terça-feira, 13 de novembro de 2007

Elza negra, Negra Elza

Da série pseudo-críticas musicais.
Hoje focalizamos Elza Soares, já focalizamos aqui Sandra de Sá e o seu Música Preta Brasileira, e Iô Sô de Sérgio Santos uma bela homenagem ao Congado Mineiro.

O disco que focalizamos dessa (SILÊNCIO, NÃO ACHO ADJETIVOS) então vamos com o óbvio, essa grande ARTISTA é Elza Negra, Negra Elza. O melhor do disco é a vocalização única dessa verdadeira diva brasileira. E nesse disco a voz de Elza sobra, ultrapassa os tonais e mostra por que sua voz é única,
singular . Não é qualquer um que tem a qualidade de sua voz. Uma voz rouca, rasgada, de grande extensão e de tonalidade extremamente agradável.

Nesse disco Elza percorre as varias vertentes do samba, desde o samba de roda, passando pelo samba lamentação, com direito até mesmo um delicioso forró "Olindina" mas o que salta no disco é que o mesmo é puro soul. E ai sai de baixo, por que tal como Sandra de Sá, quando Elza canta com alma estamos diante de algo mais do que simples música, estamos diante de uma oração.

O disco começa com a autobiográfica "Como lutei" e de fato como lutou Elza. Seu começo de carreira foi doloroso como aliás seria sua vida, eis a própria contando:


"Aí comecei a cantar mas, na metade da música, eu me lembrei do que eu aprendi a fazer com a lata d'água (cantando com a voz roca e arranhada). E cantei a música inteira assim. O auditório, que a princípio estava rindo muito, parou. Ficaram quietos e depois começaram a aplaudir. Foi a primeira vez que eu senti uma sensação de ódio.

Eu achei aquilo uma crueldade, meu filho estava entre a vida e a morte; eu mãe, sendo apenas uma criança, tentando ganhar aquele dinheiro. Mas eu fui aplaudida de pé e o povo gritava e delirava. Eu terminei de cantar deitada no peito do Ary Barroso. Ele não resistiu e me abraçou. Então ele disse, "Senhoras e senhores, neste exato momento acaba de nascer uma estrela"."

Na sequência o disco segue com três samba, cada um com sua própria cadência como que mostrando a diversidade desse gêner. Destaque para o balanço presente em "Cobra Cainana". Se até o momento o disco flerta com o samba e com a exaltação da negritude, que apesar dos apesares resiste na luta. A quinta música do disco "Oração de duas Raças" é um libelo contra a discriminação e o sentimento de ódio, um belo texto a favor da concórdia. Dessa forma a Estrela de novo ressurge por cima, como que dizendo aos seus algozes ainda e apesar de vocês eu sobrevivi, cresci e percebi que a saída é sempre pela compaixão, tal como preconizava Luther King o caminho é sempre pela não violência.

O disco continua como uma autobiografia cantada e dessa forma continua percorrendo todas as nuances dessa Elza Negra temos então espaços para um forró "Olindina", para um samba-canção com cara de bolerão "Fim de noite" bem típico das boites em que Elza cantou no começo da carreira. E termina com "Samba do Mirere- Capitão do Mato" um belo samba de terreiro, que se inicia com os atabaques e continua sua referência aos santos através do ritmo marcado pelas palmas e e pelo coro que ajuda a compor o clima de festa de santo. Assim o disco fecha-se como deve ser em casa de bamba, com uma roda de samba. Um curto (apenas 10 músicas, afinal o roiginal era um LP) porém belo disco.

Pode não ser o melhor disco de Elza, mas isso lógico se deve a imensa discografia dessa artista e seu imenso talento nesses quase cinqüenta anos de carreira a se comemorar no ano que vem. Viva a grande sambista, a grande cantora de Jazz , a voz da bossa negra, a rainha da sambossa, ou seja a Elza dos mais de 45 discos, isso por que entre 1987 e 1998 ela só gravou dois discos.

Viva Elza Soares, por que hoje é dia de festa!!!!



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