O Colega, amigo e comparsa nas questões afins desse blog Ricardo, me mandou o seguinte texto.
É verdade "Em Belo Horizonte , o mundo é um bar."
28/10/2007
Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar
De Seth Kugel
Belo Horizonte , a capital de Minas Gerais, conseguiu se tornar a terceira
maior cidade do Brasil e continuar quase totalmente desconhecida para o
mundo exterior. Se os turistas —mais atraídos para os prazeres sensuais do
Rio de Janeiro ou a agitação urbana de São Paulo— a conhecem é porque passam
por ela a caminho de Ouro Preto e Diamantina, vendo-a mais como uma escala
para reabastecimento na rota das pitorescas cidades mineiras da era
colonial.
Lalo de Almeida / The New York Times
A tradicional parede com marcas de cachaça, para a escolha do cliente, em
bares de BH
Seu anonimato internacional se explica pela falta de litoral, e portanto de
praias, de um carnaval famoso e de grandes atrações, exceto alguns edifícios
desenhados por Oscar Niemeyer que empalidecem perto de suas famosas obras de
Brasília.
Mas "Beagá", o apelido da cidade, pode reivindicar fama como capital
brasileira dos bares. Não bares como nos saguões elegantes de hotéis ou em
mercados agitados, mas botecos —lugares informais onde diversas gerações se
encontram, se sentam, bebem cerveja e aguardente e muitas vezes fazem uma
refeição informal. A se acreditar na propaganda local, a cidade tem 12.000
bares, uma quantidade per capita maior que a de qualquer outra cidade do
país. Por quê, ninguém tem certeza absoluta, mas uma teoria se transformou
em ditado popular: "Não tem mares, tem bares".
Embora os guias turísticos raramente os mencionem, eles são uma ótima
maneira de os viajantes mergulharem na vida social de uma cidade cuja área
metropolitana explodiu nas últimas décadas, para mais de 5 milhões de
habitantes. A melhor época de visitá-la é em abril, para a competição
'Comida di Buteco', quando cerca de 40 dos melhores bares disputam prêmios
em categorias como higiene, cerveja mais gelada, serviço e, principalmente,
o melhor tira-gosto. Os vencedores são decididos não apenas por juízes, mas
pelo voto público, dando aos moradores uma boa desculpa para sair todas as
noites durante um mês.
Se você perder o concurso, não se preocupe. Toda noite do ano parece ter uma
clima de festa em Belo Horizonte. Vá até a Mercearia Lili (rua São João
Evangelista, 696, Santo Antônio, 31-3296-1951), um participante habitual da
competição entre bares. É um dos muitos locais em Santo Antônio, um bairro
de alto nível, com ladeiras íngremes que exigem técnicas sobre-humanas de
estacionamento, ou, de preferência, use os táxis da cidade.
O bar é típico de muitas maneiras, a começar pelo mobiliário: mesas e
cadeiras de plástico amarelo com logotipo de cerveja, que se esparramam pela
calçada (garrafas de 600ml de cerveja, a ser compartilhada em pequenos
copos, são as preferidas em toda a cidade). O burburinho da conversa e o
ruído das garrafas -e não um DJ- fornecem a trilha sonora; homens e mulheres
grisalhos e jovens que nos EUA seriam menores de idade compartilham as
mesas.
Não muito longe fica o Via Cristina (rua Cristina, 1203, Santo Antônio,
31-3296-8343). É mais elegante, com mesas cobertas de toalhas xadrez verde e
brancas, garçons uniformizados e uma parede de cachaças —centenas de
garrafas diferentes da aguardente de cana-de-açúcar— que os barmen alcançam
usando uma escada como as de bibliotecas. Sua participação no concurso deste
ano foi o Raulzito, um bolinho frito recheado de carne-seca que custa R$
2,00.
Se houvesse um prêmio pelo "Mais Difícil de Chegar", o Freud Bar (sem
endereço, Nova Lima, 31-8833-9098, mapa em freudbar.com) ganharia todos os
anos. O lugar fica escondido no meio de uma mata perto da cidade, e chega-se
lá por uma estrada sinuosa de terra. O bar é construído num morro, aquecido
por lareira e tem algumas mesas sob as árvores. Tem música ao vivo (blues e
rock) e serve um cardápio limitado, mas criativo, como vinho quente ou uma
sopa de abóbora, mussarela e frango (R$ 3,50), uma boa variação da sopa de
feijão com toucinho oferecida em quase todos os botecos.
