sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Músicas, músicas e férias

Amigos, depois de um longo tempo de muita correria profissional e acadêmica estou tendo alguns dias de folgas (olha já até me desacostumei a falar a palavra férias). O bom dessas pequenas férias é que me liberei de outros afazeres (até parece né...mas estou mais livre) até pelo menos o dia 05 de janeiro e isso tem me permitido fazer o que mais gosto. Ou seja, ouvir música.

Como é sabido por alguns eu amo (e não tem exagero nessa expressão) a antropologia, mas serei sempre um frustrado, por não ser músico ou trabalhar com música. Por iso ouço tanta música. Aliás gosto tanto de música que já pensei várias vezes em estudá-la do ponto de vista das ciências sociais, mas gosto tanto que não consigo distanciamento crítico. Mas estava repensando sobre isso esses dias, quando estou podendo ouvir boas músicas e novamente me deu vontade de escrever sobre o tema... quem sabe no futuro, quem sabe até pensarmos em um grupo de estudo sobre esse tema tão relegado em nossas ciências sociais da UFMG. Tudo isso para dizer que cada vez mais aprofundo minhas pesquisas amadoras sobre as músicas brasileiras que se referem ao universo das religiões afro-brasileira. E cada vez me surpreendo mais, com o grande número de músicas, gravações sobre o tema. Durante os anos sessenta e setenta as religiões afro tiveram grande repercussão na vida cultural brasileira, a ponto de vários e importantes artista se converterem a essas religiões, tal conversão somada a genialidade musical brasileira nos presenteou com grandes obras. Após os anos 80 com a assunção das neo-petencostais vemos um influxo e (até mesmo a perseguição) dessas formas culturais. Todo esse tema daria um belo estudo de pós-graduação.

O fato é que temos excelentes canções e belos álbuns, entre os quais destacamos a vastíssima obra de Clara Nunes, a persistência desse tema em toda a obra de Maria Bethania (com destaque para um dos maiores discos de todos os tempos, na opinião desse que escreve- Brasileirinho) Gilberto Gil, Jorge Ben e outros. Aliás minha outra grande e imensa paixão que poderia se juntar no tal projeto de pós-graduação é a chamada Soul Music. E ai podemos ver como no Brasil estes dois temas se embricaram. Aliás e infelizmente a Soul Music brasileira é muito pouco comentada, mas possui obras geniais(e não digo somente musicalmente, mas também em termos de letras) não acreditam? Corram atrás.

Pretendo nos próximos dias (veja bem é só uma boa intenção- e o inferno esta cheio delas) antes de viajar novamente a trabalho dividir com Vocês um pouco dessas paixões. E de certa maneira revermos os maravilhosos afro-sambas e Cassiano, Hyldon, Simonal e outros (só como lembrete, aqui em BH sempre existiu um movimento soul forte, o pessoal que hoje promove o Baile da Saudade e o Quarteirão do Soul, pois bem converse um pouco com eles e vocês verão além de tudo a importância política desse movimento- as várias prisões de seus membros- e tente entender esse movimento dentro do contexto maior e internacional- ou seja, em consonância com as lutas do Partido Marxista Panteras Negras, Black Power e outros) enfim...

Para começar abaixo um pequeno texto sobre o Álbum "Os Afro-Sambas"de Baden Powell, Qurteto em Cy e Vinicius de Moraes, de 1966, escrito por B'side. Meus amigos não tenha dúvida Vocês estão diante de um momento histórico na música brasileira. Mas entendam ler este texto é vital para entender um pouco dessa obra, MAS NADA SUBSTITUI SUA AUDIÇÃO. É UM DISCO GENIAL, MARAVILHOSO. Os Afro-sambas foram considerados um dos 100 maiores discos de todos os tempos da música brasileira, de forma mais exata foi escolhido o 29° disco mais importante de nossa música.

Queria por fim escrever algo sobre Baden Powelll definitivamente um dos gênios da brasilidade, mas pensei melhor e preferi não escrever nada, uma vez que iria me chatear (como me chateio agora) ao perceber que este músico genial, aclamado e adorado no exterior autor das mais belos arranjos aos Órixas, já no fim da vida e convertido a uma dessas denominações neo-petencostal renegou uma das maiores obras de todos os tempos. Enfim é a vida, quem somo nós para julgá-lo, o fato é que sua obra fala por si só e é definitiva. Ainda hoje após vários anos de sua morte é aclamada e estudada nos maiores conservatórios de Música do Mundo. Por fim alguns detalhes, a sonoridade desse disco é ímpar, pois bem o gênio de Baden sempre a considerou uma gravação ruim, por fim para mim apesar de Canto de Ossanha ter virado um clássico, adoro a estupenda Canto a Xangô e canto a Iemanjá, que roga ao órixa através de uma declaração a uma moça carioca da praia, nada mais justo para homenagear Janaina. DE VERDADE RECOMENDO QUE CORRAM ATRÁS É UM DISCO ATÉ RELATIVAMENTE FÁCIL DE SE CONSEGUI NA INTERNET, MAS BAIXEM O DISCO TODO E OUÇAM COMO UM ÁLBUM.

Os_Afro-Sambas - Baden Powell, Quarteto em Cy e Vinícius de Moraes, 1966, por B'side

Considerado por muitos críticos como um divisor de águas na MPB por fundir vários elementos da sonoridade africana ao samba carioca, "Os Afro-sambas" é o segundo LP lançado pela parceria Vínicius de Moraes/Baden Powell. As oito canções apresentam uma rica e singular musicalidade, que traz uma mistura instrumentos do candomblé e da umbanda (como atabaques e afoxés) com timbres mais comuns à música brasileira (agogôs, saxofones e pandeiros). O grande destaque do álbum é a faixa de abertura "Canto de Ossanha", futuro da clássico da MPB, que conta com a participação nos vocais da atriz Betty Faria e na flauta de Nicolino Cópia.
O projeto ficou engavetado e só viu a luz do dia, quatro anos depois, em 1966. Foi quando Vinícius ofereceu o projeto à Roberto Quartin, dono do selo Forma, que produzia discos extremamente sofisticado. Quartin topou de imediato a idéia de lançar Os Afro-sambas.
Gravado entre os dias 3 e 6 de janeiro, Quartin convidou o maestro Guerra Peixe, o grupo vocal Quarteto em Cy e um coral de "músicos amadores" formado por Nelita e Teresa Drummond, Eliana Sabino (filha do escritor Fernando Sabino), Otto Gonçalves Filho e César Proença e uma jovem aspirante a atriz chamada Betty Faria.
E é Betty faria que divide os vocais com Vinícius na imortal "Canto de Ossanha" que abre o disco.Guerra Peixe optou por dar o disco uma sonoridade mais rústica, como se estivesse sendo, de fato, gravado, em um terreiro, o que acabou sendo um dos grandes charmes do disco, embora Baden criticasse justamente isso, anos depois, considerando o disco "mal gravado".
Enquanto Vinícius murmura as letras quase em tom de súplica, Betty Faria reforça as sílabas finais de cada frase, além do acompanhamento do Quarteto em Cy em quase todas as faixas.Baden era o responsável por climas todas as melodias e até cuidava da percussão. Seu toque inconfundível norteia a bela "Lamento de Exu", que encerra o disco, enquanto Vinícius voa quase solo em "Canto do Caboclo Pedra Preta". Aliás, Vinícius tentou cantar de maneira mais grave, como 'um preto velho", em faixas como "Canto de Xangô". Vale ressalatar "Bocoché", com um clima quase etéreo.O disco rendeu excelentes críticas e vendagem e solidificou de forma definitiva a carreira de Baden Powell. Após a parceria com Vinícius, Banden deixou de ser um tímido músicos que vivia de pequenas participações na noite carioca para ser um músico mundialmente famoso e indo embora do Brasil definitivamente vivendo por mais de 20 anos na França e cinco na Alemanha.

Ficha técnica

* Produção e direção artística: Roberto Quartin e Wadi Gebara
* Técnico de gravação: Ademar Rocha
* Contracapa: Vinicius de Moraes
* Fotos: Pedro de Moraes
* Capa: Goebel Weyne
* Arranjos e regência: Maestro Guerra Peixe
* Vocais: Vinicius de Moraes, Quarteto em Cy e Coro Misto
* Sax tenor: Pedro Luiz de Assis
* Sax barítono: Aurino Ferreira
* Flauta: Nicolino Cópia
* Violão: Baden Powell
* Contrabaixo: Jorge Marinho
* Bateria: Reisinho
* Atabaque: Alfredo Bessa
* Atabaque pequeno: Nelson Luiz
* Bongô: Alexandre Silva Martins
* Pandeiro: Gilson de Freitas
* Agogô: Mineirinho
* Afoxé: Adyr Jose Raimundo

Nenhum comentário: