sábado, 27 de setembro de 2008

Executivos de Wall Street levaram US$ 3 bi

Da série os Estados Unidos Socialista da América. Isso que é socializar o prejuízo e privatizar o lucro. E depois os brasileiros com esse espírito de vira-lata não percebe mais essa honrosa contribuição brasileira a cultura mundial. Afinal agora perdi um dos meus chavões básicos de que o Brasil tinha o sistema capitalista perfeito e suigeneres: o capitalismo sem risco, aquele que desmentia até mesmo a literatura liberal. Eis que esse nosso avanço agora é seguida pelo nosso brother preferido.

Executivos de Wall Street levaram US$ 3 bi

Valor pagos aos chefes dos 5 grandes bancos de 2003 a 2007 foi o triplo do gasto pelo JPMorgan para comprar Bear Stearns

Seus 185.687 funcionários receberam em 2007 média de US$ 353 mil, enquanto problemas com as hipotecas de alto risco se agravavam

TOM RANDALL
JAMIE McGEE
DA BLOOMBERG

Nos últimos cinco anos, as cinco maiores firmas de Wall Street pagaram mais de US$ 3 bilhões a seus executivos-chefes, que comandavam a venda e o empacotamento de empréstimos que acabaram por derrubar o sistema dos bancos de investimentos americanos.
O Merrill Lynch foi quem pagou mais a seus executivos -Stanley O'Neal recebeu US$ 172 milhões entre 2003 e 2007, e John Thain ganhou US$ 86 milhões desde que começou a trabalhar para o banco, em dezembro, incluindo um bônus na assinatura de seu contrato.
No último 15 de setembro, a empresa concordou em ser comprada pelo Bank of America por cerca de US$ 50 bilhões.
James "Jimmy" Cayne, do Bear Stearns, ganhou US$ 161 milhões antes de a empresa desmoronar e ser vendida para o JPMorgan Chase, em junho.
Congressistas democratas e republicanos estão exigindo agora a imposição de limites aos salários de executivos como parte do plano de resgate financeiro de US$ 700 bilhões proposto pelo secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson.
Ele mesmo ex-executivo-chefe do banco de investimentos Goldman Sachs, de quem recebeu cerca de US$ 111 milhões entre 2003 e 2006, Paulson disse em depoimento ao Congresso nesta semana que aceitaria tais limites como parte do pacote de socorro aos mercados, depois de ter se oposto a eles num primeiro momento.

Atraso
"Acionistas e conselhos de direção deveriam ter tomado medidas com relação a isso há muito tempo", disse Charles Elson, diretor do Centro Weinberg de Governança Corporativa, da Universidade de Delaware. "Eles justificaram os pagamentos desse nível, com base na idéia de que todos esses executivos são gênios. Acho que esse balão já estourou."
As firmas de Wall Street têm dividido seus lucros com seus funcionários. As cinco maiores -Goldman, Morgan Stanley, Merrill, Lehman Brothers e Bear Stearns- pagaram a seus 185.687 funcionários US$ 66 bilhões -incluindo US$ 39 bilhões em bônus- em 2007, enquanto os problemas com as hipotecas de alto risco se agravavam. Isso representa a média de US$ 353.089 por funcionário, incluindo um bônus médio de US$ 211.849.
As cinco firmas juntas tiveram receita líquida de US$ 93 bilhões nos cinco anos que terminaram em 2007.
Os US$ 3,1 bilhões pagos aos cinco executivos-chefes das firmas entre 2003 e 2007 foram cerca de três vezes o valor gasto pelo JP Morgan para comprar o Bear Stearns. O Goldman Sachs teve o total mais alto, US$ 859 milhões, seguido pelo Bear Stearns, com US$ 609 milhões.
Os salários dos presidentes-executivos das cinco empresas aumentaram a cada ano, dobrando para US$ 253 milhões em 2007, segundo dados compilados a partir de registros das empresas.
As cifras relativas aos rendimentos dos executivos incluem salários, bônus, ações e opções de ações, algumas concedidas por suas performances passadas. As opções foram avaliadas em um terço do preço justo de mercado das ações no momento em que as opções foram dadas -um método recomendado por Graef Crystal, especialista em pagamentos.