Lalo de Almeida / The New York Times
Informal, com suas mesas e cadeiras 'diferenciadas', o Bar do Caixote é um
dos muitos botecos de 'Beagá'
Os botecos não são apenas assuntos noturnos, como você descobrirá se for ao
Mercado Central da cidade numa tarde de fim de semana. Claro, há barracas
que vendem frutas, carne, os famosos queijos de Minas, cães e aves vivos
(para mascotes) e galinhas vivas (para jantar). Mas o mercado também é cheio
de bares lotados e barulhentos como o Lumapa, onde as autoridades precisam
cercar com correntes a calçada para que os clientes do mercado possam
circular. Uma opção mais calma é o Casa Cheia (Mercado Central, loja 167,
Centro, 31-3274-9585), um lugar com mesas que serve criações como o
Mexidoido Chapado, uma mistura de arroz, legumes, quatro tipos de carne e
ovos de codorna.
Também vale a pena ir aos bairros mais distantes para ver algumas versões
mais excêntricas de bares. (Com 11.999 concorrentes, faz-se o possível para
se destacar.) O ultra-informal Bar do Caixote (rua Nogueira da Gama, 189,
João Pinheiro , 31-3376-3010) tem mesas e cadeiras feitas de caixotes de
madeira. O vencedor geral do concurso deste ano, o Bar do Véio (rua Itaguaí,
406, Caiçara, 31-3415-8455), fica num bairro distante e o motorista de táxi
pode ter dificuldade para encontrá-lo, mas qualquer pessoa na região poderá
lhe indicar. Seu prato simples de pedaços de carne de porco com bolinhas
douradas de batata frita, servido com molho de abacaxi e hortelã, foi o
tira-gosto vencedor de 2007.
Quando você precisar de um descanso dos bares, faça um passeio à tarde ao
bairro da Pampulha, onde há vários edifícios de Niemeyer, incluindo sua
famosa Igreja de São Francisco de Assis. O bairro também abriga o mais
famoso restaurante de Belo Horizonte , o Xapuri (rua Mandacaru, 260,
Pampulha, 31-3496-6198), o melhor da cidade para experimentar a tradicional
cozinha 'caipira' de Minas Gerais. E no domingo de manhã você pode encontrar
presentes incomuns na 'feira hippie' (ou Feira de Arte e Artesanato da
Afonso Pena), dois longos quarteirões da avenida Afonso Pena cheios de
roupas, jóias, artigos de decoração e artesanato. Quando terminar, pare nas
barracas nas duas extremidades para comer peixe frito ou doces de coco, ou
entre para descansar no maravilhoso Parque Municipal, logo abaixo da feira.
Em qualquer um deles você não estará longe de um vendedor ambulante pronto
para lhe abrir uma lata de cerveja. Em Belo Horizonte , o mundo é um bar.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/
É verdade "Em Belo Horizonte , o mundo é um bar."
28/10/2007
Belo Horizonte, uma cidade onde o mundo é um bar
De Seth Kugel
Belo Horizonte , a capital de Minas Gerais, conseguiu se tornar a terceira
maior cidade do Brasil e continuar quase totalmente desconhecida para o
mundo exterior. Se os turistas —mais atraídos para os prazeres sensuais do
Rio de Janeiro ou a agitação urbana de São Paulo— a conhecem é porque passam
por ela a caminho de Ouro Preto e Diamantina, vendo-a mais como uma escala
para reabastecimento na rota das pitorescas cidades mineiras da era
colonial.
Lalo de Almeida / The New York Times
A tradicional parede com marcas de cachaça, para a escolha do cliente, em
bares de BH
Seu anonimato internacional se explica pela falta de litoral, e portanto de
praias, de um carnaval famoso e de grandes atrações, exceto alguns edifícios
desenhados por Oscar Niemeyer que empalidecem perto de suas famosas obras de
Brasília.
