Abaixo dois textos que explicam muito da ocupação israelense sobre o território Palestino. E sobre o Holocausto da população palestina.
O primeiro é um texto definitivo sobre a cobertura da mídia e sua "isenção" na cobertura do massacre. Isenção essa que se fosse verdadeira já seria absurda, por que cumplice desse vergonhoso epsódio. E o segundo é uma declaração de Jimmy Carter, ex-presidente norte-americano e observador da ONU. Não é por outro motivo que Carter o maior presidente dos EUA no último meio século é tão odiado pelo establishment.
Do Blog Amalgama: http://www.amalgama.blog.br/01/2009/bbc-sem-olhos-em-gaza/
BBC: sem olhos em Gaza
7–01–2009
Muhammad Idrees Ahmad, na Electronic Intifada/6 de janeiro
Dia 29 de fevereiro do ano passado, a página da BBC na internet mostrou um dos assessores do ministro da Defesa israelense, deputado Matan Vilnai, ameaçando Gaza de “um holocausto”. Com manchete em que se lia “Israel ameaça Gaza de ‘holocausto’”, a matéria passou por nove revisões nas 12 horas seguintes. Antes do fim do dia, a manchete dizia “Militantes pró-Gaza ‘arriscam-se a sofrer um desastre’”. (Depois, a matéria continuou a ser modificada, acrescida de uma nota de desculpas). Um funcionário do governo de Israel que ameaça alguém de “holocausto” pareceu inadmissível, até para quem rotineiramente invoca o mesmo espectro para afastar qualquer crítica que apareça contra o comportamento criminoso do Estado de Israel. Mas a nova versão da manchete jogou toda a responsabilidade e a culpabilidade claramente sobre os “militantes pró-Gaza”.
Poder-se-ia argumentar que a radical alteração que a BBC promoveu na história refletiria a sensibilidade da rede ao tipo de pressão pela qual é bem conhecida a bem azeitada máquina do lobby israelense. Mas, como se pode demonstrar com vários exemplos, essa história só é excepcional porque, na primeira versão, o fato foi corretamente noticiado – e divulgou-se informação correta que poderia arranhar a imagem de Israel. A BBC autocensurou-se. Mais uma vez, censura reflexa.
Para encontrar provas do jornalismo vicioso que a BBC pratica, basta recolher amostras do noticiário sobre a guerra em curso entre Israel e Palestina que se vê hoje na internet. Em momento de conflito declarado, a cobertura da BBC acompanha invariavelmente o ponto de vista de Israel. Mais do que em qualquer outro aspecto, vê-se isso nos aspectos semânticos e no enfoque da reportagem. Mais do que o viés quantitativo (aspecto que foi meticulosamente examinado pelo Glasgow University Media Group, em estudo intitulado “Más notícias de Israel”), é o viés qualitativo que, de fato, encobre a realidade da situação. Isso se faz, quase sempre, construindo-se uma falsa paridade, um falso equilíbrio, falsificando-se uma isenção jornalística que iguala tudo, o poder, as culpas, a legitimidade, também do jornalismo. No atual conflito, tudo se repete.
“Líder do Hamas morto em ataque aéreo” foi a manchete da página da BBC, na quinta-feira. À parte a manchete que “legaliza” uma morte, são 14 parágrafos e mais a necessária referência a quatro israelenses mortos, antes da informação de que “pelo menos mais nove pessoas morreram, entre as quais quatro membros da família do líder assassinado, no bombardeio contra sua casa, no campo de refugiados de Jabaliya.”
Na verdade, houve 16 mortos, 11 dos quais crianças; 12 feridos, 5 dos quais crianças; 10 casas foram destruídas e mais 12 ficaram abaladas e ainda podem desabar. Na verdade, foi um massacre, uma carnificina.
Se o Hamas bombardeasse e matasse 28 cidadãos israelenses, dos quais 16 crianças… a cobertura seria diferente. Seria infindável. Seria o que foi a cobertura da BBC para a evacuação dos colonos israelenses legalmente instalados em Gaza, em 2005, em terra roubada. Mike Sergeant, da BBC, baseado em Jerusalém, não é homem de sentimentalismos. Então, não há civis mortos na Palestina. A tragédia da Palestina é uma massa de corpos sanguinolentos que Sergeant coroa com “é clara indicação de que os militares israelenses sabem onde estão escondidos os líderes do Hamas.”
