Ando tão irritado com a babaquice reinante. Alias até ai nenhuma novidade né. Mas é que cada vez mais me irrito com o tanto de besteira e baboseira que é dita na TV, no rádio, no jornal e na net essa lata que aceita tudo. Tudo vendido com a idéia de novidade e ar de superioridade. E para piorar as raras excessões dessas mesmas mídias só servem para confirmar a idiotice reinante. Por exemplo, a música, a uma decada atrás reclamava da música mas hoje percebo que aquilo é que era música, um dia desses me peguei a adimirar algumas canções do Só para Contrariar ... isso por que as músicas atuais são bem piores e, assim por diante nas demais mídias. Tá difícil. Um dia desse numa dessas poucas raridades no deserto (por equanto, a Record News) vi uma entrevista com o Jerry Adriani e em determinado momento a entevista virou uma grande homenagem ao Raulzito, os dois eram grandes amigos, Raul chegou a morar na casa da mãe do Jerry. Após esse programa, as coisas ditas por Jerry a respeito do Raulzito ficaram martelando e martelando em minha cabeça e; ai começei a pensar em rever alguns conceitos: o que é terrível não é a ignorância e a burrice (e sim o seu culto como verdade mais digna do que as outras verdades, dito de outro modo, como se fosse feio e vulgar ser um pouco mais afetado- uso propositalmente essa palavra- exatamente para afrontar os poucos afetados) mas sim a caretice. EIS o grande problema de nossa época a maldita CARETICE. É isso, a caretice é tão virulenta que nos vende a idéia de que somos livres, quando não somos; que somos independentes quando somos cada vez mais dependentes; de que somos avançado quando somos caretas; de que somos espertos quandos somos otários; de que somos liberados quando na verdade somos mais travados que os europeus dos anos 20 (digo europeus pois toda essa desgraça judaíco-cristã foi gestado lá, lá e seus Bentos XVI e sua ecologia humana ... a única ecologia que não aceita a natureza tal como ela é... aliás o bentinho é a imagem do scientist ou como dizem os seus compatriotas do espírito de nossa época). Essa caretice toda se transmuta em cretinice e ai temos que aguentar toda essa porcaria. A cretinice por sua vez se transmuta nas certezas. Sim elas, sempre elas, as certezas.
"Ah Ah Ah!Ah Ah Ah!Ah Ah Ah!...Prefiro serEssa metamorfose ambulanteEu prefiro serEssa metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudoDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudo...Eu quero dizerAgora o opostoDo que eu disse antesEu prefiro serEssa metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudoDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudo...Sobre o que é o amorSobre o que euNem sei quem souSe hoje eu sou estrelaAmanhã já se apagouSe hoje eu te odeioAmanhã lhe tenho amorLhe tenho amorLhe tenho horrorLhe faço amorEu sou um ator...É chato chegarA um objetivo num instanteEu quero viverNessa metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudoDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudo...Sobre o que é o amorSobre o que euNem sei quem souSe hoje eu sou estrelaAmanhã já se apagouSe hoje eu te odeioAmanhã lhe tenho amorLhe tenho amorLhe tenho horrorLhe faço amorEu sou um ator...Eu vou desdizerAquilo tudo que euLhe disse antesEu prefiro serEssa metamorfose ambulanteDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudoDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudoDo que ter aquela velha opiniãoFormada sobre tudo...Do que ter aquela velha, velhaVelha, velha, velhaOpinião formada sobre tudo..."
