domingo, 27 de setembro de 2009

Chaves é o Fidel de nossa época

O Chaves é o Fidel de nossa época. Triste a sina da imprensa bancarrota nacional. Teve uma época, que não vivi, mas que conheço pelas páginas dos livros de história que o fantasma de Fidel Castro era utilizado a torto e a direita, desculpem o trocadilho, pelos conservadores. A coisa foi séria. Aqui em Belo Horizonte aconteceram marchas com Deus pela Propriedade e com a Família que reuniram milhares de pessoas. Eu cheguei a conhecer, essa ninguém me contou, senhoras que ainda agora nos anos 2000 nutriam um medo assombroso pelo líder cubano. Aliás, na visita deste a Belo Horizonte, senão me engano em 99 ou 2000, por ocasião de um Congresso da UNE eu mesmo ouvi de uma senhora meio que entre espantada, assustada e encantada de que Fidel era efetivamente recebido com honrarias em nossa cidade.
Todo esse preâmbulo para chegarmos ao golpe de estado em Honduras. Há algum tempo tornou-se corrente na opinião publicada. - Na publicada e não na opinião pública. A segunda, na verdade, diante do massacre da primeira acabam as vezes se confundindo - Que todas as desgraças que acontecem em nosso continente é fruto da maldade de Chaves. Crise na Bolívia, culpa de Chaves. Crise no Peru idem. No Equador nem se diga. Na Nicarágua influencia do líder malévolo. Com a Colômbia então!!! Neste caso, é o famoso Fala-Flu, ou no sentido do Bush os bons versus os maus. Pois bem, neste eterno palanque midiatico de luta pela hegemonia das idéias, a imprensa brasileira perdeu a chance impar de acompanhar uma série de mudanças pelos quais passaram e passam alguns países. Por exemplo, a grande mídia ignora solenemente as Constituições aprovadas no Equador, na Bolívia e mesmo na Venezuela. Ora, as Constituições dos dois países primeiramente citados devem ser estudadas nos cursos progressistas de Direito, pois aliam o que se tem de mais avançado em termos de defesa dos direitos difusos, coletivos, humanos, dos povos indígenas e tradicionais e culturais. Mas isso não se vê na mídia.
Como também não se vê a repercussão sobre as medidas autoritárias tomadas pelo Uribe, o lugar-Tenente dos EUA sobre a Colômbia. E nem digo mais de suas constantes violações dos direitos humanos em nome de uma guerra contra as drogas (a famosa e falida war against drugs de Bush) que se é uma farsa no combate ao tráfico é uma tragédia no combate aos movimentos sociais. Não digo também em relação ao fato de pesar denuncias graves de ser o próprio Uribe advindo de poderosos grupos do tráfico e de suas constantes vistas grossas a barbárie do grupo paramilitar de direita denominada Autodefesa Unida Colombiana e do notório envolvimento desta com o tráfico, tal qual as FARCS. Não se vê também uma critica ao processo atual do Uribe de tentar um terceiro mandato. A este respeito, domingo passado, estava vendo na Band (canal reacionário capaz de defender a aniquilação dos indígenas e a violência contra os sem-terra em nome de uma propriedade absoluta da terra- atitude aliás que não coaduna com o nosso direito e constituição que reconhece a violabilidade da propriedade privada) o Programa Canal Livre e lá pelas tantas, o entrevistado Ciro Gomes provocativamente vira para Boris Casoy e diz algo do tipo: Chaves não é meu modelo de governante até acho que ele tem uma índole autoritária mas definitivamente não é um ditador. Suas atitudes são todas dentro das regras e do sistema...ditadores são os outros, aqueles que tentam lhe tirar de um mandato constitucional e referendado pelos cidadãos venezuelanos...por que ninguém fala do Uribe da Colômbia. Porque ninguém o chama de ditador ou de possuir tendências autoritárias já que ele mudou a constituição para se re-eleger e acaba de mudar de novo para ter um terceiro mandato? Quando antes dele não existia re-eleição e muito menos re-re-eleição. Ai o Sr. Boris Casoy solta algo do tipo: lutar por um terceiro mandato não torna ninguém ditador. Entenderam... arghhh...imagina se fosse no Brasil...sem seriamente se cogitar a idéia já foi um Deus nos acuda...essa é a nossa imprensa, os conceitos são classificados de acordo com a circunstância. Louve-se pelo menos a franqueza didática do ancora.
Bom para terminar a paranóia Chaves como não poderia deixar de ser atinge a cobertura ridícula da grande mídia a respeito da atuação diplomática brasileira em Honduras. Enquanto o Brasil é elogiado internacionalmente por autoridades do quilate de um Obama, a mídia brasileira faz todo o esforço possível para passar a imagem de que o Brasil errou ou age manipulado por Chaves. Patética a cobertura que dá maior enfase ao ditador de plantão, como se este tivesse alguma legitimidade, patética, aliás foi a solução dessa mídia que se encastelou na nossa ditadura (que segundo inclusive a Folha foi uma dita-branda – para ela com certeza, para ela e para muitos outros tipo Globo) e por isso acostumou-se com esse modelo autoritário de denominar Micheletti de governante de fato e Zelaya de governante de direito. Ora que patetice é essa não existem juridicamente, sociologicamente, politicamente e mesmo efetivamente dois governos um de fato e um outro de direito. Somente existe um governo de fato e de direito: aquele que foi usurpado pela ditadura de Micheletti e que pertence a Zelaya. Patética também é a cobertura dos jornalões sempre tendenciosa. Ou mesmo o Jornal Nacional ao entrevistar uma brasileira que mora em Honduras e essa reclamar da intervenção brasileira – intervenção- ora bolas, seria engraçado se não fosse trágico. Como trágica é a cobertura da nossa mídia em geral e em particular em temas mais sensíveis

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