“Israel reage ao ataque do Hamas” foi a manchete obscena do dia seguinte, na primeira página. Com a palavra Hamas sempre antecedida de “terroristas do” ou “militantes do” e sempre sobre imagens de corpos mutilados e destroços, o leitor médio facilmente aceita que não pode haver nada pior do que o Hamas. “Deu na internet” que a quarta mais poderosa máquina de matar do mundo está enfrentando um exército muito maior, mais cruel, mais poderoso, chamado Hamas, na Palestina. Depois, a BBC informou que, dentre outros “alvos”, Israel bombardeou uma mesquita e uma família que dormia em casa.
A manchete da BBC, no mesmo dia, horas mais tarde – “Gaza enfrenta ‘emergência crítica’” – foi ainda melhor. No texto, cita-se Maxwell Gaylard, coordenador do auxílio humanitário da ONU na região, que fala da extensão da crise humanitária. Depois, o alerta da Oxfam: a situação piora dia a dia; não há água potável, combustível, comida; os hospitais estão sobrecarregados e os esgotos vazam nas calçadas.
Em seguida, vem “o outro lado”: Israel declarou, informa a BBC, que “não faltam nem comida nem remédios”. Não seria difícil verificar quem mente e quem diz a verdade. Mas a investigação, nesse caso, provavelmente violaria “o reconhecido padrão de isenção da BBC.”
Há outro motivo, mais mundano, pelo qual a BBC não investigou, mas está escondido na linha do artigo.
Israel, lemos ali, “recusa-se a permitir a entrada de jornalistas internacionais em Gaza” (incluídos na proibição, é claro, jornalistas da BBC). Qualquer boa ética jornalística obrigaria a informar, na primeira linha, que ninguém sabe o que está acontecendo em Gaza. Que o jornalismo mundial alimenta-se hoje dos folhetos de propaganda distribuídos pelo exército de Israel.
O ato final da chicana vem em forma de barra lateral, na qual se contabiliza o número de Qassam disparados pelos palestinos por dia no conflito. Inacreditável, mas em matéria jornalística que se oferece como análise das consequências do bloqueio e dos bombardeios feitos por Israel, não se contabilizam os mísseis e bombas de fragmentação e de fósforo e a artilharia pesada, de Israel, que chove sobre a Palestina.
A fonte da qual a BBC recolhe suas informações isentas é o Intelligence and Terrorism Information Center, de Israel. A BBC não noticia que se trata de um instituto “privado” (um think tank), órgão do cinturão militar de propaganda israelense que, de acordo com o The Washington Post, “é diretamente ligado às lideranças militares israelenses e mantém escritório no prédio do ministério da Defesa.” Falas de palestinos, por sua vez, jamais são confiáveis e sempre aparecem entre aspas… por mais que seja facílimo verificar se são fato, ou se são propaganda comprada.
As aspas são sinal muito útil para mostrar que ali pode haver alguma mentira, algum interesse ocultado, alguma opinião pela qual a BBC não se responsabiliza. É recurso útil, se for aplicado com critério. Na BBC, não é.
Para ficarmos só num exemplo: depois da guerra do Líbano, quando a Anistia Internacional acusou os dois lados, Israel e o Hezbolá, de terem praticado crimes de guerra, a acusação feita a Israel apareceu, na página da BBC, entre aspas. A acusação feita ao Hezbolá… foi publicada sem aspas.
Assim, com manipulação sutil – e também com manipulação nada sutil – da linguagem, a BBC está ocultando de seus leitores a horrenda realidade da Palestina ocupada.
No léxico da reportagem da BBC, os palestinos “morrem”, os israelenses “são mortos” (”morrer” implica causas naturais; “ser morto” implica ser assassinado… pelo Hamas); os palestinos “provocam”, os israelenses “respondem”; os palestinos “alegam”, os israelenses “declaram”.
