domingo, 9 de março de 2008

O mais lúcido depoimento a respeito da guerra Israel-Palestina

Abaixo o mais lúcido depoimento a respeito da guerra Israel-Palestina do israelense Amos Oz. Do Blog do Pedro Dória.

Minha definição de tragédia é o choque entre quem está certo e quem também está certo. Neste sentido, o conflito entre Israel e Palestina é uma tragédia, o confronto entre um poderoso, convincente e doloroso argumento pela posse desta terra e outro igualmente poderoso, convincente e doloroso argumento. Este tipo de conflito pode ser resolvido de duas formas. A tradição shakesperiana resolve a tragédia com o palco, no final da peça, coberto de corpos mortos. Mas também há a tradição de Anton Tchekov. Na conclusão de uma tragédia de Tchekov, todo mundo está desapontado, desiludido, amargurado, todos têm o coração partido. Mas estão vivos. O que busco não é um fim sentimental de amor fraterno, de uma repentina lua de mel entre israelenses e palestinos. A mim, basta um final à moda de Tchekov.

O que sinto é que pela primeira vez em cem anos de conflito, os dois povos, israelenses e palestinos, estão à frente de seus líderes. Os dois povos sabem que, no fim, haverá dois países. Não gostam da solução. Você vai encontrar milhares de pessoas frustradas em ambos os lados. Mas eles sabem. Se você fizer uma pesquisa perguntando a todo judeu israelense e todo árabe palestino ‘o que você considera uma solução justa?’, ‘o que você acha que acontecerá no fim das contas’, imagino que a vasta maioria responderá que é o compromisso com a solução que prevê dois Estados. É um avanço.

As duas nações são atormentadas pelo passado. O judeu israelense quanto o árabe palestino são vítimas da Europa de duas formas distintas. Os árabes sofreram com o colonialismo, o imperialismo, a opressão e a exploração. Os judeus com a supressão, a discriminação e, por fim, com o genocídio. Agora, as duas vítimas do mesmo opressor não se tornam necessariamente irmãos. Dois filhos do mesmo pai cruel não necessariamente e abraçam. Às vezes, as piores rivalidades, na vida particular ou na pública, são justamente os conflitos entre duas vítimas do mesmo opressor. Dois filhos do mesmo pai cruel olham um para o outro e vêem a imagem daquele pai cruel, a imagem de seu opressor passado. É o que acontece entre o judeu e o árabe. É o conflito entre duas vítimas.



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