O crime organizado veio para ficar. Não é mais franja, efeito colateral, exceção. Está no centro de todo o sistema. O caso Daniel Dantas está apenas mostrando que a extensão do domínio é muito maior do que imaginávamos. Não porque todos os jornalistas, empresários, juízes e parlamentares que hoje estão, em coro, construindo a absolvição de Dantas estejam diretamente vinculados a ele.Nem todos estão. Mas, indiretamente, qualquer brecha que torne longínquamente provável o desvendamento de crimes de colarinho branco atinge a todos eles. Estão todos com medo. Ninguém sabe se os "seus" próprios telefonemas foram grampeados.
A fórmula é simples:
1. Criam-se factóides em torno de grampos. Caso típico é a capa da Veja. Até agora nem ela, nem Gilmar Mendes, nem Demóstentes Torres apresentaram um dado sequer de que o grampo foi da ABIN.
2. Criado o factóide, deflagra-se o processo legal-administrativo, seja através do STJ ou do CNJ (Conselho Nacional de Justiça).
3. Consumado o movimento, os jornais voltam a defender escutas e procedimentos mais radicais. Livram a cara, depois de terem cumprido sua missão.
4. O mesmo vale para o equipamento de grampo da ABIN. Ampla cobertura ao que Nelson Jobim falou. Depois, aquele desaforo de afirmar que o equipamento pode ser usado para grampo, desde que acoplado a um equipamento próprio para grampo.
6. Finalmente, com a história do agente aposentado do SNI que ajudava na operação, a mesma coisa. Monta-se um movimento para “criar jurisprudência” através dos jornais. Algo insólito, mas entra jornal e colunista afirmando taxativamente que a Operação foi comprometida. Há toda uma discussão por trás, em que esse movimento atua como advogado de uma das partes. Depois de atingido o objetivo, ouça-se a outra parte, mas aí sem risco de comprometer a tese principal: livrar Daniel Dantas.
Resta saber se nós, aqui da arquibancada, temos alguma capacidade de articulação e reação. Eu duvido que tenhamos. Reina a sensação de que nada mais pode ser feito, de que só nos resta assistir passivamente a esse desfile interminável de vitórias do crime organizado.Estou convencido de que esta sensação é planemente justificada. Não se pode fazer abolutamente nada, mesmo. Falamos para não enlouquecer. Mas é só isso. A democracia já era. Sobrou só o discurso. Oco.
Entrevista do Jornal o Popular de Goiânia
Potogenes- Ele participou sim da operação, mas existe um dispositivo legal que prevê a figura do colaborador eventual. Mas ele ficou pouco tempo na operação, é um analista e desempenhou o papel dele a pedido nosso. A todo tempo ele cumpria expediente na sede da PF.
E quanto às suspeitas de que a Polícia Federal grampeou ilegalmente o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes?
Posso lhe afirmar que a reportagem que foi lançada nos órgãos de imprensa afirmando que houve escuta ilegal e que as suspeitas recaem nos agentes que integraram a Satiagraha é mentirosa. Todas as escutas que fizemos foram autorizadas e nosso sistema é inclusive auditado. Todas nossas escutas estão de posse da Justiça Federal e são controladas pelo Ministério Público Federal. O próprio órgão de imprensa que deu o furo de reportagem não demonstrou o áudio. Cadê o áudio? Só aparece uma transcrição? Cadê o áudio? E envolve duas pessoas importantes da República, o presidente do STF e o senador Demóstenes Torres. Como que lança o nome de duas pessoas dessa forma e não aparecem as provas?
Na sua opinião, houve uma inversão no debate sobre as investigações?
Hoje, o que se discute é a conduta dos investigadores. Não se discute mais o investigado principal. E nem os fatos que porventura estão em torno dele, que são mais graves que a figura central dele. E o próprio investigado tem noção disso, senão não estaria fazendo toda uma estratégia de trabalho nesse sentido. Estava já voltando o foco para o investigado e os fatos em torno dele e aí se criou outro fato. E acredito que outros virão.
Como se viu saindo da condição de herói, que prendeu pessoas poderosas suspeitas de corrupção, e de repente passou a ser atacado e ter o trabalho duramente questionado?
(...) Dá um pouco de tristeza de ver algumas posições sem muita clareza e sem muita explicação para o que se pretende. Mas, por outro lado, são atitudes que cada vez mais me enchem de vontade de persistir no trabalho de combater a corrupção. Na Satiagraha, fiquei uma semana trancado numa sala à base de biscoito e café. Fiquei com seqüelas da operação, passei alguns dias gago e com perda temporária de memória. Mas, se me dediquei muito naquela ocasião, agora vou trabalhar dobrado.
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Primeiro foi o ministro da Casa Militar, a diretoria da ABIN e outros setores militares que desmentiram o tal grampo sem prova da Veja, grampo aliás interessante já que só servia de elógio aos grampeados, diga de passagem duas figuras das mais soterradoras: Gilmar Mendes e Demosténes Torres. Depois foi a vez da empresa americana que fabricou a tal amelta negar de forma peremptoria que a mesma pudesse fazer grampos. Agora foi a perícia que também confirma o grampo não é possível. EIs que a chicana continua, e o nome deles os melhores advogados do Dntas é o ministro Gilmar Mendes e o ex-ministro do STF Nelson Jobim e o ex-delegado Marcelo Itagiba, veja o que eles disseram nas últimas horas:
o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e também o da CPI , Marcelo Itagiba, apareceram por sites e foram parar no mesmo "JN", para dizer que o laudo "é insuficiente para isentar" a Abin e anunciar até "perícia própria" da maleta.
No dia anterior, Jobim já havia usado argumento novo. Agora é a participação de agentes da Abin na Operação Satiagraha.
"Inicialmente se dizia que a Abin não tinha participado desse episódio [o grampo dele com Demóstenes], depois se afirmou que a Abin fez um apoio técnico, depois se revelou que teve uma participação mais ampla de 52 [agentes da Abin], agora se informa que são 56 diante dos 22 agentes federais [da PF] que atuaram. Então vem a pergunta: quem é que teve uma atuação principal nesse episódio? A Abin ou a Polícia Federal?", questionou Mendes.
Nós ainda tivemos uma outra revelação: o diretor-geral da PF não sabia que a Abin tinha este grau de participação. Então vem a pergunta: o que está ocorrendo nessa seara? A Abin está agora substituindo a PF? E ela pode fazê-lo? A meu ver, não. Isso é ilegítimo. É uma situação de descontrole, de desgoverno? É preciso que nós respondamos a essas perguntas."
ENFIM QUE DÁ DESANIMO DÁ.
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