Além disso, escolas, mesquitas, universidade e postos de policiamento de trânsito são órgãos da “infra-estrutura do terror do Hamas”; os “militantes” “enfrentam” aviões F-16s e helicópteros Apache. O “terrorismo” é item presente no DNA dos palestinos; os israelenses “defendem-se” – sempre, todos os dias, fora das fronteiras de Israel.
Todos os debates, comecem onde começarem e sejam quais forem os fatores ou as circunstâncias, estão relacionados com a “segurança” de Israel – os palestinos não precisam de segurança. Se se fala do muro que cerca terra anexada na Cisjordânia, só se fala da “efetividade” da barreira (de segurança). Nos casos, muito raros, em que se ouça alguma voz palestina articulada, o debate é introduzido por matéria pré-editada, que visa a pô-la na defensiva. Quando tudo falha, sempre há o excelente argumento da “isenção”. Quando a BBC não consegue acomodar os fatos em imagens, então recorre aos recursos de linguagem.
E há os contextos: a violência praticada por Israel sempre é analisada em termos de “objetivos”; a violência palestina é sempre “absurda”. O leitor médio é manipulado. E a palavra “ocupação” praticamente jamais apareceu na cobertura feita pela BBC. Nas últimas 20 matérias publicadas sobre Gaza, na página da BBC, ela não aparece nem uma vez. E, se “ocupação” apareceu alguma vez, a expressão “resoluções da ONU”, essa, jamais foi ouvida ou lida. Na televisão é ainda pior, e o ponto de vista de Israel predomina absolutamente.
(…)
* Muhammad Idrees Ahmad é militante da Spinwatch.org. Seu blog está em Fanonite.org. Para ler o artigo acima na íntegra e no original, clique aqui. Tradução: Caia Fittipaldi.
7–01–2009
Muhammad Idrees Ahmad, na Electronic Intifada/6 de janeiro
Dia 29 de fevereiro do ano passado, a página da BBC na internet mostrou um dos assessores do ministro da Defesa israelense, deputado Matan Vilnai, ameaçando Gaza de “um holocausto”. Com manchete em que se lia “Israel ameaça Gaza de ‘holocausto’”, a matéria passou por nove revisões nas 12 horas seguintes. Antes do fim do dia, a manchete dizia “Militantes pró-Gaza ‘arriscam-se a sofrer um desastre’”. (Depois, a matéria continuou a ser modificada, acrescida de uma nota de desculpas). Um funcionário do governo de Israel que ameaça alguém de “holocausto” pareceu inadmissível, até para quem rotineiramente invoca o mesmo espectro para afastar qualquer crítica que apareça contra o comportamento criminoso do Estado de Israel. Mas a nova versão da manchete jogou toda a responsabilidade e a culpabilidade claramente sobre os “militantes pró-Gaza”.
Poder-se-ia argumentar que a radical alteração que a BBC promoveu na história refletiria a sensibilidade da rede ao tipo de pressão pela qual é bem conhecida a bem azeitada máquina do lobby israelense. Mas, como se pode demonstrar com vários exemplos, essa história só é excepcional porque, na primeira versão, o fato foi corretamente noticiado – e divulgou-se informação correta que poderia arranhar a imagem de Israel. A BBC autocensurou-se. Mais uma vez, censura reflexa.
Para encontrar provas do jornalismo vicioso que a BBC pratica, basta recolher amostras do noticiário sobre a guerra em curso entre Israel e Palestina que se vê hoje na internet. Em momento de conflito declarado, a cobertura da BBC acompanha invariavelmente o ponto de vista de Israel. Mais do que em qualquer outro aspecto, vê-se isso nos aspectos semânticos e no enfoque da reportagem. Mais do que o viés quantitativo (aspecto que foi meticulosamente examinado pelo Glasgow University Media Group, em estudo intitulado “Más notícias de Israel”), é o viés qualitativo que, de fato, encobre a realidade da situação. Isso se faz, quase sempre, construindo-se uma falsa paridade, um falso equilíbrio, falsificando-se uma isenção jornalística que iguala tudo, o poder, as culpas, a legitimidade, também do jornalismo. No atual conflito, tudo se repete.
