Ufa. Esses dias tem sido pesados. Muita coisa para poouco tempo. Ma segue ai um texto interessante sobre a Rua Guaicurus e sua principal atração as moças que trabalham por lá. A matéria me foi enviado pelo Ricardo; era o que faltava .... querem atrapalhar as menins que dão um duro danado, sem trocadilhos.
Mais de 2.000 mulheres serão afetadas
Segundo a associação das profissionais do sexo, esse é o número de pessoas que trabalham nos 21 hotéis da Guaicurus
ERNESTO BRAGA
Segundo a associação das profissionais do sexo, esse é o número de pessoas que trabalham nos 21 hotéis da Guaicurus
ERNESTO BRAGA
As intervenções na rua Guaicurus, rodoviária e entorno, anunciadas pela prefeitura, estão tirando o sono das mulheres que trabalham nos hotéis da zona boêmia. Segundo a Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte (APS-BH), mais de 2.000 mulheres, a maioria do interior de Minas e outros Estados, exibem seus corpos nos quartos de 21 hotéis à espera de clientes sedentos por sexo. Os hotéis funcionam diariamente das 8h às 23h.
A presidente da APS-BH, Dos Anjos Pereira Brandão, diz que a entidade não foi comunicada oficialmente pela prefeitura sobre a possibilidade do fim da zona boêmia. No entanto, segundo ela, as profissionais do sexo estão alarmadas com as informações que surgem sobre as mudanças na Guaicurus. "Falam que vão tirar a zona da cidade. Muitas mulheres vieram de fora e hoje moram nos hotéis. Elas não teriam para onde ir", afirma.
No quarto do hotel onde trabalha há 22 anos, na zona boêmia, a profissional do sexo M. guarda uma cópia do "Diário Oficial do Município". "Esse papel está nos assombrando. Aqui falam que vão reformar casarões e prédios antigos para moradias. Nosso medo é que resolvam nos tirar daqui para que as pessoas tenham interesse em vir morar na Guaicurus", diz. "Eu tenho cliente antigo, pai de família, que já trouxe filho e até neto na zona", acrescenta.
Há dois anos, B. largou a profissão de promotora de eventos de uma marca famosa de roupas para trabalhar como profissional do sexo na zona boêmia. De acordo com ela, os donos dos hotéis também estão preocupados com a possibilidade de fechamento dos estabelecimentos. "O que deveriam fazer é criar novas áreas de lazer na Guaicurus e melhorar a estrutura dos bares e restaurantes. O problema é que somos vítimas do preconceito de uma sociedade hipócrita, que tem medo de ser contaminada", critica.
Além dos hotéis, existem na Guaicurus vários cinemas que exibem filmes pornográficos e cabines de striptease ao vivo. Os interessados pagam entre R$ 2 e R$ 20 para assistir ao show, de dois a 40 minutos de duração. As cabines, segundo Dos Anjos Brandão, foram instaladas na zona boêmia há um ano e meio.
A consultora especializada da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, Maria Caldas, informa que não é função da prefeitura retirar as profissionais do sexo da rua Guaicurus. "Isso não faz parte do projeto de qualificação dessa área, pois não é de interesse público como foi a retirada dos camelôs", diz a especialista. Mas ela acredita que, com a requalificação, os hotéis deixarão de funcionar como prostíbulos.
Abandono propicia tráfico e violência
Uma das principais reclamações das pessoas que freqüentam a Guaicurus é a violência. O presidente da Associação dos Amigos da Rua Guaicurus, Ailton Alves de Matos, afirma que o tráfico de drogas está instalado no local. "A região ficou abandonada e esse abandono fez com que a violência e o tráfico migrassem para cá. O reflexo é maior à noite", diz.
Segundo a presidente da Associação das Profissionais do Sexo de Belo Horizonte, Dos Anjos Pereira Brandão, três mulheres foram assassinadas na Guaicurus neste ano. "Eram profissionais do sexo que se envolveram com o tráfico de drogas. Outras três foram ameaçadas e saíram da Guaicurus, mas foram assassinadas em outros locais", afirma.
O major Aroldo Pinheiro, comandante da 6ª Companhia da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na Guaicurus, confirma o registro de apenas um homicídio na zona boêmia neste ano. "Estamos registrando queda de 28% da violência na Guaicurus, nos últimos três anos", diz o oficial, sem apresentar os números absolutos.
