Emocionante, emocionante. Viva o grande Sórin !!! Amor, raça, sangue, dedicação, amor. Como sempre digo em Antropologia (que é minha profissão), bem como para outros campos profissionais, para ser profissional é preciso ser amador, ou seja amar aquilo que se faz. Senão não vale a pena.
Uma carta de Sorín
Barcelona, 12 de maio de 2002 (4 meses depois do último jogo de Sorín pelo Cruzeiro na sua primeira passagem por Belo Horizonte).
"Há quatro meses conquistamos a Copa Sul Minas. Há quatro meses fui embora do Cruzeiro. O texto abaixo escrevi para mim, porém, senti a necessidade de compartilhar-lo com vocês. Simplesmente para que saibam a importância que tudo isso tem na minha vida. Simplesmente para seguirmos juntos, apesar da distância.
Hoje, estréio em meu novo time. São muitas as expectativas e as vontades de sempre, mas esperando um dia retornar a minha segunda casa.
15:58 h. - Banderas em tu corazón
Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão. Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso. Pegamos forte e corremos para o gramado. Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções. Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis. Chegam as placas de homenagem. Primeiro, do presidente. Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube. A melhor homenagem, da cozinheira ao ropeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos... Vale ouro! Vale mais suor, ainda!
Sorteio a moeda da Fifa, eh? Deu branco e ganhei. No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida. Antes de começar toca o hino brasileiro. Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio. Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina. Que orgulho! Não posso acreditar. Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes? Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bendeira vertical. É minha despeida, a partida final. Contenho as lágrimas, soa o apito.
16:20 h. - Sarando as feridas
Meu Deus! Um choque forte, toco a sombrancelha. Sangue. Puta que pariu! De novo? Quarto corte na cabeça em dois ano e meio. Queria jogar e o juiz reserva "canarinho" disse-me que não! Quase que pede a minha substituição e disse que há muito sangue. Peço-lhe por favor. Hoje, não me deixes de fora, irmão! Ele não entende bem, mas me permite entrar e lávou eu como um "papai smurf". Serão seis pontos n intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte.
17:40 h. - Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai...
Tira a camisa! Tira a camisa!
Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la. O "cabeção", meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor). Entra na área e só rola para trás. Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele. Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo prá pensar. Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa... Não pode ser real. As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial.
17:55 h. - Ah, eu tô maluco!
Bi cam-pe-ão!
Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão. Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço. Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final.
Escuta-se um estrondo inconfundível. Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tital e Bolinha, todos malucos. De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica. Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso. E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim, que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente. Então, vem a enorme emoção e comemoro como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez.
Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão. Despeço-me e quero abraçar a todos. Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro. Vejo faixas e ainda não acredito. Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente.
Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe extamente no Dia das Mães e é impossível não chorar. Finalmente, recebo a Copa tão desejada. É bonito ser campeão. É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão. Levantamos a taça, desfrutamos e saimos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço. Imagino Minas. Imagino BH. Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito.
Será que sonhei?
Nem um sonho seria tão incrível.
Estou partindo e pensando se algum outro dia eu serei tão feliz!"
Juan Pablo Sorín
Uma carta de Sorín
Barcelona, 12 de maio de 2002 (4 meses depois do último jogo de Sorín pelo Cruzeiro na sua primeira passagem por Belo Horizonte).
"Há quatro meses conquistamos a Copa Sul Minas. Há quatro meses fui embora do Cruzeiro. O texto abaixo escrevi para mim, porém, senti a necessidade de compartilhar-lo com vocês. Simplesmente para que saibam a importância que tudo isso tem na minha vida. Simplesmente para seguirmos juntos, apesar da distância.
Hoje, estréio em meu novo time. São muitas as expectativas e as vontades de sempre, mas esperando um dia retornar a minha segunda casa.
15:58 h. - Banderas em tu corazón
Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão. Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso. Pegamos forte e corremos para o gramado. Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções. Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis. Chegam as placas de homenagem. Primeiro, do presidente. Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube. A melhor homenagem, da cozinheira ao ropeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos... Vale ouro! Vale mais suor, ainda!
Sorteio a moeda da Fifa, eh? Deu branco e ganhei. No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida. Antes de começar toca o hino brasileiro. Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio. Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina. Que orgulho! Não posso acreditar. Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes? Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bendeira vertical. É minha despeida, a partida final. Contenho as lágrimas, soa o apito.
16:20 h. - Sarando as feridas
Meu Deus! Um choque forte, toco a sombrancelha. Sangue. Puta que pariu! De novo? Quarto corte na cabeça em dois ano e meio. Queria jogar e o juiz reserva "canarinho" disse-me que não! Quase que pede a minha substituição e disse que há muito sangue. Peço-lhe por favor. Hoje, não me deixes de fora, irmão! Ele não entende bem, mas me permite entrar e lávou eu como um "papai smurf". Serão seis pontos n intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte.
17:40 h. - Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai...
Tira a camisa! Tira a camisa!
Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la. O "cabeção", meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor). Entra na área e só rola para trás. Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele. Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo prá pensar. Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa... Não pode ser real. As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial.
17:55 h. - Ah, eu tô maluco!
Bi cam-pe-ão!
Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão. Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço. Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final.
Escuta-se um estrondo inconfundível. Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tital e Bolinha, todos malucos. De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica. Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso. E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim, que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente. Então, vem a enorme emoção e comemoro como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez.
Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão. Despeço-me e quero abraçar a todos. Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro. Vejo faixas e ainda não acredito. Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente.
Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe extamente no Dia das Mães e é impossível não chorar. Finalmente, recebo a Copa tão desejada. É bonito ser campeão. É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão. Levantamos a taça, desfrutamos e saimos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço. Imagino Minas. Imagino BH. Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito.
Será que sonhei?
Nem um sonho seria tão incrível.
Estou partindo e pensando se algum outro dia eu serei tão feliz!"
Juan Pablo Sorín
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