Fala Lula !!! Bom todos sabem minha opinião extremamente negativa a respeito do governo Lula. Não a repassemos aqui, pois não se trata do local e hora adequado. Este post é só para dividir com Vocês a ótima entrevista feita pelo Jornal francês L'expresss. Mais uma prova do imenso lamaçal em que se transformuou a grande imprensa brasileira. Acima de tudo aprendi com a teoria e mais ainda nas minhas práticas antropológicas, que o maior exercício de um entrevistador é combinar um respeito absoluto pelo entrevistado (ou seja despir de pré-conceitos) e acima de tudo permitir que esse se expresse o mais a vontade possível. é fácil não, mas é necessário.
Por Lúcia Orpham
Tradução Júlio Pegna.
Lula: “Meu ego não aumentou”Luiz Inácio Lula da Silva tem razões para estar de bom humor. Após seis anos no poder, acaba de bater novo recorde de popularidade: doravante, 70% dos 196 milhões de Brasileiros são “lulistas”. E o chefe de Estado tem ainda outros motivos de satisfação, por exemplo, o crescimento do PIB – ultrapassará os 5% no Brasil em 2008 – ou a volta à 1ª divisão do lendário clube de São Paulo, Corinthians Paulista, do qual ele é torcedor. À véspera da visita de Nicolas Sarkozy ao Rio de Janeiro, o antigo menino de rua que se tornou operário, sindicalista, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), depois chefe de Estado, concedeu, em Brasilia, uma entrevista exclusiva ao L’Express. Num tom informal.
.Senhor presidente, sua trajetória política, como a de Barack Obama, desafia os códigos da vida política tradicional. Está, a seu ver, entre os presidentes “fora dos padrões”?
Penso que sim. O mundo está cheio de chefes de Estado que, a princípio, não poderiam ser eleitos. Nicolas Sarkozy, por exemplo, não tinha o apoio de Jacques Chirac; tornou-se presidente da República. Barack Obama, acreditavam os especialistas, seria sucessivamente derrotado por Hillary Clinton, depois por Mc Cain. O que, diga-se de passagem, demonstra que os especialistas também se enganam. E se enganam muito. Na América Latina, a maioria dos atuais dirigentes possuem perfis que seriam impensáveis há vinte anos atrás.Isso tudo decorre, do meu ponto de vista, da queda do muro de Berlim e do vazio ideológico que se seguiu no mundo inteiro. De repente, as coisas deixaram de ser escritas com antecedência. A esquerda teve que se redefinir. E ela se reapropriou do direito de pensar. Vimos surgir fenômenos como Hugo Chavez, na Venezuela, Evo Morales – um índio! – na Bolivia, ou ainda Fernando Lugo no Paraguay. Quanto a mim, fui derrotado 3 vezes até vencer em 2002. Que o Brasil superasse seus preconceitos e trouxesse um operário ao centro do Estado parecia, há apenas 15 anos, muito improvável.
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Em que o surgimento de personalidades “diferentes” pode representar um progresso para o mundo?A política tornou-se algo mais efervescente, mais dinâmica, motivadora e interessante. Não está mais apenas concentrada nas mãos de pessoas que, no fundo, pensam da mesma forma. Assistimos a debates mais agudos sobre o papel do Estado, sosbre governar, sobre as escolhas da sociedade. Com a crise atual, a evolução da geografia política é inexorável. É positivo para as populações do mundo inteiro.
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Quando criança, o senhor conheceu a fome, a miséria, trabalhava nas ruas, morava em lugares rústicos. Como tudo isso influenciou seu modo de governar?
Mesmo que eu desejasse seria incapaz de governar o Brasil do jeito de meus antecessores – intelectuais, advogados, empresários. Desde minha posse estava claro dentro de mim: se falhar, me dizia, não será apenas o cheque mate de Lula, mas o de uma idéia. Qual idéia? Aquela segundo a qual os trabalhadores brasileiros, portanto a maioria dos habitantes deste país, têm o direito de eleger um dos seus ao cargo de presidente da República. Em resumo, não tenho direito ao cheque mate. O que dirão se eu falhar? Mais ou menos o que os comentaristas políticos disseram à respeito de Walessa: “Ele não sabe governar, não tem nível, ele não sabe fazer.” Obama se encontra na mesma situação. Se não conseguir resultados em um ano, o mundo inteiro cairá sobre suas costas. Por isso estou otimista. Porque ninguém além dele tem tanto interesse em dar certo.