De acordo com ele, as operações para combater o tráfico de drogas foram intensificadas. "Há um mês e meio prendemos 16 traficantes que forneciam droga na Guaicurus. A maior parte deles é da Pedreira Prado Lopes", informa o major. (EB)
Rua foi palco do primeiro ciclo industrial
Antes de se tornar a tradicional zona boêmia de Belo Horizonte, imortalizada pela lendária Hilda Furacão, a rua Guaicurus foi palco do primeiro ciclo de desenvolvimento industrial da capital mineira, no início da fundação da cidade. A existência de muitos galpões e a proximidade com a estação central foram determinantes para que a região se tornasse um importante pólo industrial, segundo o assessor da presidência do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MG), José Abílio Belo Pereira.
"A atividade econômica ligaria a Guaicurus ao uso predominantemente comercial, mas havia também habitações. À medida que o centro da cidade foi crescendo para o lado da avenida Afonso Pena e da praça Raul Soares, a região (da Guaicurus) foi ficando abandonada. Todo aquele pedaço era inundado pelo (ribeirão) Arrudas, o que desvalorizava a área e a tornava incompatível com a atividade industrial. Com o abandono, ela foi apropriada para a atual função, a partir dos anos 50", explica Pereira. (EB)
Proximidades da Guaicurus, quando a região era pólo industrial de Belo Horizonte
Zona boêmia ganhou força nos anos 50
A zona boêmia na rua Guaicurus se formou nos anos 50. E foi nessa época que a bela Hilda Furacão, da obra de Roberto Drummond, trocou o glamour dos bailes promovidos pela alta sociedade de Belo Horizonte pelo submundo da prostituição, passando a morar no mais badalado hotel da Guaicurus.
O travesti Cintura Fina era o fiel amigo da prostituta. Mas até hoje ninguém sabe ao certo se ela realmente existiu. Atualmente, os bordéis se disseminaram pela região, onde há grande concentração comercial, com destaque para os atacadistas de variados produtos, bares e lanchonetes.
A proximidade com os shoppings populares e a grande quantidade de pontos de ônibus também atraem muitas pessoas ao local. O comércio formal funciona das 7h às 18h. Após esse horário, sobram os botequins e os vendedores informais, que oferecem de comida a tatuagens na Guaicurus e imediações. (EB)
Publicado em: 04/11/2007
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Zona boêmia da Guaicurus pode perder seu espaço
Prefeitura quer requalificar tradicional rua; área deve ser transformada em eixo cultural
ERNESTO BRAGA
Prefeitura quer requalificar tradicional rua; área deve ser transformada em eixo cultural
ERNESTO BRAGA
Conhecida tradicionalmente como a zona boêmia de Belo Horizonte, em atividade desde a década de 50, a rua Guaicurus, no centro da cidade, poderá perder o estigma de ponto de prostituição. A prefeitura busca parceiros na iniciativa privada para promover a requalificação urbanística e ambiental da região. A alternativa mais evidente, segundo a consultora especializada da Secretaria Municipal de Políticas Urbanas, Maria Caldas, é transformar a área em um complemento do eixo cultural instalado ao longo do Bulevar Arrudas. Para a consultora, com a nova ocupação urbana, a tendência é que os hotéis onde trabalham as profissionais do sexo migrem espontaneamente para outro local.
Rua Guaicurus, no hipercentro de BH; consultora da prefeitura acredita que hotéis migrarão espontaneamente para outra região após requalificação Foto: DANIEL DE CERQUEIRA" target="_blank" href="http://www.otempo.com.br/otempo/fotos/20071104/foto_03112007180454.jpg"> |
Rua Guaicurus, no hipercentro de BH; consultora da prefeitura acredita que hotéis migrarão espontaneamente para outra região após requalificação |
A operação urbana na rua Guaicurus, rodoviária e entorno faz parte do Plano de Reabilitação do Hipercentro, lançado pelo prefeito Fernando Pimentel (PT) no último dia 19. Segundo Maria Caldas, ainda não foi definido exatamente o que será feito na região e quando as obras serão iniciadas. Ela informa que o objetivo do prefeito é licitar os 14 projetos do plano até o término do mandato, no final de 2008. "O plano é uma proposta macro de identificação de áreas que podem sofrer intervenções. A da Guaicurus é a de maior potencial para receber projetos arrojados de substituição do tecido urbano, que demandem grandes áreas."