Cabe a pergunta: estamos vivendo efetivamente a miséria da filosofia, da crítica, da literatura, da música, da ciência? O chamado silêncio dos intelectuais? Ou melhor seria o medo dos intelectuais? Ou seria o fracasso dos intelectuais de 60, pois sim são eles que estão no poder. Será que a geração 60 não foi uma grande ilusão, melhor seria a geração pré-60. Só para lembrar Sartre, Simone, a Escola de Frankfurt, os neo-marxistas franceses, italianos, alemães e mais para trás Freud, Gramsci, etc,etc todos eles são pré-60. Aliás os hippies, a contracultura, os direitos civis, os beat são todos pré-60. Aliás os ismos todos são pré-60, os ismos que os 60 tantam tentaram que enfim conseguiram destruir. Não vivemos o fim da história, uma das cretinices - caretices -certezas imbecis e imbecilizantes que foi comprada pela inteligencia pós 60; mas sim vivemos o fim das ideologias, a era do que tudo é possível. e ai de novo o canto da sereia cretina-careta e cheia de certezas, ao contrário do que vende o canto da sereia, onde tudo é possível nada é permitido. Enfim ... texto confuso e angustiado, sem pé nem cabeça, que começou com um assunto e mudou para outro...um pouco retrato de seu autor ou retrato dessa época ... de vazios e mediocridades, inclusive daqueles que ousam nomear a mediocridade. Afinal dessa não escapo, eu também sou a mistura entre cretinice, caretice e burrice, com a pequena e única desvantagem da soberba transformada em dúvidas e de não gostar de certezas... mas que no final de nada valem, pois continuo aqui paralisado como diria Belchior"no medo Belo Horizonte, no medo Minas Gerais..." Ps1: falta, falta ao Brasil de hoje Raulzito, Cazuza, Renato Russo, Stanislaw Ponte Preta e tantos e tantos outros, Carolina de Jesus, Carlos Drumond de Andrade e tantos Sérgio Buarque, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Nelson Werneck, Caio Prado e tantos outros que ousaram ...
Contra tudo isso, contra todo esse FEBEAPÁ recordemos Stanislaw Ponte Preta (e assim mato saudades das aulas no saudoso Estadual Central, já que o livro didático do primeiro grau era recheado de texto dele..aliás saudosa época em que li todos os grandes da literatura brasileira).
O fabuloso Stanislaw Ponte Preta
Mais carioca que ele, impossível
Lu Gomes
O cenário é um café. Um alemão "forte pra cachorro" está tomando umas e outras. De repente, ele provoca: "Aqui dentro não tem homem pra mim!" Um turco, igualmente forte, se apresenta, leva um murro e vai ao chão. Então um português, ainda mais forte, parte pra cima do alemão. A mesma coisa: um murro e o lusitano tomba sem sentidos.Depois foi a vez do inglês, do francês, do norueguês apanharem. E sempre depois de nocautear um desafiante, o alemão repetia que ali não tinha homem pra ele. Até que um brasileiro magrinho levantou-se lá no fundo, perguntou "é comigo?", o alemão disse "pode ser", e o brasileiro foi chegando cheio de ginga pro lado do teutônico, parou perto, balançou o corpo e... PIMBA! O alemão deu-lhe uma traulitada na cabeça que o deixou arrebentado.A história acaba aí "que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros".Este é um resumo da crônica "Vamos acabar com esta folga", do Stanislaw, a fina flor dos Ponte Preta, publicada em Tia Zulmira e Eu, seu primeiro livro. Ele não suportava esse defeito do brasileiro de ser assim tão folgado.
Mais carioca que ele, impossível
Lu Gomes
O cenário é um café. Um alemão "forte pra cachorro" está tomando umas e outras. De repente, ele provoca: "Aqui dentro não tem homem pra mim!" Um turco, igualmente forte, se apresenta, leva um murro e vai ao chão. Então um português, ainda mais forte, parte pra cima do alemão. A mesma coisa: um murro e o lusitano tomba sem sentidos.Depois foi a vez do inglês, do francês, do norueguês apanharem. E sempre depois de nocautear um desafiante, o alemão repetia que ali não tinha homem pra ele. Até que um brasileiro magrinho levantou-se lá no fundo, perguntou "é comigo?", o alemão disse "pode ser", e o brasileiro foi chegando cheio de ginga pro lado do teutônico, parou perto, balançou o corpo e... PIMBA! O alemão deu-lhe uma traulitada na cabeça que o deixou arrebentado.A história acaba aí "que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros".Este é um resumo da crônica "Vamos acabar com esta folga", do Stanislaw, a fina flor dos Ponte Preta, publicada em Tia Zulmira e Eu, seu primeiro livro. Ele não suportava esse defeito do brasileiro de ser assim tão folgado.