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Sua mãe, Dona Lindu, foi fundamental na sua vida. Qual a coisa mais importante que ela lhe deixou?
O caráter, eu acho. Minha mãe possuia uma coragem e uma lucidez que se encontram em poucas pessoas. Em 1953, quando ela descobriu que meu pai tinha outra família, foi encontrá-lo, numa manhã, pra lhe dizer que estava indo embora. Ela era analfabeta. Tinha oito filhos. E, mesmo assim, ela foi. Ela sempre dizia: “Um ser humano nunca pode perder o direito de andar de cabeça erguida.” Nós, seus filhos, fomos trabalhar. Um trabalhava numa mina de carvão, outro vendia sardinhas, um terceiro virou barman. Eu tinha 7 anos. Com meu irmão Chico, fomos vender laranja e amendoim nas ruas. Assim aprendi a importância da familia, que está, por sinal, no coração da minha atuação politica. Minha mãe também tinha outra frase, que dizia: “Trate sempre as pessoas com respeito, ela dizia, pois só assim você será respeitado”. Este é o seu legado. O resto, tudo foi conquistado. Nunca recebi nada de graça. Nunca.
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A luta contra a pobreza é, desde o início, prioridade em seu governo, particularmente através do programa Bolsa Familia [que consiste em dar às familias mais necessitadas a quantia mensal de 70 reais, ou 22 euros, por criança que frequenta a escola, a fim de incentivar a educação]. Quais são os resultados?
A meu ver, o Bolsa Familia é o mais importante mecanismo de distribuição de renda jamais aplicado. Atualmente, 11 milhões de familias se beneficiam deste sistema, e digo que não tem nada de eleitoral. A prova: a incumbência de sua gestão é das mães, que não são necessariamente do meu entorno político.Desde os anos 1950, os mais brilhantes economistas do Brasil nos explicavam que era preciso gerar crescimento para distribuir as riquezas. Primeiro faremos o bolo, eles diziam, depois, quando crescer, vamos distribuir as fatias... Eu não sou economista, mas acredito que não é necessário esperar assar o bolo. Se damos um pouco de dinheiro a quem não tem nada, não comprarão carros ou produtos importados, mas o que eles realmente precisam: feijão, arroz, leite, farinha, meias e sapatos. Como resultado, o Bolsa Familia dinamizou consideravelmente as comunidades rurais do Brasil. E os efeitos colaterias são impressionantes. Ontem, estava na região semi-árida do Nordeste onde a UNICEF premiou 259 comunidades cuja mortalidade infantil caiu a menos de 20 por 1000 em seis anos! O mais bonito é que ajudar os pobres é a coisa mais barata que existe. Quando um homem de negócios consegue um empréstimo de 1 bilhão num banco público, ele sai reclamando. Chega um pobre. Você lhe dá 70 reais e ele sai agradecendo ao bom Deus.
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Na contramão de todos estes avanços, a criminalidade é uma praga no Brasil. A ponto de, por exemplo, muitos estrangeiros não ousarem visitar o Rio de Janeiro...
Não procuro minimizar o problema. Mas é preciso dizer que existe, na mídia, uma predileção por este assunto. Às vezes, um crime fica 10 dias seguidos na manchete de um jornal da TV! O fato se transforma numa crescente apoteótica que, por sua vez, alimenta um pavor no mundo todo. Mas vamos mais além: é importante que todos, no Brasil, compreendam que se contentar em enviar a policia às favelas não fará reduzir a violência. É preciso, ao contrário, voltar a dar esperanças à juventude e traçar perspectivas de futuro. O programa governamental ProUni, por exemplo, permitiu criar 214 escolas técnicas profissionais (a comparar com os 140 estabelecimentos deste tipo inaugurados no século passado), enquanto o programa ProJovem visa a reescolarização de 4,5 milhões de jovens. Provemos uma ajuda mensal de 120 reais [38 euros] àqueles que concordam aprender uma nova profissão para se reinserir na sociedade. Estas políticas públicas acabarão tendo um impacto. Quando a criançada de 14-15 anos perceber que existe um futuro para eles neste país, o narcotráfico, o crime organizado e a violência diminuirão.
