oligopolizada, do Google, do Youtube, do 3G. Enfim que década, e o mais importante, ainda não temos distanciamento para fazermos uma análise sociológica, mas sem dúvida, se estava correto o sociólogo inglês Giddens quando ao explicar o surgimento da época Moderna, e acredito que estava, como uma revolução tão estupenda que não podia ser comparada com as épocas anteriores, toda essa tecnologia irá gerar uma nova forma de sociabilidade tão revolucionária quanto a modernidade.
- Crises Econômicas, lembremos que esta década já surgira de duas grandes crises econômica e, para muitos assistiu nos últimos dois anos a maior crise econômica desde o crash de 1929. Pode até não ter sido tudo o que previram mas de fato foi uma baita crise. Aliás pode não ter sido aqui, pois no mundo desenvolvido de fato a crise foi estupenda. E aqui palmas para o governo Obama que conseguiu segurar a fera pelos chifres pois lá a coisa foi muito feia.
- O Surgimento do Brasil como potência, enfim o país do futuro chegou lá. E hoje já é considerado (para desespero das vivandeiras da elite carcomida) um país respeitável. Para muitos o país a ser ouvido em várias polêmicas. Segundo o Financial Times será a quinta economia do mundo. Segundo o Le Monde é a nova prima donna da diplomacia internacional. E pasmem, apesar das Folhas, dos Globos e outros tentarem esconder e pior, criticarem de forma leviana, a Diplomacia Brasileira, a conservadora e influente Revista Foreign Affairs, considerou a diplomacia Brasileira a melhor do mundo, o que eles lamentam, pois com tal atitude o Brasil torna-se potência e não irão se submeter mais aos mandos norte-americanos. E até pouco tempo éramos presididos por um imbecil, quem em uma típica atitude de colonializado achava bonito falar na língua do seu conviva e não em sua própria língua como manda a etiqueta diplomática.
- A morte do Rei do Pop, dele Michael Jacson. A respeito ver aqui no próprio Blog um texto que escrevi sobre esse ser humano, demasiado humano e por isso brilhante.
Discos
Esta foi a década do Samba e das cantoras. Ê Semba ê. Nesta nossa listinha fazem samba ou flertam com ele: Cassia Eller, Maria Bethania, D. Jandira, Aline Calixto, Marienne de Castro, Beth Carvalho, Elza Soares todas sambistas.
Ps: como já afirmei minha memória para nomes não é das melhores, portanto, podem ter injustiças, ou seja, posso ter esquecido discos que me foram bastante caros nesta década.
Outra coisa que já é sabido dos mais próximos, sou um verdadeiro apaixonado pelo samba, pela música brasileira dos anos 60 e 70, principalmente música negra (aliás grande parte dos posts deste blog são dedicados a este tema), gosto também da Soul/Funk/Gospel norte-americano e por fim do chamado Brock dos anos 80 e inícios dos anos 90. Tudo isso para dizer que ouço muito pouco do que tem sido produzido atualmente. Aliás oço pouco porque o pouco que ouço em geral me desagrada.
- Vou começar com dois discos da década anterior, mas como foram lançados em 1999, boa parte destes discos foram sucessos em 2000 e 2001.
Californication do Red Hot Chilli Pepers e
There's Nothing Left to Lose do Foo Fighters
- Qualque um da Cássia Eller lançado nesta década e, olha que estão abaixo, dos discos dela da década de 90. Destaque para Acustico MTV de 2001 e 10 de Dezembro de 2002, ainda não ouvi o disco que é resultado da grvação ao vivo do show no Rock in Rio, de 2006 mas como vi aquela apresentação, o disco deve ser ótimo.
- Maria Bethania. PAUSA. Da minha paixão por Bethania é publica e sabida aqui no Blog. Mas como disse Nelson Motta, será ela uma ENTIDADE, Maria Bethania não tem altos e baixos em cerca de 45 anos de carreira só teve altos. Cada disco é um acontecimento. Portanto Ave Maria Bethania que nessa década nos brindou com 03 obras fantásticas. Brasileirinho de 2005, disco que inaugurou o selo da autora. Sobre este disco só posso dizer. Obrigado. Santeria de 2009, belissímo. Maricotinha lindíssimo e olha que deixei de fora Mar de Sophia, Ao Vico com Omara portuondo entre outras obras impares.
- Sandra de Sá e seu wonderful MPB, Música Preta Brasileira. Eta disco maravilhoso, ao mesmo tempo dançante e emocionante. Como a boa tradição Soul, este disco apesar de ser para dançamos, a dança aqui é libertadora, por isso também é um disco para se emocionar, como alías se emociona sempre 9chega as lagrimas) Sandra em algumas canções.
- Joss Stone, todos. Se bem que gosto demais do primeiro disco, The Soul Sessions de 2003 da maior cantora negra-branca, ou seria, da maior cantora branca-negra do mundo. Os criticos adoram seu terceiro disco, Introducing Joss Stone 2007, que também é o favorito da própria cantora. Acho belo como os demais da cantora mas fico com o primeiro. Uma grande obra.
- Gilberto Gil Viva São João (2001), simplesmesnte lindo e emocionante. Principalmente para quem tem algumas raízes no sertão.
-Marienne de Castro e seu maravilhoso disco de estréia Abre Caminho. Taí uma grande sambista e grande cantora. Para saber mais veja aqui no próprio Blog uma pesudo-critica (já que não sou especialista) bastante grande da cantora e deste disco.
Elza Soares Do Cóccix Até O Pescoço (2002) falar o que desta mulher, que foi considerada pelo BBC de Londres como uma das vozes do século passado. Neste disco entre outras coisas ela faz uma versão definitiva de Haiti entre outros eptardos em sua voz unica.
- Dona Jandira e seus disco de 2007 com mesmo nome. Falar o que sobre essa voz espetacular. Fico com o sambista Dudu Nicácio é a nossa Janis Joplin. D. Jandira uma mulher negra de 71 anos e que gravou pela primeira vez com 69 anos, consegue canbtar samba com verve de blues e blues com o balanceio do samba. Desde Elza Soares não via tamanha voz.
Aline Calixto, essa mineira premiada e super respeitada no meio do samba, seu primeiro disco, Aline Calixto de 2009 é um belo exemplo de que o samba (tal como prova Marienne de Castro) continua a ser o grande ritmo brasileiro.
- Los Hermanos e Seu Bloco do Eu Sozinho (senão me engano de 20010 foi a prova de que o pop-rock comercial teve alguns poucos momentos de lucidez e bom gosto. Este é um discasso. Que em certos momentos me lembrou os melhores momentos de Cazuza e Renato Russo.
- N.U.C e sua Resistência (2004), com esse disco os Negros da Unidade Consciente do Alto Vera Cruz mostrou que o Hip-Hop combina perfeitamente com bom gosto. Neste disco temos o melhor que o hip-hop brasileiro produziu, ou seja, uma música de protesto, de denuncia social, de análise político-social mas ao mesmo tempo com pitadas da cultura negra genuinamente brasileira. Assim neste disco o hip-hop é também cantiga de Roda com a participação das Maravilhosas Meninas de Sinhá (um grupo de senhoras moradoras do Alto vera Cruz/Taquaril). "No Alto Vera Cruz tem um Furacão que estremece o chão, que estremece o chão!!!!"
- Renegado e seu grande disco Do Oiapoque a Nova York, este disco do antigo vocalista do N.U.C Flávio Renegado é uma bela biografia do músico, de sua vida e de sua arte, no entanto, mais do que um relato pessoal, sua história mimetiza a história de milhares de outros jovens, pobres, pretos, da periferia, filho de mães solteiras e etc. é isso ai, para n´so que conhecemos a galera do Alto Vera Cruz/Taquaril o Flávio chegou lá da rua Oiapoque até fazer show em Nova York, com direito a escalas em Cuba, mas acima de tudo e, por isso mesmo, um grande artista acima de tudo o filho da D. Regina do Morro do Taquaril.
- Menção Honrosas para Diogo Nogueira Tô Fazendo a Minha Parte (2009), Adriana Calcanhoto Adriana PartiPam (2004) como é bom ser criança inteligente, não fica devendo nada aos maravilhosos discos infantis de Toquinho, Vinicius, Chico Buarque e Raul Seixas. Beth Carvalho e seus Beth Carvalho - 40 ANos de Carreira - Ao Vivo no Theatro Municipal Vol 1 e 2. (2006) e Beth Carvalho canta o Samba da Bahia (2008).
TV
House e Grey's Anatomy, mostram que a boa literatura independente do meio que se utilize é algo mágico. Grey's Anatomy na minha modéstia opinião é um dos amiores produtos da cultura de massa de todos os tempos.
Destaque na verdade para as séries. Os yankees são muito bons realmente, estou cada vez mais sériemaniaco. São tantas e boas opções.
Cinema
Com os lapsos de memória, esta era a lista que não queria fazer, pois vi cada coisa maravilhosa fora do circuito comercial nos festivais que rolam por aqui, e vou te dizer só no ano passado foram sem exageiros uns 10 festivais em BH,mas com certeza não vou lembrar o nome dessas obras primas quase sempre de países não centrais, assim como não lembrarei os excelentes filmes que vi principalmente nos anos de 2001 e 2002 no Belas Artes (explico, nesta época os 10 primeiros alunos da UFMG podiam entrar de graça nesta rede de cinema e como teve uma greve, meu esporte era ir ao Cinema todos os dias) mesmo assim vai ai uma listinha (na maioria filmes yankees comerciais, este pelo apelo publicitário e mesmo pela net acabam por ficarem mais claros na lembrança):
- As Invasões Bárbaras (2003) de Dennis Arcande Cidade de Deus (2002) de Fernando Meireles, dois dos maiores filmes que já vi na vida, osúnico que na minha opinião entrariam em uma lista de verdadeiros clássicos de todos os tempos.
- Má Educação o meu preferido, mas para falar a verdade de Almodovar todos os que vi nesta década foram bons.
- Já que foi uma década dos filmes da pixar: Procurando Nemo, das melhores análises sociológicas que eu vi.
- Adeus Lenin (2002) de Wolfang Becker
- Uma Mente Brilhante (2001) de Ron Howard
- Quase Famosos (2000) de Cameron Crowe
- Snatch Porcos e Diamantes (2000) de Guy Ritchie
- Bicho de sete Cabeças (2001) de Lair Bodanski
- Lucia e o Sexo de (2001) de Julio Medem mais um da boa invasão espanhola do fim dos anos 90 e início dos 2000. Depois os espanhois resolveram invadir foi o tênis.
- Onze Homens e um segredo, na verdade aqui rendo homenagem a toda a franquia. É o tipo de filme gostosode se ver e ponto final. Bom elenco e direção brincando de atuar.
- X-Men outra homenagem a franquia. Sé é para fazer entreterimento que se fça com qualidade. O mesmo vale para a série Homem- Aranha.
-Sideways entre umas e outras de Alexander Payne de 2004, isso sim que é movierood e dos bons.
- O último Rei da Escócia de 2006 de Kevin Macdonald
- Madame Satã
- Cauza
Pois é ...faltando tanta coisa. Mas em termos de atuação doia década de Natalie Portman.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

