Acabo de ler o livro Radical Chique e o Novo Jornalismo, da Editora Cia. das Letras. Tirando uns probleminhas (irritantes é verdade) aqui e acolá de tradução, trata-se de uma leitura indispensável para os amantes de um bom texto. O livro em questão é a reunião de um ensaio de Wolfe em que ele tenta explicar a magia do Novo Jornalismo, que como ele lembra "a literatura mais importante escrita hoje na América é de não-ficção, com a forma que foi, embora sem elegância, rotulada de Novo Jornalismo." Logo após esse ensaio em que se por um lado didaticamente o autor nos mostra o processo criativo e trabalhoso dessa forma de literatura - Segundo Wolfe, o Novo Jornalismo contempla quatro pontos compostos pelos relatos cena por cena, o uso preciso do diálogo, a anotação dos detalhes e o ponto de vista de alguns dos personagens em cada cena."É uma definição muito técnica. Permanece dentro dos limites do jornalismo, mas utiliza os elementos que tornaram muito popular a literatura", por outro pelo menos em minha modéstia opinião escorrega em críticas desnecessárias a outros estilos literários, como se realmente fosse necessário e obrigatório que toda literatura seja baseada na realidade, como por exemplo nestas falas: os poetas "devem sair de seus quartos e averiguar as diferentes coisas que existem no mundo" porque assim "vão tropeçar com coisas que nunca pensavam que poderiam ver"."A não ser que saiam e as vejam, nunca as conhecerão. Os detalhes se encontram quando um se submerge na vida do outro".
De todo modo, o melhor vem em seguida, qual seja a seleção de três belos exemplos de Novo Jornalismo de autoria de Wolfe: O último herói americano, A garota do ano e Radical Chique. Sob esse texto, fiquemos com as inovações linguísticas do próprio Wolfe HUUUUUUUUUUUUUUUUMMM!!!!!!! Radical Chique realmente é um divisor de águas. Um marco. Para entender essa revolução somente lendo o ótimo pósfacio de Joaquim dos Santos denominado Abaixo o jornalismo bege, sim porque é disto que se trata: abaixo esse pseudo-jornalismo, de baixa qualidade tão bem denominado por Joaquim como jornalismo declaratório por telefone, pois sim se o Wolfe exige que os poetas visitem as ruas, imagina seu desgosto com esse jornalismo de telefone e fechado nas redações. Aliás como deixa entrever Wolfe em vários trechos: a redação é o aprisionamento da reportagem. Recomendo enormemente a leitura do livro e do ótimo pósfacio de Joaquim. Abaixo o Jornalismo Bege!!!!!!!!! e principalmente o jornalismo internetequês. Arghhhh!!!! Ah... não sei como você leitor fará? mas leia Radical Chique, pois ler uma reportagem após esse texto nunca será a mesma coisa (parafraseando o Alberto Dines do Observatótio da Imprensa). Reportagem, eu disse reportagem? Mas Radical chique é uma reportagem? ou será um conto? ou melhor será um belo ensaio sobre a burguesia de Nova York? Ou SERÁ UM ARTIGO? ou será um romance? Como nos lembra Wolfe é tudo isso e ao mesmo tempo!!!!!!!!! UHU!!!! é REALIDADE, ora se escreves sobre alucinados, sua escrita também é alucinada, se escreves sobre produtores de whisky do meio oeste na época da grande depressão, idem, a linguagem deve ser do mesmo tom. Viva Wolfe e o fim das convenções. Aliás como diz Wolfe pontuação e sintaxe são convenções. Utilize as que te satisfaçam mais. Viva as grandes reportagens. Viva Rolling Stones, Esquire, NEW YORKER, New York Magazine, NY Rewien of Books, New Left, Antlantic e etc (peninha para Você, se for como eu um troglodita. Bem feito quem manda ser monolingue...como eu!? estás perdendo). Sim meus caros, sim... nada de Brasil. Infelizmente por aqui é só jornalismo chapa branca. Infelizmente não pode ler Realidade, Visão e outros ícones do bom jornalismo brasileiro, onde a reportagem era a rainha do noticioso. Como suspiro fica aqui, o registro de alguns projetos novos nessa direção como Piauí e Brasileiros. Bom agora vou correr atrás de outras feras do New Journalism e do Novo Jornalismo brasileiro, aqui destaca-se o saudoso Joel Silveira e dos vivos Ricardo Kotscho, o grande Hamilton Nogueira entre outros.
Ps: Wolfe começou jornalista da realidade e terminou romancista. Publicou dezenas de livros e foi um dos maiores, sim já que ainda somos antiquados lá vem os malditos rótulos que ele criticava, um dos maiores cronistas da América do século XX. Escreveu sobre drogas, corrupção, ganância, sociedade, sexo. Sempre com os olhos nas ruas.
Para terminar trecho do pósfacio do Joaquim Santos:
" A reportagem especial está fora de moda no Brasil. Não adianta procurar nos jornais ou nas revistas semanais. Não las hay. Como se fosse um bambolê, uma anágua ou um emplastro Sabiá. Já era. Démodée. Esse tipo de reportagem ao sabor Tom Wolfe, com o repórter em campo, participando da cena, ouvindo seus participantes, gastando alguns dias de investigação para ter o controle absoluto do assunto e depois contá-lo no capricho, investindo na subjetividade e na inteligência sutil...1. Ih, meu filho, isso não vende jornal.2. Ih, meu amigo, o leitor não tem mais tempo para ler isso tudo.3. Ih, isso é coisa de intelectual, agora o leitor quer tudo mastigadinho, em tópicos, assim, l, 2, 3.
O jornalismo declaratório é o grande vencedor do momento, e a ele enviamos daqui as batatas e também suas queridas aspas recolhidas por telefone. Os repórteres estão presos na redação, apurando por e-mail o que a autoridade tem a declarar. Quando saem à rua, não se concentram em nada com exclusividade, porque é preciso apurar várias histórias por dia. As matérias ficaram curtas, ao estilo USA Today. As redações, menores.Ufa! Que pedreira!"
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