sábado, 23 de janeiro de 2010

Disco para Sempre III



O Ano é 1972, o nome do disco é Transa, seu autor é um baiano tropicalista. Viva Caê. Na minha opinião o melhor disco de Caetano de todos os tempos. Como era comum na época, devido ao formato dos acetatos cada álbum não cabia mais do que 10 canções. No caso deste são 07 canções. Um pouco de história deste Lp fantastico.
Exilado em Londres desde 1969, Caetano Veloso obteve permissão para ficar um mês no Brasil em janeiro de 1971 para assistir à missa comemorativa dos 40 anos de casamento de seus pais. No Rio de Janeiro, o cantor foi interrogado por militares que pediram para que fizesse uma canção elogiando a rodovia Transamazônica - na época em construção. Caetano não aceitou a "proposta", mas de volta a Londres, gravou no final do ano o LP com o nome de "Transa", lançado em território brasileiro em janeiro de 1972, quando o cantor voltou definitivamente ao país.
Este disco, portanto, é um misto deste momento. Segundo vários amigos o exilio foi bastante doloroso para Caetano que as vezes entrava em verdadeiras crises existênciais. Este Lp é um pouco retrato desta época das 07 canções apenas duas em português: Triste Bahia, uma declaração de amor e saudades a Bahia. Trata-se na verdade de uma canção com cerca de 10 minutos que misturam trechos de vários sambas de roda, composições do próprio Caetano e mesmo de alguns trechos de literatura baiana. É lasciva, cortante, alegre e triste, emocionante, como cabe ao bom samba, com destaque para a parte final da música, a repetição massante como que representando a loucura do artista de um ponto cantado nos Terreiros Baianos "Bandeira Branca enfiado em pau forte. Trago no peito a estrela do Norte". A outra música em português é Mora na Filosofia do grande Monsueto: "Eu vou lhe dar a decisão. Botei na balança Voce não pesou. Botei na peneira e voce não passou. Mora na fiolosoia. Para que rimar amor e dor. Mora na filosofia. Para que rimar amor e dor. Se seu corpo ficasse marcado por lábios ou mãos carinhosas eu saberia a quantos voce pertencia. Nao vou me preocupar em vê seu caso não é de ver para crer. Tá na cara. Eu vou lhe dar a decisão."
MAS DEFINITIVAMENTE O QUE TORNA ESTE DISCO MAGISTRAL É A INTERPRETAÇÃO DE CAETANO, SOBERBA, MARAVILHOSA, MAIS CAETANEADA DO QUE NUCA. SOMA-SE A ISSO UMA COZINHA DE RESPEITO.
O disco nas palavras do mesmo, veja que Eu e Caetano concordamos (já que li esta entrevista depois de ter escrito as linhas acima):
Caetano declarou em uma entrevista ao Jornal do Brasil: "Chamei os amigos para gravar em Londres. Os arranjos são de Jards Macalé, Tutti Moreno, Moacyr Albuquerque e Áureo de Sousa. Não saíram na ficha técnica e eu tive a maior briga com meu amigo que fez a capa. Como é que bota essa bobagem de dobra e desdobra, parece que vai fazer um abajur com a capa, e não bota a ficha técnica? Era importantíssimo. Era um trabalho orgânico, espontâneo, e meu primeiro disco de grupo, gravado quase como um show ao vivo"
"Foi Transa que que me deu coragem de fazer os trabalhos com A Outra Banda da Terra. Tem a Nine out of Ten, a minha melhor música em inglês. É histórica. É a primeira vez que uma música brasileira toca alguns compassos de reggae, uma vinheta no começo e no fim. Muito antes de John Lennon, de Mick Jagger e até de Paul McCartney. Eu e o Péricles Cavalcanti descobrimos o reggae em Portobelo Road e me encantou logo. Bob Marley e The Wailers foram a melhor coisa dos anos 70. Gosto do disco todo. Como gravação, a melhor é Triste Bahia. Tem o Mora na Filosofia, que é um grande samba, uma grande letra e o Monsueto é um gênio. Me orgulho imensamente deste som que a gente tirou em grupo".

"You Don't Know Me" (Caetano Veloso) – 3:49
"Nine Out of Ten" (Caetano Veloso) – 4:57
"Triste Bahia" (Gregório de Matos Guerra, Caetano Veloso) – 9:47
"It's a Long Way" (Caetano Veloso) – 6:07
"Mora na Filosofia" (Monsueto Menezes, Arnaldo Passos) – 6:16

"Neolithic Man" (Caetano Veloso) – 4:55
"Nostalgia (That's What Rock'n Roll Is All About)" (Caetano Veloso) – 1:22

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