Carta do II Encontro Estadual dos Quilombolas do Pará
Belém, 16 de março de 2008
As associações de comunidades remanescentes de quilombo do Estado Pará filiadas a
MALUNGU reunidas no II Encontro Estadual dos Quilombolas do Pará nos dias
14 a 18 de março de 2008, na cidade de Belém, vêm manifestar seu repúdio à alteração
da Instrução Normativa Incra nº 20 de 2005 que regulamenta o processo administrativo
de reconhecimento de domínio dos territórios quilombolas.
A decisão de alterar a instrução normativa atende aos interesses contrários ao reconhecimento
dos direitos quilombolas que se manifestaram em projetos legislativos e na imprensa ao
longo de todo o ano de 2007.
Apesar da publicação de alguns poucos relatórios de identificação e portarias da presidência
do Incra, as titulações não estão acontecendo. O governo Lula até hoje titulou apenas sete
terras quilombolas. E esse Quadro com certeza irá piorar se a instrução do Incra for alterada
como planeja a Advocacia Geral da União.
A proposta apresentada pelo governo resultará na burocratização ainda maior do processo de
emissão dos títulos, criando exigências descabidas e que não estão previstas no Decreto 4.887/
2003. Os relatórios técnicos de identificação e delimitação (RTID) serão transformados em
estudos de alto grau burocrático e detalhamento que não se justificam em um documento
para tal finalidade. As novas exigências transformam o RTID em um obstáculo à conclusão
dos processos.
O processo que resultou na minuta da nova instrução deu-se apenas entre órgãos do governo
federal sem transparência ou consulta aos quilombolas. Em dezembro, o governo tentou
reunir os quilombolas para aprovar a minuta sem oferecer tempo e condições para uma real
discussão do documento. Os quilombolas de todo o país se recusaram a participar da falsa
consulta.
Agora, os quilombolas são novamente surpreendidos com a notícia de Consulta sobre a
minuta. Matéria divulgada no site da Advocacia Geral da União, no dia 14 de março, anuncia
a realização de dois seminários regionais no início de abril "para discutir e definir a questão da
demarcação de terras de comunidades quilombolas". No entanto, não houve um convite
oficial até o momento nem foram revelados os critérios para participação, o local do evento
ou como vai ser viabilizada a presença dos quilombolas.
A Malungu reafirma que esse tipo convocação não é uma verdadeira consulta que garanta a
transparência e a real democracia nas relações de decisão. Ao invés de alterar as normas existentes,
o governo federal deve cumprir a Constituição e garantir os direitos territoriais dos quilombolas
por meio da titulação de suas terras.
Malungu
Av. Senador Lemos, 557
Belém - Pará - 66.050-000
Fone: (91) 3241.5829
e-mail: http://br.f657.mail.yahoo.com/ym/Compose?To=malungu.pa@hotmail.com&YY=84395&y5beta=yes&y5beta=yes&order=down&sort=date&pos=0&view=a&head=b
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