John Hughes se foi

A cerca de uma semana penso em escrever esse post. Que trata-se acima de tudo em uma homenagem a minha geração que emulou tardes e tardes assistindo clássicos deste diretor na Sessão da Tarde. No dia 05 de agosto, faleceu de enfarto em New York, John Hughes. Talvez o nome não diga muito, mas "Curtindo a vida a doidado" lhe é familiar? Por isso digo que homenagear Hughes é de certa forma homenagear minha geração e minha digamos passagem da infância a adolescência. A melhor definição do gênio de Hughes foi dada pelo crítico de cinema Ricardo Calil: Hughes era o Antonioni da comédia juvenil. "Mas a real é que ele foi um Antonioni da comédia juvenil, o diretor que transformou as angústias existenciais da adolescência em entretenimento de primeira."
Ele criou alguns dos filmes essenciais do gênero juvenil: “Clube dos Cinco”, “Gatinhas e Gatões”, "Mulher Nota 1.000″, “Antes Só do que Mal Acompanhado” e sobretudo a obra-prima “Curtindo a Vida Adoidado” homenageados e imitados à exaustão.
Enfim desde que soube da notícia lembrei de várias cenas desses filmes e me diverti ao perceber como nossa geração comparada a atual era ingênua. Diria mesmo boba. Nada de net e milhares de informações, nada de ficações a torto e a direito...como era divertido curtir a vida a doidado e isso significava uns beijinhos..oh inocência. Enfim nossa homenagem a Hughes.
Ps1: aqueles eram tempo tão inocentes pré-net, préTv a cabo que estes filmes foram sucesso no Brasil ainda no início dos anos 90, em alguns casos quase 10 anos após a produção.
Ps2: Hughes ficou milionário nos anos 90 quando foi produtor e roteirista da série Esqueceram de Mim, do qual assumo ter assistido no Cinema (de rua que não existe mais, menos mal, que nesse caso depois de um tempo fechado esse antigo cinema se tornará um Centro Cultural do Sesc) Esqueceram de Mim 2 com o ótimo Macaulin Calkin (num sei como escreve o nome dele, mas que o moleque era bom era).

