domingo, 29 de agosto de 2010

Sobre Lula, eleições e ...

Que o Governo Lula seja um marco na história deste país não temos muitas dúvidas. Que seu governo tenha cumprido algumas metas importantes idem. No entanto, e falo como um eleito deste governo, pelo menos no pleito de 2002, bom 2006 já não me aprazia mais a miscelânea que havia transformado o outrora governo da Esperança. Hoje, pelo menos pessoalmente soa estranho para mim a tamanha euforia que fomos tomados naquele outubro de 2002, ou mesmo quem sabe, naquele primeiro de janeiro de 2003. Como não esquecer de que saímos em pleno dia 30 a noite de BH com dois ônibus lotdos de C. Sociais, ao todo só da UFMG foram dezenas de ônibus. Tempos interessantes aqueles em que a esperança havia vencido o medo e, ainda tínhamos um espírito jovem que entre festejar com amigos e familiares o Revellion preferíamos as multidões fazê-los nos alojamentos da UnB, na Esplanada dos Ministérios, na rodoviária ou em lugares perdidos de Brasília. Mas i mais importante e notável. Fizemos campanha, votamos e estivemos lá na Posse do primeiro operário brasileiro a assumir a presidência. Ainda hoje me lembro com cenas verdadeiramente épicas daquele dia 01 de janeiro, ou mesmo antes, no dia da vitória (festas em várias partes de BH) e outrora Sapo Barbudo dizendo entre outras coisas:

“(...) Nós precisamos garantir que cada homem ou que cada mulher, por mais pobre que seja, tenha o direito de tomar café de manhã, almoçar e jantar todo santo dia. Nós temos que garantir às pessoas o direito de morar. (...) Nós temos que garantir às pessoas o direito de conquistar a sua cidadania. Somente nós iremos fazer a reforma agrária tão sonhada por milhões e milhões de brasileiros.”

Olhando hoje em agosto de 2010, qual foi à esperança que perdemos. Por que o medo venceu? Qual foram os nossos erros, os da esquerda socialista, qual foram os nossos desvãos. Pois se garantimos a quase todos os direitos humanos a alimentação. Falhamos enormemente em transformar este país em um império da cidadania?

Mas uma coisa para mim é certa, Lula é o atraso. Dias desses Daniel Cohn (um dos lendários lideres do maio de 68) disse que o Lula representa a esquerda atrasada, discordo dele, Lula não é de esquerda, se um dia foi não é mais; a rigor para mim Lula não é nem mesmo social democrata. O seu partido, outrora dos trabalhadores, ate pode ser chamado de social democrata, mas mesmo estes já são minorias. Se discordo de Daniel Cohn pois Lula não é de esquerda concordo quando ele chama a atenção para o fracasso das sociais democracias (no mais discordo da visão eco-capitalista eurocentrada). Fracassaram as sociais democracias no controle do capital, na promiscuidades com as benesses do poder, e o produtivismo a qualquer custo. Essa é a nossa real derrota, nós os socialistas democráticos que defendemos o pluralismo, a diversidade, a cidadania e os direitos humanos cada vez mais vemos desrespeito aos bagres, bugres, negros e outras minorias.

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Falando nisso, para onde caminhará o PSDB? Parece claro que a ala liderada por Serra-FHC sairá bastante fragilizada. Por outro lado, o PSDB de Alckmim deve sair fortalecido. Aqui temos um problema, pois se por um lado, este PSDB não representa necessariamente a ultra-direita econômica representa a ultra-direita comportamental. Se Aécio conseguir eleger Anastásia seu poder de cacife cresce e ele irá desafiar Alckmim no comando do partido. Neste caso qual será o PSDB desta liderança, a se tomar os discursos de Aécio seria o PSDB do pós-lula e não do anti-lula ainda que na prática não difira muito do PSDB de Serra ou Alckmim. Por outro lado o DEM que chamo de DEMO dever ficar mais pálido e branco ainda, mais radical, mais ruralista, mais sectário, menos plural e mais tradição família e propriedade. Basta saber qual será o espaço deste partido de direita ideológico. No mais será aquela salada de sempre abraçando os novos amigos do poder.

Queria falar do PMDB mais neste balaio de gato talvez coloque minha mão em um outro momento.

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Falando em esquerda socialista, uma possível conseqüência positiva da vitória de Dilma será o desmascaramento da relação nefasta do governo federal com os movimentos sociais e, se isso for possível, podemos perseverar novamente um partido de massas ligado aos movimentos sociais modernos pela cidadania, direitos humanos, diversidade e reforma agrária, urbana e econômica. É preciso acabarmos com o neo-liberalismo na prática e não apenas no discurso, como lembra Conceição Tavares se o neo-liberalismo perdeu sua hegemonia como discurso continua a gracejar nas práticas, como aliás mostra os lucros cada vez maiores dos bancos, empreiteiras, siderúrgicas, metalúrgicas e outras. Aliás já repararam que os sucessos do Lula é o retorno aos anos 50 e 60, realmente é o Brasil do atraso, aquele do latifúndio (através do agronegócio) do setor primário (altamente destrutivo de vidas, culturas, patrimônios e natureza) e o setor econômico parasita de sempre. Com LULA a maior invenção brasileira no campo econômico gracejou como nunca: me refiro ao que chamo de invencionice brasileira, o capitalismo sem risco. Capitalismo sem risco é aquele comum aqui no Brasil: ex. Você constrói mega obras com dinheiro público e recebe depois o direito de explorá-la por 30 anos e com preço mínimo garantido pelo governo, este é o caso p. ex do setor elétrico. Ou quem sabe aquela negociata chamada privatização: aquela em que a TELEMAR saiu de graça para seus atuais proprietários. Veja o que disse o Estadão:

Nos últimos 12 meses, o banco emprestou R$ 300 milhões ao francês Carrefour e R$ 400 milhões à italiana TIM para capital de giro.A alemã Mercedes-Benz também levantou R$ 1,2 bilhão para ampliar sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP).A também alemã Volkswagen recebeu R$ 642 milhões nos últimos 12 meses. Entre 2009 e 2014, a montadora investirá R$ 6,2 bilhões, 38% com dinheiro do BNDES.A americana Cargill conseguiu R$ 160 milhões no banco estatal - o equivalente a um quarto do que a empresa de alimentos vai investir em novas fábricas em Primavera do Leste (MT) e Uberlândia (MG).



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