Mas "Beagá", o apelido da cidade, pode reivindicar fama como capital
brasileira dos bares. Não bares como nos saguões elegantes de hotéis ou em
mercados agitados, mas botecos —lugares informais onde diversas gerações se
encontram, se sentam, bebem cerveja e aguardente e muitas vezes fazem uma
refeição informal. A se acreditar na propaganda local, a cidade tem 12.000
bares, uma quantidade per capita maior que a de qualquer outra cidade do
país. Por quê, ninguém tem certeza absoluta, mas uma teoria se transformou
em ditado popular: "Não tem mares, tem bares".
Embora os guias turísticos raramente os mencionem, eles são uma ótima
maneira de os viajantes mergulharem na vida social de uma cidade cuja área
metropolitana explodiu nas últimas décadas, para mais de 5 milhões de
habitantes. A melhor época de visitá-la é em abril, para a competição
'Comida di Buteco', quando cerca de 40 dos melhores bares disputam prêmios
em categorias como higiene, cerveja mais gelada, serviço e, principalmente,
o melhor tira-gosto. Os vencedores são decididos não apenas por juízes, mas
pelo voto público, dando aos moradores uma boa desculpa para sair todas as
noites durante um mês.
Se você perder o concurso, não se preocupe. Toda noite do ano parece ter uma
clima de festa em Belo Horizonte. Vá até a Mercearia Lili (rua São João
Evangelista, 696, Santo Antônio, 31-3296-1951), um participante habitual da
competição entre bares. É um dos muitos locais em Santo Antônio, um bairro
de alto nível, com ladeiras íngremes que exigem técnicas sobre-humanas de
estacionamento, ou, de preferência, use os táxis da cidade.
O bar é típico de muitas maneiras, a começar pelo mobiliário: mesas e
cadeiras de plástico amarelo com logotipo de cerveja, que se esparramam pela
calçada (garrafas de 600ml de cerveja, a ser compartilhada em pequenos
copos, são as preferidas em toda a cidade). O burburinho da conversa e o
ruído das garrafas -e não um DJ- fornecem a trilha sonora; homens e mulheres
grisalhos e jovens que nos EUA seriam menores de idade compartilham as
mesas.
Não muito longe fica o Via Cristina (rua Cristina, 1203, Santo Antônio,
31-3296-8343). É mais elegante, com mesas cobertas de toalhas xadrez verde e
brancas, garçons uniformizados e uma parede de cachaças —centenas de
garrafas diferentes da aguardente de cana-de-açúcar— que os barmen alcançam
usando uma escada como as de bibliotecas. Sua participação no concurso deste
ano foi o Raulzito, um bolinho frito recheado de carne-seca que custa R$
2,00.
Se houvesse um prêmio pelo "Mais Difícil de Chegar", o Freud Bar (sem
endereço, Nova Lima, 31-8833-9098, mapa em freudbar.com) ganharia todos os
anos. O lugar fica escondido no meio de uma mata perto da cidade, e chega-se
lá por uma estrada sinuosa de terra. O bar é construído num morro, aquecido
por lareira e tem algumas mesas sob as árvores. Tem música ao vivo (blues e
rock) e serve um cardápio limitado, mas criativo, como vinho quente ou uma
sopa de abóbora, mussarela e frango (R$ 3,50), uma boa variação da sopa de
feijão com toucinho oferecida em quase todos os botecos.
Lalo de Almeida / The New York Times
Informal, com suas mesas e cadeiras 'diferenciadas', o Bar do Caixote é um
dos muitos botecos de 'Beagá'
Os botecos não são apenas assuntos noturnos, como você descobrirá se for ao
Mercado Central da cidade numa tarde de fim de semana. Claro, há barracas
que vendem frutas, carne, os famosos queijos de Minas, cães e aves vivos
(para mascotes) e galinhas vivas (para jantar). Mas o mercado também é cheio
de bares lotados e barulhentos como o Lumapa, onde as autoridades precisam
cercar com correntes a calçada para que os clientes do mercado possam
circular. Uma opção mais calma é o Casa Cheia (Mercado Central, loja 167,
Centro, 31-3274-9585), um lugar com mesas que serve criações como o
Mexidoido Chapado, uma mistura de arroz, legumes, quatro tipos de carne e
ovos de codorna.
