terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Mais um Keneddy apoia Obama

Um dos senadores mais poderosos dos Estados Unidos, campeão do liberalismo e herdeiro do que se costuma chamar de "família real" americana, Ted Kennedy, acaba de anunciar seu apoio a Barack Obama diante de uma entusiástica platéia de universitários. "Sinto mudança no ar", disse ele. O senador, que está no Congresso desde 1962, disse que Obama traz de volta a "esperança", que consegue incentivar "os melhores anjos de nossa natureza".

"Quando tantos estavam silenciosos e outros se acomodoram", disse Kennedy, Barack Obama se opôs à guerra do Iraque. O senador afirmou que o colega não demoniza quem tem opinião diferente, é capaz de entusiasmar os jovens e superar a divisão entre republicanos e democratas. Ao lado do senador estão a filha do ex-presidente John Kennedy, Caroline, além do congressista Patrick Kennedy, sobrinho de Ted.

"Vamos substituir a política do medo pela política da esperança", disse Ted Kennedy. Antes dele falou a filha de John Kennedy, a escritora Caroline, que disse ter sido convencida pelos três filhos adolescentes de que deveria apoiar o senador de Illinois. "Sim, podemos", gritou a multidão durante o evento. "Ele está pronto para ser presidente a partir do primeiro dia", disse Ted Kennedy, emprestando uma frase da campanha de Bill e Hillary Clinton.

Ted Kennedy lembrou, em seu discurso, que quando o irmão concorreu à presidência o ex-presidente Harry Truman criticou JFK pela falta de experiência. Kennedy disse: "Meu irmão respondeu que tinha chegado a hora de uma nova geração no poder."

Ao falar, Barack Obama afirmou que esta não é uma campanha entre religiões, regiões do país ou entre brancos e negros, "mas entre o passado e o futuro". O candidato afirmou que foi graças à generosidade da família Kennedy que o pai dele conseguiu uma bolsa de estudos para vir para os Estados Unidos, onde conheceu a mãe do senador. O apoio de Kennedy será especialmente importante para atrair liberais, sindicalizados e hispânicos, com os quais a família tem ligações históricas. Ted Kennedy propôs, por exemplo, uma lei de imigração que abriria espaço para a permanência, no país, de uma boa parte dos imigrantes ilegais.

O voto dos hispânicos será decisivo na Califórnia, por exemplo. Se Obama vencer na Califórnia, em Illinois (o estado que representa) e em Massachussets (estado da família Kennedy), no dia 5 de fevereiro, a chamada Super Terça-feira, pelo menos conseguirá adiar uma vitória de Hillary Clinton na disputa pela vaga de candidato a presidente. A senadora obteve um importante apoio nas últimas horas, do sindicato dos trabalhadores em agricultura, a United Farm Workers, que representa o legado de Cesar Chavez, o herói latino da luta pelos direitos civis.

DEMOCRATAS - Bill e Hillary Clinton controlam a máquina do partido, mas agora enfrentam o desafio de Barack Obama + família Kennedy. Ted Kennedy, 75 anos de idade, quer reconquistar o Partido Democrata para os liberais tradicionais, ou seja, os herdeiros de Franklin Delano Roosevelt e John Kenneth Galbraith. Mal comparando, é como se o campo majoritário do PT, conservador de classe média, sofresse ameaça à esquerda.

REPUBLICANOS - George W. Bush está morto. Só está vivo para a mídia brasileira. O partido perdeu o rumo. A coalizão religiosa de evangélicos, católicos conservadores e judeus do Likud não achou candidato. O senador John McCain tenta apelar aos independentes, que representam 35% do eleitorado americano e são fator decisivo nas eleições gerais. Mas ele é bom de segurança nacional quando o tema da campanha agora é a economia. Mitt Romney, que já foi empresário e governador de Massachussets, se apresenta como o jovem capaz de mudar Washington. É neoliberal. No Brasil, seria o candidato da TV Globo.

SUL - Na próxima terça-feira, no Sul dos Estados Unidos, acontecem primárias na Geórgia, Alabama e Tennessee. A Geórgia é importante. Nos três estados é forte a presença de eleitores negros entre os democratas. Barack Obama tem chance de vencer nos três. Dentre os republicanos o favorito é Mike Huckabee, com seu apelo ao que aqui se chama de Bible Belt, o cinturão da Bíblia. Huckabee, como vocês sabem, é o "candidato cristão." Huckabee está com cara de vice na chapa republicana.

LIBERALÂNDIA - São os estados da costa Leste dos Estados Unidos, dentre os quais Delaware, Connecticut, Nova York, Nova Jersey e Massachussets. Nova York é terra de Hillary Clinton, mas Barack Obama pode conseguir votação expressiva na cidade de Nova York, onde vivem 2 milhões de negros. Além disso, ele pode vencer em Massachussets, terra da família Kennedy. Nova Jersey é um estado conservador, mas existem muitos imigrantes e negros em grandes cidades como Newark e Jersey City. Se Rudolph Giuliani não vencer no estado de Nova York, adeus. Região que favorece o almofadinha Romney.

NEVERLAND - Não se preocupe com os resultados de Idaho, Montana, Dakota do Norte e Utah. O peso deles é ínfimo.

CONSERVALÂNDIA - São os estados do meio-oeste americano: Kansas, Oklahoma, Missouri, Illinois e Arkansas. O peso maior é dos dois últimos. Arkansas é a terra dos Clinton. E Illinois, que inclui Chicago, é a terra de Barack Obama. Mistura áreas industriais com regiões agrícolas. Dentre os republicanos, John McCain tem boas chances por causa dos eleitores independentes.

VELHO OESTE - Califórnia, Arizona, Novo México e Colorado. Aqui é que o pau realmente vai comer. Os hispânicos representam 43% da população do Novo México e 35% da população da Califórnia. Los Angeles é a maior cidade latina dos Estados Unidos. Hillary Clinton tem grande apoio dos hispânicos mais velhos, graças às políticas do marido Bill. Ela recebeu o apoio do sindicato dos trabalhadores em agricultura, o campeão na defesa dos direitos de trabalhadores hispânicos. Barack Obama, com apoio de Ted Kennedy, tenta motivar os hispânicos mais jovens. Vencer na Califórnia e no Colorado seria muito importante para ele, diante da provável vitória de Hillary Clinton em Nova York.

DIFERENÇA - No Partido Republicano, o sistema é de winner takes all, ou seja, quem vencer a votação leva todos os delegados do estado à Convenção Republicana. No Partido Democrata, os delegados são divididos proporcionalmente à votação obtida. Além disso, apesar de se chamar Democrata esse partido mantém uma regra bizarra. São os chamados super-delegados, com direito a voto na Convenção independetemente das prévias. Os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter, por exemplo, são super-delegados. O voto dos super-delegados representa cerca de 40% dos votos necessários à escolha de um candidato. Foi a forma que o partido escolheu de não dar todo o poder de decisão ao filiados.

MEU PALPITE - Só vão sobreviver à Super Terça os candidatos Mitt Romney e John McCain pelos republicanos e Hillary Clinton e Barack Obama pelos democratas.

CONTAGEM DE DELEGADOS - Antes da Flórida a contagem de delegados era a seguinte. Entre os democratas: Hillary 249, Obama 167 e John Edwards 58. Edwards está com cara de vice na chapa democrata. Entre os republicanos: Romney 59, Huckabee 40 e McCain 36.

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