Abaixo reprodução do texto presente no site do Azenha
Tropa de Choque no campus da Universidade de São Paulo.
Desta vez a Tropa de Choque da PM paulista entrou, " fichou os estudantes" que ocupavam a Reitoria da Pontifícia Universidade Católica e mandou a turma para casa. É trabalho da reitora Maura Pardini Bicudo Véras. É a terceira vez que a PM entra em prédios de universidades este ano, em São Paulo. Sempre com autorização de reitores e diretores, para emprestar legalismo à ação.
Escreveram os estudantes da PUC:
"Dia 10 de novembro de 2007 às 2h30 da manhã a PUC-SP perde o último resquício de liberdade e democracia ali existente. Após 30 anos, 1 mês e 18 dias a tropa de choque pisou novamente no território puquiano, mas dessa vez não foi a mando do Estado de Exceção e sim da nossa atual reitora, a profa. Maura Pardini Bicudo Véras.
A reitoria da PUC estava ocupada há 4 dias em protesto contra o processo de Redesenho Institucional tocado por esta gestão e o Conselho Universitário (Consun), durante toda a ocupação os estudantes se colocaram dispostos desde o começo a sentar e dialogar com a Reitoria da Universidade para assim poder encaminhar um processo de reestruturação universitária democrático e que reafirmasse a história de autonomia universitária e qualidade de ensino sempre norteadores dos rumos desta instituição há 61 anos.
Essa Reitoria desde o começo de sua gestão se posicionou contrária a qualquer tentativa de diálogo com a comunidade, percebe-se isso nas movimentações do final de 2005 e começo de 2006 quando a profa. Maura Véras e toda a sua Tropa de Elite instauraram a sua política de demissões, fizeram acordos com bancos e aprofundaram os cortes de bolsas-doação da universidade. Durante todo o processo do ano passado professores, estudantes e funcionários pediram transparência e participação nas decisões referentes aos rumos da PUC-SP.
2007 não começou diferente, desde a primeira vez que a Reitoria mencionou em uma sessão do Consun o projeto de haver um Redesenho Institucional na Universidade o movimento estudantil colocou a importância de se fazer o debate junto a comunidade para aí poder realmente saber quais os rumos que esta instituição deveria seguir. Novamente a Reitoria se negou ao diálogo.
Durante anos após a ditadura militar tivemos a nossa autonomia garantida, com a distância da polícia e da Igreja dos assuntos internos e da vida de nossa universidade, mas nós, estudantes da PUC-SP, tivemos nossa autonomia ceifada em 2006, quando a gestão Maura Véras colocou a intervenção da Igreja Católica para calar internamente a oposição que surgia contra o projeto antidemocrático de Redesenho que esta reitoria pretende implantar.
Agora, no trigésimo ano sem invasão da polícia em nosso campus, depois do desastre de 1977, quando a polícia militar invadiu e espancou estudantes e professores. A Reitoria recorre aos mesmos métodos da Ditadura, para reprimir e espancar a nós estudantes, para nos retirar à força da nossa universidade pela qual tanto lutamos para ter um regime democrático e não elitista.
O movimento estudantil da PUC-SP segue trilhando o mesmo caminho de tantas outras universidades brasileiras que encampam a luta contra o desmantelamento e privatização da educação instituídos no Brasil durante o último período. A ocupação da reitoria da PUC-SP está sim ligada às mobilizações acontecidas nos quatro cantos do país este ano.
Unicamp, USP, Unesp, FSA, UFPR, UFBA, UFRJ e UNIR são alguns exemplos de como os estudantes de norte a sul do país vem se mobilizando para salvaguardar a autonomia de nossas Universidades, sejam públicas ou privadas. Esta perda que vem sendo impetrada no ensino superior brasileiro não pode ser tolerada por nenhum de nós, pois não se produz conhecimento sob repressão e autoritarismo."
Meu comentário
Embora a presença da tropa de choque tenha causado protestos aqui e ali, muitos professores e estudantes parecem resignados com o novo modelo de "resolução de conflito". Divisões internas do movimento estudantil também fazem parte da reação morna ao recurso à polícia. Afinal, as ações são formalmente respaldadas, chama-se "reintegração de posse".
A lógica é a mesma. Visa esvaziar a participação comunitária, centralizar as decisões, acabar com os cursos que não dão lucro, dispensar os professores "caros" e contratar professores "baratos", independentemente da qualidade.
São os ajustes necessários para "competir" por alunos com as universidades que fabricam mão-de-obra em massa - se possível sem capacidade crítica. Capacidade crítica é justamente do que o Brasil mais precisa neste momento da História, se quiser implantar as bases de uma democracia de verdade, para todos.
O processo da PUC corre em paralelo ao da Universidade de São Paulo, onde o poder de decisão vem sendo centralizado através do controle do Orçamento. Onde é que já se viu... permitir que estudantes, professores e funcionários palpitem sobre a universidade pública e seu papel social. Fiz uma palestra recentemente na Escola de Comunicações e Artes (ECA), onde me formei. Tirando meia dúzia de alunos, a maioria queria saber como conseguir vaga na Globo. Ser velho reacionário, tudo bem. Mas jovem conformado com absolutamente tudo é uma tristeza.
Publicado em 10 de novembro de 2007
http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=1487
Tropa de Choque no campus da Universidade de São Paulo.
