Abdias Nascimento cunhou um conceito/categoria clássico, o Quilombismo. No livro denominado Quilombismo (1980), no capítulo chamado “Documento n° 7: Quilombismo: um conceito científico emergente do processo histórico-cultural das massas afro-brasileiras” (pp.245-281), o autor através de uma re-significação do termo quilombo em uma nova categoria simbólica, o quilombismo, busca um projeto de organização sócio-político, a partir de uma resposta teórica para os problemas étnico-raciais do país.
Esse sentimento para Nascimento, é a resultante do longo processo de discriminação e pré-conceito contra o negro no Brasil e ficaria claro na relação do Estado com os afro-brasileiros, principalmente quando se compara os privilégios recebidos pelos migrantes europeus.
O autor assim define o Quilombo e suas continuidades nos dias atuais:
Os quilombos resultaram dessa exigência vital dos africanos escravizados, no esforço de resgatar sua liberdade e dignidade através da fuga ao cativeiro e da organização de uma sociedade livre. A multiplicação dos quilombos fez deles um autêntico movimento amplo e permanente. Aparentemente um acidente esporádico no começo, rapidamente se transformou de uma improvisação de emergência em metódica e constante vivência das massas africanas que se recusavam à submissão, à exploração e à violência do sistema escravista. O quilombismo se estruturava em formas associativas que tanto podiam estar localizadas no seio das florestas de difícil acesso que facilitava sua defesa e sua organização econômico-social própria, como também assumiram modelos de organização permitidas ou toleradas, frequentemente com ostensivas finalidades religiosas (católicas), recreativas, beneficentes, esportivas, culturais ou de auxílio mútuo. Não importam as aparências e os objetivos declarados: fundamentalmente todas elas preencheram uma importante função social para a comunidade negra, desempenhando um papel relevante na sustentação da continuidade africana. Genuínos focos de resistência física e cultural. Objetivamente, essa rede de associações, irmandades, confrarias, clubes, grêmios, terreiros, centros, tendas, afochés, escolas de samba, gafieiras foram e são os quilombos legalizados pela sociedade dominante; do outro lado da lei se erguem os quilombos revelados que conhecemos. Porém tanto os permitidos quanto os “ilegais” foram uma unidade, uma única afirmação humana, étnica e cultural, a um tempo integrando uma prática de libertação e assumindo o comando da própria história. A este complexo de significações, a esta práxis afro-brasileira, eu denomino de quilombismo. (NASCIMENTO, 1980: l.255)
O quilombismo significa um valor dinâmico na estratégia e na tática de sobrevivência das comunidades de origem africana. E desta forma que ele deve ser entendido, enquanto uma consciência de luta político e social.
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