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Urso de Ouro - Tropa de Elite

Tropa de Elite, que já foi alvo de vários posts no Blog, ganhou hoje o Urso de Ouro de melhor filme do Festival de Berlim. Depois de ser chamado até mesmo de facista, por parte da imprensa internacional, o filme sai vitorioso do Festival. Para mim que até hoje ainda não vi o filme, mas já li bastante continuo com a impressão inicial de que grande parte da crítica é fruto da incompreensão, ou seja tomar o objeto de crítica como se fosse objeto de elogio. O diretor em momento algum glorifica o discurso da violência policial, ainda que do ponto de vista estético glorifique a violência, mas se for esse o critério a mesma crítica deveria ser válida para Cidade de Deus. Soma-se a isso: 1- uma certa preguiça da atualidade que acredita que toda crítica deve ser panfletaria e aberta e com isso tem grande dificuldade de perceber as críticas das entrelinhas; e 2- um problema crônico de violência pelo qual passa a sociedade brasileira. Desta forma, as pessoas amedrontadas e embrutecidas pelos efeitos sucessivos da violência e por outro lado, emburrecidas pela grande mídia, acaba por aplaudir o que era digno de vaia e torna herói o vilão. Pena que seja assim, mas que pelo menos aproveitemos essa chance para nos analisarmos enquanto um coletivo e uma sociedade. Ora se um fora da lei é tornado herói é por que os caminhos convencionais e legais estão a se esgarçar para esse cidadão comum. Melhor do que agredir o filme seria analisá-lo de maneira crítica para nos entendermos melhor enquanto uma coletividade, afinal uma das finalidades de um filme é ser ainda que de forma indireta um tretrtato de sua época e de um grupo da sociedade. Aproveitemos o filme e façamos uma grande análise de nós mesmos, a partir desse ótimo psicanalista que é a obra cinematográfica.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Ainda sobre "Pedido aos leitores, se é que temos algum?"

Recebi mais uma resposta do post intitulado "Pedido aos leitores, se é que temos algum?"

Dessa vez foi do Daniel, o autor das divertidas mensagens de Natal que estão publicadas aqui, destaque para a seqüencia de dicas musicais:

Antes tarde do que nunca (como diria Vargas...)

Estou um tanto quando desinformado quanto ao que há de bom no cinema/dvd... Sugiro o "Pequena Miss Sunshine" (simples e bom) e o Cassino Royale (pela primeira vez vi um 007 apanhar, sangrar, matar os outros de maneira cruel... ou seja, um agente do M16 de verdade e não aqueles do Pierce Brosnan -- é assim que escreve? -- que mais pareciam um projeto mal resolvido de Batman!)

Na música tenho algumas sugestões, não tão atuais, mas que valem uma audição:

Muddy Waters - "Muddy Waters at Newport"
John Mayall's Blues Breakers - "John Mayall's Blues Breakers With Eric Clapton"
Baden Powell - "Canto on Guitar" - 1970.
Santana - "Abraxas"
Chico Buarque - "Construção"
Lynyrd Skynyrd - "Pronounced Leh-nerd Skin-nerd"
Pink Floyd - "The Dark Side of the Moon"
Bob Marley and the Wailers - "Natty Dread"
Gilberto Gil e Jorge Ben Jor - "Ogum Xangô"
Fela Kuti and Afrika 70 - "Zombie"
Iggy Pop - "Lust for Life"
Grandmaster Flash and the Furious Five - "The Message"
Afrika Bambaataa and the Soul Sonic Force - "Planet Rock"
Living Colour - "Vivid"
P.J. Harvey - "Rid of Me"
The Verve - "Urban Hymns"
Gotan Project - "La Revancha Del Tango"
Common - "Be"
Ali Farka Touré - Savane"
The Good, The Bad & The QUeen - "The Good, The Bad & The Queen"

Não são difíceis de encontrar... Emule ou rádios online costumam ter... se possível ouça os discos na íntegra... são obras que funcionam melhor como conjunto do que como singles.


quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

"Pedido aos leitores..."

Como prometido, abaixo publico a resposta do Ricardo ao post "Pedido aos leitores..."

Carlos,

Acho difícil fazer dicas desse tipo. Primeiro, pelo famoso fato de que gosto não se discute. Como diz o ditado: gosto é igual "nariz", cada um tem o seu. Mas, principalmente porque não faço anotações dessas coisas e, infelizmente, minha cabeça de bagre não é das melhores para memorizar nomes de filmes etc.

Bom, livros fiquei praticamente restrito aos obrigatórios, o que não é pouco. Então, não é de agora, muito pelo contrário, mas como já conversamos, indico a leitura de "Lavoura Arcaica", de Raduan Nassar.

Quanto aos filmes, até que vi uma quantidade razoável. Não sou nenhum cinéfilo, como o Mezenga, mas pude ver alguns bons filmes. Meu medo é confundir o que é desse ano com o que é do ano passado. E tenho certeza que vou esquecer a maioria mesmo. Portanto, faço aqui uma lista dos nacionais que neste momento, e nem sei se já estão disponíveis em DVD:
==> Brasileiros:
- O dia em que meus pais saíram de férias
- Batismo de sangue
- Baixio das bestas
- O homem que desafiou o diabo
- Tropa de elite

E sei (sem lembrar o nome agora) de vários outros, nacionais ou não, que não consegui ver.