Também vale a pena ir aos bairros mais distantes para ver algumas versões
mais excêntricas de bares. (Com 11.999 concorrentes, faz-se o possível para
se destacar.) O ultra-informal Bar do Caixote (rua Nogueira da Gama, 189,
João Pinheiro , 31-3376-3010) tem mesas e cadeiras feitas de caixotes de
madeira. O vencedor geral do concurso deste ano, o Bar do Véio (rua Itaguaí,
406, Caiçara, 31-3415-8455), fica num bairro distante e o motorista de táxi
pode ter dificuldade para encontrá-lo, mas qualquer pessoa na região poderá
lhe indicar. Seu prato simples de pedaços de carne de porco com bolinhas
douradas de batata frita, servido com molho de abacaxi e hortelã, foi o
tira-gosto vencedor de 2007.
Quando você precisar de um descanso dos bares, faça um passeio à tarde ao
bairro da Pampulha, onde há vários edifícios de Niemeyer, incluindo sua
famosa Igreja de São Francisco de Assis. O bairro também abriga o mais
famoso restaurante de Belo Horizonte , o Xapuri (rua Mandacaru, 260,
Pampulha, 31-3496-6198), o melhor da cidade para experimentar a tradicional
cozinha 'caipira' de Minas Gerais. E no domingo de manhã você pode encontrar
presentes incomuns na 'feira hippie' (ou Feira de Arte e Artesanato da
Afonso Pena), dois longos quarteirões da avenida Afonso Pena cheios de
roupas, jóias, artigos de decoração e artesanato. Quando terminar, pare nas
barracas nas duas extremidades para comer peixe frito ou doces de coco, ou
entre para descansar no maravilhoso Parque Municipal, logo abaixo da feira.
Em qualquer um deles você não estará longe de um vendedor ambulante pronto
para lhe abrir uma lata de cerveja. Em Belo Horizonte , o mundo é um bar.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/
2 comentários:
Eu precisava vir aqui e corrigir o ditado popular (entenda-se, popularmente conhecido em beagá):
"Se não tem mar, intão vão pro bar!"
(nota para leitura: é preciso carregar no sotaque)...
Mas, ainda que tenha gostado da matéria, considerando meu espírito bairrista de ser, preciso fazer alguns apontamentos: acho que o repórter precisava de um guia melhor! Tudo bem, ele foi ao Mercado Central (um ícone, todos devem ir, ainda que não gostem de fígado, muito menos com jiló). Mas, nenhuma referência ao Maleta?! Eu perdi alguma coisa? Pulei alguma parte? Porque o Maleta é essencial! Não apenas pelo fato da Cantina o Lucas ser tombada como patrimônio municipal, mas porque além de cerveja gelada (e uma carne seca ótima, podem confiar - e não é no Lucas!) tem vários sebos! E tem cada figura!...
Aliás, ninguém levou esse cara pra comer uns pastéis no Janaína? Digo, comer pastéis no Janaína às 5h da manhã (e ficam melhores no reveilón, se você estiver voltando d'AObra)!!!
E, putz, não sei se acho bom ou se lamento (afinal bêbado que se preze quer o buteco só pra ele) nunca citam o Brasil 41! Gente, o povo só fecha 30 dias no ano quando dá férias coletivas, isso depois do carnaval. E não pensem que é por causa da quaresma, porque eles reabrem na semana santa (ou melhor, nos últimos 10 dias da quaresma). Afinal, todo bom católico que jejua quer comer um bolinho de bacalhau! E onde podemos encontrar o melhor (sic) bolinho de bacalhau de Beagá? Ali, no inicinho da Avenida Brasil! Definitivamente, é o meu buteco preferido, tem pra ninguém! Porque os garçons não são mau-humorados, eles são blasés, gente! Porque é muito bebum pra pouco garçom, eles têm que propositadamente ignorar alguns (mas nós que já sabemos disso relevamos, e até levantamos e vamos até o balcão buscar a cerva).
Eu poderia ficar horas falando dos butecos de beagá, e já ia me esquecendo do Cabral (mas esse é pra quem freqüenta as bandas da federal)...
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