Tem coisa que contando ninguém acredita, e o carioca Stanislaw Ponte Preta é uma. Ele nasceu robusto de zombaria e irreverência em 1951, na redação do Diário Carioca. Jacinto de Thormes deixara vaga a coluna social do jornal e Sérgio Porto foi convidado a ocupá-la. Sérgio não aceitou, mas criou (com uma ajuda do Rubem Braga, dizem) o pseudônimo Stanislaw Ponte Preta (inspirado no Serafim Ponte Grande, livro de Oswald de Andrade), para que "Stan não prejudicasse o Sérgio. Isto é, eu, Sérgio, queria escrever coisas sérias; o Stanislaw deveria abordar assuntos inconseqüentes".
Começou assimTremei, cronistas menores, moçoilas que volitais em nossas ribaltas, regozijai-vos! Eis que cá está o mais vivo dos Ponte Preta, o mais fero dos colunistas, o mais noticioso dos noticiadores. Nada puderam contra mim as manobras golpistas que tramavam a derrubada daquele que representa a vontade popular. Stanislaw, exilado em si mesmo, para evitar despesas de viagem, esperou o momento oportuno e aqui está, para gáudio de seus leitores, empunhando sempre em defesa do interesse comum, a sua intemerata e brilhante pena: uma intimorata Remington semiportátil! E após esse intróito tão impregnado de modéstia, no estilo dos colunistas modernos, Stanislaw passa, muito a contragosto, a falar dos outros!E como falou! Desancou todo mundo. O Lalau era fogo na jacutinga. Ele se dizia um "humorista a sério" e definia seu estilo como "lírico-espinafrativo". Falava tudo na bucha e não fazia prisioneiros. Gozava até dos "coleguinhas" de imprensa. O colunista social Ibrahim Sued era seu alvo favorito e Lalau não perdia a chance de espinafrar o "famoso escritor líbano-carioca":Imaginem vocês que Ibrahim - agora em viagem pela Europa, para desmentir definitivamente a máxima "quem viaja aprende" - vem de publicar uma notinha das mais importantes.Diz o mestre de Jeff Thomas, o inspirador de Pouchard, que andou conversando com o Duque de Windsor. Para castigar um pouco de modéstia no seu escrito, o famoso "dramaturco" explicou que não conversou em português, o que, aliás, deve ser verdade, pois o duque fala um pouquinho de português, mas Ibrahim não.Quanta besteira!O Festival de Besteira que Assola o País - FEBEAPÁ, para os íntimos - começou a ser anotado no livro Garoto Linha Dura, de 1964, o ano da "redentora", que era como Stanislaw chamava a revolução militar, que deu um grande impulso ao Festival. Dois anos depois, o febeapá ganhava um livro próprio. As notas foram recolhidas da sua coluna "Fofocalizando", na Última Hora, e editados "na base da bagunça, pra respeitar a atual conjuntura", como ele explicou no prefácio.
Eis alguns tópicos:Ibrahim Sued, que já era do Festival antes de sua oficialização, estreava um programa de televisão e avisava ao público: "Estarei aqui diariamente às terças e quintas".
Em Belo Horizonte, um delegado espalhou espiões pelas arquibancadas dos estádios porque "daqui pra frente quem disser mais de três palavrões, torcendo pelo seu clube, vai preso".
Quando se desenhou a perspectiva de uma seca no interior cearense, as autoridades dirigiram uma circular aos prefeitos, solicitando informações sobre a situação local depois da passagem do equinócio. Um prefeito enviou a seguinte resposta à circular: "Doutor Equinócio ainda não passou por aqui. Se chegar será recebido como amigo, com foguetes, passeata e festas".