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Falemos um pouco da Amazônia. Por que o desmatamento continua sob seu governo?
É preciso, antes de mais nada, lembrar que a Amazônia é tão grande quanto a Europa. E que não havia praticamente nenhum organismo de controle quando assumimos. É preciso, igualmente, entender que 23 milhões de pessoas vivem na Amazônia. E que estas pessoas têm, também, o direito a ter um automóvel, um aparelho de televisão, uma geladeira. E que elas tem o direito de trabalhar. A questão toda é garantir o crescimento econômico sustentável desta região. No início de dezembro, lancei nosso plano sobre mudanças climáticas, que servirá, sem dúvida, de modelo a outros países emergentes. Nos comprometemos em reduzir o desmatamento em 40% até 2010. Se atingirmos nossos objetivos, as emissões de CO2 serão reduzidas em 4,8 bilhões de toneladas até 2017. Aliás, saiba que o Brasil, em princípio, não tem qualquer necessidade de desmatar para plantar soja ou cana de açúcar: além dos 360 milhões de hectares da Amazônia nosso país dispõe de outros 400 milhões de hectares de terras produtivas, onde é possivel plantar sem causar danos ao meio ambiente.
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Nicolas Sarcozy chega ao Rio de Janeiro dia 22 de dezembro, em visita oficial. E 2009 será o Ano da França no Brasil. O que lhe vem à mente quando falamos da França?
Penso imediatamente na Revolução Francesa. E no potencial comercial ainda inexplorado entre nossos países, principalmente na área da defesa: estamos muito interessados pelos aviões Rafale e pelo submarino nuclear francês. Ainda, gostaria que a ponte sobre o Oiapoque entre o Brasil e a Guiana Francesa esteja terminada antes do final do meu mandato. Mas descobrí que a burocracia francesa é igual à brasileira. No meio que frequento, todos gostam de ir a Paris, admiram a cultura, a arte e os vinhos franceses...
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E falam de futebol?
Não. Não é assunto da alta sociedade, mesmo que haja muita coisa a dizer sobre os encontros França-Brasil. Ganhamos de vocês nas semifinais do Mundial de 58. Depois, vocês nos eliminaram em 1986, em 1998 e em 2006. Devo dizer que Zidane é o atleta mais perfeito que pude ver ao longo da minha vida.
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O número 1 do mundo, então?
Não, impossível. Pelé será sempre o número 1. Imbatível, inigualável, eterno.
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Falemos da crise. Como, a seu ver, ela afetará seu país?
Alguns economistas falam de uma queda do crescimento de 5% para 0,5%. Eles são muito pessimistas. A bem da verdade, o Brasil é o hoje o pais mais bem preparado para enfrentar a crise. Nossa dívida pública representa apenas 36% do PIB. O montante de nossas reservas é superior à nossa dívida externa. Nosso sistema financeiro é extremamente moderno. Nosso mercado interno está em plena expansão. E o Estado continuará a investir em infra-estrutura, energia e urbanismo. Dito isto, está na hora de regulamentar o sistema financeiro internacional. Não podemos mais viver sob a influência dos yuppies das finanças que vendem pedaços de papel sem produzir um lápis, uma caneta. E ganhando verdadeiras fortunas porque atingiram objetivos teóricos que nada tem a ver com o sistema produtivo.
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Que recordação o senhor pretende deixar, após o fim de seu mandato, em dezembro de 2010?
Não me faço este tipo de pergunta. Sabe, vivi cinquenta e sete anos sem ser presidente e, depois de ter sido, não me deixo influenciar pela função. Garanto que meu ego não cresceu nem um milímetro sequer. O que cresceu, em contrapartida, foram minhas responsabilidades e minha jornada de trabalho. Quando trabalhava na indústria, sabia que começava às 8 para terminar às 18 horas. Tinha meu sábado e meu domingo. A imprensa não me conhecia. Era um homem tranquilo. Hoje, não tenho horário fixo, nem sábados, nem domingos. Então, depois de 2010 farei o que recomenda nosso cantor popular Zeca Pagodinho na música Deixa a vida me levar: deixarei a vida me levar.
