Para já ir adiantando , trecho de uma entrevista dele a Revista Terra Magazine:
Já no final do ano, no dia 28 de novembro, o antropólogo, etnólogo e pensador Claude Lévi-Strauss comemorará 100 anos de vida. Tive a chance de entrevistar o autor do clássico Tristes Trópicos (1955) em duas oportunidades, em 2004 e 2005, na sua sala do Laboratório de Antropologia Social do Collège de France, no chamado Quartier Latin, em Paris. Em um tom nuançado de nostalgia e renúncia, e com uma naturalidade desconcertante, me dizia já não se sentir um homem deste mundo. "Sou pessimista, hoje, em comparação ao mundo que eu conheci e que amei. Esse, sei bem que acabou, não existe mais. Um outro mundo vai tomar o seu lugar, um mundo que eu não conhecerei. Quando nasci havia 1,5 bilhão de homens sobre a Terra; quando cheguei na Universidade de São Paulo, no início da minha vida ativa, havia 2 bilhões; hoje, há 6 bilhões, e daqui a 20 ou 30 anos haverá 9 bilhões. Não é mais o mesmo mundo e eu sinto que não pertenço mais a ele", disse.
Esse foi o final de nosso segundo e último encontro:
Fernando Eichenberg - Quando o senhor diz que caminhamos em direção a uma civilização em escala mundial, se refere a um regime de "compenetração mútua". O que o senhor quer dizer com isso?
Claude Lévi-Strauss - Quero dizer que desde o final do século 18 a civilização ocidental conscientizou-se de que, por meio de seu poder e de sua força, ela se espalhava por toda a Terra e ameaçava a existência de milhares de pequenas sociedades cujas criações culturais, artísticas, sociais e religiosas eram essenciais para o patrimônio da humanidade. Tudo o que podemos fazer é esperar que nessa espécie de síntese que está sendo feita de uma ponta a outra da Terra apareçam novas diferenças, novas originalidades, em formas que não podemos nem imaginar, e que ajudarão a humanidade a continuar criativa. Mas, é provavelmente culpa da idade, não sou muito otimista.
Em Tristes Trópicos, o senhor escreveu: "A vida social consiste em destruir aquilo que lhe dá o seu aroma". O senhor ainda pensa assim?
Infelizmente, sim.
Mas, como o senhor disse à filósofa Catherine Clément, sua colega, "o coração não envelhece".
Eu gostaria de ter certeza disso.
Entrevista concedida a Fernando Eichenberg, jornalista, vive há dez anos em Paris, de onde colabora para diversos veículos jornalísticos brasileiros, e é autor do livro "Entre Aspas - diálogos contemporâneos", uma coletânea de entrevistas com 27 personalidades européias.
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