Em sua luta contra a burrice reinante, Stanislaw combatia entrincheirado nas areias de Copacabana, que ainda era a "Princesinha do Mar". Era onde lia os jornais, pescando notícias para comentar em sua coluna. Enquanto teve fôlego, foi o goleiro do Lá Vai Bola, time da praia que na linha tinha João Saldanha e Heleno de Freitas. Adorava futebol, inclusive o de botão, e torcia pelo Fluminense.Na Copa do Mundo de 1962 a Fatos & Fotos queria matérias "diferentes" e mandou Stanislaw para o Chile. O embate é contra o México. Sente o drama:Começa o pega. (...) O Brasil está nervoso. Tá parecendo o misto do Campo Grande em dia de treino. (...) Só no segundo tempo Pelé se lembrou que era Pelé: apanhou a leonor no meio do campo, puxou todos os mexicanos para a direita (vieram todos, de Juarez ao Trio Los Panchos) e deu um passe a Zagalo lá na esquerda, que só teve o trabalho de testar para o véu da noiva. Depois Pelé dava outro passeio pela vereda tropical e da entrada da área venceu o goleiro Carbajal. E foi só.
Que delícia, heim? Vamos então relembrar, com narração do Lalau, os melhores momentos desta conquista, pois vale a pena:Brasil 2x1 EspanhaOs espanhóis (estão) encolhidos, e não é por causa do frio, é tática mesmo. Do lado da equipe brasileira a bola só vai no fim do mês, pra receber o ordenado. Mas o que a gente pensava que ia ser um carnaval carioca virou uma fiesta brava. (...) Bola no peito de Zagalo, que estica, o lotação Vavá-Largo da Abolição entra no seu itinerário e atropela um pedestre com a camisa da Espanha. O major Puskas dá uma cipoada em Mauro e é advertido. Mas estava escrito e o major apanha a bola, estica pelo meio, Mauro ainda estava pensando numa bobeada anterior e deixa o número 18 deles entrar livre e abrir a contagem. Foi chato. (...) Os nossos estão fazendo o possível, mas pra ganhar este jogo melhor seria fazer o impossível... e é gol! Zagalo foi genial. Depois eu explico, agora de jeito nenhum. Melhorou o Brasil, até Mauro faz uma jogada certa. (...) Garrincha vai devagarzinho, de repente vira foguete, é João pra tudo quanto é lado. Ele centra, Amarildo dá de testinha. É gol, meninada!
Brasil 3x1 InglaterraBate Zagalo, pula seu Mané, pequenino, no meio de diversas Torres de Londres. E é gol dele! (...) Didi come Norman por cima, à la Dominguin, e dá o melhor passe do campeonato para Amarildo. (...) Garrincha oferece um cocktail party no meio da área deles e por pouco não coloca a leonor lá dentro. (...) Greaves dá de balãozinho para dentro da janela de Gilmar, a bola bate na veneziana, volta para Hitchins e é gol. Deles. (...) No segundo tempo, Garrincha continuou garrinchando e deu um gol pra Vavá fazer e parar de gritar pedindo a bola. O jogo tá tão fácil que vovô Nilton Santos sai passeando com os netinhos pela alameda de Sausalito.
Brasil 2x1 Tcheco-EslováquiaOs tchecos não chegaram à final por acaso, eles dominam a leonor com a mesma facilidade com que o Cartola da Mangueira domina o telecoteco. (...) E lá vai Manuel, o Venturoso. Tem quatro cercando ele, mas é pouco. (...) Mauro bobeou e Masoputz botou o camarada do placar pra trabalhar. E é gol, Amarildo, nem bem eu tinha acabado de escrever a frase acima e Amarildo... ah, menino bom! (...) Zito de vez em quando diz pro Didi güenta aí que vou ali mas já volto e seu Mané dá o primeiro grito de carnaval da tarde. Chutou raspando. (...) Seu Mané escorregou e caiu. Nervoso não é, porque Garrincha só fica nervoso nas peladas de Pau Grande. (...) Amarildo foi à linha de fundo e com calma impressionante esperou que um se colocasse. Quando Zito chegou foi só alçar a infiel por cima da muralha eslava. O sol atrapalhou e o lotação Vavá-Largo da Abolição botou a juriti pra cantar. (...) Os chilenos vinham vaiando o maior craque deste campeonato do mundo, mas agora seu Mané ficou com a bola no pé uns 30 segundos. Palmas do estádio inteiro. E acabou. O Brasil é bicampeão mundial de futebol!(Entra a musiquinha do Canal 100: "Que bonito é...")