Tradução Júlio Pegna.
Lula: “Meu ego não aumentou”Luiz Inácio Lula da Silva tem razões para estar de bom humor. Após seis anos no poder, acaba de bater novo recorde de popularidade: doravante, 70% dos 196 milhões de Brasileiros são “lulistas”. E o chefe de Estado tem ainda outros motivos de satisfação, por exemplo, o crescimento do PIB – ultrapassará os 5% no Brasil em 2008 – ou a volta à 1ª divisão do lendário clube de São Paulo, Corinthians Paulista, do qual ele é torcedor. À véspera da visita de Nicolas Sarkozy ao Rio de Janeiro, o antigo menino de rua que se tornou operário, sindicalista, dirigente do Partido dos Trabalhadores (PT), depois chefe de Estado, concedeu, em Brasilia, uma entrevista exclusiva ao L’Express. Num tom informal.
.Senhor presidente, sua trajetória política, como a de Barack Obama, desafia os códigos da vida política tradicional. Está, a seu ver, entre os presidentes “fora dos padrões”?
Penso que sim. O mundo está cheio de chefes de Estado que, a princípio, não poderiam ser eleitos. Nicolas Sarkozy, por exemplo, não tinha o apoio de Jacques Chirac; tornou-se presidente da República. Barack Obama, acreditavam os especialistas, seria sucessivamente derrotado por Hillary Clinton, depois por Mc Cain. O que, diga-se de passagem, demonstra que os especialistas também se enganam. E se enganam muito. Na América Latina, a maioria dos atuais dirigentes possuem perfis que seriam impensáveis há vinte anos atrás.Isso tudo decorre, do meu ponto de vista, da queda do muro de Berlim e do vazio ideológico que se seguiu no mundo inteiro. De repente, as coisas deixaram de ser escritas com antecedência. A esquerda teve que se redefinir. E ela se reapropriou do direito de pensar. Vimos surgir fenômenos como Hugo Chavez, na Venezuela, Evo Morales – um índio! – na Bolivia, ou ainda Fernando Lugo no Paraguay. Quanto a mim, fui derrotado 3 vezes até vencer em 2002. Que o Brasil superasse seus preconceitos e trouxesse um operário ao centro do Estado parecia, há apenas 15 anos, muito improvável.
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Em que o surgimento de personalidades “diferentes” pode representar um progresso para o mundo?A política tornou-se algo mais efervescente, mais dinâmica, motivadora e interessante. Não está mais apenas concentrada nas mãos de pessoas que, no fundo, pensam da mesma forma. Assistimos a debates mais agudos sobre o papel do Estado, sosbre governar, sobre as escolhas da sociedade. Com a crise atual, a evolução da geografia política é inexorável. É positivo para as populações do mundo inteiro.
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Quando criança, o senhor conheceu a fome, a miséria, trabalhava nas ruas, morava em lugares rústicos. Como tudo isso influenciou seu modo de governar?
Mesmo que eu desejasse seria incapaz de governar o Brasil do jeito de meus antecessores – intelectuais, advogados, empresários. Desde minha posse estava claro dentro de mim: se falhar, me dizia, não será apenas o cheque mate de Lula, mas o de uma idéia. Qual idéia? Aquela segundo a qual os trabalhadores brasileiros, portanto a maioria dos habitantes deste país, têm o direito de eleger um dos seus ao cargo de presidente da República. Em resumo, não tenho direito ao cheque mate. O que dirão se eu falhar? Mais ou menos o que os comentaristas políticos disseram à respeito de Walessa: “Ele não sabe governar, não tem nível, ele não sabe fazer.” Obama se encontra na mesma situação. Se não conseguir resultados em um ano, o mundo inteiro cairá sobre suas costas. Por isso estou otimista. Porque ninguém além dele tem tanto interesse em dar certo.
