BÔNUS - UM PASSO VITORIOSO QUE APONTA PARA A CONTINUIDADE DA CAMINHADA!
Ontem, dia 15 de maio de 2008, vivenciamos um momento histórico na UFMG, no qual o Conselho Universitário se reuniu tendo entre suas pautas a proposta de implementação de um bônus de 10% para alunos oriundos da escola pública que cursaram 11 anos nesta rede.
A reunião do Conselho tinha diversas pautas e a discussão sobre o Bônus era o segundo ponto a ser pautado e como já esperávamos ficamos praticamente toda a reunião neste item. Vale ressaltar que a representação estudantil foi para a reunião com um posicionamento contrário ao bônus tendo-o como uma proposta insuficiente como mecanismo de inclusão.
Diante do andamento da discussão de inclusão na UFMG sabíamos que não havia clima e contexto político para aprovação de cotas raciais, ou melhor, para pautar cotas e entendemos que cientes disso, os professores que se articulam pelas ações afirmativas apresentaram uma proposta de aditivo de 10% para alunos das Escolas Públicas que se auto-declararem negros, pois foi o possível no momento.
No início da reunião o conselho concedeu a fala de 10 minutos para três pessoas interessadas na pauta do Bônus e desta maneira, tivemos a fala de Danielle (Educafro/Minas e MAD) como representante dos movimentos sociais que estavam ali na UFMG e a mesma manifestou posição favorável às cotas raciais opondo-se a proposta do bônus; da Profa. Nilma Gomes (FaE/UFMG e Coordenadora do Programa Ações Afirmativas na UFMG) que apresentou a posição favorável as cotas raciais, com dados estáticos que apontavam para a necessidade de tais políticas; e do Prof. Mauro Braga (Pro-Reitor de Graduação e elaborador da proposta de Bônus) para esclarecimentos sobre às questões levantadas pelos conselheiros. Após a fala cada convidado se retirou e a reunião prosseguiu com os mais diferentes pontos de vista.
Nós estudantes durante todo o nosso discurso defendíamos as Cotas Raciais e/ou a relevância da questão racial ao se construir uma proposta de inclusão e durante as longas horas de discussão, alternavam-se as posições sobre o bônus, sobre o adicional ao bônus, mas sem explicitas manifestações contrárias.
Foram horas de discussão, se considerarmos que entramos na reitoria as 14:20h e saímos aproximadamente as 19h. Contudo ficou evidente a necessidade da política de inclusão da UFMG ser votada ainda no mês de maio e aos poucos tal “demanda” foi sendo aderida por alguns conselheiros. E ressaltamos que, a representação estudantil colocou como proposta de encaminhamento: 1. a criação de uma comissão ligada ao Conselho Universitário para a realização de um Censo étnico racial e social na UFMG e 2. Criação de uma Comissão para elaboração de uma proposta de ação afirmativa pautada nos resultados do Censo.
Tal proposição não foi aceita nestes termos, pois conselheiros docentes se manifestaram a favor da votação naquela reunião e tal encaminhamento foi dado pelo reitor. Neste momento surgiu também a proposição de redução do bônus adicional para alunos auto-declarados negros e estudantes de escola pública de 10% para 5%. Tal como para a diminuição dos anos de estudo dos alunos que teriam bônus de 11 anos para 7 ou 3 anos em escola pública, lembrando que esta proposta de diminuição foi estimulada principalmente pelos insuficiência dos dados apresentados pela reitoria na proposta do bônus que se referiam somente aos 3 últimos anos de estudos dos candidatos ao Vestibular da UFMG.
Nós estudantes, verificando que o cenário político estava favorável ao bônus e à votação naquele momento fizemos uma outra proposta de aumento do percentual de bônus adicional para alunos auto-declarados negros e estudantes de escola pública para mais de 10% não abrindo mão do compromisso da criação das comissões acima mencionadas.
Desta maneira, já passando das 18:00h começamos a votação que seguiu na seguinte ordem: aprovou-se a proposta de bônus; aprovou-se a diminuição dos anos cursados na escola pública de 11 para 7; aprovação do aditivo proposto e relacionado aos estudantes auto-declarados negros e com 7 anos de estudos na escola pública; aprovação do percentual de 5% para este aditivo (sendo que perdemos por 1 voto o aditivo de 10%) e aprovação da criação de uma comissão ligada ao Conselho Universitário que trabalhará juntamente com o grupo de professores que reivindicaram Censo étnico-racial, formada por professores, estudantes e funcionários que terá como atribuição construir uma proposta de Ações Afirmativas.
Deferidos tais encaminhamos temos conforme decisão do Conselho Universitário que a UFMG implementará a partir do próximo vestibular e nos próximos 4 anos a política de adição de bônus de 10% para alunos que cursaram no mínimo 7 anos de estudos na escola pública e de 15% para alunos que cursaram 7 anos de estudos na escola pública e se auto-declararem negros/as. Firmou-se ainda, o compromisso de apresentação anual de dados sobre esta política no Conselho Universitário.
Enquanto estudantes – conselheiras este é o nosso relato da reunião que aconteceu no dia 15 de maio de 2008 no Prédio da Reitoria – Campus Pampulha.
Enquanto integrantes do Movimento Afirmando Direitos – MAD dizemos que este foi um passo vitorioso, mas não aquele que almejamos e consideramos mais comprometido com o projeto de sociedade justa e com o rompimento do mito da democracia racial existente em nosso país. A luta continua, este foi apenas o começo!
Em tempos de lutas, lutamos sempre!
Fernanda Vasconcelos Dias
Tatiane Izabela dos Reis
Nenhum comentário:
Postar um comentário