Trabalha, trabalha, nêgo...Stanislaw atacava em todas: rádio, televisão, teatro, cinema. É dele o roteiro e os diálogos da chanchada E o Bicho Não Deu, de 1959. Mais tarde, histórias do livro As Cariocas (assinado por Sérgio Porto) também viraram filme. No rádio, escrevia humorísticos para a Mayrink Veiga, como Miss Campeonato, sobre futebol. Os livros com coletâneas de suas crônicas eram best-sellers instantâneos.
Acima de tudo, era um mulherólogo. Mulherengo, também. Mulher era sua principal motivação. Quando Jacinto de Thormes, "no tempo em que se dedicava a essa bobagem de escriba de soçaite, defeito que ele felizmente já corrigiu", publicou na Manchete sua lista das "Dez Mais Bem Vestidas do Ano", Stan, também colaborador da revista - cobrindo (modo de dizer) o teatro rebolado -, pra não ficar por baixo inventou as "Dez Mais Bem Despidas". Depois, quando seu pai Aurélio, com ele certo dia no ponto de ônibus, comentou "olha que moça mais certa", as "Mais Bem Despidas" viraram "As Certinhas do Lalau". E que certinhas, distinto leitor - beldades de qualidade superior, como Aizita Nascimento, Gina Le Feu, Rose Rondelli, Esmeralda Barros, Virgínia Lane, Zélia Martins, Carmem Verônica, só para citar algumas das eleitas. Que belas coxas! (Convém lembrar que este era um tempo em que as pernas femininas eram o grande fetiche e as vedetes mostrando as coxas naqueles maiôs cavados eram o máximo que podíamos admirar da anatomia feminina na imprensa daqueles anos dourados.)Em 1956 Sérgio Porto ficou famoso em São Paulo ao participar, por 16 semanas, do programa O Céu é o Limite, da TV Tupi, respondendo - absolutamente certo! - as complicadas perguntas de Aurélio Campos sobre música brasileira. O homem era uma enciclopédia musical. Faturou o maior prêmio dado pelo programa até então: 300 mil cruzeiros (quanto isso valeria hoje?). Tinha adoração por Pixinguinha. Sua discoteca era imensa, falava-se em 30 mil discos, entre LPs e 78 rotações. Foi ele quem inventou o termo bossa-nova. O jazz era sua outra grande paixão musical, até escreveu um livreto sobre sua história. Gostava de trabalhar ouvindo música e de vez em quando tocava um trombone imaginário.O filho da dona Dulce era um "boêmio que adorava ficar em casa" e trabalhava feito louco, o que, segundo os médicos, provocou seu primeiro infarto em 1959, aos 36 anos.