Nacionais ou não, que já têm DVD (2006):

- Babel
- Os infiltrados

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

O ano em que daremos férias à tropa de elite

Jornal Estado de São Paulo - 07/10/07
O ano em que daremos férias à tropa de elite
Nem tudo se perdeu: ainda há o cidadão comum
Jurandir Freire Costa*
Dois filmes brasileiros, O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, de Cao
Hamburger, e Tropa de Elite, de José Padilha, candidataram- se a representar
o Brasil na competição pelo Oscar de melhor filme estrangeiro. O primeiro
foi escolhido, dividindo as opiniões divulgadas pela mídia. Deixo a quem
compete o trabalho de dizer qual deles dispõe das qualidades técnicas e
artísticas com mais chances de premiação. De minha perspectiva, importante é
discutir a imagem da cultura brasileira apresentada pelos dois. Desse
aspecto, julgo que ambos sejam extremamente bem-sucedidos.
No filme de Cao Hamburger, o Brasil dos anos 70 é visto pelo olhar de um
garoto, cujos pais são obrigados a fugir da repressão policial no período da
ditadura militar. A criança deveria ser deixada com o avô, que, nesse
entretempo, morre. Sozinho e sem ter a quem recorrer, o menino é cuidado
pela comunidade judaica, à qual o avô pertencia. No final, a mãe retorna. O
filme dá a entender que tanto ela quanto o marido haviam sido torturados e o
último havia morrido. O menino é exilado com a mãe e, ao se despedir
carinhosamente dos que o ajudaram - em especial do velho vizinho do avô,
figura central no enredo -, pensa em off que "ser exilado é ter um pai que
se atrasa tanto, tanto, que nunca chega".
Tropa de Elite, ao contrário, mostra o Brasil de hoje. Precisamente, o Rio
de Janeiro de 1997, por ocasião da visita do papa João Paulo II. O pano de
fundo é totalmente diverso: favelas, tráfico de drogas, corrupção policial
e, por fim, as entranhas do Bope, a tropa policial de elite que dá título ao
filme. Se o inferno tivesse alguma feição, com certeza seria algo semelhante
ao que o diretor nos faz ver. Nos guetos marginais das favelas, miséria
socioeconômica e miséria moral dão-se as mãos na corrida desenfreada de
delinqüentes e policiais para provar quem consegue ser mais violento.
Tortura, sanguinolência, delação, falta de escrúpulos, tudo fede à mais
estúpida desumanidade. José Padilha não poupa talento e recursos
dramatúrgicos para deixar-nos cara a cara com o que de mais macabro
produzimos em matéria de desrespeito à vida e à dignidade da pessoa.
Instituições falidas e indivíduos desencantados debatem-se como moscas
tentando escapar da maligna teia de destruição que se contrai e os tritura
de forma inexorável. É o lado do Brasil cronicamente inviável, fluindo num
jorro de imagens que comovem, dão repulsa e fazem pensar.
A pergunta é inevitável: o que nos aconteceu entre 1970 e 2007? Várias
hipóteses podem ser levantadas. A que mais facilmente vem à tona é de ordem
político-econô mica. Perdemos, afirmam alguns, as aspirações da geração 1968.
Nosso destino histórico foi entregue à sede de lucros materiais e o
resultado veio a galope: individualismo à outrance, consumismo, cinismo,
evasão pelo entretenimento e adoração drogada do próprio corpo. A tese é
discutível em alguns pontos, mas, certamente, há algo de verdade na
explicação. A decadência da política - numericamente controlada por
parlamentares que agem como mafiosos -, o endeusamento irracional da
economia e a presença intrusiva da moral do espetáculo na vida cotidiana
contribuíram, em muito, para o aparente aumento da insensibilidade em face
do bem comum ou das carências do próximo.
José Padilha, entretanto, vai adiante. Quaisquer que tenham sido as causas
da mudança, mostra ele, o efeito cultural foi além do imaginável. A
desagregação da hierarquia dos valores éticos lesou o cerne da pessoa moral,
ou seja, a capacidade que devemos ter de decidir entre o certo e o errado e
dar sentido à própria vida. Em O Ano em que meus Pais Saíram de Férias, os
rivais políticos sabiam por que matavam e morriam. Os defensores da ditadura
achavam que torturar e assassinar dissidentes significava proteger o Brasil
do perigo comunista; os partidários da democracia ou do socialismo, por seu
turno, queriam restaurar o Estado de Direito democrático ou realizar a
revolução. Na bela metáfora da ida para o exílio, posta na boca do garoto,
isto fica patente. A esperança de um mundo melhor confundia-se com a
expectativa do reencontro com o pai. O reencontro, embora indefinidamente
adiado, já era presentemente vivido. Dizer que o exílio era a condição de
quem esperava por um pai que nunca chegava era dizer que depois do exílio o
pai e seus ideais poderiam vir a ser reabilitados.
Em Tropa de Elite, essa moral comum às utopias messiânicas dá lugar à mais
desoladora desistência. Policiais corruptos ou justiceiros, marginais e
estudantes usuários de drogas ilegais não sabem o que buscar, exceto
sobreviver hoje e amanhã. Agem como sonâmbulos presos num pesadelo. Tudo que
importa é abolir o tráfico ou manter o tráfico. Nenhum dos personagens
parece sentir-se exilado, pois o deserto ético transformou- se no último
horizonte de suas existências. No que dizem, palavras como violência e paz,
justiça e injustiça, autoridade e obediência, soam vazias e apenas fazem eco
a sentimentos de vingança, ressentimento, culpa ou autopunição. Criaturas
supérfluas em um mundo supérfluo.
É aqui que o corte entre os dois filmes salta aos olhos. Visto com mais
atenção, Tropa de Elite poderia ser grafado no plural, sem perda de
conteúdo. Na verdade, as supostas elites retratadas no filme são duas: a
policial e a universitária. O detalhe nada tem de irrelevante. Nele se
repete um dos mais lastimáveis fenômenos da cultura brasileira, qual seja, a
recalcitrante incapacidade de nossa autodeclarada elite de agir, de fato,
como uma legítima elite. Elite - faça-se justiça à tradição lingüística - é
o conjunto dos melhores. E os melhores, no credo democrático-humanitá rio,
são os que mais contribuem para fortalecer os ideais de igualdade, liberdade
e fraternidade. Ora, a pretensa elite nacional jamais se conduziu segundo
esses princípios, donde a relação promíscua que sempre manteve com o que a
polícia pode ter de mais abusivo e imoral.
Inicialmente, o retrógado senhoriato rural, candidato bastardo à elite, usou
a polícia para confinar a realidade dos guetos pobres nas letras de samba e
desfiles de carnaval. Foi a época de ouro das "anedotas, champanhotas" e do
famigerado "sorry, periferia". Na atualidade, a sandice cultural mudou de
tom, mas fundamentalmente continuou a mesma. A polícia foi, de novo, usada
para deixar que os mesmos guetos se convertessem em entrepostos de drogas
ilegais. Só que a criatura fugiu ao controle do criador. Os piores do andar
de baixo - como reza o preconceito - se deram conta, rapidamente, de que
podiam extorquir e explorar quanto quisessem os piores do andar de cima. Daí
para a emancipação da tutela policial o passo foi curto. Em duas ou três
décadas, os guetos marginais passaram de quitanda de drogas a centros de
treinamento intensivo em sordidez moral para policiais. A leviandade
político-social continuaria impune, não fosse um fato novo: o montante de
dinheiro circulante com o comércio de drogas permitiu que a nata da
delinqüência se armasse até os dentes para defender a prosperidade de seus
negócios. Conclusão: a sociedade brasileira, uma vez mais, tem sua agenda de
problemas comandada pela inconseqüência de uns poucos. O mesmo tipo de
grupúsculo social, que outrora insistiu em negar a indecência humana das
favelas, voltou a recorrer à truculência repressiva. Desta feita, para
conter os excessos da aberração que pôs no mundo e acabou nos tornando
reféns de bandidos e policiais corruptos.
Boa parte do desconforto provocado por Tropa de Elite vem do fato de
percebermos que o odioso ciclo do crime não tem saída, posto que se alimenta
da própria deterioração. Combater o comércio de drogas e armas com Bopes é
querer extirpar a violência com mais violência, isto é, com mais da mesma
coisa. Faz sentido discutir com seriedade se a legalização das drogas
ilegais seria um antídoto possível para a situação; insensato é persistirmos
vendo o problema pelas lentes dos habitantes desse submundo. Nesta guerra
entre aspas, o inimigo não são os infelizes do lado de lá ou do lado de cá;
o inimigo é a consciência degradada dos que consideram que, para o
populacho, favela está de bom tamanho. Ou eliminamos essa mentalidade torpe
de nossa vida cultural ou nos condenamos a suportar mais e mais carnificina.
Um dos maiores méritos de Tropa de Elite é deixar claro que a banda podre da
polícia nada mais é do que o espelho da banda podre de elites que usurparam
o direito a portar um nome ao qual jamais fizeram jus. Policiais corruptos e
brutalizados, marginais guetificados e usuários irresponsáveis de drogas
ilegais não nasceram da cabeça de Zeus. Eles são o refugo de uma ordem
sociocultural que manteve o gozo dos direitos democráticos reservado a uma
minoria civicamente analfabeta, moralmente míope e culturalmente
descomprometida com a construção de uma nação brasileira digna deste nome.
Entretanto, se a "elite" perdeu a cabeça e alma, isso não quer dizer que
tudo esteja perdido. Em uma espécie de contraponto à crua denúncia feita por
José Padilha, Cao Hamburger assinala o contraste existente entre o Brasil
dos restos humanos e o Brasil do cidadão comum. Este último cidadão, em 1970
como em 2007, apesar da pouca visibilidade social, não sucumbiu à moral da
descrença. Sua vida, na superfície, é prosaica, mas, no fundo, é o que
mantém este país de pé. Trata-se do indivíduo ordinário, que não é santo ou
herói, mas, simplesmente, alguém capaz de agir com correção e honradez, se a
urgência da questão o exigir. Sem rompante ou bravata, ele cultiva as
virtudes cívicas elementares, como apreço pelo trabalho, pela honestidade e
pela decência. Embora movido pelo egoísmo narcisista, pela tentação do
oportunismo ou pela sedução do sucesso midiático, como qualquer um de nós,
também sabe ser compassivo e solidário se assim for necessário. São esses
brasileiros que no filme de Hamburger protegem o pequeno personagem, mesmo
pondo em risco o próprio bem-estar. São eles a verdadeira tropa de elite dos
ideais democráticos de homens como frei Caneca e Joaquim Nabuco; é apostando
neles que traremos de volta os órfãos ainda exilados do sonho Brasil.
Para os desesperados, isso é idiotice sentimentalóide de quem não vê que
"este país não presta"; para os cínicos, a súmula da mediocridade piedosa.
Penso de modo diferente. Penso que esses cotidianos exercícios de respeito
pelo outro e de crença no próprio poder de mudar são a quintessência da
riqueza material, moral, intelectual e espiritual de um povo. Por meio
deles, quem sabe, chegará o ano em que daremos férias às elites e às tropas
que nos envergonham e nos privam de viver num país à altura da maioria de
nós.
Dois filmes a serem vistos e revistos; dois grandes cineastas, eles sim,
exemplos da elite que queremos ter.
* Jurandir Freire Costa, psicanalista, é professor do Instituto de Medicina
Social da UERJ e autor, entre outros livros, de A Inocência e o Vício
(Relume-Dumara, 2002) e O Vestígio e a Aura (Garamond, 2004)

