sábado, 5 de janeiro de 2008

Algumas considerações sobre o salvamento cultural

Ando meio sem tempo, após as férias. Por isso pouca coisa no blog após o dia 02 de janeiro. A rigor mesmo só a homenagem, ao MAIOR DE MINAS. Hoje também não estava em casa, mas pelo menos o motivo era nobre, a comemoração do casamento de um comparsa antropólogo, digamos que o cara teve sorte sua esposa é uma pessoa adorável, educada e com um português quase melhor do que o meu, prova que existe vida inteligente e simpática nos EUA, rs,rs. Mas dito tudo isso vamos a um fato, a pouco vendo televisão, vi uma notícia que falava da preservação da cultura em Natal. Sempre que ouço isso me irrito, meu sange talha. Nada mais chato do que esse papo salvacionista da cultura, o que significa preservar uma cultura? Isso não existe, a não ser que como disse em minha monografia preservar cultura seja objetificá-la, definir seu modus operandi, sua programação, etc. "Em resumo, ao essencializar esses patrimônios perdem-se a sua principal característica, a vivacidade, ou seja, um bem em movimento constante, dinâmico e vivo, o que ele é, e o transforme em um objeto de desejo insaciável, a ser rememorado a partir de uma definição externa a despeito de suas especificidades." (Marques, 2005;2008)Ou seja, se pensarmos bem é a própria luta salvacionista que coloca em risco a cultura, pois busca cristaliza-la e retira sua principal característica que é ser um ente vivo. Traduzindo a cultura não corre risco algum, os grupos humanos sim correm risco. O desaparecimento de grupamentos humanos pode levar a perdas culturais e não o contrário. Por isso uma guerra é terrível para uma cultura, pois pode ao exterminar um povo (de forma literal- nos genocídios, ou de forma simbólica- ao proibir esse povo de expressar sua cultura, sua línga, danças, seu modo de ser e estar no mundo,etc).

Por obra e graça do destino, após pensar tudo isso acima, vim para a internet e olha o que achei. Trechos de entrevista de Picasso em um blog e lá pelas tantas, o grande pintor traduz em poucas e simples palavras tudo que disse acima:
"O Parthenon é só um campo sobre o qual puseram um teto. Se incluíram ali umas colunas e esculturas, é porque havia uma gente em Atenas que por acaso faziam isso e desejavam se expressar." (Picasso)

É isso ai, Picasso disse tudo. Ou seja era necessário colocar teto em uma determinada construção e a forma corriqueira e conhecida naquele grupo era o colunato. E isso foi feito, o resto é conversa, é instrumentalização sob o signo(nome) de cultura. Ou como diria o velho Marx - Fetiche. Melhor seria considerar a cultura como um fe(i)tiche como quis Bruno Latour, para lguns fenômenos sociais, mas isso já é um outro assunto. Fui. As caipifrutas da festa estão me dando sono.

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