Dois anos mais tarde, em carta à mulher Dirce, temporariamente ausente do Rio, ele listava o que andava fazendo:Hoje fui gravar na televisão e antes foi aquela batalha contra as teclas. Estou trabalhando demais, outra vez. Só para esta semana: seis Stanislaws, um Fatos & Fotos, um final apoteótico para o novo programa do Chico Anísio, roteiro e script para aquela bosta chamada Espetáculos Tonelux, depois quadros humorísticos para a TV Rio, Miss Campeonato, Da Boca Pra Fora, o programa de rádio Atrações A-9, além da revisão do livro O Homem ao Lado que será reeditado no próximo mês e da gravação do programa Qual É o Assunto.Detalhe: Sérgio ainda era funcionário do Banco do Brasil (Jaguar, que ilustrava seus livros, era outro). Pegava às 7 da manhã, tinha um expediente especial, sem obrigação de horário integral - quanto mais rápido ele terminasse sua tarefa, mais cedo saía. Demitiu-se em 1965, depois de 23 anos de serviço, dizem que por perseguição da "redentora".Perto do fim da vida, afastou-se da televisão e foi escrever revistas para o teatro rebolado. Numa delas - Pussy Pussy Cats, produzida por Carlos Machado -, Lalau perpetrou um "Samba do Crioulo Doido", uma magistral paródia de samba-enredo. A gozação era em cima do Departamento de Turismo da Guanabara, que obrigava as escolas de samba a desfilarem apenas enredos baseados em fatos históricos.O samba extrapolou a ribalta e fez o maior sucesso na gravação do Quarteto em Cy. Sintetiza como a chamada "cultura carnavalesca" entende a nossa história:
Foi em Diamantina onde nasceu JKque a Princesa Leopoldina arresorveu se casáMas Chica da Silva tinha outros pretendentese obrigou a princesa a se casar com TiradentesLá iá lá iá lá iá... O bode que deu vou te contáJoaquim José, que também é da Silva XaviéQueria ser dono do mundo e se elegeu Pedro SegundoDas estradas de Minas seguiu pra São Pauloe falou com AnchietaO vigário dos índios aliou-se a Dom Pedroe acabou com a falsetaDa união deles dois ficou resolvida a questãoe foi proclamada a escravidão!Assim se conta essa históriaQue é dos dois a maior glóriaA Leopoldina virou treme Dom Pedro é uma estação tambémÔ-ô-ô-ô-ô-ôO trem tá atrasado ou já passou!
O samba originou o Show do Crioulo Doido, uma palestra musical que estreou no início de 1968 e teve mais de uma centena de apresentações pelo País, com um desinibido Stanislaw no palco, contando casos apoiado pelo Quarteto em Cy. Mas isso foi muito depois de ele dar um vexame daqueles na tevê. Foi quando o Brasil estava sendo atropelado pela modernidade e embora a televisão ainda fosse apenas um eletrodoméstico presente em poucas casas, já primava pelo mínimo denominador comum. Stanislaw a chamava de "máquina de fazer doido". E exemplifica: certa vez assistia ao ensaio de um programa cuja música-tema começava assim: "Times Square é uma esquina..." Ele alertou o diretor que Times Square era uma praça. Mas isso não tinha qualquer importância.Foi na máquina de fazer doido que Stanislaw teve seu único e retumbante fracasso. Isso em 1961. O programa que estreava na TV Rio chamava-se Noite de Gala, era ao vivo, e Stan era seu mestre-de-cerimônias. Acontece que ele morria de medo de encarar uma câmera de televisão e quando chegou a hora H ele simplesmente travou, emudeceu de tanto nervosismo. Dizem que foi um dos maiores desastres da história televisiva brasileira. Mas Noite de Gala foi em frente e fez tanto sucesso que acabou levando alguns cinemas do Rio a cancelarem as sessões nas noites de segunda-feira, quando o programa ia ao ar.
A FAMÍLIA PONTE PRETA
Tia Zulmira, a sábia ermitã do casarão da Boca do Mato.Nas crônicas, a veneranda tia Zuzu servia como porta-voz do Lalau, emitindo opiniões. Ex-vedete do Follies Bergère, ex-cozinheira da Coluna Prestes, deslumbrou a Europa com sua beleza. Com quase 90 anos, vivia modestamente com o lucro dos pastéis que ela mesma fazia e mandava vender na estação do Méier.
Primo Altamirando, o Mirinho. O nefando parente, um cretino pior que o Macunaíma. "Aos 15 anos era já um esplêndido entortado e ninguém mais tinha dúvidas que ele superaria o pai (Gumercindo Tenório) como inimigo figadal de todos os códigos, do civil ao penal, o de trânsito também". Pioneiro em plantar maconha em solo carioca. Nunca trabalhou.
Rosamundo das Mercês, o distraído.Veio ao mundo de dez meses, porque se esquecera de nascer aos nove. O rei da abstração, completamente desligado da tomada. Escreveu um livro intitulado O Crime Foi Suicídio, não publicado, pois esqueceu os originais num táxi.