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tropa de Elite 2

Como já havia dito em um post anterior, quando postei um interessante texto sobre o filme Tropa de Elite, publicado no Caderno Pensar do Estado de Minas continuo com a idéia, só esta faltando tempo de reunir todos os artigos pró e contra que li, vi e recebi a respeito do filme. Por enquanto, vamos postar um segundo texto sobre o filme. Um texto muito interessante de um comparsa (um MANO) que tem um blog super bacana chamado o Blog Vermelho do Hip Hop, o link se encontra ai ao lado.

De volta às tripas da elite

Prosseguindo, eu queria lembrar um ponto interessante que acabou sendo discutido amplamente na imprensa sobre o Tropa de Elite. O diretor José Padilha era incessantemente questionado sobre se ele concordava ou não com a tortura que o filme exibia, se aquelas cenas eram um sinal de apoio a esses métodos ou não etc. Como eu já disse antes, ele lavou as mãos, afirmou que mostrava apenas como as coisas são na visão dos policiais etc.

Bom, o Padilha não é o primeiro artista a ser cobrado sobre o que mostra na obra como um ponto de vista de um outro personagem. No rap, a gente sabe, isso é comum. Muita gente lava as mãos quando escreve um rap que é narrado por um cara "errado", por assim dizer: eu só tô mostrando a visão dele, não posso me responsabilizar pelo que tá sendo dito.

Esse é um bom tema pra debate, eu mesmo não tenho uma resposta fechada: o que vocês acham disso? Particularmente, eu lembraria, pra tornar as coisas mais complicadas: por mais que você lave as mãos, tem um bocado de gente que lê, assiste ou ouve aquilo e não vê as coisas de uma forma tão sofisticada a ponto de diferenciar. Puxa, quer coisa mais comum do que ouvir dizer de que o ator de novela tal apanhou na rua de uma velhinha enquanto estava fazendo um personagem malvado?

Sinais de alerta: vários vídeos apareceram na internet com brincadeiras inspiradas na tortura do saco plástico, várias piadinhas com o capitão Nascimento passaram a circular, houve até notícia de que a roupa do Bope virou fantasia de festa de bacana...

Acho que a letra é esta: a verdade é que, no sentido psicanalítico do termo, tem um monte de gente gozando com esse filme. O que o Tropa de Elite mostra é que uma parte da elite brasileira tem uma tremenda frustração de não poder chegar na favela e descer a lenha, sentar o dedo, passar o cerol. É tipo: "Olha só o que a gente ia fazer com esses pretos pobres filhos da puta se tivesse a chance..."

É triste? Ah, sim, se você ainda está por aí fazendo pombinha com a mão pra pedir a paz. Convenhamos: sem justiça, nunca vai haver paz. Agora, que justiça é essa desses caras? Isso é declaração de guerra, isto sim. E quem aceitar de cabeça baixa vai é tomar tiro na nuca, não tem jeito...

Na TV que todo o mundo vê, eles empregam ali meia dúzia de manos que "em troca de dinheiro e um carro bom rebola e usa até batom" pra fazer de conta que são plurais. Mas, quando têm alguma chance, vai ver o que fazem: são contra as cotas, contra os quilombos, contra qualquer reparação histórica. Querem dizer que não existe mais preto e branco no país, só mestiço...

E você, mano, é isso que você vê? As piadinhas ditas de canto de boca contra os pretos, as pequenas discriminações na hora de conseguir um emprego, um empréstimo não terminaram, as desigualdades persistem... Negá-las é dar chance pra que continuem, faz tempo que as coisas são assim.

Essa é a grande covardia da parada: essa elite não tem coragem de chegar com um megafone no meio da favela, ou ir até a rádio comunitária, ou a tv que todo o mundo vê e dizer o que diz pelos cantos, escondido.

Quer um exemplo? Olha o que esse tal Reinaldo Azevedo escreveu sobre o artigo que o Ferréz publicou na Folha de São Paulo, faz um tempo, respondendo ao artigo do Luciano Huck em que ele reclamava de ter tido o Rolex roubado? Vê bem se ele ia ter a moral de dizer isso cara a cara:

"O empresário Ferréz, ao lado de Mano Brown, é um bibelô mimado pelas esquerdas e pelo pensamento politicamente correto, para quem o crime é uma precognição política a caminho de uma revelação."
...
"A minha pluralidade não alcança tolerar idiotas que querem destruir o sistema de valores que garantem a minha existência. E, curiosamente, até a deles."

Bom, é desse tipo de gente que estou falando...

(continuamos...)

posted by BLOG VERMELHO DO HIP HOP

O autor desse blog assim se define:
Salve a todos! Sou Spensy Kmitta Pimentel, tenho 30 anos, sou jornalista e antropólogo. Nasci no Mato Grosso do Sul, morei nove anos em São Paulo e, desde 2003, vivo em Brasília. Atualmente, trabalho na Radiobrás (www.agenciabrasil.gov.br).(...) Não sou negro, sou branco, com sangue cossaco (Salve, Makhno!) pela parte de minha mãe, e misturas imemoriais entre índios, portugueses e sei mais o quê do goiano raizeiro que é meu pai. Por escolha, sou bugre, porque nasci nas terras covardemente tomadas dos Guarani, na região onde o Brasil já foi Paraguai.

Como vim parar aqui? Fui fisgado pelo hip hop quando tinha 7 ou 8 anos de idade, ouvindo discos de breakbeat na casa dos vizinhos da rua, lá em Dourados (MS). Logo depois, surgiu o rap nacional. Disco nenhum chegava por lá, e eu só conseguia mesmo era ver as apresentações de Thaíde e DJ Hum pela TV. Tive a sorte de vir estudar em Brasília em 1993, no período em que a Discovery estava no auge. Foi aí que conheci Câmbio Negro, GOG, Desacato Verbal. (...)

Quando fui morar em São Paulo, continuei em contato com o rap, o grafite e o break nas ruas. Ao fim da graduação em Jornalismo, em 1997, aos 21 anos, resolvi dar minha contribuição ao movimento com o livro-reportagem-ensaio "O Livro Vermelho do Hip Hop". (...)Terminei, este ano, meu mestrado a respeito do tema: "Sansões e Guaxos - Suicídio Guarani-Kaiowá: uma proposta de síntese". Daqui a um tempo, devo colocá-lo na rede.

