segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

1968 está fazendo 40 anos!

Depoimento do ator José de Abreu sobre os 40 anos do Congresso de Ibiuna da UNE. Aliás ele tem um Blog, onde ele sem meias palavras expõe suas opiniões, tipo os Demos são um partido de merda e outras. O engraçado é que nunca imaginei que este Zé tivesse história na militância política, talvez seja pelos papeis que ele representa sempre de vilão e coronel.

Escrito em:10/1/2008

1968 está fazendo 40 anos!


Vai mais uma palinha da minha autobiografia não autorizada, quando, depois de ser preso no 40º. Congresso da UNE em Ibiúna-SP, fomos levados ao ex-presídio do Carandirú.

“Na cela do Carandiru a coisa funcionava assim: onde cabiam quatro tinha quarenta. A gente dormia de lado que nem sardinha em lata, um de cabeça pra baixo, outro de cabeça pra cima, a gente acordava com chulé no cabelo e caspa no pé. Um dos companheiros, o Mata Machado, roncava tanto que foi obrigado a dormir de dia e ficar acordado de noite, senão ninguém pregava o olho. De vez em quando aparecia na cela um carcereiro mal encarado que gritava: “Fulano de tal”! Era a chamada pro interrogatório. E o fulano ia, dizer o que sabia e o que não sabia. E se não dissesse, pau de arara nele! Dias e mais dias de absoluta tensão: “Fulano de tal!” Até que um dia, o carcereiro apareceu na cela às quatro da manhã e gritou: “José Pereira de Abreu Jr.!” Era eu. Puta que pariu, era eu! Tinha chegado a minha vez de ser interrogado e possivelmente torturado como tantos outros. Meus companheiros de cela, pra me dar coragem, repetiram o aplauso de Ibiúna, estalando os dedos, e sussurraram palavras de consolo do tipo: “Segura as pontas, companheiro”. “Agüenta pelo menos doze horas”. “Não fala, Zé!”. Consciente da grandeza do momento eu tentei dizer algumas palavras de improviso:

Companheiros, sinto que é chegada a hora de assumir o meu lugar na história. Sinto... Sinto que me caguei!

Doze minutos depois, eu estava de volta à cela com um embrulho de papel engordurado nas mãos. Meus companheiros estavam ansiosos pra saber o que tinha se passado.

O que é isso, Zé?
Frango.
Um frango?
Quatro. Com farofa, arroz e molho à campanha.

Sim, senhoras e senhores: Dona Gilda, minha mãe. Foi uma festa, todos se fartaram… menos eu. Eu não conseguia comer nada. Não me saia da cabeça a expressão da minha mãe quando me viu com a roupa de presidiário. Foi a primeira vez que eu vi aquela fortaleza fraquejar. Fui pra um cantinho, me encolhi abraçando as pernas e comecei a chorar, baixinho, pra ninguém perceber.”

Um comentário:

Unknown disse...

Muito legal, Carlos. Valeu demais!

Só faltou informar o link da fonte. Ou seja, o endereço o Blog do José de Abreu...

Inté!