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Sua mãe, Dona Lindu, foi fundamental na sua vida. Qual a coisa mais importante que ela lhe deixou?
O caráter, eu acho. Minha mãe possuia uma coragem e uma lucidez que se encontram em poucas pessoas. Em 1953, quando ela descobriu que meu pai tinha outra família, foi encontrá-lo, numa manhã, pra lhe dizer que estava indo embora. Ela era analfabeta. Tinha oito filhos. E, mesmo assim, ela foi. Ela sempre dizia: “Um ser humano nunca pode perder o direito de andar de cabeça erguida.” Nós, seus filhos, fomos trabalhar. Um trabalhava numa mina de carvão, outro vendia sardinhas, um terceiro virou barman. Eu tinha 7 anos. Com meu irmão Chico, fomos vender laranja e amendoim nas ruas. Assim aprendi a importância da familia, que está, por sinal, no coração da minha atuação politica. Minha mãe também tinha outra frase, que dizia: “Trate sempre as pessoas com respeito, ela dizia, pois só assim você será respeitado”. Este é o seu legado. O resto, tudo foi conquistado. Nunca recebi nada de graça. Nunca.
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A luta contra a pobreza é, desde o início, prioridade em seu governo, particularmente através do programa Bolsa Familia [que consiste em dar às familias mais necessitadas a quantia mensal de 70 reais, ou 22 euros, por criança que frequenta a escola, a fim de incentivar a educação]. Quais são os resultados?
A meu ver, o Bolsa Familia é o mais importante mecanismo de distribuição de renda jamais aplicado. Atualmente, 11 milhões de familias se beneficiam deste sistema, e digo que não tem nada de eleitoral. A prova: a incumbência de sua gestão é das mães, que não são necessariamente do meu entorno político.Desde os anos 1950, os mais brilhantes economistas do Brasil nos explicavam que era preciso gerar crescimento para distribuir as riquezas. Primeiro faremos o bolo, eles diziam, depois, quando crescer, vamos distribuir as fatias... Eu não sou economista, mas acredito que não é necessário esperar assar o bolo. Se damos um pouco de dinheiro a quem não tem nada, não comprarão carros ou produtos importados, mas o que eles realmente precisam: feijão, arroz, leite, farinha, meias e sapatos. Como resultado, o Bolsa Familia dinamizou consideravelmente as comunidades rurais do Brasil. E os efeitos colaterias são impressionantes. Ontem, estava na região semi-árida do Nordeste onde a UNICEF premiou 259 comunidades cuja mortalidade infantil caiu a menos de 20 por 1000 em seis anos! O mais bonito é que ajudar os pobres é a coisa mais barata que existe. Quando um homem de negócios consegue um empréstimo de 1 bilhão num banco público, ele sai reclamando. Chega um pobre. Você lhe dá 70 reais e ele sai agradecendo ao bom Deus.
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Na contramão de todos estes avanços, a criminalidade é uma praga no Brasil. A ponto de, por exemplo, muitos estrangeiros não ousarem visitar o Rio de Janeiro...
Não procuro minimizar o problema. Mas é preciso dizer que existe, na mídia, uma predileção por este assunto. Às vezes, um crime fica 10 dias seguidos na manchete de um jornal da TV! O fato se transforma numa crescente apoteótica que, por sua vez, alimenta um pavor no mundo todo. Mas vamos mais além: é importante que todos, no Brasil, compreendam que se contentar em enviar a policia às favelas não fará reduzir a violência. É preciso, ao contrário, voltar a dar esperanças à juventude e traçar perspectivas de futuro. O programa governamental ProUni, por exemplo, permitiu criar 214 escolas técnicas profissionais (a comparar com os 140 estabelecimentos deste tipo inaugurados no século passado), enquanto o programa ProJovem visa a reescolarização de 4,5 milhões de jovens. Provemos uma ajuda mensal de 120 reais [38 euros] àqueles que concordam aprender uma nova profissão para se reinserir na sociedade. Estas políticas públicas acabarão tendo um impacto. Quando a criançada de 14-15 anos perceber que existe um futuro para eles neste país, o narcotráfico, o crime organizado e a violência diminuirão.
