ISTOÉ - O eleitorado poderia optar por uma experiência mais à esquerda do que o governo Lula?
Heloísa - Com todo respeito que eu tenho a muitos amigos queridos que ainda estão no PT, nem o PT nem o governo Lula são de esquerda. O PT e o governo Lula representam uma traição de classe e uma traição a tudo o que foi acumulado pela esquerda socialista. É um governo de aprofundamento do projeto neoliberal. De clara continuidade do que foi o governo Fernando Henrique. Em todos os sentidos.
ISTOÉ - Como é ver Alagoas representada no Senado por Fernando Collor e Renan Calheiros? Heloísa - É como ver Lula no exercício da Presidência. É extremamente triste. Mas faz parte do aprimoramento da nossa combalida e ainda fracassada democracia representativa. Mas uma democracia que, apesar de fracassada, é necessária. A gente só tem uma opção: não podemos aceitar essa representação, mas como eu não acredito nas ditaduras, independentemente do viés ideológico, o jeito é trabalhar pelo aprimoramento da democracia. O que nós temos está longe ainda de ser democracia.
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ISTOÉ - Por quê?
Heloísa - Porque democracia sem justiça social não é democracia. Isso só virá quando se atingir a mais plena declaração de amor à sociedade, que é o socialismo. Com essa estrutura fisiológica da política brasileira, não acredito que eu poderei vivenciar essa sociedade. Eu quero continuar trabalhando todos os dias para que as futuras gerações possam vivenciar essa experiência.
ISTOÉ - O PAC não representa investimentos em infra-estrutura?
Heloísa - Objetivamente, o PAC não representa nenhum plano de investimento. Não há uma proposta de orçamento de longo prazo que busque de fato transformar o País.
ISTOÉ - Como avalia experiências ditas de esquerda em países como a Venezuela ou a Bolívia? Heloísa - Todos os avanços nas lutas antiimperialistas e no enfrentamento ao poderio americano devem ser aplaudidos. É motivo de admiração a eleição de Evo Morales na Bolívia, um representante dos povos indígenas chegar onde chegou sem trair seus compromissos de campanha. No caso da Venezuela, embora nós tenhamos de reconhecer como importantes os mecanismos de políticas sociais, especialmente na educação e na cultura, não se pode aplaudir o governo Hugo Chávez.
ISTOÉ - Não? Por quê?
Heloísa - Porque na conceituação da liberdade, da renovação infinita de mandatos, não dá para concordar com Chávez. Aí, estou com Rosa Luxemburgo: a liberdade apenas para os partidários do governo, para os membros do partido, não é liberdade. A liberdade é sempre a liberdade para quem pensa de outra forma. Sem eleições gerais, sem liberdade de imprensa, a vida acaba em todas as instituições públicas. Se eu estivesse na Presidência, não mandavam no Brasil nem Bush nem Chávez - apesar do abismo que separa Hugo Chávez do imperialismo de George W. Bush.
ISTOÉ - Quanto às eleições nos EUA, faz alguma diferença se vencer Barack Obama ou John McCain?
Heloísa - É claro que a proposta econômica e social apresentada por Obama não difere muito das propostas do candidato republicano. Basta ver o que ele já declarou sobre a Amazônia, sobre Cuba, sobre o Iraque. Mas, do ponto de vista simbólico, eu torço para que Obama seja eleito. Se um negro, filho de um africano, de origem muçulmana, vencer a eleição para presidente dos Estados Unidos, isso será uma coisa muito importante. Eu acho que o mundo precisa desse simbolismo. Pode ser o início de uma nova etapa para superar essa experiência absolutamente desastrosa para a humanidade que foi o governo Bush.
Um comentário:
Infelizmente, a companheria HH não conhece nada do processo revolucionario da Venezuela. Se ela estivese lá perceberia que em ninhum outro pais se respeitam tanto as liberdades de expresão e pensamento. A trves da participacao popular em eleições, imprensa livre, etc. A proposta de eleição perpetua, e porque se sabe que um processo revelocionario de verdadeira mudança no pode ser foito em 4 anos, essos periodos são para manter todo como esta, o que intereassa ao imperio. Na Venezuela, Chavez seria reeleito se, e somente se, o povo assim o decidice em eleições libre. Heloisa Helena perdeu muitissimos pontos....
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