terça-feira, 14 de outubro de 2008

Os defeitos são sempre dos outros

Quando sobra um tempinho, cada vez mais raro sou colaborador do Blog do Cruzeirense: Páginas Heróicas Imortais. Esse fim de semana publicaram lá o seguinte texto meu, que reproduzo aqui:

Os defeitos são sempre dos outros

12 Outubro 2008

Carlos Eduardo Marques

Peço licença pra fazer algumas considerações sobre os chamados anticruzeirenses. Por que será que temos tanta dificuldade com o outro? Com o diferente ou mesmo com o que pensa diferente de mim?

As respostas são variadas dependendo de quem as responde. Os antropólogos, como eu, diriam uma coisa, os psicólogos diriam outra, os psicanalistas outras mais e assim sucessivamente.

Todo esse preâmbulo é uma forma de tentar responder algo cada vez mais comum nessas nossas Páginas Heróicas Digitais que é a tentativa de desqualificar o outro.

Cada vez mais o que pensa diferente é tratado como simplista, ou mesmo com palavras agressivas como: idiota, otário e a pior de todas as classificações: anticruzeirense.

Pera ai, gente, vamos nos respeitar mais. Como diz o ditado, cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é. Ora é necessário respeitar a todos aqueles que torcem e distorcem a realidade, aqueles que torcem, mas não distorcem a realidade, aqueles que só torcem e aqueles que só distorcem.

Eu, particularmente, me irrito bastante com as vaias, na maioria das vezes inoportunas e no momento errôneo, pois acontecem quando o time mais precisa de apoio.

Mas isto não me autoriza sacar de uma possível superioridade de acusador e colocar o dedo em riste e gritar para outro: Anticruzeirense!

Melhor seria pensarmos nos motivos que levam aos torcedores inferiores (a julgar pela maioria das opiniões expostas aqui) a se comportarem da maneira como fazem.

Talvez, me permitam, aqui, fazer uma sociologia rasteira, perceberíamos que para muitos destes torcedores, ao contrário das acusações feitas aqui, futebol é algo muito mais profundo do que para nós (e olha que sou considerado fanático). Por isto, suas reações também são mais profundas e irracionais.

Para eles, a vaia é um meio para demonstrar este envolvimento. Para muitos deles o futebol é o único lazer, cultura, divertimento. Divertimento, lazer e cultura, diga-se de passagem, cada vez mais caros.

Sim amigos (talvez vocês não percebam isso) mas a renda média na periferia de nossa cidade ainda é de assustadores 2 salários, portanto R$20 é algo bastante caro.

Com tudo isso não quero ser piegas, mas somente nadar contra a corrente e pensar que, ao contrário de muitos de nós, para esses chamados anticruzeirenses, o Cruzeiro é a razão de suas vidas. É como diz o poeta: “o coração tem razões que a própria razão desconhece”.

Só assim podemos entender como, por exemplo, esses cruzeirenses inferiores podem vaiar e atrapalhar seu time e como nós os cruzeirenses superiores (bem sucedidos economicamente, educacionalmente, socialmente) perdemos a razão e vemos teorias conspiratorias por todos os lados.

Sim, meus caros, infelizmente, os problemas do Cruzeiro não são somente culpa da imprensa galinácea. É sobre isso que este texto trata: todos somos irracionais diante da nossa paixão pelo maior de Minas, no entanto os defeitos são sempre dos outros e nunca nossos.

Carlos Eduardo Marques, 26, cruzeirense, Antropólogo e Professor da Faculdade de Ciências Jurídicas da FEVALE/UEMG, em Diamantina, nasceu e mora em Belo Horizonte.

Preambulo: Veja alguns comentários:

  1. Jorge Santana escreveu:

    Não é nada disso, Carlos Eduardo. Anticruzeirense não é quem vaia o time, mas quem faz campanha contra o clube por não gostar de seus cartolas. Atleticanos são emplumados. E vice-versa, diria Mário Jardel. E estão certos de torcer contra o Mais Querido de Minas. O anticruzeirense, contudo, se passa por cruzeirense mas, tudo o que faz é campanha permanente contra o time. Otários são os que se deixam levar pelos anticruzeirenses. E quem usa 40 nomes diferentes para entrar em espaços virtuais freqüentados por cruzeirenses para repetir ad nauseam o mesmo comentário contra o time e seu treinador não é nenhum pobre-coitado da periferiaa que mal pode pagar R$20 para ir ao Mineirão. É provocador ou anticruzeirense mesmo.

  2. Marcelo escreveu:

    O Carlos Eduardo está certo, mas dentro do contexto do blog, o texto dele não se encaixa.

    Nesse último jogo, eu fiquei em pé o tempo todo, em certo momento do jogo estava ao meu lado um cara e eu comecei a conversar com ele, e eu reclamava: Oha só, aqui deve ter 13 mil pagantes (acertei quase em cheio) e o time em terceiro lugar, lamentável. E ele respondeu: “Poisé, mas o ABap não ajuda né, a torcida fica desanimada, ninguém tá acreditando no título”. Nessa hora eu assustei, essa crença no título está restrita ao blog praticamente, o público e o comportamento dele nos jogos ajuda a evidenciar isso.Depois o cara ainda falou: “É difiícil né, eu sou pai de família e o ingresso é caro, tem estacionamento, o tropeiro… fica muito apertado”.

    Analisando outro ponto do texto, eu acho um erro TENTAR considerar uma maior entrega, uma maior paixão desses torcedores (os tropeiristas) pra explicar atitudes radicais, pra mim a questão vai mais pro lado da idéia de serem manipulados facilmente. O fato de alguém ter tatuagem do time no peito, chorar quando o time ganha ou perde, chegar ao extremo de arrumar confusão pelo time não o faz necessariamente um fanático, aliás, hoje em dia a gente vê muito isso, e na hora de demonstrar amor ao clube ele não existe.

  1. Hermes escreveu:

    Carlos Eduardo, concordo com cada letra do seu texto, parabéns. Observe um detalhe, nossa torcida é maioria no interior, qual o apoio que o clube oferece para esse torcedor? nada, ou melhor, ingresso mais caro no dia do jogo. Voltando ao texto, esse termo “anti-cruzeirense” sempre é usado para os discordam e criticam, mas muitas vezes esse têm razão. Talvez seja a paixão falando mais alto que a razão. Eu já fui chamado disto, logo eu, que tenho uma história e uma família baseada no CRUZEIRO.

  2. Dylan escreveu:

    Carlos Eduardo, parabéns pelo seu oportuno e inteligente comentário. De fato, vigora aqui algumas vezes uma noção de que temos razões superiores para entender o que se passa na cabeça do torcedor. Se ele é crítico em relação ao time só pode ser manipulado ou tropeirista. É o mesmo raciocinio que leva alguém de classe média a defender que pessoas sem educação escolar não votem, sem saber que falam isto com o cabresto em volta do próprio pescoço. A torcida do Cruzeiro de fato tem caracetristícas especificas que ajudam a explicar sua incompatibilidade com o time esse ano. Acho que o Allison Guimarães foi quem chegou mais perto de explicar o que está rolando quando disse que a torcida este ano está sendo movida por ressentimentos. “A torcida tem crucificado o Adilson Batista mais pelo seu histórico de invenções, que pôs tudo a perder em alguns jogos”. É uma frase que eu pincei mas recomendo a leitura toda do texto. Isso é um sinal de intolerância do torcedor? Pra mim é, acho a vaia um instrumento burro na maior parte do tempo, mas acho que os defensores incondicionais do técnico estão sendo igualmente intolerantes quando partem para a desqualificação quando alguns problemas com a condução do time são levantados. E aqui deveria ser o espaço para isto. Outro dia o Tostão falou que falta bom senso ao Adilson. Não será possivel que outros achem a mesma coisa? E será que em alguns momento estas pessoas não estão certas? O que isto tem a ver com torcer contra? será que não é possível torcer a favor e fazer ressalvas ao mesmo tempo? São perguntas que ando fazendo a mim mesmo…

  3. Evandro Oliveira escreveu:

    Carlos Eduardo,

    Bela tentativa de explicar o inexplicável.
    EU diria que sua tentativa é de desqualificar, da mesma forma que você acusa outros desqualificadores.
    É certo que você desqualifica mais educadamente, para contrapor e aparentar essa “racionalidade” na análise que você diz ter e apresenta como superioridade.
    Eu poderia tentar dissecar seu texto, mas não vou…
    Só digo que está errado, muito errado…
    A razão pela qual eu chamo anticruzeirenses e utilizo os outros adjetivos que uso para aqueles que jogam CONTRA o patrimônio é simples: NÃO SÃO TORCEDORES.
    Quem sou eu para criticar seu texto-tentativa…
    Mas seria MUITO interessante que sua análise começasse pelo radical de TORCER.
    A paixão a que você se remete para defender o comportamento dos tropeiristas e anticruzeirenses NÃO DEVE, ao meu juízo, ser remetida pela desqualificação da análise e circunstâncias.
    Querer tapar o sol com a peneira dizendo que a responsabilidade está em nós mesmo e fazer defesa do que a mídia tem feito com a torcida, numa clara manipulação coletiva é muito pra mim.

    Mas tá valendo….

    Espero que os que lêem seu post parem para pensar um pouco… já terá valido a pena… só que esta de desqualificar a crítica e ainda tentar inocentar a mídia de parcela da responsabilidade do que acontece hoje no Cruzeiro e nem sequer citar a posição (omissão?) da diretoria nesta manipulação descarada, é compreensível mas não aceito.

    De qualquer forma, valeu a sua tentativa.