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Falemos um pouco da Amazônia. Por que o desmatamento continua sob seu governo?
É preciso, antes de mais nada, lembrar que a Amazônia é tão grande quanto a Europa. E que não havia praticamente nenhum organismo de controle quando assumimos. É preciso, igualmente, entender que 23 milhões de pessoas vivem na Amazônia. E que estas pessoas têm, também, o direito a ter um automóvel, um aparelho de televisão, uma geladeira. E que elas tem o direito de trabalhar. A questão toda é garantir o crescimento econômico sustentável desta região. No início de dezembro, lancei nosso plano sobre mudanças climáticas, que servirá, sem dúvida, de modelo a outros países emergentes. Nos comprometemos em reduzir o desmatamento em 40% até 2010. Se atingirmos nossos objetivos, as emissões de CO2 serão reduzidas em 4,8 bilhões de toneladas até 2017. Aliás, saiba que o Brasil, em princípio, não tem qualquer necessidade de desmatar para plantar soja ou cana de açúcar: além dos 360 milhões de hectares da Amazônia nosso país dispõe de outros 400 milhões de hectares de terras produtivas, onde é possivel plantar sem causar danos ao meio ambiente.
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Nicolas Sarcozy chega ao Rio de Janeiro dia 22 de dezembro, em visita oficial. E 2009 será o Ano da França no Brasil. O que lhe vem à mente quando falamos da França?
Penso imediatamente na Revolução Francesa. E no potencial comercial ainda inexplorado entre nossos países, principalmente na área da defesa: estamos muito interessados pelos aviões Rafale e pelo submarino nuclear francês. Ainda, gostaria que a ponte sobre o Oiapoque entre o Brasil e a Guiana Francesa esteja terminada antes do final do meu mandato. Mas descobrí que a burocracia francesa é igual à brasileira. No meio que frequento, todos gostam de ir a Paris, admiram a cultura, a arte e os vinhos franceses...
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E falam de futebol?
Não. Não é assunto da alta sociedade, mesmo que haja muita coisa a dizer sobre os encontros França-Brasil. Ganhamos de vocês nas semifinais do Mundial de 58. Depois, vocês nos eliminaram em 1986, em 1998 e em 2006. Devo dizer que Zidane é o atleta mais perfeito que pude ver ao longo da minha vida.
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O número 1 do mundo, então?
Não, impossível. Pelé será sempre o número 1. Imbatível, inigualável, eterno.
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Falemos da crise. Como, a seu ver, ela afetará seu país?
Alguns economistas falam de uma queda do crescimento de 5% para 0,5%. Eles são muito pessimistas. A bem da verdade, o Brasil é o hoje o pais mais bem preparado para enfrentar a crise. Nossa dívida pública representa apenas 36% do PIB. O montante de nossas reservas é superior à nossa dívida externa. Nosso sistema financeiro é extremamente moderno. Nosso mercado interno está em plena expansão. E o Estado continuará a investir em infra-estrutura, energia e urbanismo. Dito isto, está na hora de regulamentar o sistema financeiro internacional. Não podemos mais viver sob a influência dos yuppies das finanças que vendem pedaços de papel sem produzir um lápis, uma caneta. E ganhando verdadeiras fortunas porque atingiram objetivos teóricos que nada tem a ver com o sistema produtivo.
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Que recordação o senhor pretende deixar, após o fim de seu mandato, em dezembro de 2010?
Não me faço este tipo de pergunta. Sabe, vivi cinquenta e sete anos sem ser presidente e, depois de ter sido, não me deixo influenciar pela função. Garanto que meu ego não cresceu nem um milímetro sequer. O que cresceu, em contrapartida, foram minhas responsabilidades e minha jornada de trabalho. Quando trabalhava na indústria, sabia que começava às 8 para terminar às 18 horas. Tinha meu sábado e meu domingo. A imprensa não me conhecia. Era um homem tranquilo. Hoje, não tenho horário fixo, nem sábados, nem domingos. Então, depois de 2010 farei o que recomenda nosso cantor popular Zeca Pagodinho na música Deixa a vida me levar: deixarei a vida me levar.
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