sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Poesia por toda parte

A forte chuva que caiu e ainda cai de leve aqui em Bh, me deixou um tanto quanto murcho, afeito a ouvir músicas algumas poemas maravilhosos.

Abaixo Haiti, definitivamente a última coisa inteligente do Câe. Também depois de uma obra como essa temos que dar um alivio para o cara, na verdade, continuo adorando o cantor Caetano; ele é um dos CARAS para mim na minha discoteca, mas como fala besteira ultimamente. O Caetano é aquele típica pessoa globalizada cosmopolita, que os idiotas como esse que escreve essas palavras jamais terão capacidade de acompanhar, pelo menos é isso que os seus ardorosos defensores da Folha de São Paulo pensam. Mas na verdade eu gosto e não gosto do cara. Como não gostar de alguém que falou:
Respeito muito minhas lágrimas, mas ainda mais minha risada

Escrevo assim minhas palavras na voz de uma mulher sagrada

Vaca profana põe teus cornos prá fora e acima da manada

Ê, dona de divinas tetas, derrama o leite bom na minha cara

E o leite mau na cara dos caretas
(...)
Ê, vaca das divinas tetas, teu bom só para o oco, minha falta
E o resto inunde as almas dos caretas
Mas eu também sei ser careta, de perto ninguém é normal


Aliás já percebeu que uma certa elite paulista, normalmente uspiana, ou então que passou pelo Mackenzie, Casper liberato ou coisa que o valha é tão moderna, tão in, que ela antecipa as últimas tendências de New York, Paris and Lodon everything at the same time and now.

depois de tanto vil, o grande poema Haiti, bonito de doer e como dói lê essas palavras:

Composição: Caetano Veloso e Gilberto Gil

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

Nenhum comentário: