Ebulição da Escravatura - Luís Carlos de Oliveira
A área de serviço é senzala moderna,
Tem preta eclética, que sabe ler “start”;
“Playground” era o terreiro a varrer.
Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,
Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;
Não entra no novo quilombo da favela.
Capitão-do-mato virou cabo de polícia,
Seu cavalo tem giroflex (radiopatrulha).
“Os ferros”, inoxidáveis algemas.
Ração poder ser o salário-mímino,
Alforria só com a aposenadoria
(Lei dos sexagenários).
“Sinhô” hoje é empresário,
A casa-grande verticalizou-se.
O pilão está computadorizado.
Na última página são “flagrados” (foto digital)
Em cuecas, segurando a bolsa e a automática:
Matinal pelourinho.
A princesa Áurea canta,
Pastoreia suas flores.
O rei faz viaduto com seu codinome.
— Quantos negros? Quanto furor?
Tantos tambores... tantas cores...
O que comparar com cada batida no tambor?
“A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres”.
Luís Carlos de Oliveira nasceu em Minas Gerais, em 1965, e reside em Salvador desde 1984. Obra poética: Calo ou Falo, Editora Writers, São Paulo, 2000. Leia mais sobre Luís Carlos de Oliveira.
2 comentários:
Escrevo por cima das letras acima...feita de minhas letras em punho...bublicar significa dar ao público. Bom uso!
Luís Carlos de Oliveira Aseokaýnha
Valeu demais Poeta, principalmente as boas obras são sempre uma dádiva ao público. Caso queira privilegiar este blog para divulgação de outros poemas, sinta-se a vontade.
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