terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Sobre Barack Obama e as prévias norte-americanas

Ontem, o amigo Ricardo me mandou um e-mail perguntando mais sobre o Barack Obama, olha o e-mail dele:

Confesso que praticamente não acompanho questões políticas internas dos EUA. Você conhece algum coisa do Obama? Parece que a candidatura dele está deslanchando. E o cara é negro... Mas, qual a postura e trajetória de vida dele? Você conhece?

Respondi então para ele então algumas idéias desconexa. De qualquer forma divido com Vocês, as considerações. Então vamos lá:

O Barack é negro e na américa isso é fato, como indica as porcentagens de sangue negro... coisa que não se nega... no entanto Obama não é um afro-americano histórico (ou seja, negros que vieram para a América desde a época das colônias. Ele é filho de uma mulher branca e de um africano, se não me engano um queniano- viveu e estudou um tempo na Indonésia, outro no Havaí, ainda criança). Mas a campanha do Obama não se baseia nesse fato, ele não se apresenta como um candidato dos afro-americano e sim como candidato do Change, ou seja da mudança. O cara de fora do establishment... o que conseguiria falar para uma América unida. Neste sentido, a cor da sua pele ainda que não utilizada na retórica da campanha e mesmo nos discursos, acaba por confirmar a idéia da mudança e do rompimento com o status quo; afinal, um negro (ou melhor como eles gostam de dizer por lá, um afro-americano) presidente é em si mesmo uma tremenda derrota do status quo e o início da tão propalada Change, que Obama afirma representar.
Do ponto de vista de seus discursos - e diga de passagem que o rapaz tem uma oratória brilhante daquelas que não se via a muito tempo na política americana. Dizem que seus discursos de fato são contagiante e grande parte de seu sucesso se deve a isso. Estamos diante do que Weber definiu como o político por vocação: carismático e com o dom da palavra - ele combate a idéia da guerra, do ultra-liberalismo econômico (mas não o liberalismo), da podridão (em que teria se transformado a política americana), ele prega que o estado deve se livrar dos lobistas (o que para ele é a praga que vem destruindo o sistema político norte-americano, sendo até mesmo uma das responsáveis pelas guerras).
Do ponto de vista de sua formação profissional, Obama é advogado pela Universidade de Havard (isso mesmo, a tida e havida como melhor universidade do mundo- a universidade das elites norte-americanas- sua passagem por Havard segundo comentaristas tem sido providencial neste momento, pois seus colegas e amigos de faculdade, hoje responsáveis por grande parte da fortuna norte-americana vem irrigando financeiramente sua campanha) e sua esposa (obviamente afro-americana) também é advogada por Havard e Princeton.
Do ponto de vista político, Obama de fato não é essa transformação toda que ele representa. Por exemplo, um candidato de esquerda entre os Democratas (olhe bem, esquerda no contexto norte-americano, of corse) é o Jhon Edwards que ficou em segundo lugar nas prévias de Iowa (este sim é o herdeiro direto do Roosvelt, ou seja da social democracia clássica- welfare state- este sim seria uma revolução ao capital neo-liberal), por outro lado a vitória de Obama impediria a candidatura de Hilary Clinton, esta sim uma candidatura terrível e comprometida até a alma com o establishment. Sua vitória é a continuidade de tudo isso que existe ai, só que pelo lado democrata. Lembre-se foi no governo do marido dela que Democratas e Republicanos praticamente se aproximaram de tal forma que as diferenças entre ambos não era tão bem percebida.

Voltando a Obama, ele é definitivamente o candidato dos jovens (e ai aparece uma boa notícia - 96% dos moradores de Iowa são brancos, ou seja uma parte dos jovens brancos mais escolarizadas não levam mais em conta a cor na hora de votar). Outra coisa ele é adorado pelos intelectuais e universitários norte-americanos (brincam até na imprensa de lá que é a revolta dos nerds). Estes grupos (jovens, mulheres, escolarizados e mesmo parte de seus amigos endinheirados de Havard vem impulsionando a candidatura de Obama- lógico que o principal na verdade é o próprio Obama)

PS: Este texto acima tinha escrito basicamente ontem. Quero acrescentar algo de hoje. Antes de tudo quero lembrar que já havia escrito um post (dia 31/12/2007)sobre as eleições norte-americanas, no fim do ano passado no qual dizia não acreditar na vitória de Obama, devido ao fato dele ser um outsider dentro da maquina partidária dos Democratas. Hoje as luzes dos acontecimentos, a explicação acima continua correta ele continua sendo um outsider dentro da maquina Democrata que é abertamente pró Hilary Clinton. Ocorre que a retórica, o discurso e o carisma de Obama foi algo novo, de fato e nisso ele merece todos os elógios, sua candidatura tornou-se uma febre. Nas prévias de Iowa ocorreu o maior comparecimento da história, algo que vem se repentindo durante o dia de hoje em New Hempshire, são eleitores novos que só aderiram ao processo por causa de Obama. Ou seja, ele vem oxigenando o processo eleitoral norte-americano, é um fenômeno e tudo graças a ele próprio que despertou novamente no americano médio, o gosto pela política e pelo bom debate. Outra coisa,sua vitória em Iowa foi um catalisador e hoje (as bocas de urnas indicam que ele vencerá em New Hempshire com mais de 12 pontos de vantagem). É um número avassalador, se isto se confirmar acredito que Obama poderá ser o candidato Democrata.

Por fim, notícias atualizadas da disputa, feitas diretamente dos states pelo jornalista Luis Carlos Azenha:

WASHINGTON - 11:30 - Há grandes filas nos locais de votação. Os candidatos continuam em campanha. No caso de Barack Obama, em alguns comícios metade daqueles que querem vê-lo não conseguem por falta de espaço. Já se tornou celebridade. Os jornalistas americanos simplesmente desistiram de questionar a falta de experiência do senador. Deram de noticiar, agora, que Obama está ajudando a buscar uma solução para a crise do Quênia. O pai dele era queniano e a avó de Obama ainda vive no país.

A pesquisa final do instituto Marist, que é de confiança, mostrou Obama com 36%, Hillary com 28% e o ex-senador John Edwards com 22%. Entre os republicanos, John McCain aparece com 35%, contra 31% de Mitt Romney e 13% de Mike Huckabee. O republicano McCain tem grande apoio entre os independentes. Como as regras de New Hampshire permitem que eles votem nas prévias democratas ou republicanas, a vitória de McCain não pode ser dada como certa. Se a grande maioria dos independentes decidir votar em Barack Obama, a vantagem de McCain corre risco.

O Sindicato dos Trabalhadores em Culinária de Nevada vai anunciar amanhã o apoio a Barack Obama. O sindicato tem cerca de 16 mil integrantes. Nevada sediará a próxima prévia democrata, no dia 19 de janeiro. E, no dia 26, acontece a prévia de Carolina do Sul, estado em que 50% dos democratas registrados são negros. Uma derrota esta noite e derrotas em Nevada e Carolina do Sul podem muito bem significar o fim do que aqui se chama da "dinastia dos Clinton". Porém, Bill Clinton é profissional do ramo. As baterias dele e da senadora Hillary Clinton já estão se voltando contra Barack Obama. Mas a mídia americana demonstra claro favoritismo em relação ao senador de Illinois.



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