sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Músicas, músicas e férias II

Seguindo o post anterior onde focamos os Afro-sambas de Baden Powell, Quarteto em Cy e Vinicius de Morais, agora é a vez de Moacir Santos e o maravilhoso disco chamado Coisas de 1965.
Sobre o maestro pernambucano Moacir Santos a homenagem mais bonita veio em forma de poesia música, no Samba da Benção com letra de Vinicius de Morais e música de Baden Powell, em determinado trecho da poesia, Vinicius assim se refere a Moacir:

A bênção, maestro Moacir Santos
Não és um só, és tantos como
O meu Brasil de todos os santos

Moacir foi um dos maestros mais "alto nível" que tivemos e influenciou meio mundo, figurinha de suma importância no meio musical na época da bossa nova e do cinema novo. O álbum "Coisas" é sua obra prima, foi lançado em 1965 pelo selo Forma e algumas faixas contidas nele foram trilha do filme "Ganga Zumba" de Cacá Diegues e "Os Fuzis" de Ruy Guerra lançado em 1964, essas trilhas acabaram sendo uma espécie de preparo para o disco em si. O Lp desse álbum é raríssimo e disputadíssimo, no entanto o mesmo já se encontra em CD lançado pelo selo Dubas. É mais um daqueles discos para ouvidos finos. Nossa um disco lindo que não deve em nada as grandes produções internacionais de Jazz.

Um pouco mais sobre o maestro e sua obra:
Nascido na pequena Vila Bela, em Pernambuco, migrou para o Rio de Janeiro no final da década de 40, onde começou a tocar em bailes. Logo passou a integrar a orquestra da Rádio Nacional, na qual permaneceu por 18 anos, no início como saxofonista, depois como maestro e arranjador. Foi professor de ninguém menos que Paulo Moura, Baden Powell, Nara Leão e Eumir Deodato, entre outros.
Vivendo desde o final dos anos 60 nos Estados Unidos, ficou um tanto esquecido por aqui. Com o modismo da lounge music algumas de suas Coisas pipocaram, desmerecidamente de maneira redutora, em coletâneas para fundo de conversa. Pelo menos um dos dez temas do disco, o de n.º 5, popularizado como Nanã, está no inconsciente coletivo. Depois de ganhar letra de Mário Telles, virou clássico da bossa nova. A de n.º 2 é outra das mais difundidas.

Segundo B'side, este álbum tem importância histórica:

Isto porque simboliza um manifesto abrangente sobre a grande influência da música negra na mais funda brasilidade, numa época em que qualquer atitude política simbolizava um ato e tanto de coragem. E a afirmação da negritude ainda pairava no plano da utopia. No entanto, como lembra Roberto Quartin no texto de apresentação do disco, Moacir "deu um grito de desespero afinado", sem panfletagem, "dando sentido social à música, sem que para isso se precise mediocrizá-la".

Leia abaixo o texto de Roberto Quartin, apresentação do álbum que se encontrava no encarte do Lp:


"Ao reunir suas composições, Moacir Santos criou, mais do que um disco, um documento histórico autêntico dentro do mapa da música popular brasileira. Autêntico,pois trata-se de um músico negro escrevendo música negra e não de um garoto de Ipanema contando as tristezas da favela ou de um carioca que nunca foi alémde Petrópolis a enriquecer o cancioneiro nordestino. Histórico, em primeiro lugar, por conter uma síntese completa e expressiva do formidável papel queo negro desempenhou em toda a formação de nossa música popular. Este disco é negro desde a capa até o vinilite, do músico ao som que se ouve. Também histórico,porque Moacir mostra, como um Edu Lobo ou uns poucos mais, que se pode dar um sentido social à música, sem que para isso precise mediocrizá-la.
Pode se dar um grito de desespero sem que ele seja de mal gosto e sem que para isso precisamos regredir musicalmente, para mostrar tudo isso, moacir esperou muitos anos e so o fato de ter conseguido dizer o que queria no momento em que o panorama musical brasileiro anda conturbado, onde as maiores aberrações sao aceitas e aplaudidas, o coloca definitivamente num pedestal de importancia historica de dimenções incalculaveis Moacir confere dignidade a tudo quanto escreve. É um musico que vai a raizes.
O sentido de brasilidade de uma musica é impressionante. vai as raizes, mas o faz objetivamente, dinamicamente. ele busca e ele pesquisa.
O que este seu dsico acrescenta a musica brasileira nao somente no plano harmonico, mas como no plano ritmico, vem demonstrar sobejamente esta objetividade, alem de abrir novos caminhos.
infelizmente, ultimamente o ambiente musical brasileiro, se subdividil mais do que nunca. de um lado os musicos chamados de extrema direita, ou seja, que passam a vida fazendo "amor rimar com flor" e fingindo que desprezam a outra corrente musical. de outro lado a "outra corrente musical", que gasta o tempo falando em "autenticidade", "musica do povo" e mal dos que vao pro estrangeiro divulgar a nossa musica (até que eles proprios viajam levandona bagagem um catalogo de desculpas).
O que a maioria esquece é fazer o que é bonito,o que é bom, o que é musicalmente valido e de que, antes de tudo, eles sao musicos.
Nao sei até hoje se Moacir Santos é de extrema direita ou de extrema esquerda,mas sei que ele é de extrema musicalidade,de extrema honestidade consigo mesmo. insisto em repetir: Moacir Santos é antes de tudo, um musico.esse seu disco pode ser um grito de desespero contra tudo isso que está errado, contra tudo que impediu que fosse ele reconhecido mais cedo, posso,porem, assegurar: Moacir deu um grito de desespero afinado."

Roberto Quartin

NADA SUBSTITUI SUA AUDIÇÃO. RECOMENDO QUE CORRAM ATRÁS É UM DISCO ATÉ RELATIVAMENTE FÁCIL DE SE CONSEGUI NA INTERNET, MAS BAIXEM O DISCO TODO E OUÇAM COMO UM ÁLBUM. Este álbum é um dos 100 maiores discos de todos os tempos da música brasileira, de forma mais exata foi escolhido o 23° disco mais importante de nossa música.

PS: para os que se preocupam com a cópia de música pela intenet, como recomendo neste e no post abaixo, com a palavra o Ministro da Cultura:

" Processar quem baixa música pela internet está na contramão da própria ambição do mundo produtivo e tecnólogico"
Gilberto Gil,
Ministro da Cultura


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