  4. Jorge Santana escreveu:

    Acompanhei o Cruzeiro durante muitos anos na Geral do Mineirão. É o melhor público do estádio. O pior é o das Cativas. O geraldino gosta de futebol, tenta entender o que se passa em campo e, principalmente, costuma praticar o esporte em suas vilas e bairros. O chique da cativa joga peteca, é doutor, é fodão, tem grana e, por isso, brasileiramente, se imagina cheio de razão. E tem inside information às pampas. Vive contando supostas histórias de bastidores. É o mala. Existe em todos os clubes. Na SEP, freqüenta a social, no meio do grupelho que Felipão apodou “turma do amendoim”. Na Cocota é o cara que estaciona a BMW no passeio pra fofocar nas reuniões do CD. No Vasco é o cara que se filia a grupos políticos e fica torcendo contra nas tribunas. Mas esta gente tem poder de fogo. Ela puxa a vaia, destrói tudo e, depois, vai ao cinema do shopping perto de sua casa.


  1. Walfrido escreveu:

    Não sou dos mais dóceis deste espaço. Mas tento, ao menos, compreender outras formas de ver o jogo. Sinceramente respeito, ou tento respeitar, opiniões diferentes. Percebo que a maioria tem criticas ao AB. Inclusive eu e outros que são, as vezes, citados como “defensores incondicionais”. Não penso que seja verdade.

    Não vejo ninguém aqui no PHD deixar de criticar. Uns são mais veementes, outros menos. Mas todos faríamos algo diferente, escalaríamos, se pudéssemos, nosso Cruzeiro diferente. Cornetar aqui é permitido, divertido e saudável. Refresca nossas convicções, traz nova luz aos fatos.

    Tenho acompanhado alguns jogos com o pessoal aqui do PHD e durante o jogo agente as vezes discorda com uma ou outra postura do técnico e/ou dos jogadores. É normal. Mas nunca os vi vaiarem o time. Isso pra mim, e acredito pra eles, é muito importante.

    O que eu penso que realmente revolta a grande maioria aqui é a vaia. Sociólogos, antropólogos, psicanalistas e quem quer que for pode analisar isso, mas na MINHA humilde opinião de engenheiro e torcedor apaixonado, VAIA É INADMISSÍVEL. E é inadmissível por uma razão por demais simples: não ajuda nada. Nunca, ninguém, me mostrou sequer um benefício da vaia durante o jogo.

    Vaia, reclamação, cornetagem aqui nos blogs, nos butecos, nas escolas e etc, ok. Defendo, e até recomendo. Respeitando é claro os diferentes pontos de vista. Mas no Mineirão, NÃO ACEITO E REPUDIO. Pra mim, quem vaia, joga contra, e quem joga contra é meu inimigo (no esporte, claro), e por isso eu vaio contra, luto contra, não aceito.

    Fora esse tema da vaia do torcedor, que deveria ser o foco da discussão deste post, o que revolta também são pseudotorcedores, na minha opinião arruaceiros e moleques, que entram aqui com dezenas de nicks diferentes para avacalhar a discussão achincalhando a seriedade do blog.

    Desculpem-me se me alonguei. Abraços.

  2. Gustavo Barcellos escreveu:

    Carlos Eduardo, acho que você pinçou nossas críticas aos tropeiristas e tratou delas fora do contexto, exaltando a liberdade de expressão e deturpando nosso verdadeiro objetivo.

    Não somos todos multinicks da Andréa Neves. Ninguém aqui está intimidando, ameaçando ou censurando os torcedores que vaiam. Em épocas de derrotas vergonhosas eu mesmo já vaiei o time do Cruzeiro, e não foi pouco não.

    Agora, vaiar o time que está ganhando? Que tá em 3º na tabela? Que tá brigando pelo título? Isso não. Como é que eu vou apoiar um torcedor que vaia por pura impaciência? Que acha que o Guilherme tem que fazer gol de placa todo jogo? Que vaia o treinador porque o Jadílson não agüenta voltar pra marcar? Que vaia o Paraná no primeiro jogo do ano - no primeiro jogo! - porque queria Apodi?

    Querer que a gente não seja contra este tipo de comportamento porque estamos ferindo a liberdade de expressão dos tropeiristas é como defender o motorista que avança o sinal vermelho porque ele tem o direito constitucional de ir e vir.

MINHA TRÉPLICA

  1. Carlos Eduardo escreveu:

    Pessoal o bom de escrever aqui são os debates. Bom só para esclarecer algo que vi em alguns comentários. Não quis criar uma divisão de renda entre os torcedores e dizer que uns são melhores do que os outros, quis sim ser irônico e mereço as críticas por isto, com as posturas que aparecem alguns comentários. Ou seja, quis dizer que tem-se um certo sentimento dos leitores aqui do Blog de que estes são mais torcedores do que os demais. Tanto é que utilizei também de forma irônica a idéia de torcedores superiores e inferiores. Bomalguns dos meus argumentos são repassados nos próprios comentários.Outra questão não tenho dúvida da manipulação da imprensa. Seja no futebol seja na política, leiam a cobertura do Estado de Minas nestes dois campos que Vocês perceberam, só tentei dizer que nem todos os problemas são culpa da mídia.
    No mais uma pena não ter podido responder antes, pois estava fora da cidade desde domingo a noite.



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