sábado, 14 de agosto de 2010

Sobre a persistência do Racismo e o caso do Ministro Joaquim Barbosa

Publiquei também este pequeno texto do Blog do Nassif:

O grande, para muitos, historiador Evaldo Cabral de Mello disse em 1996 “(...) Palmares era uma república negra, foi destruída e eu prefiro para ser franco, que assim tenha sido. Por uma razão muito simples. Se Palmares tivesse sobrevivido, teríamos no Brasil um Bantustao, um Estado Independente e sem sentido.” Ou seja, em pleno 1996 o historiador demonstrava seu preconceito, seu racismo e seu medo diante da diferença. É o medo da diferença e do plural que justifica a persistência do discurso racista e elitista.

Pois bem, agosto de 2010, o Jornal o Estado de S. Paulo, publica em manchete: “Com licença médica Joaquim Barbosa vai à festa de amigos e a bar em Brasília”. No corpo da matéria explica-se que o ministro Joaquim Barbosa apesar de afastado do trabalho desde abril por licença médica, freqüenta festas de aniversários e bares. Explica-se na matéria que o referido ministro com sua licença emperra o STF e que o mesmo se mostrou bastante irritado com a invasão de privacidade feita pelo jornalista autor da matéria. Bom a se ter pelo tom da matéria devemos crer que o ministro Joaquim prevarica em suas funções e utiliza-se do soldo público para se divertir. Aliás, trata-se da opinião do presidente da OAB Ophir Cavalcanti na mesma matéria. Boas lembranças da OAB de outrora. Caberiam algumas perguntas:

• O Fato de o Ministro Barbosa ser negro influência esse tipo de policiamento? Quantas festas freqüenta o ex-presidente do STF Gilmar Mendes ou o Ministro Peluso, quem sabe quantas e quais festas freqüenta o Min. Lewandowski?

• Qual outro ministro teve sua intimidade invadida a este ponto?

• Qual é a média de tempo dos processos no STF? Qual é a média do número de processos com cada Ministro do STF? Assim saberíamos o quanto o Ministro emperra a corte suprema e se diverte à custa do erário público?

• É justo como lembra o próprio Ministro que matérias como essas (e como outras publicadas no mesmo veiculo e a respeito do mesmo ministro) sejam feitas sem ouvir sua versão dos fatos?

• Será que se o Ministro Joaquim Barbosa não tivesse dito certas palavras ao então poderoso Gilmar Mendes ele seria alvo desta campanha?

• Será que se o Ministro Joaquim, não tivesse acusado os advogados de boa fama na Praça de agir de maneira coativa, a OAB teria a mesma posição?

• Será que se o Ministro não tivesse acusado outros ministros aposentados do STF de agirem como lobistas a reação seria a mesma?

• Será que se o Ministro ainda que negro, filho de negros lavradores do interior de Minas, não tivesse um título de Doutor por Sorbonne e tivesse sido professor de Pricenton e Havard antes de assumir a cadeira no STF ele seria também atacado desta maneira?

• Por fim será que se o ministro não apresentasse uma coerência de votar sempre com a postura denegada a favor da coisa pública, da diversidade, da pluralidade ele também seria atacado? Ou melhor, será que se o Ministro fosse um negro de alma branca as coisas seriam mais fáceis? Mas ele teimou em se doutorar entre outras coisas demonstrando a Constitucionalidade a luz da CF/1988 da aplicação de políticas afirmativas às minorias.

Todas são perguntas que acredito validas. Visto que como disse o nobre Evaldo Cabral que se destruam os Bantustões e não seria no STF que um deles poderia sobreviver. Ao Ministro Joaquim meu singelo, humilde, desimportante e desnecessário apoio.

ps: o Ministro esta afastado do STF por problemas na coluna que o impendem de ficar por muito tempo sentado. Eis que o Estadão ao invadir a privacidade do ministro duas vezes, na festa e no bar, nos brinda com fotos e, em todas elas o ministro se encontra: DE PÉ!!!.

Carlos Eduardo MARQUES, antropólogo e professor universitário

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