Bonifácio, o patriota.Nasceu na Vila Militar, num 7 de setembro. Morava na rua Voluntários da Pátria. Não tinha cama, dormia em berço esplêndido.Lalau, claro, não era mais o apresentador.
Tia Zulmira, a sábia ermitã do casarão da Boca do Mato.Nas crônicas, a veneranda tia Zuzu servia como porta-voz do Lalau, emitindo opiniões. Ex-vedete do Follies Bergère, ex-cozinheira da Coluna Prestes, deslumbrou a Europa com sua beleza. Com quase 90 anos, vivia modestamente com o lucro dos pastéis que ela mesma fazia e mandava vender na estação do Méier.
Primo Altamirando, o Mirinho. O nefando parente, um cretino pior que o Macunaíma. "Aos 15 anos era já um esplêndido entortado e ninguém mais tinha dúvidas que ele superaria o pai (Gumercindo Tenório) como inimigo figadal de todos os códigos, do civil ao penal, o de trânsito também". Pioneiro em plantar maconha em solo carioca. Nunca trabalhou.
Rosamundo das Mercês, o distraído.Veio ao mundo de dez meses, porque se esquecera de nascer aos nove. O rei da abstração, completamente desligado da tomada. Escreveu um livro intitulado O Crime Foi Suicídio, não publicado, pois esqueceu os originais num táxi.
Bonifácio, o patriota.Nasceu na Vila Militar, num 7 de setembro. Morava na rua Voluntários da Pátria. Não tinha cama, dormia em berço esplêndido.Lalau, claro, não era mais o apresentador.
Devido a este trauma de câmera surgiu a idéia de ele ser focalizado apenas por trás, eliminando assim a causa do problema - e então nasceu o segmento Stanislaw Ponte Preta de Costas para a Fama, com ele batucando uma "datilográfica" e tendo uma "Certinha" de maiô ao fundo, fazendo poses sensuais enquanto ele fazia seus comentários sarcásticos. Stanislaw escreveu alguns episódios para a série de tevê Alô Doçura, com John Herbert e Eva Wilma, e participou do Jornal de Vanguarda (que estreou na TV Excelsior, depois foi para a Tupi e em 1965 estava na Globo), comentando as notícias lidas por Cid Moreira ou Luiz Jatobá, comentários que invariavelmente levavam todos no estúdio a dar risada. Depois teve seu próprio programa, o Stanislaw Ponte Preta Show, na TV Tupi.
O pai d'O Pasquim - É provável que seu peculiar senso de humor tenha sido herdado de Aparício Torelly, o Barão de Itararé, cuja revista A Manha foi fechada pelo presidente-marechal Dutra em 1947 (fazer humor no Brasil sempre foi perigoso). Que frasista excepcional era o Barão: "o mundo é redondo mas está ficando chato", "o tambor faz barulho mas é vazio por dentro", "negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados". Torelly tentou recomeçar com o Jornal do Povo, e foi lá que Sérgio Porto deu início a sua carreira, fazendo crítica de cinema.Sua última peripécia foi o "semanário hepático-filosófico" A Carapuça, tablóide lançado em agosto de 1968. No título do editorial de primeira página, um cacófato proposital: "Fé de Ofício". No rodapé, o pensamento da semana: "Se Pilatos usasse luvas não teria lavado as mãos". Na seção "O bicho que está dando", ele comentava opiniões alheias. Seu amigo Paulo Francis havia dito que um tal político, que conseguiu seis milhões de votos, não se elegeria nem vereador, e isso só Freud explicaria. Lalau: "Não é só isso, Francis. Qualquer espiroqueta entendido em democracia explica isso com a mesma facilidade com que o Ibrahim gagueja nas proparoxítonas". O jornaleco morreu na quinta edição, em setembro, junto com Stanislaw, pouco antes do AI-5 dar o pontapé inicial nos anos de chumbo. Foi de infarto, o terceiro, aos 45 anos. Conta a lenda que morreu flertando com a enfermeira. "Tunica, eu tô apagando" foram suas últimas palavras.
