domingo, 20 de julho de 2008

Dossie Gilmar Mendes III


Do blog http://www.idelberavelar.com
Sobre o papel do subjuntivo no mascaramento da bandidagem

protog.jpgÉ oficial: Protógenes Queiroz e o Juiz Fausto de Sanctis viraram réus. O inacreditável aconteceu. Uma operação policial que revirou os intestinos da maior quadrilha do capitalismo brasileiro se transformou numa novela sobre como Protógenes usa o subjuntivo (Johnson estava errado; o último refúgio do canalha não é o patriotismo: é a gramática); sobre se houve vazamento ou não; sobre se deveria haver filmagem ou não; sobre se De Sanctis desrespeitou o STF ou não; sobre se Dantas pode ser algemado ou não. Revirem as manchetes dos jornais. Procurem informações sobre o conteúdo do que as investigações revelam sobre Dantas, a privatização das teles e seus bilionários negócios. Não há.

Protógenes vai fazer um “curso” e De Sanctis vai tirar férias. A conclusão é inevitável: o lado de lá, a corja, venceu. Em parte, pela covardia do governo Lula, que incrivelmente escala um Ministro da Justiça para dizer que o afastamento de Protógenes era um ato de “rotina”. Calculou errado, por medo da avalanche da mídia, que só quer saber da parte em que a maracutaia respinga no PT. Quando se deram conta de que a opinião popular já não se pauta pela mídia -- coisa que o governo Lula deveria ter aprendido com sua própria vitória em outubro de 2006 –- tentaram voltar atrás e era tarde demais.

Nélio Machado, o advogado de Dantas, agora pauta a Folha de São Paulo. É inaudito: as frases do advogado de um criminoso sobre o Presidente da República ganham primeira página nos jornais. Deve ser inédito na história da imprensa brasileira. Até manchete com ameaças de Nélio Machado ao PT foram publicadas. Aliás, é boa coisa que meu caríssimo e admirado Mário Magalhães tenha abandonado a função de ombudsman do jornal antes do estouro deste escândalo. Porque a lama da Folha neste episódio ultrapassa os limites do ombudsmanizável.

Sim, estou estuprando a língua portuguesa, em homenagem aos cães de guarda que enfiam vírgulas entre sujeito e predicado e escrevem matérias zombando do “português truncado” de Protógenes.

Sou de família de advogados. A minha paixão pelo Direito é antiga, apesar de eu ter escolhido Letras. Fucem por aí: juízes federais, procuradores da república etc. O que mais tem é Avelar. Nunca li um relatório policial em que o português não fosse “truncado”. Jamais me incomodou. Agora, de repente, o uso do subjuntivo num relatório policial que desvenda a maior quadrilha do capitalismo brasileiro virou tema de comoção na mídia nacional. E o conteúdo do relatório sumiu. Ninguém diz nada.

As gravações reveladas nesta semana demonstram claramente duas coisas: as de Dantas mostram um bandido que quer chegar a Lula, quer atingir Lula (maior êxito aqui, menor êxito acolá). As gravações da PF mostram um grande brasileiro – Protógenes Queiroz – seguindo à risca, rigorosamente, uma tarefa na qual ele sabe que está cercado de inimigos por todos os lados. Mesmo assim, o governo Lula não teve a coragem de dizer: Truco! Querem colocar todas as cartas na mesa? Querem revelar tudo? Vamos fritar toda a bandidagem, de todos os partidos, mesmo sabendo que a mídia escolherá a fritura que mais lhe convém? O governo Lula não apostou no discernimento da população brasileira neste episódio. Quando se deu conta disso, Inês já era morta.


PS: Pretendo dar um tempo deste episódio pelo mesmo motivo que dei um tempo do Galo aos sábados. É derrota demais. Derrota na política, derrota no futebol. O Biscoito Fino e a Massa provavelmente se transformará num blog sobre literatura e música. Ali, pelo menos, a derrota é matéria-prima da arte, e não da infâmia.