“Líder do Hamas morto em ataque aéreo” foi a manchete da página da BBC, na quinta-feira. À parte a manchete que “legaliza” uma morte, são 14 parágrafos e mais a necessária referência a quatro israelenses mortos, antes da informação de que “pelo menos mais nove pessoas morreram, entre as quais quatro membros da família do líder assassinado, no bombardeio contra sua casa, no campo de refugiados de Jabaliya.”
Na verdade, houve 16 mortos, 11 dos quais crianças; 12 feridos, 5 dos quais crianças; 10 casas foram destruídas e mais 12 ficaram abaladas e ainda podem desabar. Na verdade, foi um massacre, uma carnificina.
Se o Hamas bombardeasse e matasse 28 cidadãos israelenses, dos quais 16 crianças… a cobertura seria diferente. Seria infindável. Seria o que foi a cobertura da BBC para a evacuação dos colonos israelenses legalmente instalados em Gaza, em 2005, em terra roubada. Mike Sergeant, da BBC, baseado em Jerusalém, não é homem de sentimentalismos. Então, não há civis mortos na Palestina. A tragédia da Palestina é uma massa de corpos sanguinolentos que Sergeant coroa com “é clara indicação de que os militares israelenses sabem onde estão escondidos os líderes do Hamas.”
“Israel reage ao ataque do Hamas” foi a manchete obscena do dia seguinte, na primeira página. Com a palavra Hamas sempre antecedida de “terroristas do” ou “militantes do” e sempre sobre imagens de corpos mutilados e destroços, o leitor médio facilmente aceita que não pode haver nada pior do que o Hamas. “Deu na internet” que a quarta mais poderosa máquina de matar do mundo está enfrentando um exército muito maior, mais cruel, mais poderoso, chamado Hamas, na Palestina. Depois, a BBC informou que, dentre outros “alvos”, Israel bombardeou uma mesquita e uma família que dormia em casa.
A manchete da BBC, no mesmo dia, horas mais tarde – “Gaza enfrenta ‘emergência crítica’” – foi ainda melhor. No texto, cita-se Maxwell Gaylard, coordenador do auxílio humanitário da ONU na região, que fala da extensão da crise humanitária. Depois, o alerta da Oxfam: a situação piora dia a dia; não há água potável, combustível, comida; os hospitais estão sobrecarregados e os esgotos vazam nas calçadas.
Em seguida, vem “o outro lado”: Israel declarou, informa a BBC, que “não faltam nem comida nem remédios”. Não seria difícil verificar quem mente e quem diz a verdade. Mas a investigação, nesse caso, provavelmente violaria “o reconhecido padrão de isenção da BBC.”
Há outro motivo, mais mundano, pelo qual a BBC não investigou, mas está escondido na linha do artigo.
Israel, lemos ali, “recusa-se a permitir a entrada de jornalistas internacionais em Gaza” (incluídos na proibição, é claro, jornalistas da BBC). Qualquer boa ética jornalística obrigaria a informar, na primeira linha, que ninguém sabe o que está acontecendo em Gaza. Que o jornalismo mundial alimenta-se hoje dos folhetos de propaganda distribuídos pelo exército de Israel.
O ato final da chicana vem em forma de barra lateral, na qual se contabiliza o número de Qassam disparados pelos palestinos por dia no conflito. Inacreditável, mas em matéria jornalística que se oferece como análise das consequências do bloqueio e dos bombardeios feitos por Israel, não se contabilizam os mísseis e bombas de fragmentação e de fósforo e a artilharia pesada, de Israel, que chove sobre a Palestina.
A fonte da qual a BBC recolhe suas informações isentas é o Intelligence and Terrorism Information Center, de Israel. A BBC não noticia que se trata de um instituto “privado” (um think tank), órgão do cinturão militar de propaganda israelense que, de acordo com o The Washington Post, “é diretamente ligado às lideranças militares israelenses e mantém escritório no prédio do ministério da Defesa.” Falas de palestinos, por sua vez, jamais são confiáveis e sempre aparecem entre aspas… por mais que seja facílimo verificar se são fato, ou se são propaganda comprada.
As aspas são sinal muito útil para mostrar que ali pode haver alguma mentira, algum interesse ocultado, alguma opinião pela qual a BBC não se responsabiliza. É recurso útil, se for aplicado com critério. Na BBC, não é.
Para ficarmos só num exemplo: depois da guerra do Líbano, quando a Anistia Internacional acusou os dois lados, Israel e o Hezbolá, de terem praticado crimes de guerra, a acusação feita a Israel apareceu, na página da BBC, entre aspas. A acusação feita ao Hezbolá… foi publicada sem aspas.
Assim, com manipulação sutil – e também com manipulação nada sutil – da linguagem, a BBC está ocultando de seus leitores a horrenda realidade da Palestina ocupada.
No léxico da reportagem da BBC, os palestinos “morrem”, os israelenses “são mortos” (”morrer” implica causas naturais; “ser morto” implica ser assassinado… pelo Hamas); os palestinos “provocam”, os israelenses “respondem”; os palestinos “alegam”, os israelenses “declaram”.
Além disso, escolas, mesquitas, universidade e postos de policiamento de trânsito são órgãos da “infra-estrutura do terror do Hamas”; os “militantes” “enfrentam” aviões F-16s e helicópteros Apache. O “terrorismo” é item presente no DNA dos palestinos; os israelenses “defendem-se” – sempre, todos os dias, fora das fronteiras de Israel.
Todos os debates, comecem onde começarem e sejam quais forem os fatores ou as circunstâncias, estão relacionados com a “segurança” de Israel – os palestinos não precisam de segurança. Se se fala do muro que cerca terra anexada na Cisjordânia, só se fala da “efetividade” da barreira (de segurança). Nos casos, muito raros, em que se ouça alguma voz palestina articulada, o debate é introduzido por matéria pré-editada, que visa a pô-la na defensiva. Quando tudo falha, sempre há o excelente argumento da “isenção”. Quando a BBC não consegue acomodar os fatos em imagens, então recorre aos recursos de linguagem.
E há os contextos: a violência praticada por Israel sempre é analisada em termos de “objetivos”; a violência palestina é sempre “absurda”. O leitor médio é manipulado. E a palavra “ocupação” praticamente jamais apareceu na cobertura feita pela BBC. Nas últimas 20 matérias publicadas sobre Gaza, na página da BBC, ela não aparece nem uma vez. E, se “ocupação” apareceu alguma vez, a expressão “resoluções da ONU”, essa, jamais foi ouvida ou lida. Na televisão é ainda pior, e o ponto de vista de Israel predomina absolutamente.
(…)
* Muhammad Idrees Ahmad é militante da Spinwatch.org. Seu blog está em Fanonite.org. Para ler o artigo acima na íntegra e no original, clique aqui. Tradução: Caia Fittipaldi.
Do blog Biscoito Fino e a Massa: http://www.idelberavelar.com/
Jimmy Carter conta como Israel rompeu o cessar-fogo
O escalão superior do Hamas em Damasco, no entanto, concordou em considerar um cessar-fogo em Gaza desde que Israel prometesse não atacar e permitisse a entrega de ajuda humanitária aos cidadãos palestinos.
Depois de extensas discussões, os líderes do Hamas também aceitaram qualquer acordo de paz que pudesse ser negociado entre os israelenses e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que também lidera a OLP, desde que fosse aprovado pela maioria dos palestinos em um referendo ou por governo de unidade eleito.
Uma vez que éramos apenas observadores, não negociadores, passamos a informação aos egípcios e eles buscaram uma proposta de cessar-fogo. Depois de cerca de um mês, os egípcios e o Hamas nos informaram que a ação militar dos dois lados e os foguetes iam parar em 19 de junho, por um período de seis meses, e que a ajuda humanitária seria restaurada ao nível normal que existia antes da retirada de Israel em 2005 (cerca de 700 caminhões por dia).
Fomos incapazes de confirmar isso em Jerusalém por causa da decisão de Israel de não admitir qualquer negociação com o Hamas, mas os lançamentos de foguetes logo pararam e houve aumento na entrega de comida, água, remédios e combustível. Ainda assim o aumento foi para cerca de 20% do nível original [de 700 caminhões]. E esse cessar-fogo frágil foi parcialmente rompido em 4 de novembro, quando Israel lançou um ataque em Gaza (fonte em português; original em inglês aqui).
