quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Poesia para toda parte

Poesia para toda parte continua com sua homenagem ao mês da Consciência negra, hoje o focalizado é outro mineiro, mas dessa vez o juiz forano Edmilson de Almeida Pereira.

O antropólogo e poeta, o juiz-forano Edimilson de Almeida Pereira (1963-), embora jovem, já reúne extensa produção nas duas áreas. Estudioso da cultura popular afro-brasileira em Minas Gerais, ele publicou, em parceria com Núbia Pereira Magalhães Gomes, quase uma dezena de livros baseados em pesquisas de campo.

Professor de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, Edimilson coleciona títulos universitários: é mestre em literatura e em ciência da religião e doutor em comunicação e cultura, pós doutor em letras. Em poesia, estreou em 1985 e, de lá para cá, já publicou quase duas dezenas de livros. Em 2003, reuniu sua obra poética em quatro volumes: Zé Osório Blues (2002); Lugares Ares (2003); Casa da Palavra (2003); e As Coisas Arcas (2003).

A poesia de Edimilson tem múltiplas faces. Em muitos momentos, ela assume o ritmo da fala popular — fala de negros do interior mineiro —, ritmo que vem transubstanciado pelos filtros do poeta.
Em sua poesia o eixo se desloca para as falas e festas populares de comunidades negras das Minas Gerais. Aqui, o antropólogo vem de mãos dadas com o poeta.

CADERNO DE RETORNO

(trechos)


Tenho doze anos. Ao entregar a roupa limpa
me indicam a entrada de serviço
mal iluminada.
O menino desliza o hades das garagens
adivinha a campainha em braile.
A cozinha abre a porta
(até quando fará os mesmos gestos)
sorri recolhe as peças
e mergulha outra vez
no Brasil colonial.
Será o doublê de mucama que areou vasilhas
sábados a fio?
e engomou por força o próprio destino?



Quando o goleador abandonou o jogo
depois de encantar a torcida
era para lavar pratos
num subsolo clandestino?
Quando a delegação estrangeira visitou o
[ campus
deveríamos exibir com orgulho
(porque fruto da pesquisa)
ou vergonha
as cifras do contabilista nefasto?

75% dos azuis têm mais chances de serem os primeiros demitidos 70% trabalham em serviços não-técnicos 80,9% de suas parceiras ganham até 2 salários mínimos 62% dos azuis ganham até dois salários mínimos 80% deles moram em favelas e em locais insalubres 87% dos que estão fora das escolas são azuis como seus pais 47% dos azuis concluem o ensino médio somente 1% dos azuis concluem o ensino superior 37,7% das azuis são analfabetas 40,25% dos azuis são analfabetos mas não temos vulcões nem ebola nem terremotos
(Edmilson de Almeida Pereira)

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