O Pasquim, legítimo herdeiro de A Carapuça, foi para as bancas em junho de 1969. Seu primeiro número era dedicado à memória de Sérgio Porto, "o santo maior do nosso altar particular". O resto, como se diz, é história... Stanislaw Ponte Preta foi um inovador na imprensa brasileira. Sua prosa era cômica, concisa e popular, sem pedantismo ou empolação e sem concessões à mediocridade. Suas crônicas retratavam os hábitos e costumes de um Rio de Janeiro que não mais existe, de um tempo em que a favela ainda estava em processo de romantização, aquela demagogia do "barracão de zinco sem telhado, sem pintura, sinfonia de pardais anunciando o alvorecer". Era um Rio mais carioca, gozador, "cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz", como dizia a marchinha carnavalesca. Em sua breve vida, Lalau veio para nos divertir. Ah, como ele faz falta...
PÉROLAS INESQUECÍVEIS
As frases afiadas e imortalizadas de Stanislaw Ponte Preta
• Em mulher não se bate nem com uma flor, mesmo porque não adianta nada.• Mais por fora do que umbigo de vedete.• Estava tão mal que mais parecia reserva do Bonsucesso.• Era desses caras que cruzam cabra com periscópio para ver se conseguem um bode expiatório.• Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato. • A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento. • Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!• O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.• O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
BIOGRAFIA
Stanislaw Ponte Preta
• Tia Zulmira e Eu – Editora do Autor, 1961• Primo Altamirando e Elas – Editora do Autor, 1962• Rosamundo e os Outros – Editora do Autor, 1963• Garoto Linha Dura – Editora do Autor, 1964• Febeapá 1 (Primeiro Festival de Besteira que Assola o País) – Editora do Autor, 1966• Febeapá 2 (Segundo Festival de Besteira que Assola o País) – Editora Sabiá, 1967• Na Terra do Crioulo Doido – Febeapá 3 – A Máquina de Fazer Doido – Editora Sabiá, 1968
Sérgio Porto
• Pequena História do Jazz – Serviço de Documentação do Ministério da Educação, 1953• O Homem ao Lado – Editora José Olympio, 1958 (Reeditado de forma ampliada em 1961, com o título de A Casa Demolida)• As Cariocas – Editora Civilização Brasileira, 1967
As frases afiadas e imortalizadas de Stanislaw Ponte Preta
• Em mulher não se bate nem com uma flor, mesmo porque não adianta nada.• Mais por fora do que umbigo de vedete.• Estava tão mal que mais parecia reserva do Bonsucesso.• Era desses caras que cruzam cabra com periscópio para ver se conseguem um bode expiatório.• Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato. • A prosperidade de alguns homens públicos do Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso do nosso subdesenvolvimento. • Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos!• O primeiro nome de Freud era Segismundo. Aliás, não só seu primeiro nome como também seu primeiro complexo.• O sol nasce para todos, a sombra pra quem é mais esperto.
BIOGRAFIA
Stanislaw Ponte Preta
• Tia Zulmira e Eu – Editora do Autor, 1961• Primo Altamirando e Elas – Editora do Autor, 1962• Rosamundo e os Outros – Editora do Autor, 1963• Garoto Linha Dura – Editora do Autor, 1964• Febeapá 1 (Primeiro Festival de Besteira que Assola o País) – Editora do Autor, 1966• Febeapá 2 (Segundo Festival de Besteira que Assola o País) – Editora Sabiá, 1967• Na Terra do Crioulo Doido – Febeapá 3 – A Máquina de Fazer Doido – Editora Sabiá, 1968
Sérgio Porto
• Pequena História do Jazz – Serviço de Documentação do Ministério da Educação, 1953• O Homem ao Lado – Editora José Olympio, 1958 (Reeditado de forma ampliada em 1961, com o título de A Casa Demolida)• As Cariocas – Editora Civilização Brasileira, 1967
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