PS 2: Há manifestações hoje, em todo o Brasil, pelo impeachment de Gilmar Mendes. Elas têm o apoio deste blog. Mais detalhes no Nós apoiamos De Sanctis.

PS 3: Admiração; admiração e respeito infinitos por Protógenes Queiroz e Fausto de Sanctis. Nunca vou me esquecer do nome destes dois brasileiros.

Operação Satiagraha: o ranking do nervosismo

Eu, que sou um mero crítico literário atleticano, não tenho todos os elementos para fazer esse ranking. Mas o Biscoito Fino e a Massa gostaria de dar sua contribuição à medição do nervosismo de certas figuras da política e do jornalismo brasileiros à raiz da operação Satiagraha, da Polícia Federal. Apresento o meu top 8 da preocupação pindorâmica, em ordem alfabética, e convoco meus eruditos e bem informados leitores a que organizem o ranking como bem lhes aprouver. Ou que acrescentem outros nomes, evidentemente.

Eduardo Azeredo: segundo os que acompanham o Senado, era visivelmente o parlamentar mais alterado. Coitado, justamente na semana em que ele tentava criar impressões digitais para rastrear todos os usuários da internet, encontram suas impressões digitais no maior bandido de Pindorama. Nervosismo estilo Lazaroni.

Reinaldo Azevedo
: logo depois de decretada a prisão de Dantas, Reinaldinho entrou em verdadeiro surto psicótico. Insistiu que a prisão de Dantas demonstrava que vivíamos num perigoso totalitarismo bolchevique. Fantasiou que estávamos a um passo de adentrar uma ditadura na qual agentes da Polícia Federal invadiriam sua casa e estuprariam suas filhas com grossos tomos de Lênin. Nervosismo estilo Zagallo.

Fernando Henrique Cardoso
: o príncipe sociólogo tem bons motivos para julgar-se a salvo, mas nossas fontes não deixaram de notar que FHC não quer nem saber de remexer histórias acerca de um certo encontro em que tratou com Daniel Dantas do tema da diretoria da Previ. Ou das relações de Pérsio Arida, que o serviu no BNDES e no Banco Central, com Dantas. Nervosismo impassível, estilo Ademir da Guia.

José Dirceu: quase 36 horas de silêncio absoluto sobre a prisão de Dantas num blog basicamente dedicado a comentar as manchetes dos jornais do dia. Para piorar, acham suas digitais nas tentativas de sabotagem à operação do Dr. Protógenes. Quando falou, foi para condenar a “espetacularização” da PF, encontrando finalmente suas afinidades eletivas com Reinaldinho da Veja. Nervosismo estilo Roberto Dinamite.

Guilherme Fiúza: escreveu um inacreditável post em que apresentava a filmagem de um ex-prefeito e bandido em sua casa, no momento da prisão, de pijama de mangas compridas, como uma elaborada tortura chinesa jamais vista em Pindorama. Nervosismo hiperbólico, estilo Dadá Maravilha.

Miriam Leitão: escreveu um inacreditável post em que se perguntava por que, afinal de contas, remexer essas coisas tão velhas como as falcatruas de Dantas. Contrapôs a operação Satiagraha às boas notícias veiculadas no exterior sobre o Brasil, como se combate à corrupção fosse sinônimo de corrupção. Fingiu não entender que o mensalão não é a origem de Dantas, mas exatamente o contrário. Nervosismo pretensamente burro, estilo Dunga.

Marinhos, Kamel e Globo: esses não têm com que se preocupar, já o sabem há tempos. Mandam em Pindorama. Para quem viu o Jornal Nacional de ontem, é impossível não concordar com Paulo Henrique Amorim. A Globo já rifou Dantas. Nervosismo zero, estilo Vicente Feola.

Gilmar Mendes: presidente da Suprema Corte do país, passou pela inacreditável humilhação de ver um bandido dizer que, no seu tribunal, ele tem “facilidades”. Ao invés de dar o habeas corpus em 24 horas, preferiu fazê-lo em 36, para não dar muito na cara. Nervosismo dissimulado, estilo Parreira.

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