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Pegou geral

Belo artigo escrito pela Ângela Faria para o caderno Pensar do estado de Minas e que me foi enviado pelo amigo Ricardo. Sobre o filme Tropa de Elite, dois pequenos comentários (aliás bastante rasteiros - na verdade não são nem comentários, apenas alguns pensamentos livres):

1- poucos filmes nos últimos tempos permitiram tamanho debate, já recebi dezenas de artigos pró e contra o filme. Na correria dos últimos tempos não tive tempo de ler todos, mas quando tiver mais tempo pretendo coloca-los todos aqui para que cada um leia e chegue a suas conclusões. Nesse sentido o filme já é um belo sucesso. Outra coisa já perceberam como esse filme é comentado nas ruas, por pessoas que normalmente não vão ao cinema; ainda que endeusando o Bope o que é ruim, o filme esta sendo visto e comentado o que é bom;
2- a positivação do Bope, aponta para um problema, aliás comentei isso em um e-mail com outro amigo, na verdade mais do que endeusar um Estado violento- o que é verdade, diante dessa imensa sensação de insegurança- para mim o mais lamentável não é o facismo tão apontado por todos, mas o ato de que o brasileiro médio, em grande parte influenciado pela mas media desaprendeu a ter pensamento crítico e o pior não consegue perceber uma das magias do cinema que é a metáfora.


PENSAR
Pegou geral
Documentário de estréia de José Padilha, Ônibus 174 revela os equívocos do Bope, grupo policial exaltado pelo público de Tropa de elite. Nem fascista, nem radical de esquerda, diretor se revela atento observador da sociedade brasileira
Ângela Faria

O capitão Nascimento ficou muito bem no cinema, mas o seu Batalhão de Operações Especiais (Bope) – que muita gente anda endeusando depois de assistir ao longa-metragem de ficção Tropa de elite – protagonizou, nas telas, um dos maiores fiascos da história da segurança pública do Rio de Janeiro. Está tudo no documentário Ônibus 174, lançado em 2002 e dirigido pelo mesmo José Padilha que transformou em febre nacional o policial interpretado por Wagner Moura.

Tropa de elite caiu na boca do povo, provoca muita polêmica na imprensa e, calcula-se, foi visto por 11 milhões de pessoas depois que DVDs pirateados invadiram o país, antes mesmo do lançamento "oficial". Ônibus 174 conquistou prêmios importantes, como os conferidos pela 26ª Mostra Internacional de São Paulo e Festival de Havana, teve público razoável para um documentário, mas nem de longe provocou a comoção de Tropa, embora seja uma espécie de "pai" do capitão Nascimento.

José Padilha teve a idéia de fazer um filme de ficção sobre a violência brasileira, sob o enfoque do policial, justamente ao entrevistar, há sete anos, alguns dos protagonistas da desastrada operação realizada no Rio. Foi assim que nasceu a tropa saudada aos gritos de "caveira!" (símbolo do Bope) pela platéia carioca, no início de outubro, no Festival do Rio. Capitão Nascimento e seus homens enfiam sacos de plástico na cabeça de suspeitos, em busca de informações sobre chefes do tráfico; não hesitam em arrancar as calças de um dos garotos do "movimento", ameaçando estuprá-lo com uma vassoura. Treinados para a guerra, os "homens de preto" se consideram o antídoto à corrupção de colegas e à incompetência do sistema policial. Acima da lei, têm aval do governo para executar operações-limpeza pelas favelas afora.

Tanta valentia no filme de ação; fracasso retumbante no documentário. O Bope cenográfico mobiliza platéias no país inteiro, mas o Bope de carne e osso, há sete anos, perdeu feio. Passo a passo, Ônibus 174 registra o fracasso da tropa de elite e das autoridades fluminenses, sob o comando do então governador Anthony Garotinho, para solucionar um assalto a ônibus no Rio de Janeiro, em junho de 2000. A refém Geísa Gonçalves e o assaltante Sandro do Nascimento perderam a vida na desastrada ação.

Depois de tentar, sem sucesso, assaltar os passageiros da linha 174, Sandro fez 11 reféns. Por quase cinco horas, prendeu alguns deles no coletivo estacionado no Jardim Botânico, na Zona Sul carioca. José Padilha expôs os erros da polícia com clareza desconcertante. Assistir a seu filme de estréia é verdadeiro "choque de realidade" diante da catarse provocada por Tropa de elite. Há quem veja no Bope da ficção, violento e acima da lei, a tábua de salvação para o caos da segurança pública brasileira. Na vida real, as coisas não funcionaram assim. Quem duvida pode conferir Ônibus 174.

NA CABEÇA

Tecnicamente, ensinou o documentário, seria recomendável o atirador acertar a cabeça de Sandro enquanto ele conversava com policiais e se exibia para as câmeras de TV. Entretanto, telefonema de "autoridade superior" para o coordenador da operação abortou a idéia. Temia-se o impacto da cena nos lares do Brasil e do exterior: meio quilo de massa encefálica projetada nas janelas do ônibus. Durante entrevista a Padilha, uma das reféns lembra "detalhe" que poderia fazer a diferença: por várias vezes, o bandido pôs o braço que segurava a arma e a cabeça para fora do coletivo. "Por que não acertá-lo naquele momento?", questionou a moça.






Os negociadores de elite erraram feio, permitindo que Sandro, levando Geísa, deixasse o veículo para andar pelas ruas, tentando escapar do cerco policial. "Você nunca deve deixar uma situação estática se tornar móvel", ensinou outro entrevistado, Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais, co-produtor do documentário e roteirista de Tropa de elite.

O resultado da ação daquela tarde, definitivamente, faria o capitão Nascimento se entupir com seus calmantes tarja preta. O atirador Marcelo dos Santos pôs a arma a dois palmos da cabeça do seqüestrador, errou dois tiros, mas atingiu o rosto da refém. Ao pressentir a movimentação do policial do Bope, Sandro apertou o gatilho. Enquanto caía com Geísa no chão, o assaltante fez os disparos que mataram a moça. A refém Luana Belmont se pergunta: não seria mais lógico presumir que Sandro, instintivamente, por reflexo, apertaria o gatilho? Não. Pelo menos para um policial entrevistado no documentário. Segundo ele, a tendência seria o rapaz atirar no agressor, usando a moça como escudo. A leiga Luana estava certa. "Infelizmente era o dia de a gente perder", restou ao "caveira" lamentar.

