quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Dia do Samba

É hoje, dia 02 de dezembro, o Dia Nacional do Samba. Dele sim senhor, a Voz do Morro. Falando em Voz do Morro, chega de mansinho Zé Keti:
Salve o samba, queremos samba.
Quem está pedindo é a voz do povo de um país.
Salve o samba, queremos samba.
O Dia Nacional do Samba surgiu por iniciativa de um vereador baiano, Luis Monteiro da Costa, para homenagear Ary Barroso. Esta foi a data que ele visitou Salvador pela primeira vez. Hoje a data é feriado nacional.
No Rio e em Salvador a data é bastante comemorada. No estado Rio, hoje é dia de festa em trocentas rodas. Com destaque para o Samba do Trem -belo evento quando os sambistas do subúrbio de Osvaldo Cruz - para os não iniciados na região de Madureira berço de duas das maiores Escolas de Bambas: Portela e Império Serrano - tocam durante a viagem do ramal de trem que sai da central do Brasil até Osvaldo Cruz , antes porem uma grande festa e roda de samba na Central do Brasil. Além desse evento várias rodas como a famosa Roda de Samba do Quilombo da Pedra do Sal, na prainha região da Saúde e do Gamboa, no Porto 9qualquer dia desse posto uma pequena historieta desta região do Rio, a Congo Square brasileira nas palavas de Muniz Sodré). Aliás este que vos fala honrosamente recebeu o convite para este evento -e incrível tinha até financiamento para ir- mas outros compromissos nos impediu de comparecer. Para quem tá de bobeira na Cidade Maravilhosa, veja ai os dados da Festa: Projeto SAL do SAMBA, convida para a Festa “Pedra do Sal – 25 anos de tombamento como patrimônio afrobrasileiro”, que seria realizado de 25 de novembro a 02 de dezembro de 2009 no largo João da Baiana - Quilombo Pedra do Sal – Saúde – RJ. Como roda de samaba, afoxés e palestras de vários estudiosos e apoiadores da causa quilombola.
Aqui em BH rola festa hoje no Palácio das Artes em homenagem ao grande sambista mineiro Ataulfo Alves e, sexta-feira, tem grande festa com a Velha Guarda do Samba de Belo Horizonte, a partir das 18:30 hs no Centro Cultural da UFMG (nesta eu quero esta presente). Ambas gratuitas. Falando nisso a correria não me permitiu registrar mas participei a cerca de um mês de uma festa de samba maravilhosa. Linda mesmo, aqui pertinho de casa, na Barragem Santa Lúcia. Que roda de bambas magnifica com direito entre outros ao lendário Mestre Conga da Cidade Jardim, do alto dos seus quase 90 Conga cantou, encantou, dançou e como dança o verdadeiro samba. Conga era daquela época que o verdadeiro sambista fazia de tudo: compunha, cantava, dançava, dirigia a escola, tocava todo os instrumentos, e corria muito da polícia. Além disso a roda teve a Wonderful voice D. Jandira (sobre ela tentarei um dia se a emoção permitir escrever um post especifico - somente a registro a maior voz do Brasil depois dela Bethania - supera até mesmo a magnifica Elza Soares). A roda foi ótima e reuniu tanto a moçada nova como o 02 do Samba, Dudu Nicacio, Mestre Jonas entre outros vários bambas, afinal roda de samba é assim não se anuncia, pede se a vez senta na mesa toma uma loira gelada e canta-se e a memória viva e o samba mais bem dançado desta cidade com seus antigos mestres. Viva o Samba !!!!
Abaixo Mestre Affonso fala um pouco mais do samba de BH
Embora Belo Horizonte seja um celeiro de bambas na música em geral, na área do samba, diante da grandiosidade dos nossos intérpretes e compositores da atualidade, as oportunidades para despontar para o cenário nacional foram poucas. E quando falo do samba da atualidade é porque no passado existiu aqui uma turma da pesada. Turma que freqüentava a Rua da Bahia, que teve até a participação do inesquecível NOEL ROSA, o poeta da Vila Isabel, quando por algum tempo ele morou no bairro da Floresta, em BH: “A vida é esta, subir Bahia descer Floresta”.
Na primeira metade da década de 50, após o fechamento dos bares do Ponto e do Trianon, começara a funcionar a Gruta Metrópole, que foi sem dúvida, o ultimo reduto da vida boêmia daquela rua. De Rômulo Paes a Gervásio Horta, entre outros grandes nomes, a música invadia a cidade.
Voltando aos tempos atuais, alguns dos nossos intérpretes e compositores de tempos em tempos aparecem no cenário nacional, dando-se destaque ao Toninho Geraes, que é até agora o único que se firmou e, graças a Deus, vai a cada dia nos enchendo mais e mais de orgulho.
De repente a nossa força feminina começa a invadir o maior reduto do samba brasileiro, e aí começamos a quebrar paradigmas, samba mineiro invadindo com força o Rio de Janeiro. Minas Gerais sai em busca do tricampeonato na 4ª Mostra de Novos Talentos do Carioca da Gema, que é um dos maiores redutos de sambistas, na região da Lapa. Seguindo os passos de Aline Calixto e Janaina Moreno, vencedoras do concurso respectivamente em 2007 e 2008, a cantora Michelle Andreazzi foi selecionada para disputar a final no dia 11 de novembro.
Mas a história não é simples como pode parecer. Por estarmos fora do eixo Rio/São Paulo, tudo fica muito difícil e o investimento é altíssimo. A luta é árdua porque na maioria das vezes somos considerados estranhos no ninho. Mas o importante é saber e sentir que através das meninas estamos alcançando objetivos e conseguindo a notoriedade tão sonhada. Elas estão dando banho de seriedade, de profissionalismo e dedicação em muito marmanjo que às vezes se considera dono da cocada preta... e da branca também. Nossas meninas fazem seu trabalho de peito aberto sem aquela preocupação – muito comum por aqui – de esconder o jogo.
E assim, através das nossas valorosas guerreiras, vamos aprendendo, nós os marmanjos, principalmente os da minha geração, que a luta sem competições desnecessárias é que nos leva ao sucesso. Importante não é a erudição, importante é a dedicação à causa. O samba é de todos aqueles que se dedicam a ele com amor, carinho e respeito.
Tocar e cantar muita gente sabe; o que a maioria ainda não aprendeu é dedicar-se de corpo e alma à causa, à bandeira do samba, sem deixar que a vaidade ou o egoísmo tomem conta da vontade de cada um.
Um cronista da década de 30, Francisco Guimarães, O Vagalume, que publicou o livro “Na Roda do Samba”, em 1933, falava que no samba existem os sambistas e os sambestros. O sambista é aquele que veste a camisa, participa verdadeiramente do samba defendendo-o como causa nobre.
O Sambestro é aquele que vive do samba, ganha dinheiro através dele, mas não se envolve, não defende, não faz nada pelo seu crescimento. Nossas meninas são sambistas e fazem acontecer. Mas que aqui em BH tem muito sambestro, isso tem!
Obrigado, meu Deus, pela honra e a glória de ter nascido sambista.

*Afonso Marra Filho, o Mestre Affonso, é natural de Belo Horizonte. Músico, produtor, radialista, colunista, está imerso no mundo do samba há 50 anos. Como diretor de Bateria, é detentor de dezoito notas dez e vários Tamborins de Ouro, maior premiação individual no Carnaval de Belo Horizonte. Atualmente, é colaborador do Programa Acir Antão, como repórter do samba, na Rádio Itatiaia, todos os domingos.

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