domingo, 18 de novembro de 2007

Poesia para toda parte

Hoje, a poeta feminista e militante movimento negro Lia Vieira. Abaixo um pequeno perfil de sua poética e seu poema sem título em que exorta a sensualidade de Zumbi e a sexualidade da melher negra.

Na afetividade amorosa era a mulher Palmarina que tinha todas as armas e também o poder de seduzir e de querer ser seduzida. Mas a poética feminina não herdou nada dessa "liberdade amorosa" de suas ancestrais nos textos. Destruíram Palmares e destruíram também seu prazer amoroso. A poética feminina não tem nada a ver com o que deve ter sido o passado histórico afetivo das mulheres Palmarinas. Agora a história é outra. O sentimento militante feminista predomina em sua poética. Ela deixa bem explícito que as portas não estão mais abertas. Seus sentimentos estão sempre em guarda. É preciso saber tocar o interfone dos sentimentos. Ela avisa ao homem que ele não encontrará uma mulher submissa e sim uma mulher que decide pelo seu próprio corpo, uma mulher que decide sobre suas vontades. Ela falará tudo isso de uma forma dura e às vezes fria, são poucos os poemas nos quais o homem a seduz. Pode-se citar uma raridade. Um poema sem título:

Meu Zumbi
De corpo suado
De olhos meigos e doces
De boca ardente...
Nenhuma paisagem se iguala
à visão que tenho de você
Explosão de raça em forma de ser
o que mais quero:
Entrelaçar nossas peles retintas
Me animar de vida,
Buscar meu céu em sua terra
Saciar minha sede de mel em seu mistério.

Tatuar-te em meu corpo
para ter a certeza de tê-lo
preso-colado-filtrado em mim
na própria pele
rasgando a epiderme
que nem laser apaga
que aos poucos me rasga
e se fixa e me marca
num uno indivisível
(Lia Vieira, in Cadernos negros 15)

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