Desta vez a Tropa de Choque da PM paulista entrou, " fichou os estudantes" que ocupavam a Reitoria da Pontifícia Universidade Católica e mandou a turma para casa. É trabalho da reitora Maura Pardini Bicudo Véras. É a terceira vez que a PM entra em prédios de universidades este ano, em São Paulo. Sempre com autorização de reitores e diretores, para emprestar legalismo à ação.
Escreveram os estudantes da PUC:
"Dia 10 de novembro de 2007 às 2h30 da manhã a PUC-SP perde o último resquício de liberdade e democracia ali existente. Após 30 anos, 1 mês e 18 dias a tropa de choque pisou novamente no território puquiano, mas dessa vez não foi a mando do Estado de Exceção e sim da nossa atual reitora, a profa. Maura Pardini Bicudo Véras.
A reitoria da PUC estava ocupada há 4 dias em protesto contra o processo de Redesenho Institucional tocado por esta gestão e o Conselho Universitário (Consun), durante toda a ocupação os estudantes se colocaram dispostos desde o começo a sentar e dialogar com a Reitoria da Universidade para assim poder encaminhar um processo de reestruturação universitária democrático e que reafirmasse a história de autonomia universitária e qualidade de ensino sempre norteadores dos rumos desta instituição há 61 anos.
Essa Reitoria desde o começo de sua gestão se posicionou contrária a qualquer tentativa de diálogo com a comunidade, percebe-se isso nas movimentações do final de 2005 e começo de 2006 quando a profa. Maura Véras e toda a sua Tropa de Elite instauraram a sua política de demissões, fizeram acordos com bancos e aprofundaram os cortes de bolsas-doação da universidade. Durante todo o processo do ano passado professores, estudantes e funcionários pediram transparência e participação nas decisões referentes aos rumos da PUC-SP.
2007 não começou diferente, desde a primeira vez que a Reitoria mencionou em uma sessão do Consun o projeto de haver um Redesenho Institucional na Universidade o movimento estudantil colocou a importância de se fazer o debate junto a comunidade para aí poder realmente saber quais os rumos que esta instituição deveria seguir. Novamente a Reitoria se negou ao diálogo.
Durante anos após a ditadura militar tivemos a nossa autonomia garantida, com a distância da polícia e da Igreja dos assuntos internos e da vida de nossa universidade, mas nós, estudantes da PUC-SP, tivemos nossa autonomia ceifada em 2006, quando a gestão Maura Véras colocou a intervenção da Igreja Católica para calar internamente a oposição que surgia contra o projeto antidemocrático de Redesenho que esta reitoria pretende implantar.
Agora, no trigésimo ano sem invasão da polícia em nosso campus, depois do desastre de 1977, quando a polícia militar invadiu e espancou estudantes e professores. A Reitoria recorre aos mesmos métodos da Ditadura, para reprimir e espancar a nós estudantes, para nos retirar à força da nossa universidade pela qual tanto lutamos para ter um regime democrático e não elitista.
O movimento estudantil da PUC-SP segue trilhando o mesmo caminho de tantas outras universidades brasileiras que encampam a luta contra o desmantelamento e privatização da educação instituídos no Brasil durante o último período. A ocupação da reitoria da PUC-SP está sim ligada às mobilizações acontecidas nos quatro cantos do país este ano.
Unicamp, USP, Unesp, FSA, UFPR, UFBA, UFRJ e UNIR são alguns exemplos de como os estudantes de norte a sul do país vem se mobilizando para salvaguardar a autonomia de nossas Universidades, sejam públicas ou privadas. Esta perda que vem sendo impetrada no ensino superior brasileiro não pode ser tolerada por nenhum de nós, pois não se produz conhecimento sob repressão e autoritarismo."
Meu comentário
Embora a presença da tropa de choque tenha causado protestos aqui e ali, muitos professores e estudantes parecem resignados com o novo modelo de "resolução de conflito". Divisões internas do movimento estudantil também fazem parte da reação morna ao recurso à polícia. Afinal, as ações são formalmente respaldadas, chama-se "reintegração de posse".
A lógica é a mesma. Visa esvaziar a participação comunitária, centralizar as decisões, acabar com os cursos que não dão lucro, dispensar os professores "caros" e contratar professores "baratos", independentemente da qualidade.
São os ajustes necessários para "competir" por alunos com as universidades que fabricam mão-de-obra em massa - se possível sem capacidade crítica. Capacidade crítica é justamente do que o Brasil mais precisa neste momento da História, se quiser implantar as bases de uma democracia de verdade, para todos.
O processo da PUC corre em paralelo ao da Universidade de São Paulo, onde o poder de decisão vem sendo centralizado através do controle do Orçamento. Onde é que já se viu... permitir que estudantes, professores e funcionários palpitem sobre a universidade pública e seu papel social. Fiz uma palestra recentemente na Escola de Comunicações e Artes (ECA), onde me formei. Tirando meia dúzia de alunos, a maioria queria saber como conseguir vaga na Globo. Ser velho reacionário, tudo bem. Mas jovem conformado com absolutamente tudo é uma tristeza.
Publicado em 10 de novembro de 2007
http://viomundo.globo.com/site.php?nome=MinhaCabeca&edicao=1487
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