Nesse ataque, Israel assassinou sete palestinos. A posição do Biscoito Fino e a Massa é de que jamais houve “trégua” nenhuma, pois não se pode falar de trégua quando uma população vive enjaulada, sem ter sequer o direito de recolher seus impostos ou controlar suas fronteiras. Mas mesmo que usemos o termo “trégua” no sentido em que a mídia, em geral, utiliza-o para se referir à Palestina Ocupada -- ou seja, “trégua” consiste em que os palestinos continuem vivendo calados, como escravos, nas suas próprias terras --, mesmo assim, o fato, a verdade, é que a trégua foi rompida por Israel, quando invadiu Gaza no dia 04 de novembro e assassinou sete palestinos, depois de meses inteiros em que o Hamas não havia lançado rojões Qassam sobre território israelense.
Stephen Zunes, especialista da Universidade de San Francisco, disse com todas as letras: foi uma enorme, enorme provocação, e agora me parece que o objetivo era mesmo fazer com que o Hamas rompesse o cessar-fogo. Amigo leitor: nada, nada, nada disso foi relatado pela mídia ocidental. É como se a invasão do 04 de novembro não tivesse acontecido.
Por que Israel escolheu o dia 04 de novembro para romper a trégua? Ora, caro leitor, lembre-se do que acontecia nos EUA no dia 04 de novembro. Não é difícil adivinhar. O obviedade
O escalão superior do Hamas em Damasco, no entanto, concordou em considerar um cessar-fogo em Gaza desde que Israel prometesse não atacar e permitisse a entrega de ajuda humanitária aos cidadãos palestinos.
Depois de extensas discussões, os líderes do Hamas também aceitaram qualquer acordo de paz que pudesse ser negociado entre os israelenses e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que também lidera a OLP, desde que fosse aprovado pela maioria dos palestinos em um referendo ou por governo de unidade eleito.
Uma vez que éramos apenas observadores, não negociadores, passamos a informação aos egípcios e eles buscaram uma proposta de cessar-fogo. Depois de cerca de um mês, os egípcios e o Hamas nos informaram que a ação militar dos dois lados e os foguetes iam parar em 19 de junho, por um período de seis meses, e que a ajuda humanitária seria restaurada ao nível normal que existia antes da retirada de Israel em 2005 (cerca de 700 caminhões por dia).
Fomos incapazes de confirmar isso em Jerusalém por causa da decisão de Israel de não admitir qualquer negociação com o Hamas, mas os lançamentos de foguetes logo pararam e houve aumento na entrega de comida, água, remédios e combustível. Ainda assim o aumento foi para cerca de 20% do nível original [de 700 caminhões]. E esse cessar-fogo frágil foi parcialmente rompido em 4 de novembro, quando Israel lançou um ataque em Gaza (fonte em português; original em inglês aqui).
Nesse ataque, Israel assassinou sete palestinos. A posição do Biscoito Fino e a Massa é de que jamais houve “trégua” nenhuma, pois não se pode falar de trégua quando uma população vive enjaulada, sem ter sequer o direito de recolher seus impostos ou controlar suas fronteiras. Mas mesmo que usemos o termo “trégua” no sentido em que a mídia, em geral, utiliza-o para se referir à Palestina Ocupada -- ou seja, “trégua” consiste em que os palestinos continuem vivendo calados, como escravos, nas suas próprias terras --, mesmo assim, o fato, a verdade, é que a trégua foi rompida por Israel, quando invadiu Gaza no dia 04 de novembro e assassinou sete palestinos, depois de meses inteiros em que o Hamas não havia lançado rojões Qassam sobre território israelense.
Stephen Zunes, especialista da Universidade de San Francisco, disse com todas as letras: foi uma enorme, enorme provocação, e agora me parece que o objetivo era mesmo fazer com que o Hamas rompesse o cessar-fogo. Amigo leitor: nada, nada, nada disso foi relatado pela mídia ocidental. É como se a invasão do 04 de novembro não tivesse acontecido.
Por que Israel escolheu o dia 04 de novembro para romper a trégua? Ora, caro leitor, lembre-se do que acontecia nos EUA no dia 04 de novembro. Não é difícil adivinhar. O obviedade
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