terça-feira, 21 de outubro de 2008

Mais uma Universidade Federal aprova política de cotas

Abaixo a notícia de que a UFS adotou a categoria Cota, do Programa de Ações Afirmativas. Agora são 53 Universidades federais.
Como não podia deixar de ser, vou destilar minha cantilena militante, a UFMG continua firme e forte em seu projeto varguardista de ser a única a se recusar a essa modalidade, sempre correndo para outros subterfúgios como sobretaxação de notas, cursos noturnos, aumento de vagas universais e etc. Alías Vcs vâo ver na fala do reitor da UFS que essas questões servem para somar e não substituir. Assim lá eles aumentaram o número de vagas, criaram o noturno, abriram curso mas implantaram cota.

Mais uma Universidade Federal aprova política de cotas
Fonte: Afropress:


Aracaju/SE - A Universidade Federal de Sergipe (UFS), aprovou por meio do seu Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Conepe) o Programa de Ações Afirmativas (Paaf), que garante a implementação da política de cotas para negros e indígenas, a partir do Processo Seletivo Seriado de 2010. Com a de Sergipe chega a 53 o número de
instituições públicas a adotarem ações afirmativas no país.

O Programa garante a reserva de 50% das vagas para estudantes de escolas públicas. Desse total, 70% serão destinadas a estudantes autodeclarados negros, pardos ou indígenas. Também será reservada vaga por curso aos portadores de necessidades especiais.
Segundo o reitor da UFS, Josué Modesto dos Passos Subrinho, a aprovação do sistema 'é mais um reflexo da política de expansão e inclusão vivida pelas universidades públicas nos últimos anos'. 'Acredito que nossas políticas de ações afirmativas – neste caso, as cotas – é um coroamento para tornar a universidade mais inclusiva. Começamos com o aumento do número de vagas e, posteriormente, a ampliação de vagas nos cursos noturnos. Viabilizamos a interiorização da universidade, através do sistema a distância, e padronizamos o horário de ofertas dos cursos diurnos. Agora, aderimos às cotas.Todas essas medidas tornam a universidade mais receptiva', disse Subrinho.

Programa

O Programa de Ações Afirmativas da Universidade sergipana tem duração prevista de dez anos e passará por uma avaliação da Universidade após a formatura das primeiras turmas nos primeiros cinco anos, por uma comissão criada com o objetivo de monitorar o funcionamento, e sugerir ajustes e modificações.


s cotas mudaram a cor da UnB


Zulu Araújo

Presidente da Fundação Cultural Palmares / Ministério da Cultura

O título deste artigo é a declaração da estudante Bernadete de Lourdes Silva Ferreira dos Santos, formanda do curso de Letras e cotista da Universidade de Brasília, primeira instituição federal brasileira de curso superior a aderir, em 2004, ao sistema de cotas para afro-descendentes. Assim como Bernadete, quase 50 outros estudantes ingressos pelo sistema de cotas estão se formando nos próximos dias e mostrando ao Brasil uma nova realidade.

A expectativa era essa mesma: as cotas mudaram a cor não só da UnB, mas do Brasil. Matéria publicada pelo Correio Braziliense, no caderno Gabarito, do dia 4 de agosto, revela o que já esperávamos. A política de cotas é uma das mais acertadas políticas de ação afirmativa no país. A Fundação Cultural Palmares, do Ministério da Cultura, criada para valorizar e divulgar a cultura dos afro-descendentes, considera muito relevante e comemora o fato de que apenas 1% dos estudantes que entraram para a Universidade de Brasília pelo sistema de cotas tenha abandonado a universidade.

São dados como esse que dão conta da dimensão das propostas para a superação do racismo em nosso país. Infelizmente, os alunos que ingressam na universidade pelo sistema de cotas ainda enfrentam a desconfiança de professores, de colegas e da sociedade. Falam mais alto agora os resultados. De acordo com a pesquisa realizada pela Assessoria de Diversidade e Apoio aos Cotistas da UnB (Adac), os dados são estimulantes e derrubam argumentos preconceituosos de que os cotistas não seriam capazes de acompanhar o ensino superior. Além de apenas 1% abandonar o curso, o desempenho acadêmico dos cotistas ficou acima da média. E mais: a média de trancamento de disciplinas foi de 0,5% e a de reprovação apenas de 1,5%.

Nos próximos dias assistiremos, bastante satisfeitos, o sonho realizado desses jovens. A formatura dos primeiros estudantes aprovados pelas cotas na UnB é a prova cabal de que essa política é eficaz na redução de desigualdades. A situação profissional desses jovens negros e negras revela-se promissora. Senão vejamos: mais de 57% dos formandos já ingressaram no mercado de trabalho; 18,4% estão concluindo estágios e 23,7% estão estudando para concurso público.

Nesse 2008, em que o país celebra 120 anos de abolição da escravatura, cabe, porém, a reflexão do quanto ainda se deve concluir para uma mudança da realidade discricionária e excludente da sociedade brasileira. E esses resultados apontam para a possibilidade de uma nova realidade, na qual gerações futuras de afro-descendentes devem impor um novo olhar sobre si. Há pouco, o Ipea divulgou pesquisa reveladora: negros e pardos já são declaradamente 49,5% da população brasileira, o que demonstra mudanças significativas no que diz respeito à afirmação da identidade afro. Delegamos isso à prática das políticas de ação afirmativa que vêm nos últimos anos fortalecendo e ampliando atitudes nas quais a pertença racial seja fator de inclusão social, não o contrário.

A afirmação da identidade contribui para reforçar a auto-estima e a idéia de pertencimento. É o que percebemos nas declarações dos jovens citados na reportagem e que se orgulham do seu feito. "Me sinto realizado", diz um. "A UnB me abriu portas", diz outro. "É uma vitória para toda a família. Mas precisa ser de muito mais gente", declara um outro.

Nessas declarações estão nítidas a sensação da conquista, do jogo ganhado, e o que isso pode representar para suas vidas futuras. Construir a sua própria história implica a possibilidade de percorrer novos caminhos. Nessa perspectiva, é que vemos a atitude da UnB e de outras mais 51 instituições públicas de ensino superior superarem a si mesmas e ajudarem a construir um novo amanhã para o povo negro do Brasil.

Esse significativo esforço do poder público respalda a luta de muitos negros e negras por direitos fundamentais, como educação e trabalho. É claro que a promoção da igualdade racial no Brasil vai muito além da adoção dessas políticas de cotas. É preciso muito mais na abordagem da questão racial no Brasil. Esses primeiros jovens formandos pelo sistema de cotas da UnB estão mudando paradigmas, além de protagonistas e referências da construção de uma nova idéia de liberdade para a comunidade negra brasileira. São eles que vão dar o testemunho desses novos tempos. A semente foi lançada; é preciso semeá-la.


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artigo publicado originalmente no jornal Correio Braziliense, 11/08/2008

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