Embora afirme que não exista nenhum projeto definido, Pimentel ressalta que o plano quer mudar o perfil da área. "A previsão é que quatro quarteirões, entre a Guaicurus e a Santos Dumont, sejam objeto de uma operação urbana que facilitaria algum empreendedor privado a investir e mudar o perfil que hoje tem ali. Mas não tem nada concreto e por enquanto não recebemos proposta de interesse de nenhum grupo sobre isso", diz o prefeito. As mudanças na Guaicurus dependem da aprovação de uma lei. Maria Caldas explica que há muitos galpões na Guaicurus, a maioria vazia e danificada, que podem ser substituídos por centros de convenções e culturais. "Há uma vocação para atividades complementares às do bulevar. A existência de grandes prédios, subutilizados, também permite que a área seja explorada pela hotelaria e turismo de negócios."
Segundo o presidente da Associação dos Amigos da Rua Guaicurus, Ailton Alves de Matos, alguns imóveis podem ser transformados em moradias estudantis. Maria Caldas afirma que entre as diretrizes do plano está o estímulo ao uso residencial no centro. Mas ela diz que não está definida a construção de conjuntos habitacionais. Para Maria Caldas, a existência da zona boêmia não inviabilizaria a execução de projetos. "O abandono leva à degradação. Pode até existir uma harmonia após a valorização. O que não pode é a dominação por esse uso (a zona boêmia). A idéia não é expulsar ninguém, mas a tendência é que os hotéis queiram ir para outra região." Matos acredita que as intervenções vão atrair moradores e comerciantes. Segundo ele, pelo menos dez prédios estão subutilizados. Mas Matos defende a permanência da zona boêmia. "Não pode ocorrer um desrespeito com quem já está instalado na Guaicurus. A cidade sempre conviveu tranqüilamente com essa região, que é clássica."
Comerciante teme prejuízos em venda de churrasco
Há 37 anos, o comerciante informal Oswaldo de Assis Ferreira, 53, trabalha no centro de Belo Horizonte. Atualmente, ele vende churrasquinhos ao lado de um dos hotéis da rua Guaicurus onde são encontradas as profissionais do sexo. A possível migração dos hotéis para outra região, ressalta Ferreira, reduziria muito o movimento no comércio local.
"Se tirarem os hotéis daqui, muita loja vai fechar as portas. As profissionais do sexo são as principais consumidoras do comércio da Guaicurus e atraem as pessoas para essa região", diz Ferreira. A profissional do sexo B., 27, que há dois anos faz programas na zona boêmia, afirma que mais de 90% da clientela das farmácias, lanchonetes e salões de beleza são mulheres que trabalham nos hotéis.
Há 22 anos trabalhando na Guaicurus, a profissional do sexo M. ressalta que o comércio na região sempre conviveu em harmonia com a prostituição.
"Há um respeito mútuo entre os donos das lojas, seus funcionários e as profissionais do sexo. Muitos comerciantes do interior preferem fazer compras nos atacadistas daqui, pois aproveitam para dar uma passada nos hotéis", destaca.
Para ela, os shoppings populares foram criados estrategicamente próximo à rua Guaicurus, por causa da grande movimentação de pessoas no local. "Se eles não tivessem sido construídos aqui, não fariam tanto sucesso", ressalta. (EB)
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Residências poderão dar nova vida à região
Defensor do uso residencial do centro de Belo Horizonte, o assessor da presidência do Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), José Abílio Belo Pereira, acredita que futuros moradores da Guaicurus poderão conviver de forma harmoniosa com a movimentada zona boêmia. "É interessante manter habitações na área central da cidade, pois é isso que dá vida à região. A convivência entre variados usuários é possível, desde que seja mantida a disciplina, como ocorre em outros lugares do mundo", afirma.
Pereira destaca a importância das intervenções previstas na Guaicurus e, assim como a consultora da Secretaria de Políticas Urbanas, Maria Caldas, ressalta a vocação da área para os empreendimentos culturais. "Não se trata de uma revitalização, pois o espaço público não está morto. Pelo contrário, é cheio de vida, de gente circulando. A expressão mais correta é requalificação, dos passeios, praças e equipamentos públicos ou mesmo privados, mas que sejam de interesse coletivo", diz.
A diretora de patrimônio do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) em Minas, Branca Perocco, destaca que as ações de reabilitação executadas no centro trazem mais benefícios do que as realizadas nos bairros. Para ela, o fato de atualmente a rua abrigar uma zona boêmia não impede que futuramente ela tenha uso residencial. A arquiteta acredita que os próprios hotéis tenham interesse em sair de lá. "Eu creio que a prefeitura não seja tão radical de querer acabar com uma tradição, um rótulo difícil de ser tirado. Mas essas coisas acontecem naturalmente, como ocorreu em Portugal e outros países." (EB)
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