quinta-feira, 10 de junho de 2010

Saudações aos que tem coragem

Ontem a ex-deputada Sandra Starling fundadora do PT em Minas e primeira candidato do partido ao governo de Minas no longínquo ano de 1982 desfilou-se do partido. Parabéns a ela que tem coragem. Já disse certa vez aqui no Blog, que acho que toda minha decepção com o PT é culpa de um ex-vizinho. Daqueles tipo que descrevendo as pessoas não acreditam, acham que é estereótipo, mas não o Cadu: o sindicalista, bancário, aquele cara voluntarioso, cheio de estrelas, um cara que se dava por uma causa...lembro rapidamente este fato, pois o relato abaixo de Starling sobre as campanhas heróicas e nobre do PT me fizeram lembrar desta época e destas pessoas. E assim se vai mais uma página da história petista, o partido que um dia ousou ser Partido e parafraseando Cazuza é agora apenas um coração partido. Ah e que se registre, esta simbiose PT-PMDB é das cousas menos ruins que o PT se fez e vem fazendo.

Satarlig tem 66 anos de idade - 32 dos quais dedicados ao PT.

"'É lamentável que o PT acabe refém de uma pessoa, que é o Lula. [Ele] Tem os seus méritos, mas todo mundo tem algum mérito; virou caudilho no partido, manda, desmanda, decide, todo mundo obedece. Não dá!", desabafou em entrevista à Folha Online.

- Agora, que negócio é esse? Ninguém tem vez e voz? Estou fora.



Antes distribuiu a carta que segue:

“Manda quem pode, obedece quem tem juízo”

Ao tempo em que lutávamos para fundar o PT e apoiar o sindicalismo ainda “autêntico” pelo Brasil afora, aprendi a expressão, que intitula este artigo. Era repetida a boca pequena pela peãozada, nas portas de fábricas ou em reuniões, quase clandestinas, para designar a opressão que pesava sobre eles dentro das empresas.

Tantos anos mais tarde e vejo a mesma frase estampada em um blog jornalístico como conselho aos petistas diante da decisão tomada pela Direção Nacional, sob o patrocínio de Lula e sua candidata, para impor uma chapa comum PMDB/PT nas eleições deste ano em Minas Gerais.

É com o coração partido e lágrimas nos olhos que repudio essa frase e ouso afirmar que, talvez, eu não tenha mesmo juízo, mas não me curvarei à imposição de quem quer que seja dentro daquele que foi meu partido desde sempre.

Ajudei a fundá-lo, com muito sacrifício pessoal; tive a honra de ser a sua primeira candidata ao governo de Minas Gerais em 1982. Lá se vão 28 anos! Tudo era alegria, coragem, audácia para aquele amontoado de gente de todo jeito: pobres, remediados, intelectuais, trabalhadores rurais, operários, desempregados, professores, estudantes.

Íamos de casa em casa tentando convencer as pessoas a se filiarem a um partido que nascia sem dono, “de baixo para cima”, dando “vez e voz” aos trabalhadores. Nossa crença abrigava a coragem de ser inocente e proclamar nossa pureza diante da política tradicional.

Vendíamos estrelinhas de plástico para não receber doações empresariais. Pedíamos que todos contribuíssem espontaneamente para um partido que nascia para não devermos nada aos tubarões.

Em Minas, tivemos a ousadia de lançar uma mulher para candidata ao governo e um negro, operário, como candidato ao Senado. E em Minas (antes, como talvez agora) jogava-se a partida decisiva para os rumos do país naquela época. Ali se forjava a transição pactuada, que segue sendo pacto para transição alguma.

Recordo tudo isso apenas para compartilhar as imagens que rondam minha tristeza. Não sou daqueles que pensam que, antes, éramos perfeitos.

Reconheço erros e me dispus inúmeras vezes a superá-los. Isso me fez ficar no partido depois de experiências dolorosas que culminaram com a necessidade de me defender de uma absurda insinuação de falsidade ideológica, partida da língua de um aloprado que a usou, sem sucesso, como espada para me caluniar.

Pensei que ficaria no PT até meu último dia de vida. Mas não aceito fazer parte de uma farsa: participei de uma prévia para escolher um candidato petista ao governo, sem que se colocasse a hipótese de aliança com o PMDB. Prevalece, agora, a vontade dos de cima.

Trocando em miúdos, vejo que é hora de, mais uma vez, parafrasear Chico Buarque: “Eu bato o portão sem fazer alarde. Eu levo a carteira de identidade. Uma saideira, muita saudade. E a leve impressão de que já vou tarde”.

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