Setor generoso
De acordo com Crystal, as firmas de Wall Street vêm pagando a seus funcionários uma parcela maior de sua receita do que faz qualquer outro setor, cerca de 50%. Essa tradição dos bancos de investimentos tem origens em sua história: eles foram formados como parcerias de investidores que apostavam seu próprio capital.
"Em Wall Street e em Hollywood, os lucros tendem a chegar em grandes pacotes, e todo o mundo quer uma parte deles", disse Crystal. "Quer seja o filme "O Cavaleiro das Trevas" ou uma fusão enorme, o sujeito que consegue atrair todo mundo ao cinema, aquele que consegue fazer chover, pode ganhar o que bem entender."
O Lehman Brothers fez o maior pedido de concordata da história em 15 de setembro, com dívida de mais de US$ 613 bilhões. No mesmo dia, o Merrill Lynch foi vendido para o Bank of America por US$ 29 a ação, um valor mais ou menos 70% inferior ao pico de suas ações, US$ 97,53, alcançado em 24 de janeiro de 2007.
O Goldman e o Morgan Stanley, os dois maiores bancos independentes de investimentos dos EUA, foram forçados a converter-se em holdings de bancos, o que lhes deu acesso a fundos do Federal Reserve e lhes comprou tempo para adquirir depósitos. O executivo-chefe do Goldman, Lloyd Blankfein, ganhou US$ 57,6 milhões em 2007 em salário e bônus, incluindo ações e opções de ações dadas no início do ano fiscal para premiar a performance do ano anterior. Os co-presidentes Gary Cohn e Jon Winkelried receberam US$ 56 milhões cada um.
Os executivos-chefes atual e anterior do Morgan Stanley, John Mack e Philip Purcell, receberam cerca de US$ 194 milhões nos últimos cinco anos.
Mark Lake, um porta-voz do Morgan Stanley, chamou a atenção para a decisão de Mack de não aceitar um bônus por 2007 e disse que o US$ 1,6 milhão em salário e outros pagamentos que ele recebeu no ano passado não foi muito, comparado com outros presidentes-executivos de Wall Street.
"Desde que voltou para a empresa, ele vem recebendo tudo em ações, não como salário", disse Lake. "Existe uma diferença entre receber ações da empresa ou dinheiro como bônus. Se você recebe ações da empresa, obviamente está atrelado à performance dela."
O representante do Goldman Sachs, Michael Duvally, se negou a dar declarações. A porta-voz do Merrill Lynch, Jessica Oppenheim, e os representantes do JP Morgan, Brian Marchiony, e do Lehman Brothers, Monique Wise, não responderam aos telefonemas.
"O povo americano está revoltado com os pagamentos dos executivos, e com razão", disse Henry Paulson à Câmara nesta semana, fugindo do texto previamente redigido de seu discurso. "Precisamos encontrar uma maneira de tratar disso na legislação, mas sem prejudicar a eficácia deste programa [de socorro]."
Na mesma noite, em discurso à nação transmitido pela televisão, o presidente Bush disse que o plano pretende fornecer "dinheiro urgentemente necessário para que os bancos e outras instituições financeiras possam evitar o colapso" e disse que "é preciso assegurar que executivos fracassados não recebam grandes valores com o dinheiro dos contribuintes".

Ineficácia
Mas o governo americano tem um histórico fraco em matéria de regulamentar pagamentos salariais, disse Kevin Murphy, professor de finanças da Escola Marshall de Administração de Empresas da Universidade da Califórnia do Sul, em Los Angeles.
"Todas as tentativas do governo de limitar ou regulamentar o pagamentos dos presidentes-executivos feitas até hoje foram infrutíferas", disse Murphy. "Acredito que será a mesma coisa com esta. Sempre há saídas e exceções."
A regulamentação dos "pára-quedas dourados" -proteções para executivos no caso de suas empresas serem adquiridas por outras- foi evitada nos anos 1980 com os acordos de demissão, e o experimento de Richard Nixon com o controle de salários e preços acabou fracassando, disse Murphy. "Ou é o comitê de pagamentos, ou o advogado geral da empresa, ou o chefe do departamento de recursos humanos que tentam negociar um pacote de pagamento com alguém que será seu chefe em questão de semanas", disse ele.

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