O desfecho da tragédia, porém, ainda estava por vir. Ileso, o assaltante foi levado por homens do Bope para o hospital. Chegou lá morto, asfixiado. Sandro escapou da Chacina da Candelária, em que oito meninos de rua foram executados por policiais militares em 1993, no Centro do Rio. Mas os rapazes do Batalhão de Operações Especiais completaram o serviço, lembrou o sociólogo Luiz Eduardo Soares no documentário. Indiciados por homicídio qualificado (com intenção de matar), prevaleceu a tese da defesa de que os três agentes da lei sufocaram o rapaz, drogado e agitado, ao tentar imobilizá-lo dentro da viatura. Ricardo de Souza Soares, Flávio do Vale Dias e Márcio Araújo David foram absolvidos pela Justiça. Ônibus 174 foi lançado pouco antes do julgamento.

OUTRO LADO

O documentário é uma espécie de "lado B" de Tropa de elite. O diretor José Padilha tem repetido à exaustão que não avaliza os métodos violentos de seu capitão protagonista, explica que apenas deu voz ao policial, personagem raro na cinematografia nacional, repleta de marginais como Pixote, Zé Pequeno e Lúcio Flávio. Ouvi-lo, com seus erros e acertos, é crucial se se quiser, mesmo, construir uma política de segurança eficaz. Mas, com sua opção preferencial pelo Bope, o cineasta foi acusado de fazer filme "fascista", que avaliza a tortura como método de ação, e propor a polícia violenta como alternativa à banda podre.

O curioso é que, ao lançar Ônibus 174, o mesmo Padilha foi chamado de "radical de esquerda" por mostrar ao Brasil que existia um Sandro Nascimento de carne e osso. Ainda garotinho, Sandro viu a mãe morrer, esfaqueada na birosca que dava sustento à família. Traumatizado, fugiu da casa da avó, virou menor abandonado, morava com os garotos de rua assassinados por policiais militares na Chacina da Candelária. Preso várias vezes, conheceu o inferno carcerário carioca, seja no tenebroso instituto de "reeducação" Padre Severino, seja nas celas mais desumanas de delegacias da Cidade Maravilhosa. Analfabeto, viciado em drogas, falava em ser artista. Teve suas quatro horas e meia de fama em 12 de junho de 2000, até ser empurrado para a patamo pela equipe do Bope, enquanto a multidão gritava "lincha!".

Padilha é, mesmo, um cineasta polêmico: seu documentário foi solicitado pelos advogados da defesa e da acusação dos policiais que mataram Sandro. Pedido negado. Requisitado pela juíza, o filme foi exibido durante o julgamento.

Nem fascista, nem radical de esquerda, o diretor carioca é atento observador do Brasil. Corajosamente, pôs usuários de droga da Zona Sul no centro do tiroteio que consome vidas de policiais e traficantes, chamando os bem-nascidos à responsabilidade na guerra travada nas favelas. O cinema só tem a ganhar com os Nascimentos de Padilha – Sandro e o capitão –, metáforas dessa democracia hipócrita que preserva a "segurança social" à base de saco plástico na cabeça de bandido, treina policial de elite (mal pago) como cão de guerra, garante "direitos humanos" de bacana e faz do camburão o tribunal do júri para marginal pobre.

Antes de eleger o capitão Nascimento herói do ano, vale a pena embarcar nesse Ônibus. Cá para nós, Tropa de elite faz merecido sucesso, mas quem pegou geral foi o documentário de José Padilha. Naquele dia, foi o Bope quem pediu para sair.

DEBATE ::: TROPA DE ELITE

DEBATE ::: TROPA DE ELITE

Promoção e violação dos Direitos Humanos: os dilemas do Brasil contemporâneo
dia 08 de novembro de 2007
apoio: Ministério da Cultura - LEI FEDERAL DE INCENTIVO À CULTURA

O Usina Unibanco de Cinema e o GEDI-DH Grupo de Estudos em DireitoInternacional dos Direitos Humanos da Universidade Federal de Minas Gerais apresentam nesta quinta-feira, dia 08 de novembro, às 19:00 * uma sessão especial do filme TROPA DE ELITE de José Padilha. A exibição será seguidade um debate com o tema Promoção e violação dos Direitos Humanos: os dilemas do Brasil contemporâneo, com o objetivo de discutir a difícil efetivação dos Direitos Humanos nos aglomerados urbanos brasileiros e fomentar o debate acerca da realidade desses direitos no Brasil. Osingressos custam R$ 12,00 (inteira) e R$ 6,00 (meia) e já estão a venda na bilheteria do Usina Unibanco de Cinema.Debatedores:Francis Albert COTTA:doutor em história social da cultura pela UFMG, realizou estágio dedoutoramento na Universidade de Lisboa;foi pesquisador convidado na escola de altos estudos em ciências sociais - Paris; atualmente desenvolvepós-doutorado em história social na UFRJ onde estuda a temática identidades policiais e cidadania no Brasil Contemporâneo; professor universitário; Luis Flávio SAPORI:Possui mestrado em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais(1993) e doutorado em Sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisasdo RJ/TEC (2006). Atualmente é assessor do Governo do Estado de Minas Gerais, pesquisador pleno da Fundação João Pinheiro e professor assistente da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Tem experiência naárea de Sociologia, com ênfase em Sociologia do Crime e da Violência, atuando principalmente nos seguintes temas: justiça criminal, polícia,organizações, violência policial e violência.Fabrício Araújo PRADO:Bacharel em Direito pela UFMG (Belo Horizonte, 2005), vencedor do I Premio Sistema Interamericano de Direitos Humanos promovido pela SecretariaEspecial de Direitos Humanos (Brasília, 2005), representante brasileiro na maior competição acadêmica internacional de Direitos Humanos (Washington, 2005), co-fundador do Grupo de Estudos de Direitos Humanos da UFMG (2005),Assistente de Pesquisa do Centro de Direitos Humanos da Universidade deNottingham (Inglaterra, 2006), Mestrado em Direito Internacional dos Direitos Humanos pela Universidade de Nottingham (Inglaterra, 2007).*No mesmo dia não apresentaremos a sessão de 21:10 de Tropa de Elite.USINA UNIBANCO DE CINEMARua Aimorés, 2424 - Lourdes - tel: 3337-5566

Fonte: Blog do Conexões

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